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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

SOLENIDADE DA SANTA MÃE DE DEUS – Com Maria se cumprem os tempos e se inaugura a nova economia da salvação



MARIA, SANTA MÃE DE DEUS
SOLENIDADE
01 DE JANEIRO


«Com Maria se cumprem os tempos e se inaugura a nova economia da salvação»


“A Sagrada Escritura do Antigo e Novo Testamento e a venerável Tradição mostram de modo progressivamente mais claro e como que nos põem diante dos olhos o papel da Mãe do Salvador na economia da salvação. Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação na qual se vai preparando lentamente a vinda de Cristo ao mundo. Esses antigos documentos, tais como são lidos na Igreja e interpretados à luz da plena revelação ulterior, vão pondo cada vez mais em evidência a figura duma mulher, a Mãe do Redentor.

A esta luz, Maria encontra-se já profeticamente delineada na promessa da vitória sobre a serpente (cfr. Gén. 3,15), feita aos primeiros pais caídos no pecado. Ela é, igualmente, a Virgem que conceberá e dará à luz um Filho, cujo nome será Emmanuel (cfr. Is. 7,14; cfr. Miq. 5, 2-3; Mt. 1, 22-23). É a primeira entre os humildes e pobres do Senhor, que confiadamente esperam e recebem a salvação de Deus. Com ela, enfim, excelsa Filha de Sião, passada a longa espera da promessa, se cumprem os tempos e se inaugura a nova economia da salvação, quando o Filho de Deus dela recebeu a natureza humana, para libertar o homem do pecado com os mistérios da Sua vida terrena”.


Concílio Vaticano II
Constituição Dogmática sobre a Igreja, «Lumen Gentium», 55


SOLENIDADE DA SANTA MÃE DE DEUS – A Mãe de Deus nos encoraje a começar este novo ano com um gesto de amor



MARIA, SANTA MÃE DE DEUS
SOLENIDADE
01 DE JANEIRO

«A Mãe de Deus nos encoraje a começar este novo ano com um gesto de amor»

Caríssimos Irmãos e Irmãs,

Neste primeiro dia do ano desejo fazer chegar a todas as famílias, a todos os povos, a todas as pessoas de boa vontade, os meus votos de serenidade e de paz. São os votos que se elevam do coração, mas sobretudo estão apoiados sobre a certeza de que, no desenrolar do tempo, Deus permanece fiel ao seu amor. Sim, Deus ama-nos! Ama-nos com um amor ilimitado! Recordamo-lo também na solenidade litúrgica deste dia, que nos faz invocar a Virgem Santa com o título de «Mãe de Deus». O que significa proclamar Maria «Mãe de Deus»? Significa reconhecer que Jesus, o fruto do seu seio, é o Filho de Deus, consubstancial ao Pai, por Ele gerado na eternidade. Mistério grande, mistério de amor! Ele, o Unigénito do Pai (Jo 1, 14), fez-Se um de nós. Deste modo, «a eternidade entrou no tempo» (Tertio millennio adveniente, 9), e o desenrolar dos anos, dos séculos, dos milênios, já não é uma cega viagem rumo ao desconhecido, mas um caminhar em direção a Ele, plenitude do tempo (cf. Gl 4, 4) e a meta da história.

Honrando a Virgem Santa como Mãe de Deus, nós queremos também ressaltar que Jesus, o Verbo eterno feito carne, é verdadeiro «Filho de Maria». Ela transmitiu-Lhe uma humanidade plena. Foi-Lhe mãe e educadora, infundindo-Lhe a doçura, a delicada fortaleza do seu temperamento e as riquezas da sua sensibilidade. Maravilhoso intercâmbio de dons: Maria que, como criatura, é antes de tudo discípula de Cristo e por Ele remida, ao mesmo tempo, foi escolhida como sua Mãe para plasmar a sua humanidade. Na relação entre Maria e Jesus realiza-se assim, de modo exemplar, o sentido profundo do Natal: Deus fez-Se como nós, para que nos tornássemos, de algum modo, como Ele!

Foi precisamente em virtude deste mistério de amor que não hesitei centralizar a minha mensagem para este primeiro dia do ano, no qual se celebra o Dia Mundial da Paz, num tema exigente e de igual modo vital: «Oferece o perdão, recebe a paz». Bem sei: é difícil perdoar, às vezes parece mesmo impossível, mas é a única via, pois toda a vingança e toda a violência atraem outras vinganças e outras violências. Torna-se com certeza menos difícil perdoar, quando se é consciente de que Deus jamais se cansa de nos amar e de nos perdoar. Quem de nós não tem necessidade do perdão de Deus? A Virgem Santa, a Mãe de Deus, nos encoraje a começar este novo ano com um gesto de amor, se necessário, de reconciliação, com o propósito de contribuir para a edificação dum mundo melhor, marcado pela justiça e pela paz. Jamais nos esqueçamos de que tudo passa e só o eterno pode preencher o coração.

Feliz Ano Novo, cheio de bênçãos do Céu que Jesus Cristo nos trouxe e oferece a todos!


Papa João Paulo II
Angelus, 01 de Janeiro de 1997


terça-feira, 8 de dezembro de 2009

IMACULADA CONCEIÇÃO - Virgem Mãe, filha do teu Filho, cheia do Amor Encarnado de Deus




IMACULADA CONCEIÇÃO DE NOSSA SENHORA

SOLENIDADE
08 DE DEZEMBRO

Virgem Mãe, filha do teu Filho, cheia do Amor Encarnado de Deus

Queridos irmãos e irmãs!

Celebramos hoje uma das Festas mais bonitas e populares da Bem-Aventurada Virgem: a Imaculada Conceição. Maria não só não cometeu pecado algum, mas foi preservada até da herança comum do gênero humano que é o pecado original. E isto devido à missão para a qual Deus a destinou desde o início: ser a Mãe do Redentor. Tudo isto está contido na verdade da fé da "Imaculada Conceição".O fundamento bíblico deste dogma encontra-se nas palavras que o Anjo dirigiu à jovem de Nazaré: "Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo" (Lc 1, 28).

"Cheia de graça" no original grego kecharitoméne é o nome mais bonito de Maria, nome que lhe foi conferido pelo próprio Deus, para indicar que ela é desde sempre e para sempre a amada, a eleita, a predestinada para acolher o dom mais precioso, Jesus, "o amor encarnado de Deus" (Enc. Deus caritas est, 12).

Podemos perguntar: por que, entre todas as mulheres, Deus escolheu precisamente Maria de Nazaré? A resposta está escondida no mistério insondável da vontade divina. Contudo há uma razão que o Evangelho ressalta: a sua humildade. Ressalta isto muito bem Dante Alighieri no último Canto do Paraíso: "Virgem Mãe, filha do teu Filho, / humilde e alta mais do que criatura, / fim firme do conselho eterno" (Par. XXXIII, 1-3). A própria Virgem no "Magnificat", o seu cântico de louvor, diz isto: "A minha alma glorifica o Senhor... porque pôs os olhos na humildade da sua serva" (Lc 1, 46.48). Sim, Deus foi atraído pela humildade de Maria, porque achou graça diante dos olhos de Deus (cf. Lc 1, 30). Tornou-se assim a Mãe de Deus, imagem e modelo da Igreja, eleita entre os povos para receber a bênção do Senhor e difundi-la a toda a família humana. Esta "bênção" mais não é do que Jesus Cristo. É Ele a Fonte da graça, da qual Maria foi repleta desde o primeiro momento da sua existência. Acolheu Jesus com fé e com amor o deu ao mundo. Esta é também a nossa vocação e a missão da Igreja: acolher Cristo na nossa vida e doá-lo ao mundo, "para que o mundo seja salvo por Ele" (Jo 3,17).

