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sábado, 1 de agosto de 2009

São Bernardo - Ó minha alma, volta ao Verbo para seres transformada por Ele!



“Ó meu Deus, que não poderia eu, confiante, ousar Convosco, cuja nobre imagem e luminosa semelhança sei que trago em mim? Por que deveria eu temer tão alta Majestade, quando posso confiar na nobreza de minha origem? Ajudai-me a conservar a integridade de minha natureza com a inocência da vida! Ensinai-me a embelezar e honrar, com virtudes e afetos dignos, a Celeste Imagem que trago em mim.

Ó minha alma, volta ao Verbo para seres transformada por Ele, para te tornares igual a Ele na caridade! Se amares perfeitamente, desposar-te-ei com Ele. Haverá coisa mais feliz do que esta conformidade? Haverá coisa mais desejável do que o amor pelo qual tu, minha alma, te aproximas espontânea e confiantemente do Verbo, a Ele constantemente adoras, a Ele familiarmente interrogas e consultas em todas as coisas, tão capaz de entender quanto audaz em desejar?

Este é verdadeiramente contrato de espiritual e santo matrimônio! É o amplexo! Sim, é verdadeiramente amplexo porque um idêntico querer e não querer faz de dois um só espírito”.

São Bernardo de Claraval
In Cantica Cant. 83, 1-3
Oeuvres mystiques de Saint Bernard, Paris, 1953

quarta-feira, 29 de abril de 2009

FESTA DE SANTA CATARINA DE SENA, Virgem, Mística e Doutora da Igreja – 2ª Parte



Festa 29 de abril

2ª Parte

Apesar de ser admirada por muitos, surgem, por outro lado, a inveja e o ciúme de outros que vão provocar calúnias e dificuldades à mística de Sena. No Clero, os religiosos olham o fenômeno “Catarina” com um certo desprezo e incredulidade. Não é raro encontrar isso entre os próprios dominicanos que uma vez a colocaram à força para fora da Igreja durante uma oração contemplativa, deixando-a no chão, meio que morta, ainda sob efeito dos êxtases.

As “Manteladas” sentem-se também perturbadas, quase agredidas pela santidade de Catarina. Quase se arrependem de tê-la recebido entre elas. As calúnias e as incompreensões chovem sobre sua vida como uma verdadeira tempestade, mas Catarina, mergulhada no seu doce Cristo, não se abala e nem se apavora. Tudo suporta por amor ao Senhor. É na oração e no exercício da caridade que ela encontra a sua força. Sofrimentos familiares, como a morte do pai e uma grave doença da mãe, aumentam a cruz de Catarina, que tudo oferece ao Senhor pela salvação dos pecadores.

A sua pequena casa de Fontebranda transforma-se num cenáculo, onde amigos e simpatizantes se reúnem para rezar e refletir. São pessoas de famílias nobres e importantes de Sena, Florença, Pisa, Arezzo, entre outras. Catarina, jovem e analfabeta, mesmo assim é conselheira e orientadora de professores e teólogos famosos. Deus se serve dos pequenos para tocar os corações dos sábios e doutos do mundo.


Avança pela senda espiritual com o Senhor instruindo-a como um mestre a sua aluna, e descobria-lhe pouco a pouco "aquelas coisas que lhe fossem úteis à alma". O progresso espiritual atingiu o auge, em 1367, com as núpcias espirituais na fé. Jesus lhe aparece junto com a Virgem Maria e outros santos numa noite, entregando-lhe o anel do matrimônio espiritual, sendo celebrado assim o matrimônio místico com Cristo. Essa graça podia parecer o selo de uma vida consagrada ao isolamento e à contemplação. Pelo contrário, ao dar-lhe o anel invisível, Jesus pretendia uni-la a Si nas empresas do Seu reino.

A moça do povo de vinte anos via isto como sinal de separação entre ela e o Esposo celestial, mas Este pelo contrário assegurou-lhe que “pretendia uni-la mais a Si por meio da caridade com o próximo”, isto é, ao mesmo tempo no plano da mística interior e no da ação exterior ou da mística social, como foi dito.

