sábado, 10 de abril de 2010

FESTA DA DIVINA MISERICÓRDIA – Santa Faustina e a Misericórdia Divina segundo o confessor de Irmã Faustina



2º DOMINGO DA PÁSCOA
11/04/2010

Ano C
At 5, 12-16
Sl 117
Ap 1, 9-11a.12-13.17-19
Jo 20, 19-31

«A Misericórdia Divina segundo o confessor de Irmã Faustina»


A MISERICÓRDIA DIVINA

A Misericórdia de Deus é a perfeição da Sua ação, que se debruça sobre os seres inferiores com o objetivo de retirá-los da miséria e de completar as suas falhas – é a Sua vontade de fazer o bem a todos que sofrem alguma sorte de deficiências e eles mesmos não têm condições de completá-las. O ato singular de misericórdia é a compaixão, e o estado imutável de compaixão – a misericórdia. O relacionamento de Deus com as criaturas manifesta-se em afastar as suas falhas e em lhes conceder menores ou maiores perfeições. A concessão de perfeições considerada em si mesma, independentemente de qualquer circunstância, é uma obra da benevolência divina,
que proporciona os dons a todos, segundo a sua predileção.

Na medida em que atribuímos a Deus o desinteresse na concessão de benefícios, nós a atribuímos à generosidade divina. A vigilância de Deus, para que com a ajuda dos benefícios recebidos cheguemos ao objetivo que nos foi assinalado, é por nós chamada de providência. A concessão de perfeições segundo um plano e uma ordem previamente estabelecidos será uma obra de justiça. E finalmente a concessão de perfeições às criaturas com o objetivo de retirá-las da miséria e de afastar as suas falhas é uma obra de Misericórdia.

Nem em todo ser uma falha significa sua miséria, visto que a cada criatura cabe apenas aquilo que Deus antecipadamente previu e decidiu. Por exemplo, não é uma desgraça da ovelha ela não possuir a razão, nem constitui uma miséria do homem a falta de asas. No entanto a falta da razão no homem ou de asas numa ave será uma desgraça e uma miséria. Tudo que Deus faz pelas criaturas, Ele o faz segundo uma ordem prevista e estabelecida, que constitui a justiça divina. Mas, porque essa ordem foi aceita voluntariamente e não foi imposta a Deus por ninguém, na instituição da ordem existente é preciso ver também uma obra de Misericórdia.

Por isso, ao perscrutarmos as primeiras causas e motivações da ação de Deus, percebemos a Misericórdia em todo ato divino exterior. E visto que não é possível recuar dessa forma ao infinito, é preciso deter-se naquilo que depende unicamente da vontade divina, ou seja, da Misericórdia Divina. Em toda obra divina, de acordo com a visão que dela tivermos, podemos ver as mencionadas perfeições divinas.

Podemos dizer que a bondade divina é a Misericórdia que cria e que doa. A liberalidade divina é a Misericórdia que favorece generosamente, sem méritos; a providência divina é a Misericórdia que vigia; a justiça divina é a Misericórdia que recompensa além dos méritos e castiga aquém das culpas; finalmente o amor de Deus é a Misericórdia que se compadece da miséria humana e nos atrai a si. Em outras palavras, a Misericórdia Divina é a motivação principal da ação de Deus para fora, ou seja, constitui a fonte de toda obra do Criador.

Em todos os livros da Sagrada Escritura do Antigo e do Novo Testamento existem variadas menções à Misericórdia Divina. Onde mais e com maior eloqüência se fala dela é no Livro dos Salmos. Dentre cento e cinqüenta salmos, cinqüenta e cinco glorificam especialmente essa perfeição de Deus, e no Salmo 135 este refrão é repetido em cada versículo: “Porque o Seu amor é para sempre”.