Queridos irmãos e irmãs, a hodierna festa da Imaculada ilumina como um farol o tempo do Advento, que é tempo de vigilante e confiante expectativa do Salvador. Enquanto nos encaminhamos ao encontro do Deus que vem, olhamos para Maria que "brilha como sinal de esperança segura e de consolação aos olhos do Povo de Deus peregrino" (Lumen gentium, 68). Com esta consciência convido-vos a unir-vos a mim quando, hoje à tarde, renovarei na Praça de Espanha o tradicional ato de homenagem a esta doce Mãe por graça e da graça. Dirijamo-nos agora a ela com a oração que recorda o anúncio do Anjo.


Papa Bento XVI
Angelus, 08 de Dezembro de 2006


IMACULADA CONCEIÇÃO – Maria, Estrela da esperança, Mãe nossa, ensinai-nos a crer, esperar e amar convosco




IMACULADA CONCEIÇÃO DE NOSSA SENHORA


SOLENIDADE
08 DE DEZEMBRO

Maria, Estrela da esperança, Mãe nossa, ensinai-nos a crer, esperar e amar convosco

Com um hino do século VIII/IX, portanto com mais de mil anos, a Igreja saúda Maria, a Mãe de Deus, como « Estrela do mar »: Ave maris stella. A vida humana é um caminho. Rumo a qual meta? Como achamos o itinerário a seguir? A vida é como uma viagem no mar da história, com frequência enevoada e tempestuosa, uma viagem na qual perscrutamos os astros que nos indicam a rota. As verdadeiras estrelas da nossa vida são as pessoas que souberam viver com retidão. Elas são luzes de esperança. Certamente, Jesus Cristo é a luz por antonomásia, o sol erguido sobre todas as trevas da história. Mas, para chegar até Ele precisamos também de luzes vizinhas, de pessoas que dão luz recebida da luz d'Ele e oferecem, assim, orientação para a nossa travessia. E quem mais do que Maria poderia ser para nós estrela de esperança? Ela que, pelo seu « sim », abriu ao próprio Deus a porta do nosso mundo; Ela que Se tornou a Arca da Aliança viva, onde Deus Se fez carne, tornou-Se um de nós e estabeleceu a sua tenda no meio de nós (cf. Jo 1,14).

Por isso, a Ela nos dirigimos: Santa Maria, Vós pertencíeis àquelas almas humildes e grandes de Israel que, como Simeão, esperavam «a consolação de Israel» (Lc 2,25) e, como Ana, aguardavam a «libertação de Jerusalém» (Lc 2,38). Vós vivíeis em íntimo contacto com as Sagradas Escrituras de Israel, que falavam da esperança, da promessa feita a Abraão e à sua descendência (cf. Lc 1,55). Assim, compreendemos o santo temor que Vos invadiu, quando o anjo do Senhor entrou nos vossos aposentos e Vos disse que daríeis à luz Àquele que era a esperança de Israel e o esperado do mundo.

Por meio de Vós, através do vosso «sim», a esperança dos milênios havia de se tornar realidade, entrar neste mundo e na sua história. Vós Vos inclinastes diante da grandeza desta missão e dissestes «sim». «Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38). Quando, cheia de santa alegria, atravessastes apressadamente os montes da Judéia para encontrar a vossa parente Isabel, tornastes-Vos a imagem da futura Igreja, que no seu seio, leva a esperança do mundo através dos montes da história. Mas, a par da alegria que difundistes pelos séculos, com as palavras e com o cântico do vosso Magnificat, conhecíeis também as obscuras afirmações dos profetas sobre o sofrimento do servo de Deus neste mundo.

Sobre o nascimento no presépio de Belém brilhou o esplendor dos anjos que traziam a boa nova aos pastores, mas, ao mesmo tempo, a pobreza de Deus neste mundo era demasiado palpável. O velho Simeão falou-Vos da espada que atravessaria o vosso coração (cf. Lc 2,35), do sinal de contradição que vosso Filho haveria de ser neste mundo. Depois, quando iniciou a atividade pública de Jesus, tivestes de Vos pôr de lado, para que pudesse crescer a nova família, para cuja constituição Ele viera e que deveria desenvolver-se com a contribuição daqueles que tivessem ouvido e observado a sua palavra (cf. Lc 11,27s).

Apesar de toda a grandeza e alegria do primeiro início da atividade de Jesus, Vós, já na Sinagoga de Nazaré, tivestes de experimentar a verdade da palavra sobre o «sinal de contradição» (cf. Lc 4,28s). Assim, vistes o crescente poder da hostilidade e da rejeição que se ia progressivamente afirmando à volta de Jesus até à hora da cruz, quando tivestes de ver o Salvador do mundo, o herdeiro de David, o Filho de Deus morrer como um falido, exposto ao escárnio, entre os malfeitores. Acolhestes então a palavra: «Mulher, eis aí o teu filho» (Jo 19,26). Da cruz, recebestes uma nova missão. A partir da cruz ficastes mãe de uma maneira nova: mãe de todos aqueles que querem acreditar no vosso Filho Jesus e segui-Lo.

A espada da dor trespassou o vosso coração. Tinha morrido a esperança? Ficou o mundo definitivamente sem luz, a vida sem objetivo? Naquela hora, provavelmente, no vosso íntimo tereis ouvido novamente a palavra com que o anjo tinha respondido ao vosso temor no instante da anunciação: «Não temas, Maria!» (Lc 1,30). Quantas vezes o Senhor, o vosso Filho, dissera a mesma coisa aos seus discípulos: Não temais! Na noite do Gólgota, Vós ouvistes outra vez esta palavra. Aos seus discípulos, antes da hora da traição, Ele tinha dito: «Tende confiança! Eu venci o mundo» (Jo 16,33). «Não se turve o vosso coração, nem se atemorize» (Jo 14,27). «Não temas, Maria!» Na hora de Nazaré, o anjo também Vos tinha dito: «O seu reinado não terá fim» (Lc 1,33). Teria talvez terminado antes de começar? Não; junto da cruz, na base da palavra mesma de Jesus, Vós tornastes-Vos mãe dos crentes. Nesta fé que, inclusive na escuridão do Sábado Santo, era certeza da esperança, caminhastes para a manhã de Páscoa. A alegria da ressurreição tocou o vosso coração e uniu-Vos de um novo modo aos discípulos, destinados a tornar-se família de Jesus mediante a fé. Assim Vós estivestes no meio da comunidade dos crentes, que, nos dias após a Ascensão, rezavam unanimemente pedindo o dom do Espírito Santo (cf. At 1,14) e o receberam no dia de Pentecostes. O «reino» de Jesus era diferente daquele que os homens tinham podido imaginar. Este «reino» iniciava naquela hora e nunca mais teria fim. Assim, Vós permaneceis no meio dos discípulos como a sua Mãe, como Mãe da esperança.

Santa Maria, Mãe de Deus, Mãe nossa, ensinai-nos a crer, esperar e amar convosco. Indicai-nos o caminho para o seu reino! Estrela do mar, brilhai sobre nós e guiai-nos no nosso caminho!