Foi como que um impulso para espaços mais altos, que se lhe abriam diante da mente e da iniciativa. Passou da conversão de pecadores isolados à reconciliação entre pessoas ou famílias adversárias; e à pacificação entre cidades e repúblicas. Não receou passar entre facções armadas nem se deteve perante o alargar-se dos horizontes, o que no princípio a tinha aterrado até a fazer chorar. O impulso do Mestre divino manifestou nela como que uma humanidade de acréscimo. Um dia, conta ela mesma, o Senhor pôs-lhe "a cruz às costas e uma oliveira na mão", para as levar a um e outro povo, o cristão e o infiel, como se Cristo a erguesse às próprias dimensões universais da salvação.


Embora analfabeta, Catarina ditou mais de 300 cartas endereçadas a todo o tipo de pessoas, desde Papas, aos Reis e líderes, como também ao povo humilde, orientando suas atitudes, convocando para a caridade, o entendimento e a paz, e onde lutava pela unificação da Igreja e a pacificação dos Estados Papais. As cartas que ela dita aos seus secretários deixam o “silêncio” e percorrem as várias cidades da Itália e da Europa. Através de suas cartas, profundas e sábias, embora analfabeta e de frágil constituição física, conseguia mover homens para a reconciliação e a paz como um gigante.

As críticas aumentam. A inveja e o ciúme se encarregam de atacar Catarina de Sena e seus discípulos. O seu corajoso empenho social e político suscitou não poucas perplexidades entre muitas pessoas e entre seus próprios superiores. A Ordem Dominicana sente-se ameaçada pela presença indiscreta e cada vez mais projetada de Catarina. O Capítulo Geral dos Dominicanos se reunindo em Florença, chama-a para que explique sua teologia e doutrina diante dos teólogos. No dia 21 de maio de 1374, Catarina é sabatinada pelos capitulares a fim de prestar esclarecimentos de sua conduta. Suas respostas os satisfazem. Não há nada de herético. O Capítulo encarrega, então, Frei Raimundo de Cápua para acompanhar o desenvolvimento teológico e espiritual de Catarina e ser seu diretor espiritual.


Ainda em 1374, a peste se alastrou por toda a Europa causando mortes e desespero em Sena, e matando pelo menos um terço da população européia. Catarina, neste momento voltando de Florença, dedica-se aos doentes e abandonados, tendo praticado grandes atos de caridade e enfrentado a calamitosa situação serenamente e com grande firmeza. Ela tanto lutou pelos doentes, tantos curou com as próprias mãos e orações, que converteu mais algumas centenas de pagãos. Suas atitudes não deixaram de causar perplexidade em seus contemporâneos. Estava à frente, muitos séculos, dos padrões de sua época, quando a participação da mulher na Igreja era quase nula ou inexistente.

Para a tornar mais conforme ao Seu mistério de redenção e prepará-la para um incansável apostolado, Catarina recebe o sinal mais intimo do seu amor para com Cristo e do amor de Cristo para com ela: o Senhor concede-lhe o dom dos Estigmas. Aconteceu quando estava em oração na Igreja de Santa Cristina, em Pisa, no dia 1° de Abril de 1375 e, em uma visão, Cristo lhe diz que daquele momento em diante ela trabalharia pela paz e mostraria a todos que “uma mulher fraca pode envergonhar o orgulho dos fortes”. A sua configuração com Cristo de agora em diante será total.


(Continua)

domingo, 28 de dezembro de 2008

As Núpcias do Cordeiro




PAPA JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA

Quarta-Feira 10 de dezembro de 2003

As núpcias do Cordeiro


Segundo a série dos Salmos e dos Cânticos que constituem a oração eclesial das Vésperas, encontramo-nos diante de um trecho de hino, tirado do capítulo 19 do Apocalipse e composto por uma sequência de aleluias e de aclamações.

Por detrás destas aclamações jubilosas está a lamentação dramática entoada no capítulo precedente pelos reis, pelos mercadores e navegadores face à queda da Babilónia imperial, a cidade da maldade e da opressão, símbolo da perseguição que se desencadeou em relação à Igreja.

Em antítese a este brado que se eleva da terra, ressoa nos céus um coro jubiloso de tipo litúrgico que, além do aleluia, repete também o amém. As várias aclamações semelhantes a antífonas, que agora a Liturgia das Vésperas une num único cântico, na realidade, no texto do Apocalipse, são colocadas nos lábios de várias personagens. Encontramos antes de mais uma "multidão imensa", constituída pela assembleia dos anjos e dos santos (cf. vv. 1-3). Distingue-se depois a voz dos "vinte e quatro idosos" e dos "quatro seres vivos", figuras simbólicas que se parecem com os sacerdotes desta liturgia celeste de louvor e de agradecimento (cf. v. 4). Por fim, eleva-se uma voz solista (cf. v. 5) que, por sua vez, envolve no cântico uma "grande multidão" com a qual se tinha começado (cf. vv. 6-7).