O CULTO DA MISERICÓRDIA DIVINA

"O amor de Jesus Cristo para conosco é divino e humano, por possuir Ele uma natureza e uma vontade divina e humana. Por isso o Sacratíssimo Coração do Salvador pode ser considerado como o símbolo do Seu tríplice amor para conosco: divino, humano espiritual e humano sentimental. No entanto esse coração não é uma imagem formal ou um sinal, mas apenas como que o seu vestígio. Com efeito, nenhuma imagem criada é capaz de representar a essência desse infinito amor misericordioso, como se expressa Pio XII na encíclica “Haurietis aquas” do dia 5 de maio de 1956.

No culto do Sacratíssimo Coração de Jesus veneramos sobretudo o amor humano de Jesus Cristo para com o gênero humano, além do Seu amor divino para conosco, que, como amor à miséria, é misericórdia divina. De maneira que nesse culto veneramos apenas um vestígio da misericórdia divina – que com ela se relaciona. No culto da misericórdia divina, o objeto material mais próximo é o sangue e a água que brotaram do lado aberto do Salvador na cruz. Eles são o símbolo da Igreja. Esse sangue e essa água fluem incessantemente na Igreja em forma de graças que purificam as almas (no sacramento do batismo e da penitência) e que proporcionam a vida (no sacramento do altar), e o seu autor é o Espírito Santo, que o Salvador concedeu aos Apóstolos. O objeto formal nesse culto, ou seja, a sua motivação, é a infinita Misericórdia de Deus Pai, Filho e Espírito Santo em relação ao homem decaído. É o amor de Deus para com o gênero humano num sentido mais amplo, visto que não é um amor que se compraz com a perfeição, mas um compassivo amor à miséria.

Do acima resulta que o culto da Misericórdia Divina é uma conseqüência lógica do culto do Coração de Jesus, com o qual mantém relação, mas agora se apresenta separadamente e com ele não se identifica, visto que possui um outro objeto material e formal, bem como um objetivo inteiramente diverso: diz respeito a todas as Três Pessoas da Santíssima Trindade, e não apenas à Segunda, como aquele, e corresponde mais ao estado psíquico do homem de hoje, que necessita da confiança em Deus. JESUS, EU CONFIO EM VÓS, e por Vós confio no Pai e no Espírito Santo. (Volume II, p. 204-205).

A devoção à Misericórdia Divina – misericórdia que Deus nos proporciona no sacramento da penitência – faz parte daquelas que correspondem a todas as almas. Com efeito, visa à glorificação do Salvador Misericordiosíssimo, não em algum estado ou algum mistério seu particular, mas na sua universal misericórdia, na qual todos os mistérios encontram a sua mais profunda elucidação. E, embora essa devoção se distinga claramente, apresenta em si algo de universal, visto que as nossas homenagens se voltam à Pessoa glorificada do Deus Homem. Isso se expressa pela jaculatória: JESUS, EU CONFIO EM VÓS, que desperta na alma do homem o sentimento de miséria e de pecaminosidade, bem como a virtude da confiança, que é a base da nossa justificação" (Volume II, p. 263).

A CONFIANÇA

"Um fator decisivo para a obtenção da misericórdia divina é a confiança. A confiança consiste em esperar a ajuda de alguém. Não constitui uma virtude isolada, mas é condição necessária da virtude da esperança, bem como parte constituinte da virtude da fortaleza e da magnanimidade. Visto que a confiança decorre da fé, ela intensifica a esperança e o amor. Além disso, de uma ou outra forma relaciona-se com as virtudes morais, e por isso pode ser chamada de fundamento que serve de ligação entre as virtudes teologais e morais. As virtudes morais, de naturais transformam-se em sobrenaturais, na medida em que as praticamos com confiança na ajuda divina.

Por que Deus recomenda tanto a confiança? Porque ela é uma homenagem prestada à Misericórdia Divina. Quem espera a ajuda de Deus confessa que Deus é todo-poderoso e bondoso, que pode e quer nos demonstrar essa ajuda, que Ele é sobretudo misericordioso. “Ninguém é bom senão só Deus” (Mc 10, 18). Devemos conhecer a Deus na verdade, visto que o falso conhecimento de Deus esfria a nossa relação com Ele e estanca as graças da Sua misericórdia.