Papa Bento XVI
Carta Encíclica Spe Salvi 49-50
30 de Novembro do ano 2007


domingo, 22 de novembro de 2009

SOLENIDADE JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO



CRISTO REI DO UNIVERSO

SOLENIDADE


Homilia de sua Santidade João Paulo II na celebração Eucarística da Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo em 2000

"Tu o dizes: Eu sou rei" (Jo 18, 37)

Assim respondeu Jesus a Pilatos num diálogo dramático, que o Evangelho nos faz ouvir novamente na hodierna solenidade de Cristo, Rei do universo. Nessa ocorrência, colocada na conclusão do ano litúrgico, Jesus, Verbo eterno do Pai, é apresentado como princípio e fim de toda a criação, como Redentor do homem e Senhor da história. Na primeira leitura, o profeta Daniel afirma: "O seu poder é um poder eterno, que nunca lhe será tirado. E o seu Reino é tal que jamais será destruído" (7, 14).

Sim, ó Cristo, Vós sois Rei! Paradoxalmente, a vossa realeza manifesta-se na cruz, na obediência ao desígnio do Pai "que como escreve o Apóstolo Paulo nos arrancou do poder das trevas e nos transferiu para o Reino do seu Filho amado, no Qual temos a redenção, a remissão dos pecados" (Cl 1, 13-14). Primogênito daqueles que ressuscitaram dos mortos, Vós, Jesus, sois o Rei da nova humanidade, restituída à sua dignidade primitiva.

Vós sois Rei! Porém, o vosso reino não é deste mundo (cf. Jo 18, 36); não é o fruto de conquistas bélicas, de dominações políticas, de impérios econômicos, de hegemonias culturais. O vosso é um "reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz" (cf. Prefácio da solenidade de Cristo Rei), que se manifestará na sua plenitude no fim dos tempos, quando Deus será tudo em todos (cf. 1 Cor 15, 28). A Igreja, que já pode saborear na terra as primícias que se hão-de realizar no futuro, não cessa de repetir: "Venha o vosso reino", "Adveniat regnum tuum" (Mt 6, 10).

Venha o Vosso Reino!


Papa João Paulo II
Homilia Solenidade de Cristo Rei do Universo
26 de Novembro de 2000

domingo, 7 de junho de 2009

SANTÍSSIMA TRINDADE: O Mistério da Trindade



Solenidade da Santíssima Trindade
07 de junho

“O mistério da Santíssima Trindade é chamado pelos doutores da Igreja a substância do Novo Testamento, quer dizer o maior de todos os mistérios, a origem e o fundamento dos outros. Foi para o conhecerem e o contemplarem que os anjos foram criados no céu e os homens na terra. Foi para manifestar este mistério mais claramente que o próprio Deus desceu da sua morada com os anjos para junto dos homens.

O apóstolo Paulo anuncia a Trindade das pessoas e a unidade da sua natureza quando escreve: «Da parte d'Ele, por meio d'Ele e para Ele são todas as coisas. Glória a Ele pelos séculos» (Rom 11,36). Santo Agostinho escreveu, comentando esta passagem: «Estas palavras não são devidas ao acaso. ‘Da parte d'Ele’ designa o Pai, ‘por meio d'Ele’ designa o Filho e ‘para Ele’ designa o Espírito Santo». Com justeza a Igreja tem o hábito de atribuir ao Pai as obras da Divindade onde resplandece o poder, ao Filho aquelas onde resplandece a sabedoria e ao Espírito Santo aquelas onde resplandece o amor. Não que todas as perfeições e obras exteriores não sejam comuns às pessoas divinas: «as obras da Trindade são indivisíveis, como a essência da Trindade é indivisível» (Sto Agostinho).

Mas, por uma certa comparação, uma certa afinidade entre estas obras e as propriedades das pessoas, as obras são atribuídas ou «apropriadas» como se diz, a uma das pessoas mais do que às outras. De algum modo, o Pai, que é «o princípio de toda a divindade» (Sto Agostinho), é também a causa eficiente de todas as coisas, da encarnação do Verbo, e da santificação das almas: «tudo Lhe pertence». Mas o Filho, o Verbo, a Palavra de Deus e a imagem de Deus, é também a causa-modelo, o arquétipo; d'Ele tudo o que foi criado recebe a sua forma e a sua beleza, a ordem e a harmonia. Ele é para nós «o caminho, a verdade e a vida» (Jo 14,6), o reconciliador do homem com Deus: «tudo é por meio d'Ele». O Espírito Santo é a causa última de todas as coisas, a bondade divina e o amor mútuo do Pai e do Filho; pelo Seu poder mais doce, completa o amor mútuo do Pai e do Filho; pelo Seu poder mais doce, completa a obra escondida da salvação eterna do homem e leva-a à perfeição: «tudo é para Ele»”.

Santo Padre Papa Leão XIII
Da Encíclica «Divinum Illud Munus»

sábado, 9 de maio de 2009

Ano Sacerdotal – Caminhando de encontro ao Ano Sacerdotal



Na Carta aos Sacerdotes na quinta-feira santa de 1986, o Papa João Paulo II escreveu:

“O sacramento da reconciliação e o da Eucaristia estão estreitamente unidos. Sem uma conversão constantemente renovada, junto à acolhida da graça sacramental do perdão, a participação na Eucaristia não logrará sua plena eficácia redentora. Como Cristo, que começou seu ministério com a exortação «arrependei-vos e crede no Evangelho» (Mc 1, 15), o Cura d’Ars começava geralmente a sua atividade diária com o sacramento do perdão. Mas se alegrava conduzindo à Eucaristia os seus penitentes já reconciliados. A Eucaristia ocupava certamente o centro de sua vida espiritual e de seu labor pastoral. Costumava dizer: «Todas as boas obras juntas não podem comparar-se com o Sacrifício da Missa pois são obras dos homens, enquanto que a Santa Missa é Obra de Deus». Nela se faz presente o sacrifício do Calvário para redenção do mundo. Evidentemente, o sacerdote deve unir ao oferecimento da Missa a doação cotidiana de si mesmo. «Portanto, é bom que o sacerdote se ofereça a Deus em sacrifício todas as manhãs». «A comunhão e o santo sacrifício da Missa são os dois atos mais eficazes para conseguir a transformação dos corações».

Deste modo, a Missa era para João Maria Vianney a grande alegria e alento em sua vida de sacerdote. Apesar da afluência de penitentes, se preparava com toda diligência e em silêncio durante mais de um quarto de hora. Celebrava com recolhimento, deixando entrever sua atitude de adoração nos momentos da consagração e da comunhão. Com grande realismo, enfatizava: «A causa do relaxamento do sacerdote está em não dedicar suficiente atenção à Missa».


O Cura d’Ars detinha-se particularmente ante a presença real de Cristo na Eucaristia. Ante o tabernáculo passava frequentemente longas horas de adoração, antes de amanhecer ou durante a noite. Em suas homilias costumava apontar o Sacrário dizendo com emoção: «Ele está ali». Por isso, ele, que tão pobremente vivia em sua casa paroquial, não duvidava em gastar quanto fosse necessário para embelezar a Igreja. Logo se pode ver o bom resultado: os fiéis tomaram por costume o ir rezar ante o Santíssimo Sacramento, descobrindo, através da atitude de seu pároco, o grande mistério da fé.

Por Cristo, trata de conformar-se fielmente às exigências radicais que Jesus propõe no Evangelho aos discípulos que envia em missão: oração, pobreza, humildade, renúncia de si mesmo e penitência voluntária. E, como Cristo, sente por seus fiéis um amor que lhe leva a uma entrega pastoral sem limites e ao sacrifício de si mesmo. Raramente um pastor foi até este consciente de suas responsabilidades, devorado pelo desejo de arrancar seus fiéis do pecado ou da tibieza. «Oh Deus meu, concedei-me a conversão de minha paróquia! Aceito sofrer tudo o que quiserdes por toda a minha vida».

