domingo, 4 de abril de 2010

PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR – Festa das festas, Solenidade das solenidades!



DOMINGO DE PÁSCOA
RESSURREIÇÃO DO SENHOR

At 10,34a.37-43
Sl 117
Cl 3,1-4 ou 1Cor 5,7b.-8a
Jo 20,1-9 ou, à tarde, Lc 24,13-35


«É a Páscoa do Senhor! Festa das festas, Solenidade das solenidades!»

É a Páscoa do Senhor, a Páscoa do Senhor, direi outra vez em honra da Trindade: é a Páscoa do Senhor! Festa das festas, solenidade das solenidades, eleva-se, não somente acima das festas humanas e terrestres, mas até mesmo das que são de Cristo e se celebram em sua honra, assim como o sol que obscurece a luz das estrelas. Que belo espetáculo, o de ontem, das vestimentas alvas e das luzes, nossa obra, a um tempo pessoal e comum, quando homens de todas as condições e de todas as categorias iluminavam a noite com o fulgor das lâmpadas.

Essa imensa claridade assemelhava-se à luz ofuscante que o céu nos envia do alto como um sinal, iluminando o universo com o fulgor dos astros. A imagem dessa luz era também superior à beleza das estrelas, dos anjos e da Trindade – os anjos participando da luz da Trindade – luz indivisa da qual procede toda luz, comunicando-lhes o fulgor.

Mais brilhante e mais excelente é a solenidade de hoje. Pois a luz de ontem era o prenúncio desta grande luz que surge, era como o alegre prelúdio da festa. Hoje celebramos a própria ressurreição, não mais como esperança, mas como realidade, que atrai para si todo o universo.

Ontem, imolava-se o cordeiro; marcava-se com seu sangue os portais; o Egito chorava seus primogênitos; o Exterminador poupava-nos, diante de um sinal que respeitava e temia; um sangue precioso protegia-nos. Hoje, purificados, fugimos do Egito, do Faraó, cruel soberano, e de seus implacáveis feitores. Já não estamos condenados à argamassa e ao tijolo, e ninguém nos impedirá de celebrar, em honra do Senhor nosso Deus, o dia em que saímos do Egito, e de celebrá-lo não com o velho fermento nem com o fermento da maldade ou da iniqüidade, mas com os pães ázimos da sinceridade e da verdade (1Cor 5, 8).

Ontem, eu estava crucificado com Cristo; hoje, sou glorificado com ele. Ontem, eu estava sepultado com Cristo; hoje, saio com ele do túmulo. Levemos, pois, nossas primícias àquele que sofreu e ressuscitou por nós. Credes que falo aqui de ouro, prata, tecidos, pedras preciosas? Ó frágeis bens da terra! Eles não saem do solo senão para cair, quase sempre, nas mãos de celerados, escravos deste mundo e do Príncipe do mundo.

Ofereçamos nossas próprias pessoas, que são o presente mais precioso aos olhos de Deus e o mais próximo dele. Rendamos à sua imagem o que mais a ela se assemelha. Reconheçamos nossa grandeza, honremos nosso modelo, compreendamos a força desse mistério e as razões da morte de Cristo.

Sejamos como Cristo, pois Cristo foi como nós. Sejamos deuses para ele, pois ele se fez homem por nós. Ele tomou o pior, para dar-nos o melhor; ele se fez pobre, para nos enriquecer com sua pobreza; ele tomou a condição de escravo, para obter-nos a liberdade; ele se abaixou, para exaltar-nos; ele foi tentado, para nos ver triunfar; ele se fez desprezar, para nos cobrir de glória. Ele morreu, para salvar-nos. Ele subiu aos céus, para atrair-nos até ele, a nós que roláramos no abismo do pecado.

Demos tudo, ofereçamos tudo àquele que, por nossa causa, se deu a si mesmo como preço de nossa redenção. Não daremos nada de maior que nós mesmos, se compreendermos esses mistérios e nos tornarmos para ele tudo o que se tornou para nós.


São Gregório de Nazianzo, Bispo
Oratio 45, 2, in Sanctum Pascha: Patrologia Grega 36, 623-626;
Oratio 1, 3-5, in Sanctum Pascha et in tarditatem: Patrologia Grega 35, 398-399

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