quarta-feira, 29 de abril de 2009

FESTA DE SANTA CATARINA DE SENA, Virgem, Mística e Doutora da Igreja – 2ª Parte



Festa 29 de abril

2ª Parte

Apesar de ser admirada por muitos, surgem, por outro lado, a inveja e o ciúme de outros que vão provocar calúnias e dificuldades à mística de Sena. No Clero, os religiosos olham o fenômeno “Catarina” com um certo desprezo e incredulidade. Não é raro encontrar isso entre os próprios dominicanos que uma vez a colocaram à força para fora da Igreja durante uma oração contemplativa, deixando-a no chão, meio que morta, ainda sob efeito dos êxtases.

As “Manteladas” sentem-se também perturbadas, quase agredidas pela santidade de Catarina. Quase se arrependem de tê-la recebido entre elas. As calúnias e as incompreensões chovem sobre sua vida como uma verdadeira tempestade, mas Catarina, mergulhada no seu doce Cristo, não se abala e nem se apavora. Tudo suporta por amor ao Senhor. É na oração e no exercício da caridade que ela encontra a sua força. Sofrimentos familiares, como a morte do pai e uma grave doença da mãe, aumentam a cruz de Catarina, que tudo oferece ao Senhor pela salvação dos pecadores.

A sua pequena casa de Fontebranda transforma-se num cenáculo, onde amigos e simpatizantes se reúnem para rezar e refletir. São pessoas de famílias nobres e importantes de Sena, Florença, Pisa, Arezzo, entre outras. Catarina, jovem e analfabeta, mesmo assim é conselheira e orientadora de professores e teólogos famosos. Deus se serve dos pequenos para tocar os corações dos sábios e doutos do mundo.


Avança pela senda espiritual com o Senhor instruindo-a como um mestre a sua aluna, e descobria-lhe pouco a pouco "aquelas coisas que lhe fossem úteis à alma". O progresso espiritual atingiu o auge, em 1367, com as núpcias espirituais na fé. Jesus lhe aparece junto com a Virgem Maria e outros santos numa noite, entregando-lhe o anel do matrimônio espiritual, sendo celebrado assim o matrimônio místico com Cristo. Essa graça podia parecer o selo de uma vida consagrada ao isolamento e à contemplação. Pelo contrário, ao dar-lhe o anel invisível, Jesus pretendia uni-la a Si nas empresas do Seu reino.

A moça do povo de vinte anos via isto como sinal de separação entre ela e o Esposo celestial, mas Este pelo contrário assegurou-lhe que “pretendia uni-la mais a Si por meio da caridade com o próximo”, isto é, ao mesmo tempo no plano da mística interior e no da ação exterior ou da mística social, como foi dito.

Foi como que um impulso para espaços mais altos, que se lhe abriam diante da mente e da iniciativa. Passou da conversão de pecadores isolados à reconciliação entre pessoas ou famílias adversárias; e à pacificação entre cidades e repúblicas. Não receou passar entre facções armadas nem se deteve perante o alargar-se dos horizontes, o que no princípio a tinha aterrado até a fazer chorar. O impulso do Mestre divino manifestou nela como que uma humanidade de acréscimo. Um dia, conta ela mesma, o Senhor pôs-lhe "a cruz às costas e uma oliveira na mão", para as levar a um e outro povo, o cristão e o infiel, como se Cristo a erguesse às próprias dimensões universais da salvação.


Embora analfabeta, Catarina ditou mais de 300 cartas endereçadas a todo o tipo de pessoas, desde Papas, aos Reis e líderes, como também ao povo humilde, orientando suas atitudes, convocando para a caridade, o entendimento e a paz, e onde lutava pela unificação da Igreja e a pacificação dos Estados Papais. As cartas que ela dita aos seus secretários deixam o “silêncio” e percorrem as várias cidades da Itália e da Europa. Através de suas cartas, profundas e sábias, embora analfabeta e de frágil constituição física, conseguia mover homens para a reconciliação e a paz como um gigante.

As críticas aumentam. A inveja e o ciúme se encarregam de atacar Catarina de Sena e seus discípulos. O seu corajoso empenho social e político suscitou não poucas perplexidades entre muitas pessoas e entre seus próprios superiores. A Ordem Dominicana sente-se ameaçada pela presença indiscreta e cada vez mais projetada de Catarina. O Capítulo Geral dos Dominicanos se reunindo em Florença, chama-a para que explique sua teologia e doutrina diante dos teólogos. No dia 21 de maio de 1374, Catarina é sabatinada pelos capitulares a fim de prestar esclarecimentos de sua conduta. Suas respostas os satisfazem. Não há nada de herético. O Capítulo encarrega, então, Frei Raimundo de Cápua para acompanhar o desenvolvimento teológico e espiritual de Catarina e ser seu diretor espiritual.


Ainda em 1374, a peste se alastrou por toda a Europa causando mortes e desespero em Sena, e matando pelo menos um terço da população européia. Catarina, neste momento voltando de Florença, dedica-se aos doentes e abandonados, tendo praticado grandes atos de caridade e enfrentado a calamitosa situação serenamente e com grande firmeza. Ela tanto lutou pelos doentes, tantos curou com as próprias mãos e orações, que converteu mais algumas centenas de pagãos. Suas atitudes não deixaram de causar perplexidade em seus contemporâneos. Estava à frente, muitos séculos, dos padrões de sua época, quando a participação da mulher na Igreja era quase nula ou inexistente.

Para a tornar mais conforme ao Seu mistério de redenção e prepará-la para um incansável apostolado, Catarina recebe o sinal mais intimo do seu amor para com Cristo e do amor de Cristo para com ela: o Senhor concede-lhe o dom dos Estigmas. Aconteceu quando estava em oração na Igreja de Santa Cristina, em Pisa, no dia 1° de Abril de 1375 e, em uma visão, Cristo lhe diz que daquele momento em diante ela trabalharia pela paz e mostraria a todos que “uma mulher fraca pode envergonhar o orgulho dos fortes”. A sua configuração com Cristo de agora em diante será total.


(Continua)

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