Ante tal testemunho, vem à nossa mente o que o Concílio Vaticano II nos diz hoje acerca dos sacerdotes: «Seu ofício sagrado o exercem, sobretudo, no culto ou assembléia eucarística» (Lumen gentium, 28). E, mais recentemente, o Sínodo extraordinário (dezembro de 1985) recordava: «A liturgia deve fomentar o sentido do sagrado e fazê-lo resplandecer. Deve estar imbuída de reverência e da glorificação de Deus. A Eucaristia é a fonte e o cume de toda a vida cristã».


Queridos irmãos sacerdotes, o exemplo do Cura d’Ars nos convida a um sério exame de consciência. Que lugar ocupa a santa Missa em nossa vida cotidiana? A Missa continua sendo como no dia de nossa Ordenação, a qual foi nosso primeiro ato como sacerdotes, o princípio de nosso labor apostólico e de nossa santificação pessoal? Como é nossa oração ante o Santíssimo Sacramento e como a infundimos nos fiéis? Qual é nosso empenho em fazer de nossas igrejas a Casa de Deus para que a presença divina atraia aos homens de hoje, que com tanta freqüência sentem que o mundo está vazio de Deus?

O Cura d’Ars é um modelo de zelo sacerdotal para todos os pastores. O segredo de sua generosidade se encontra sem dúvida alguma em seu amor a Deus, vivido sem limites, em resposta constante ao amor manifestado em Cristo crucificado. Nisto se fundamenta seu desejo de fazer todas as coisas para salvar as almas resgatadas por Cristo a tão grande preço e encaminhá-las até o amor de Deus. Recordemos uma daquelas suas frases lapidares cujo segredo ele bem conhecia: «O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus». Em seus sermões e catequeses se referia sempre a este amor: «Oh, Deus meu, prefiro morrer amando-vos que viver um só instante sem amar-vos. Eu vos amo, meu divino Salvador, porque fostes crucificado por mim, porque me tendes crucificado para Vós»”.

Amados irmãos sacerdotes, alimentados pelo Concílio Vaticano II, que felizmente situou a consagração do sacerdote no marco de sua missão pastoral, busquemos o dinamismo de nosso zelo pastoral com São João Maria Vianney, no Coração de Jesus, em seu amor pelas almas. Se não acudirmos à mesma fonte, nosso ministério correrá o risco de dar muito poucos frutos.”


Santo Padre Papa João Paulo II
Carta aos Sacerdotes na quinta-feira santa de 1986


sexta-feira, 8 de maio de 2009

MÊS DE MARIA – Maria e a Redenção




A Cooperação privilegiada de Maria à Redenção

“Maternidade espiritual de Maria - «A Bem-aventurada Virgem, predestinada, desde toda a eternidade no cerne do desígnio da encarnação do Verbo divino, para ser a Mãe de Deus na Terra, por disposição da divina Providência, foi a venerável Mãe do Redentor divino, generosamente associada à sua obra, título absolutamente único, e humilde escrava do Senhor.

Concebendo a Cristo, gerando-o, alimentando-o, apresentando-o no Templo ao Pai, sofrendo com seu Filho que morria na cruz, ela cooperou de modo absolutamente singular - pela obediência, pela fé, pela esperança e por sua ardente caridade - na obra do Salvador, para restaurar a vida sobrenatural das almas. Por tudo isto, Ela é nossa Mãe na Ordem da graça»".


Lumen Gentium, Capítulo VIII § 61
Concílio Vaticano II


domingo, 3 de maio de 2009

O Bom Pastor: "Dou às minhas ovelhas a vida eterna"



IV Domingo da Páscoa

Domingo do Bom Pastor

Dia mundial de oração pelas vocações

“Aquele que é Bom, não por um dom recebido mas por natureza, diz-nos: "Eu sou o bom Pastor". E continua, para que imitemos o modelo que nos deu da sua bondade: "O bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas" (Jo 10.11). No seu caso, Ele realizou o que tinha ensinado; mostrou o que tinha ordenado. Bom Pastor, Ele deu a vida pelas suas ovelhas, para mudar o seu corpo e sangue em nosso sacramento e saciar com o alimento da sua carne as ovelhas que tinha resgatado. Mostrou o caminho a seguir: desprezou a morte. Eis diante de nós o modelo a que temos de nos conformar. Em primeiro lugar, gastar-nos exteriormente com ternura pelas suas ovelhas; em seguida, se for necessário, oferecer-lhes a nossa morte.


Ele acrescenta: "Eu conheço - quer dizer, amo - as minhas ovelhas e elas me conhecem". É como se Ele dissesse de uma forma mais clara: "Quem me ama, siga-me!", porque quem não ama a verdade é porque ainda a não conhece. Vede, irmãos caríssimos, se sois verdadeiramente as ovelhas do bom Pastor, vede se o conheceis, vede se vos apropriais da luz da verdade. Não falo da apropriação pela fé mas pelo amor; vede se vos apropriais não pela vossa fé mas pelo vosso comportamento. Porque o mesmo evangelista João, que nos transmitiu esta palavra, afirma ainda: "Quem diz que conhece Deus e não guarda os seus mandamentos, é um mentiroso" (1 Jo 2,4).


É por isso que, no nosso texto, Jesus acrescenta logo a seguir: "Assim como o Pai me conhece, Eu conheço o Pai e dou a vida pelas minhas ovelhas", o que equivale a dizer claramente: o fato de que Eu conheço o meu Pai e sou conhecido por Ele consiste em que Eu dê a vida pelas minhas ovelhas. Por outras palavras: este amor que me leva a morrer pelas minhas ovelhas mostra até que ponto Eu amo o Pai”.


S. Gregório Magno, Papa e Doutor da Igreja
Homilia XIV sobre o Evangelho


sexta-feira, 1 de maio de 2009

FESTA DE SÃO JOSÉ OPERÁRIO – Papa João XXIII em honra a São José



O Santo Padre, Beato João XXIII, era um grande devoto de São José. Em seu batismo havia recebido o seu nome, José (José Roncalli) e em sua vida espiritual o tinha como modelo.

Quando convocou o Concílio Vaticano II nomeou São José como Patrono desse importante acontecimento para a Igreja de nosso tempo e incluiu o nome do Santo Patriarca junto ao nome de Maria na Missa. Esta Carta Apostólica é uma mostra de sua terna, confiante e grande devoção.


“E eis que se nos apresenta, qual uma aparição da nova primavera deste ano e no limiar da Sagrada Liturgia Pascal, a suave e amável figura de São José, o augusto esposo de Maria, tão caro ao íntimo das almas mais sensíveis aos atrativos do ascetismo cristão e de suas expressões de piedade religiosa, reservadas e modestas, mas tanto mais apreciadas e suaves.

No culto da Santa Igreja, Jesus, Verbo de Deus feito homem, teve logo uma adoração incomunicável como esplendor da natureza de seu Pai, e irradiando-se na glória dos santos. Maria, sua Mãe, seguiu-o de perto desde os primeiros séculos, nas imagens das catacumbas e das basílicas, piedosamente veneradas: Sancta Maria Mater Dei.


São José, pelo contrário, excetuando algum traço de sua figura, encontrado aqui e ali nos escritos dos Padres, permaneceu durante séculos e séculos em seu característico apagamento, um pouco como figura de ornamento no quadro da vida do Senhor. E foi necessário tempo até que seu culto passasse dos olhos aos corações dos fiéis e despertasse neles singular fervor de oração e abandono confiante. E estas foram as piedosas alegrias reservadas às efusões da época moderna: oh! quão abundantes e grandiosas! E temos particular alegria em colher daí uma observação tão característica quanto significativa.