A nossa vida espiritual depende principalmente das noções que criamos a respeito de Deus. Existem entre nós e Deus relações fundamentais, que resultam da nossa natureza criada, mas existem igualmente relações que resultam da nossa postura diante de Deus, que depende das nossas noções a Seu respeito. Se criarmos noções falsas a respeito do Senhor Supremo, o nosso relacionamento com Ele não será apropriado, e os nossos esforços com o objetivo de consertá-los serão inúteis. Se temos a Seu respeito uma noção inadequada, em nossa vida espiritual haverá muitas falhas e imperfeições. Mas se ela for verdadeira, segundo as possibilidades humanas, a nossa alma com toda a certeza se desenvolverá em santidade e luz.

Portanto a noção a respeito de Deus é a chave da santidade, visto que regula o nosso procedimento em relação a Deus, bem como a de Deus em relação a nós. Deus nos adotou como Seus filhos, mas infelizmente na prática não procedemos como Seus filhos: a nossa filiação divina não passa de um nome, porque em nossas ações não demonstramos a confiança infantil em relação a um Pai tão bondoso. A falta de confiança impede que Deus nos proporcione benefícios, é como uma nuvem escura que estanca a ação dos raios solares, como um dique que impossibilita o acesso à água da fonte.

Sobretudo a confiança é uma homenagem prestada à Misericórdia Divina, que proporciona a quem confia a força e a coragem para superar as maiores dificuldades. A confiança em Deus afasta toda tristeza e depressão, e enche a alma de grande alegria, até nas mais difíceis condições de vida. A confiança opera milagres, porque conta com a onipotência de Deus. A confiança proporciona a paz interior, que o mundo não pode dar. A confiança abre o caminho a todas as virtudes.

Existe uma lenda dizendo que todas as virtudes decidiram abandonar a terra, manchada por numerosas transgressões, e voltar à pátria celestial. Quando se aproximaram da entrada do céu, o porteiro deixou entrar todas com exceção da confiança, para que os pobres homens da terra não caíssem em desespero em meio a tantas tentações e sofrimentos. Diante disso a confiança teve de voltar, e com ela voltaram todas as demais virtudes.

A confiança pode ser comparada a uma corrente suspensa do céu, à qual prendemos as nossas almas. A mão de Deus ergue essa corrente para o alto e arrebata aqueles que a ela se agarram firmemente. (...) Portanto agarremos essa corrente durante a oração, como aquele cego de Jericó que, sentado à beira do caminho, clamava com insistência: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!” Confiemos em Deus nas nossas necessidades temporais e eternas, nos sofrimentos, nos perigos e nos abandonos. Confiemos mesmo quando nos parece que Deus nos abandonou, quando nos nega os Seus consolos, quando não nos ouve, quando nos oprime com uma pesada cruz. Então é preciso confiar em Deus mais ainda, porque esse é um tempo de provação, um tempo de experiência pelo qual toda alma deve passar.

Espírito Santo, dá-me a graça de uma confiança inquebrantável em razão dos méritos de Jesus Cristo, e temerosa em razão da minha fraqueza.


Quando a pobreza bater à minha porta:
JESUS, EU CONFIO EM VÓS.
Quando me visitar a doença ou a deficiência física:
JESUS, EU CONFIO EM VÓS.
Quando o mundo me rejeitar e me perseguir com o seu ódio:
JESUS, EU CONFIO EM VÓS.
Quando a negra calúnia me manchar e encher de amargura:
JESUS, EU CONFIO EM VÓS.
Quando me abandonarem os amigos e me ferirem com suas palavras e suas ações:
JESUS, EU CONFIO EM VÓS.

Espírito de amor e de misericórdia, sê meu refúgio, meu doce consolo, minha aprazível esperança, para que nas mais difíceis circunstâncias da minha vida eu nunca deixe de confiar em Ti" (Volume III, p. 189-200).


Pe. Miguel Sopocko
Confessor de Santa Faustina
“A Misericórdia de Deus em suas obras”

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