Teremos a ocasião, nas etapas futuras deste nosso itinerário orante, de ilustrar cada uma das antífonas deste grandioso e alegre hino de louvor a várias vozes. Contentamo-nos agora com duas anotações. A primeira refere-se à aclamação de abertura que diz assim: "A salvação, a glória e o poder pertencem ao nosso Deus, porque os seus julgamentos são verdadeiros e justos" (vv. 1-2).

No centro desta invocação jubilosa encontra-se a representação da intervenção decisiva de Deus na história: o Senhor não é indiferente, como um imperador impassível e isolado, em relação às vicissitudes humanas. Como diz o Salmista, "o Senhor do Seu trono celestial, observa com os seus olhos, e com a sua vista examina os filhos dos homens" (Sl 10, 4).

Aliás, o seu olhar é fonte de acção, porque ele intervém e destrói os impérios prepotentes e opressivos, derrota os orgulhosos que o desafiam, julga todos os que perpetram o mal. É ainda o Salmista quem descreve as imagens pictóricas (cf. Sl 10, 7), esta irrupção de Deus na história, assim como o autor do Apocalipse tinha evocado no capítulo anterior (cf. Ap 18, 1-24) a terrível intervenção divina em relação à Babilónia, desenraizada da sua sede e lançada ao mar. O nosso hino menciona esta intervenção com um trecho que não é retomado na celebração das Vésperas (cf. Ap 19, 2-3).

Então, a nossa oração deve sobretudo invocar e louvar a acção divina, a justiça eficaz do Senhor, a sua glória obtida com a vitória sobre o mal. Deus faz-se presente na história, pondo-se do lado dos justos e das vítimas, precisamente como declara a aclamação, breve mas essencial, do Apocalipse e como se repete com frequência no cântico dos Salmos (cf. Sl 145, 6-9).

Desejamos realçar outro tema do nosso Cântico. É desenvolvido da aclamação final e é um dos motivos dominantes do próprio Apocalipse: "Chegaram as núpcias do Cordeiro, a Sua esposa já está preparada" (Ap 19, 7). Cristo e a Igreja, o Cordeiro e a esposa, estão em profunda comunhão de amor.

Procuraremos fazer brilhar este carácter esponsal místico através do testemunho poético de um grande Padre da Igreja síria, Santo Efrém, que viveu no quarto século. Usando simbolicamente o sinal das núpcias de Caná (cf. Jo 2, 1-11), ele introduz a própria cidadania, personificada, que louva Cristo pelo grande dom recebido:

"Darei graças juntamente com os meus hóspedes porque ele me considerou digna de o convidar: Ele, que é o Esposo celeste, que desceu e a todos convidou; e também eu fui convidada para participar na sua festa pura de núpcias. Reconhecê-lo-ei diante dos povos como o Esposo, como Ele não há outro. O seu quarto nupcial está preparado desde há séculos, e o seu quarto nupcial está adornado com riquezas e nada lhe falta: não como as Bodas de Caná, cujas faltas Ele satisfez" (Inni sulla verginità, 33, 3: L'arpa dello Spirito, Roma 1999, págs. 73-74).

Noutro hino que canta também as núpcias de Caná, Santo Efrém realça como Cristo, convidado para as núpcias de outrem (precisamente os esposos de Caná), tenha desejado celebrar a festa das suas núpcias - as núpcias com a sua esposa, que é qualquer alma fiel:

"Jesus, tu foste enviado a uma festa de núpcias de outrem, dos esposos de Caná, aqui, ao contrário, é a tua festa, pura e bela: alegra os nossos dias, porque também os teus hóspedes, Senhor, precisam dos teus cânticos: deixa que a tua harpa preencha tudo! A alma é a tua esposa, o corpo é o teu quarto nupcial, os teus convidados são os sentidos e os pensamentos. E se um só corpo é para ti uma festa de núpcias toda a Igreja constitui o teu banquete nupcial!" (Inni sulla fede, 14, 4-5: op. cit., pág. 27).