Entre os diversos postulata que os Padres do Concílio Vaticano I, reunidos em Roma (1869-1870), apresentaram a Pio IX, os dois primeiros eram concernentes a São José. Antes de tudo, pedia-se que seu culto tivesse lugar mais elevado na sagrada liturgia; trazia a assinatura de 153 Bispos. O outro, assinado por 43 superiores gerais de ordens religiosas, suplicava a solene proclamação de São José como Padroeiro da Igreja Universal.

Pio IX acolheu um e outro com alegria. Desde o início de seu pontificado havia fixado a Festa e a liturgia para o patrocínio de São José no III domingo depois da Páscoa. Já em 1854, em vibrante e fervorosa alocução, indicara São José como a esperança mais segura da Igreja depois da Virgem Santíssima; e no dia 8 de dezembro de 1870, escolheu a feliz coincidência da Festa da Imaculada Conceição para a proclamação mais solene e oficial de São José como Padroeiro da Igreja universal e para a elevação da Festa de 19 de março à celebração de rito duplo de 1ª classe.


Também Pio XII tomou de seu predecessor a nota fundamental no mesmo tom, em numerosas alocuções, todas tão belas, vibrantes e felizes. Como a 10 de abril de 1940, quando convidava os jovens esposos a se colocarem sob o seguro e suave manto do Esposo de Maria; e em 1945, quando convidava os membros da associação cristã dos operários a honrá-lo como elevado exemplo e defensor invencível de suas falanges; e dez anos depois, em 1955, quando anunciava a instituição da Festa anual de São José operário. Na realidade, esta Festa de instituição recentíssima, fixada a 1° de maio, veio suprimir a da 4ª feira da segunda semana de páscoa, enquanto a Festa tradicional de 19 de março marcará de agora em diante a data mais solene e definitiva do patrocínio de São José sobre a Igreja universal.

O mesmo Santo Padre Pio XII quis ornar como que de preciosíssima coroa o peito de São José com uma fervorosa oração proposta à devoção dos sacerdotes e fiéis de todo o mundo, e cuja recitação enriqueceu de numerosas indulgências. Oração de caráter eminentemente profissional e social, como convém àqueles que estão sujeitos à lei do trabalho, que é para todos 'lei de honra, de vida pacífica e santa, prelúdio da felicidade imortal'. Diz ela, entre outras coisas: «Permanecei conosco, ó São José, nos nossos momentos de prosperidade, quando tudo nos convida a gozar honestamente dos frutos de nossas fadigas; mas, sobretudo, permanecei conosco e sustentai-nos nas horas de tristeza quando parece que o céu quer fechar-se sobre nós e até os instrumentos de nosso trabalho vão escapar de nossas mãos (Papa Pio XII)».


Ó São José! Aqui, aqui mesmo é vosso lugar de 'Protetor da Igreja universal'. Quisemos apresentar-vos, através das palavras e dos documentos de nossos predecessores imediatos dos últimos séculos - de Pio IX a Pio XII - uma coroa de honra, como eco dos testemunhos de afetuosa veneração que se eleva igualmente de todas as nações católicas e de todas as regiões missionárias. Sede sempre nosso protetor. Que vosso espírito interior de paz, de silêncio, de bom trabalho e de oração, a serviço da Santa Igreja, nos vivifique sempre e nos alegre em união com vossa santa esposa, nossa dulcíssima Mãe Imaculada, num fortíssimo e suave amor a Jesus, Rei glorioso e imortal dos séculos e dos povos. Assim seja”.


BEATO SANTO PADRE JOÃO XXIII
Da Carta Apostólica LE VOCI


FESTA DE SÃO JOSÉ OPERÁRIO – São José é para todos nós um forte convite



“A figura deste grande Santo, mesmo sendo bastante escondida, reveste na história da salvação uma importância fundamental. Antes de tudo, pertencendo ele à tribo de Judá, ligou Jesus à descendência davídica, de forma que, realizando as promessas sobre o Messias, o Filho da Virgem Maria se pôde tornar verdadeiramente 'filho de David' O Evangelho de Mateus, de modo particular, ressalta as profecias messiânicas que encontraram cumprimento mediante o papel de José: o nascimento de Jesus em Belém (2, 1-6); a sua passagem através do Egito, onde a Sagrada Família se tinha refugiado (2, 13-15); a alcunha 'Nazareno' (2, 22-23). Em tudo isto ele demonstrou-se, ao mesmo nível da esposa Maria, herdeiro autêntico da fé de Abraão: fé no Deus que guia os acontecimentos da história segundo o seu misterioso desígnio salvífico. A sua grandeza, ao mesmo nível da de Maria, sobressai ainda mais porque a sua missão se desempenhou na humildade e no escondimento da casa de Nazaré. De resto, o próprio Deus, na Pessoa do seu Filho encarnado, escolheu este caminho e este estilo, o da humildade e do escondimento na sua existência terrena.


O exemplo de São José é para todos nós um forte convite a desempenhar com fidelidade, simplicidade e humildade a tarefa que a Providência nos destinou. Penso antes de tudo, nos pais e nas mães de família, e rezo para que saibam sempre apreciar a beleza de uma vida simples e laboriosa, cultivando com solicitude o relacionamento conjugal e cumprindo com entusiasmo a grande e difícil missão educativa. Aos sacerdotes, que exercem a paternidade em relação às comunidades eclesiais, São José obtenha que amem a Igreja com afeto e dedicação total, e ampare as pessoas consagradas na sua jubilosa e fiel observância dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência. Proteja os trabalhadores de todo o mundo, para que contribuam com as suas várias profissões para o progresso de toda a humanidade, e ajude cada cristão a realizar com confiança e com amor a vontade de Deus, cooperando assim para o cumprimento da obra da salvação”.


PAPA BENTO XVI
Na Solenidade de São José
Angelus, 19 de Março de 2006


quinta-feira, 23 de abril de 2009

Beata Maria Gabriella Sagheddu, OCSO - A santidade na unidade



Beata Maria Gabriella Sagheddu, OCSO

Festa em 22 de abril

A Beata Maria Gabriella Sagheddu, Monja Trapista (1914-1939), nasceu em Dorgali, Nuoro, em 17 de março de 1914 e entrou aos vinte anos no Mosteiro Trapista de Grottaferrata, atualmente transferido para Vitorchiano (Viterbo). Ofereceu com simplicidade a sua vida pela Unidade da Igreja e pelos irmãos separados. Seu holocausto foi agradável ao Senhor, que o consumou no dia 23 de abril de 1939, domingo do Bom Pastor.

A vida da Irmã Maria Gabriella não apresenta acontecimentos extraordinários nem milagres estrepitosos. Sua vida foi uma vida simples mas sempre fortemente motivada por fortes ideais: primeiro, o desejo de viver a própria realização pessoal com a sua entrada no Mosteiro Trapista, e depois viver uma doação total de sua alma a Deus. Nessa doação, ofertou a entrega de si mesma a Deus pela unidade dos cristãos. “Sinto que o Senhor me pede”, dizia ela a sua Abadessa. A ela são atribuídas numerosas vocações que continuam a chegar ao Mosteiro. Foi beatificada em 25 de janeiro de 1983. Seus restos mortais descansam na Capela da Unidade, anexa ao Mosteiro de Vitorchiano.


Trapa de Vitorchiano

“Rezar pela unidade não está só reservado a quem vive num contexto de divisão entre os cristãos. Naquele diálogo íntimo e pessoal, que cada de um de nós deve estabelecer com o Senhor na oração, a preocupação pela unidade não pode ficar de fora. Pois só assim é que tal preocupação fará parte plenamente da realidade da nossa vida e dos compromissos que assumimos na Igreja.

