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sábado, 10 de abril de 2010

FESTA DA DIVINA MISERICÓRDIA – Sentir a compaixão que Deus experimenta pelo mundo



2º DOMINGO DA PÁSCOA
11/04/2010

Ano C
At 5, 12-16
Sl 117
Ap 1, 9-11a.12-13.17-19
Jo 20, 19-31


« Sentir a compaixão que Deus experimenta pelo mundo»


Irmão, recomendo-te isto: que a compaixão cresça sempre na tua balança, até que sintas em Ti a compaixão que Deus experimenta pelo mundo. Que este estado se torne o espelho no qual vemos em nós próprios a verdadeira «imagem e semelhança» da natureza e do ser de Deus (Gn 1,26). É por essas coisas e por outras semelhantes que recebemos a luz, e que uma clara resolução nos leva a imitar Deus. Um coração duro e sem piedade nunca será puro (Mt 5,8). Mas o homem compassivo é o médico da sua alma; como por um vento violento, ele afasta para fora de si as trevas da perturbação.


Santo Isaac, o Sírio, Monge
Discursos, 1ª série, nº 34

domingo, 14 de março de 2010

Quaresma – A pureza é a misericórdia do coração para com o universo inteiro



«A pureza é a misericórdia do coração para com o universo inteiro»

Não procures distinguir o homem digno do que não o é. Que a teus olhos todos os homens sejam iguais para os amares e os servires da mesma forma. Poderás assim levá-los a todos ao bem. Não partilhou o Senhor a mesa dos publicanos e das mulheres de má vida, sem afastar de Si os indignos? Do mesmo modo, concederás, tu, benefícios iguais e honras iguais ao infiel, ao assassino, tanto mais que também ele é teu irmão, pois participa da única natureza humana.

Aqui está, meu filho, um mandamento que te dou: que a misericórdia pese sempre mais na tua balança, até ao momento em que sentires em ti a misericórdia que Deus tem para com o Mundo.

Quando percebe o homem que atingiu a pureza do coração? Quando considerar que todos os homens são bons, e nem um lhe apareça impuro e maculado. Então, em verdade ele é puro de coração (Mt 5,8).

O que é esta pureza? Em poucas palavras, é a misericórdia do coração para com o universo inteiro. E o que é a misericórdia do coração? É a chama que o inflama por toda a criação, pelos homens, pelos pássaros, pelos animais, pelos demônios, por todo o ser criado. Quando o homem pensa neles, quando os olha, sente os olhos encherem-se das lágrimas de uma profunda, de uma intensa piedade que lhe aperta o coração, e que o torna incapaz de ouvir, de ver, de tolerar o erro ou a aflição, mesmo ínfimos, sofridos pelas criaturas. É por isso que na oração acompanhada por lágrimas devemos sempre pedir tanto pelos seres desprovidos de fala como pelos inimigos da verdade, como ainda pelos que a maltratam, para que sejam salvos e purificados. No coração do homem nasce uma compaixão imensa e sem limites, à imagem de Deus.


Santo Isaac, o Sírio
Discursos ascéticos, 1ª série, n.º 81

quarta-feira, 25 de março de 2009

O Silêncio



“O silêncio tem uma dupla maneira de se impor a nós: provém da nossa pobreza ou brota de uma plenitude. Frequentemente é necessário que o silêncio nos chegue através do sentimento de nossa pobreza. Isto acontece muito simplesmente quando nos damos conta de que não somos capazes de pronunciar a palavra como se deveria. Jesus se mostrou severo em confronto com as palavras inúteis pronunciadas pelo fiel com leviandade (cf. Mt 12, 36). A palavra foi dada ao homem para dar testemunho da Palavra de Deus, para dar graças, bendizer e adorar a Deus. Ao invés disso, nossas palavras tornaram-se uma das ocasiões mais fáceis para ofender a Deus, para ferir os irmãos e assim, faltar com a caridade, infringir a lei do amor. Uma certa discrição no falar é sinal de que somos conscientes disto e de que desejamos sinceramente não pronunciar outras palavras senão aquelas que chegaram à maturidade em nosso coração. Um tal silêncio provém, antes de tudo, de um vazio em nós, mas de um vazio lucidamente vivido e aceito.

Mas existe um outro silêncio: aquele que brota de uma plenitude que existe em nós. Santo Isaac, o sírio, escrevia: «Esforça-te, antes de tudo, por calar-te. Disto nascerá em nós o que nos conduzirá ao silêncio. Que Deus te conceda, então, de sentir o que nasce do silêncio. Se fazes assim, levantar-se-á em ti uma luz que não sei explicar. Da ascese do silêncio nasce no coração, com o tempo, um prazer que impele o corpo a permanecer pacientemente na paz. E vêm as lágrimas abundantes, primeiro no sofrimento, depois no êxtase. O coração, então, sente o que discerne no profundo da contemplação maravilhosa».


Este silêncio é já oração ou, segundo ainda Santo Isaac, «linguagem dos séculos vindouros». O silêncio testemunha a plenitude da vida de Deus em nós, plenitude que deve renunciar a toda palavra humana para exprimi-la de maneira adequada. Por um certo tempo, somente as palavras da Bíblia conseguem ainda expressá-la um pouco, mas depois chega o momento, no qual somente o silêncio pode dar conta da extraordinária riqueza que nos foi dado descobrir no nosso coração.

É este um silêncio que se impõe com doçura e com força ao mesmo tempo, mas de dentro para fora. A oração torna-se lei de si mesma. Ela faz compreender quando é necessário calar e quando é necessário falar. É puríssimo louvor, e ao mesmo tempo, uma assombrosa irradiação. Um silêncio assim jamais fere alguém. Ele estabelece ao redor do silencioso uma zona de paz e de quietude, na qual Deus pode ser percebido como presente, de maneira irresistível. «Guarda o teu coração na paz», dizia São Serafim de Sarov, «e uma multidão ao teu redor será salva».

Louf, A., La voie cistercienne, 97-98.