sexta-feira, 10 de abril de 2009

Tríduo Pascal - Sexta-feira Santa - O Pão que Eu darei é a minha carne



“E o pão que eu darei é a minha carne que entrego pela vida do mundo”.

“Morro por todos para vivificar a todos por mim mesmo; fiz da minha carne resgate da carne de todos. A morte morrerá na minha morte, reerguendo-se comigo a natureza do homem que estava prostrada. Para isso me conformei a vós, fiz-me homem, filho de Abraão, para em tudo me assemelhar aos irmãos (cf. Rm 8,29).

Compreendendo o que Cristo nos dissera, São Paulo nos diz por sua vez: ‘Assim como as crianças participam do sangue e da carne, também Ele, a fim de quebrar com a sua morte o poder daquele que tem o império da morte, isto é, o diabo’ (Hb 2,14). Não haveria outro meio de derrubar aquele que tem o império da morte, e a própria morte, se o Cristo não se entregasse por nós; um para resgate de muitos, e um que estava acima de todos. Por causa disto no Salmo Ele se oferece por nós a Deus Pai, qual hóstia imaculada, dizendo: ‘Não quiseste sacrifício nem oblação, mas me formaste um corpo. Holocaustos e vítimas expiatórias não te agradaram; disse então: eis que venho. No cabeçalho do livro está escrito de mim, decidi cumprir a tua vontade, ó meu Deus’ (Sl 39, 7-9). Como o sangue de touro e de bodes ou as cinzas de novilhas não bastassem para expiar os pecados, nem a imolação de animais pudesse arruinar o poder da morte, o próprio Cristo se propõe sofrer os castigos por todos. ‘Em suas chagas fomos salvos’ (Is 53,5), diz o profeta, ‘Ele levou nossos pecados sobre seu próprio corpo até a cruz’ (1Pd 2,24). Foi crucificado por todos e por causa de todos, para que, morrendo um sobre a cruz, todos vivessem nele. A morte não podia dominar, nem a corrupção prevalecer, sobre aquele que era por natureza a Vida.


Vejamos nas palavras do próprio Cristo como Ele ofereceu sua carne pela vida do mundo: ‘Pai santo, guarda-os” (Jo 17,11); e ainda: ‘Eu me santifico por eles’ (Jo 17,19). Ele diz que se santifica, não mediante uma purificação da alma ou do espírito, tal como nos devemos santificar; nem por uma simples participação no Espírito Santo, pois nele o Espírito estava por natureza, Ele era, é, e será sempre, Santo. Diz porém que se ‘santifica’ significando que se consagra e se oferece como hóstia santa em santo odor de suavidade. Santificava-se ou, conforme a lei, era chamado santo tudo que se oferecia sobre o altar. Por conseguinte, o Cristo deu seu próprio corpo pela vida de todos, e fez, por Ele, habitar de novo a vida em nós. Desde que o Verbo vivificante de Deus habitou a carne, transformou-a em seu próprio bem, isto é, em vida, e, inteiramente unido a ela em inefável união, tornou-a vivificante assim como Ele o é por natureza. O corpo de Cristo vivifica os que dele participam, pois expele a morte quando está nos mortais, já que em si tem a causa extintora de toda corrupção”.

São Cirilo de Alexandria
Comentário a Jo 6,52

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