Para confirmar esta exigência, eu quis propor aos fiéis da Igreja Católica um modelo, que me parece exemplar, o de uma freira trapista, Maria Gabriella da Unidade, que proclamei Beata no dia 25 de janeiro de 1983.


A Irmã Maria Gabriella, chamada pela sua vocação a estar fora do mundo, dedicou a existência à meditação e à oração, centradas no capítulo 17 do Evangelho de S. João, oferecendo-as pela unidade dos cristãos.

Está aqui o fulcro de toda a oração: oferta total e sem reservas da própria vida ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo. O exemplo da Irmã Maria Gabriella ensina e faz-nos compreender como não há tempos, situações ou lugares particulares para rezar pela unidade. A oração de Cristo ao Pai é modelo para todos, sempre e em qualquer lugar”.

Papa João Paulo II, Encíclica ‘Ut unum sint’, 1995, nº 27



“A vontade de Deus, seja ela qual for, esta é a minha alegria, a minha felicidade, a minha paz”.

“Ofereci-me inteiramente e não volto atrás na palavra dada”.

“Não desejo outra coisa que amar”


Irmã Maria Gabriella Saghueddu, OCSO
Escritos


No caso de graças obtidas por intercessão da Beata Maria Gabriela, é pedido que se envie notícias aos seguintes endereços:


VICE POSTULAZIONE - MONASTERO DELLE TRAPPISTE
101030 VITORCHIANO (VT) FAX 0039-0761-370952
e-mail: trappa@vitorchiano.org


sábado, 18 de abril de 2009

OITAVA DA PÁSCOA – Emaus, olhos impedidos de O reconhecer



«Os seus olhos, porém, estavam impedidos de O reconhecer»

”Acabais de ouvir, irmãos caríssimos: dois discípulos de Jesus caminhavam na estrada e, não acreditando que era Ele, d'Ele falavam, porém. O Senhor apareceu-lhes, sem contudo se lhes mostrar sob uma forma por que o pudessem reconhecer. O Senhor realizou portanto no exterior, aos olhos do corpo, o que neles se cumpria no interior, aos olhos do coração. No seu próprio interior, os discípulos amavam e duvidavam em simultâneo; no exterior, o Senhor estava presente sem no entanto manifestar Quem era. Àqueles que d' Ele falavam, oferecia a sua presença; mas aos que duvidavam d'Ele, escondia o aspecto habitual, que lhes teria permitido reconhecê-lo. Trocou algumas palavras com eles, reprovou-lhes a lentidão em compreender, explicou-lhes os mistérios da Sagrada Escritura que lhe diziam respeito. E, no entanto, no coração deles continuava a ser um estranho, por falta de fé; fez então menção de seguir para diante. A Verdade, que é simples, nada fez com duplicidade, mas manifestou-se simplesmente aos discípulos no seu corpo tal como estava no espírito deles.


Com esta prova, o Senhor queria ver se os que ainda não o amavam como Deus eram ao menos capazes de o amar como viajante. A Verdade caminhava com eles; não podiam pois continuar estranhos ao amor; ofereceram-lhe hospitalidade, propondo-lhe que pernoitasse com eles, como se costuma fazer aos viajantes. Por que dizemos então que eles lhe propuseram, quando está escrito: «Insistiram com Ele»? Este exemplo mostra-nos bem que não devemos apenas oferecer hospitalidade aos viajantes, mas fazê-lo com insistência.

Os discípulos puseram a mesa, ofereceram da sua ceia; e, não tendo reconhecido a Deus quando da sua explicação da Sagrada Escritura, eis que o reconhecem agora, na fração do pão. Não foi pois ao escutar os mandamentos de Deus que ficaram iluminados e seus olhos enxergaram, mas ao pô-los em prática”.

São Gregório Magno, Papa e Doutor da Igreja
Homilia 23 sobre o Evangelho

domingo, 12 de abril de 2009

PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO – CRISTO RESSUSCITOU- SURREXIT DOMINUS VERE! ALLELUIA!

Feliz e Santa Páscoa!
Surrexit Dominus vere! Alleluia!



Cristo ressuscitou!

Irmãos e filhos: escutai! Nós somos testemunhas desse fato! Somos a voz que se perpetua, ano após ano, na história; somos a voz que se difunde em círculos sempre mais amplos no mundo; somos a voz que repete o testemunho irrefragável daqueles que por primeiro o viram com os próprios olhos e o tocaram com as próprias mãos, e verificaram a novidade e a realidade do fato triunfante sobre os esquemas de toda experiência natural; somos os transmissores, de uma geração para outro, de um povo para outro, da mensagem de vida da ressurreição de Cristo. Somos a voz da Igreja, para isso fundada, para isso difundida na humanidade, para isso militante, para isso viva e esperançosa, para isso pronta a confirmar com o próprio sangue a própria palavra: ressuscitou! Cristo ressuscitou!

O fato da ressurreição de Cristo tem que ver, sim, com a sua história, que é o Evangelho, tem que ver com sua vida, que se manifestou humana e divina, viva na Pessoa do Verbo de Deus; mas tem que ver igualmente com nós mesmos. Em Jesus Cristo se realiza um desígnio de Deus; o mistério, guardado em segredo por séculos, da redenção da humanidade, revelou-se; em Cristo nós somos salvos. Em Cristo se concentram os nossos destinos, em Cristo se resolvem os nossos dramas, em Cristo se explicam as nossas dores, em Cristo se perfilam as nossas esperanças.


Não é um fato isolado a ressurreição do Senhor; é um fato que tem que ver com toda a humanidade; por Cristo estende-se ao mundo, tem uma importância cósmica! E é maravilhoso: aquele prodigioso acontecimento reverbera sobre cada homem vindo a este mundo com efeitos diversos e dramáticos; reveste toda árvore genealógica da humanidade; Cristo é o novo Adão, que infunde na frágil, na mortal circulação da vida humana natural um princípio vital novo; inefável, mas real, um princípio de purificadora regeneração, um germe de imortalidade, uma relação de comunhão existencial com Ele, Cristo, até participar com Ele, no fluxo do seu Espírito Santo, da própria vida do infinito Deus, que em virtude sempre de Cristo podemos chamar bem-aventuradamente: Pai nosso!"

Servo de Deus Papa Paulo VI
Da Mensagem pascal, 1964

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Segunda-feira Santa - O Deus que pede é o Deus que dá sem medida



“Deus pede Isaac a Abraão. Que prova! A fé de Abraão, aqui, chega quase que ao absurdo! Mas, ele foi em frente e ‘estendeu a mão, empunhando a faca para sacrificar o filho’.

Pensemos um pouco: Deus tinha o direito de pedir isso a Abraão? Deus tem o direito de nos provar, de tantas vezes nos pedir coisas que não compreendemos bem? Tem o direito de pedir fé e confiança diante dos percalços da vida? Poderíamos responder dizendo simplesmente que “sim”, porque Ele é Deus; deu-nos tudo e pode pedir-nos o que desejar. Mas, não é essa a resposta que a Palavra de Deus nos indica. Ele nos pode pedir, certamente, e nós devemos dar, com certeza, porque Ele mesmo, o nosso Deus, nos deu tudo! Ele, que pede que Abraão lhe sacrifique o filho único e amado, é o mesmo Deus que, como diz São Paulo, ‘não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós!’ Eis o grande mistério: Deus, no seu amor por nós – primeiro pelo povo de Israel, descendência de Abraão, e, depois, por toda a humanidade, com a qual Ele deseja formar o novo povo, que é a Igreja – Deus, no seu amor por nós, entregou à morte o seu Filho único, o Amado, o Justo e Santo, aquele no qual Ele coloca todo o seu bem-querer. Não é assim que Ele no-lo apresenta no Monte Tabor? ‘Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!’. É este Filho que será entregue à morte. O Evangelho de São Lucas nos diz que, precisamente nesta ocasião, Jesus transfigurado falava com Moisés e Elias ‘sobre a sua partida, isto é, a sua morte, que iria se consumar em Jerusalém’ (Lc 9,31). E no Evangelho de São Marcos, o próprio Jesus, ao descer da montanha, ‘ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos’. Eis a mensagem: sobre o Monte Tabor, com o Transfigurado envolto em glória, paira a sombra da paixão, da morte do Filho amado e único, que o Deus de Abraão entregará por nós até o fim. Ao filho de Abraão, a Isaac, Deus poupou no último momento; não poupará, contudo, o seu próprio Filho!



Isso nos revela a dimensão do amor de Deus, da sua paixão pela humanidade, do seu compromisso salvífico em nosso favor! Ele pode nos pedir tudo e nós deveríamos dar-lhe tudo, porque, ainda que não compreendamos, Ele deseja somente o nosso bem, a nossa vida, a nossa salvação. Somos preciosos a seus olhos! Eis o que afirma o Apóstolo: ‘Se Deus é por nós, quem será contra nós? Deus que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos daria tudo juntamente com ele? Quem acusará os escolhidos de Deus? Deus, que os declara justos? Quem condenará? Jesus Cristo, que morreu, mais ainda, que ressuscitou, e está à direita de Deus, intercedendo por nós?’ Eis, pois, a dimensão e a profundidade, a largura e a altura do amor de Deus por nós!

Deixemo-nos, portanto, tocar no nosso coração; convertamo-nos! Abramo-nos para o Senhor! Arrependamo-nos de nossas indiferenças, de nossa frieza, de nosso fechamento! Tenhamos vergonha de tanta incredulidade e desconfiança de Deus, simplesmente porque não entendemos seu modo de agir! Que Santo Abraão, nosso pai na fé, e a Santíssima Virgem Maria, nossa Mãe na fé, intercedam por nós para uma verdadeira conversão quaresmal. E que, realizando com generosidade e amor, as práticas quaresmais, cheguemos às alegrias da Páscoa e contemplemos nos santos mistérios da Liturgia, a face do Cristo glorificado!”.

D. Henrique Soares da Costa
Bispo Titular de Acufida e Auxiliar de Aracaju




“Como se aproximam os dias mais importantes que originaram os sacramentos da nossa salvação, devemos dedicar maior cuidado para purificar nossos corações e entregar-nos mais cuidadosamente aos exercícios das virtudes. Quanto mais sublime é a festa, tanto mais preparado deve estar aquele que vai participar dela.

Perscrute cada um sua consciência e se apresente diante de si mesmo para a censura do próprio julgamento. Veja cada um, na intimidade do seu coração, se encontra aquela paz que é dada pelo Cristo!”

Papa São Leão Magno

terça-feira, 17 de março de 2009

Conversão: abrir o coração a Cristo – Bento XVI



Conversão, abrir o coração a Cristo

Bento XVI, 21 de fevereiro de 2007

“A Quaresma é uma oportunidade para ‘voltar a ser’ cristãos, através de um processo constante de mudança interior e de avanço no conhecimento e no amor de Cristo. A conversão não tem lugar nunca uma vez para sempre, mas é um processo, um caminho interior de toda a nossa vida. Certamente este itinerário de conversão evangélica não pode limitar-se a um período particular do ano: é um caminho de todos os dias, que tem que abarcar toda a existência, cada dia de nossa vida.

Desde este ponto de vista, para cada cristão e para todas as comunidades eclesiais, a Quaresma é a estação espiritual propicia a que se treine com maior tenacidade a busca de Deus, abrindo o coração a Cristo.

Santo Agostinho disse em uma ocasião que nossa vida é um exercício único do desejo de aproximarmo-nos de Deus, de sermos capazes de deixar Deus entrar em nosso ser. ‘Toda a vida do cristão – disse – é um santo desejo’. Se isso é assim, a Quaresma nos convida ainda mais a arrancar de nossos desejos a raiz da vaidade para educar o coração no desejo, quer dizer, no amor de Deus. ‘Deus – diz Santo Agostinho – é tudo o que desejamos’ ( Cf. «Tract. in Iohn.», 4 ). E esperamos que realmente comecemos a desejar a Deus e, deste modo, desejar a verdadeira vida, o amor mesmo e a verdade.



É particularmente oportuna a exortação de Jesus, referida pelo evangelhista Marcos: ‘Convertei-vos e crede na Boa Nova’ (Cf. Marcos 1, 15). O desejo sincero de Deus nos leva a rechaçar o mal e a realizar o bem. Esta conversão do coração é antes de tudo um dom gratuito de Deus, que nos criou para si e em Jesus Cristo nos redimiu: nossa felicidade consiste em permanecer Nele. (Cf. João 15, 3). Por esse motivo, Ele mesmo previne com sua graça nosso desejo e acompanha nossos esforços de conversão.

Mas, o que é em realidade converter-se? Converter-se quer dizer buscar a Deus, caminhar com Deus, seguir docilmente os ensinamentos de seu Filho, Jesus Cristo; converter-se não é um esforço para realizar-se a si mesmo, porque o ser humano não é o arquiteto do próprio destino. Nós não fizemos a nós próprios. Por isso, a auto-realização é uma contradição e é demasiado pouco para nós. Temos um destino mais alto. Poderíamos dizer que a conversão consiste precisamente em não considerar-se ‘criadores’ de si mesmos, descobrindo deste modo a verdade, porque não somos autores de nós mesmos.

Conversão consiste em aceitar livremente e com amor que dependemos de Deus, nosso verdadeiro Criador, que dependemos do amor. Isto não é dependência mas liberdade. Converter-se significa, portanto, não perseguir o êxito pessoal, que é algo que passa, mas, abandonando toda a segurança humana, seguir sempre com simplicidade e confiança no Senhor, para que Jesus se converta para cada um, como gostava a Beata Teresa de Calcutá de dizer, em ‘meu tudo em tudo’. Quem se deixa conquistar por Ele não tem medo de perder a própria vida, porque na Cruz Ele nos amou e se entregou por nós. E precisamente, ao perder, por amor, nossa vida, voltamos a encontrá-la”.


Sua Santidade, Papa Bento XVI


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Festa da Cátedra de São Pedro



22 de fevereiro

"Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela." Mt 16,18


”Dia da Cátedra de São Pedro. Não se sabe bem como se originou essa Festa. Mas é certo que existe uma inscrição, datada de 370 - portanto, há mais de 1.600 anos - atribuída ao Papa São Dâmaso, falando de uma cadeira portátil, dentro do Vaticano, e que é considerada a "Cátedra" do Apóstolo Pedro.

A “Cátedra de São Pedro” ou "Cadeira de São Pedro" (Cathedra Petri em latim) é uma relíquia católica, conservada na Basílica de São Pedro em Roma, dentro de um compartimento de bronze projetado e construído por Gian Lorenzo Bernini entre 1647 e 1653.

Hoje, dessa cadeira restam apenas algumas relíquias de madeira, conservadas e honradas, no lugar onde o grande artista Bernini levantou o monumento grandioso, em honra do primeiro Papa, a Basílica de São Pedro.

Escavações, feitas por cientistas de diversas nações, também provam que os restos mortais de São Pedro se encontram debaixo do mesmo Vaticano, que se torna, assim, Símbolo de Unidade da Igreja. A celebração de Festa da Cátedra de São Pedro tem o significado e o apelo à unidade dos cristãos, sob a guia do Papa, representante visível de Cristo.

O Evangelho nos une a Pedro, mas também a todos os apóstolos e membros da Igreja”.

Fonte: Evangelho quotidiano


Bento XVI, neste domingo ao meio-dia, ao rezar a oração mariana do Ângelus junto a milhares de peregrinos reunidos na praça de S. Pedro no Vaticano, disse:

“A Festa da Cátedra de São Pedro é um importante acontecimento litúrgico que coloca na luz o ministério do Sucessor do Príncipe dos Apóstolos. A Cátedra de Pedro simboliza a autoridade do Bispo de Roma, chamado a desenvolver um peculiar serviço para todo o Povo de Deus. Rapidamente depois do martírio dos santos Pedro e Paulo, à Igreja de Roma é, de fato, reconhecido o papel primordial em toda comunidade católica, papel atestado já no II século por Santo Inácio de Antioquia (Aos Romanos, Pref.: Funk, I, 252) e por Santo Irineu de Leão (Contra as heresias III, 3, 2-3). Este singular a específico ministério do Bispo de Roma foi reforçado pelo Concílio Vaticano II. «Na comunhão eclesiástica, – lemos na Constituição dogmática sobre a Igreja – existem legitimamente as Igrejas particulares, que gozam de próprias tradições, permanecendo íntegra a primazia da Cátedra de Pedro, a qual preside a comunhão universal da caridade (cf. S. Inácio Ant., Ad Rom., Pref.), tutela a variedade legítima, e junto vigia afim de que o que é particular, não só não fira a unidade, mas a sirva» (Lumen gentium, 13).

Caros irmãos e irmãs, esta Festa me oferece a ocasião para pedir-vos que me acompanhem com vossas orações, para que possa cumprir fielmente a grande missão que a Providência Divina me confiou qual Sucessor do apóstolo Pedro. Invocamos por isso a Virgem Maria, que ontem aqui, em Roma, celebramos com o belo título de Nossa Senhora da Confiança. A Ela pedimos também que nos ajude a entrar com as devidas disposições de vontade no tempo da Quaresma.”

Fonte: Zenit


domingo, 28 de dezembro de 2008

As Núpcias do Cordeiro




PAPA JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA

Quarta-Feira 10 de dezembro de 2003

As núpcias do Cordeiro


Segundo a série dos Salmos e dos Cânticos que constituem a oração eclesial das Vésperas, encontramo-nos diante de um trecho de hino, tirado do capítulo 19 do Apocalipse e composto por uma sequência de aleluias e de aclamações.

Por detrás destas aclamações jubilosas está a lamentação dramática entoada no capítulo precedente pelos reis, pelos mercadores e navegadores face à queda da Babilónia imperial, a cidade da maldade e da opressão, símbolo da perseguição que se desencadeou em relação à Igreja.

Em antítese a este brado que se eleva da terra, ressoa nos céus um coro jubiloso de tipo litúrgico que, além do aleluia, repete também o amém. As várias aclamações semelhantes a antífonas, que agora a Liturgia das Vésperas une num único cântico, na realidade, no texto do Apocalipse, são colocadas nos lábios de várias personagens. Encontramos antes de mais uma "multidão imensa", constituída pela assembleia dos anjos e dos santos (cf. vv. 1-3). Distingue-se depois a voz dos "vinte e quatro idosos" e dos "quatro seres vivos", figuras simbólicas que se parecem com os sacerdotes desta liturgia celeste de louvor e de agradecimento (cf. v. 4). Por fim, eleva-se uma voz solista (cf. v. 5) que, por sua vez, envolve no cântico uma "grande multidão" com a qual se tinha começado (cf. vv. 6-7).

Teremos a ocasião, nas etapas futuras deste nosso itinerário orante, de ilustrar cada uma das antífonas deste grandioso e alegre hino de louvor a várias vozes. Contentamo-nos agora com duas anotações. A primeira refere-se à aclamação de abertura que diz assim: "A salvação, a glória e o poder pertencem ao nosso Deus, porque os seus julgamentos são verdadeiros e justos" (vv. 1-2).

No centro desta invocação jubilosa encontra-se a representação da intervenção decisiva de Deus na história: o Senhor não é indiferente, como um imperador impassível e isolado, em relação às vicissitudes humanas. Como diz o Salmista, "o Senhor do Seu trono celestial, observa com os seus olhos, e com a sua vista examina os filhos dos homens" (Sl 10, 4).

Aliás, o seu olhar é fonte de acção, porque ele intervém e destrói os impérios prepotentes e opressivos, derrota os orgulhosos que o desafiam, julga todos os que perpetram o mal. É ainda o Salmista quem descreve as imagens pictóricas (cf. Sl 10, 7), esta irrupção de Deus na história, assim como o autor do Apocalipse tinha evocado no capítulo anterior (cf. Ap 18, 1-24) a terrível intervenção divina em relação à Babilónia, desenraizada da sua sede e lançada ao mar. O nosso hino menciona esta intervenção com um trecho que não é retomado na celebração das Vésperas (cf. Ap 19, 2-3).

Então, a nossa oração deve sobretudo invocar e louvar a acção divina, a justiça eficaz do Senhor, a sua glória obtida com a vitória sobre o mal. Deus faz-se presente na história, pondo-se do lado dos justos e das vítimas, precisamente como declara a aclamação, breve mas essencial, do Apocalipse e como se repete com frequência no cântico dos Salmos (cf. Sl 145, 6-9).

Desejamos realçar outro tema do nosso Cântico. É desenvolvido da aclamação final e é um dos motivos dominantes do próprio Apocalipse: "Chegaram as núpcias do Cordeiro, a Sua esposa já está preparada" (Ap 19, 7). Cristo e a Igreja, o Cordeiro e a esposa, estão em profunda comunhão de amor.

Procuraremos fazer brilhar este carácter esponsal místico através do testemunho poético de um grande Padre da Igreja síria, Santo Efrém, que viveu no quarto século. Usando simbolicamente o sinal das núpcias de Caná (cf. Jo 2, 1-11), ele introduz a própria cidadania, personificada, que louva Cristo pelo grande dom recebido:

"Darei graças juntamente com os meus hóspedes porque ele me considerou digna de o convidar: Ele, que é o Esposo celeste, que desceu e a todos convidou; e também eu fui convidada para participar na sua festa pura de núpcias. Reconhecê-lo-ei diante dos povos como o Esposo, como Ele não há outro. O seu quarto nupcial está preparado desde há séculos, e o seu quarto nupcial está adornado com riquezas e nada lhe falta: não como as Bodas de Caná, cujas faltas Ele satisfez" (Inni sulla verginità, 33, 3: L'arpa dello Spirito, Roma 1999, págs. 73-74).

Noutro hino que canta também as núpcias de Caná, Santo Efrém realça como Cristo, convidado para as núpcias de outrem (precisamente os esposos de Caná), tenha desejado celebrar a festa das suas núpcias - as núpcias com a sua esposa, que é qualquer alma fiel:

"Jesus, tu foste enviado a uma festa de núpcias de outrem, dos esposos de Caná, aqui, ao contrário, é a tua festa, pura e bela: alegra os nossos dias, porque também os teus hóspedes, Senhor, precisam dos teus cânticos: deixa que a tua harpa preencha tudo! A alma é a tua esposa, o corpo é o teu quarto nupcial, os teus convidados são os sentidos e os pensamentos. E se um só corpo é para ti uma festa de núpcias toda a Igreja constitui o teu banquete nupcial!" (Inni sulla fede, 14, 4-5: op. cit., pág. 27).