Mostrando postagens com marcador Carmelitas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Carmelitas. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 2 de abril de 2010

TRÍDUO PASCAL – SEXTA-FEIRA SANTA – O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo



SEXTA -FEIRA DA PAIXÃO DO SENHOR

Is 52, 13-53, 12
Sl 30
Hb 4, 14-16; 5, 7-9
Jo 18, 1-19, 42


«O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo»

No Apocalipse, o apóstolo João escreve: «Eis o que vi: diante do trono...havia um Cordeiro, de pé e como que imolado» (Ap 5,6). Enquanto contemplava esta visão, uma recordação permanecia nele ainda bem viva: a do dia inesquecível em que, na margem do Jordão, João Batista tinha designado Jesus como «o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo».

Mas porque é que o próprio Senhor tinha escolhido o cordeiro para ser o seu símbolo por excelência? Porque é que se mostrava mais uma vez sob esta aparência no trono eterno da glória? Porque era inocente como um cordeiro e humilde como um cordeiro, e porque tinha vindo para «deixar-se conduzir ao matadouro como um cordeiro» (Is 53,7).

Também isso tinha contemplado o apóstolo João, quando o Senhor tinha deixado que lhe atassem as mãos no Jardim das Oliveiras e se tinha deixado pregar na cruz no Gólgota. Ali, no Gólgota, o verdadeiro sacrifício da reconciliação tinha sido consumado. Os antigos sacrifícios tinham perdido a sua força e, tal como antigo sacerdócio, cessaram em breve quando o templo foi destruído. Tudo isto João tinha-o vivido. Por isso, não se admirou ao ver o Cordeiro no trono.

Tal como o Cordeiro tinha de ser morto para ser elevado ao trono da glória, assim também, para todos os que foram escolhidos para «a boda das núpcias do Cordeiro» (Ap 19,9), o caminho para a glória passa pelo sofrimento e pela cruz. Aqueles que querem unir-se ao Cordeiro devem deixar-se pregar com ele na cruz. Todos os que estão marcados com o sangue do Cordeiro (cf. Ex 12,7) a isso são chamados - e são todos os batizados. Mas nem todos compreendem o apelo e nem todos o seguem.


Santa Teresa Benedita da Cruz
As Bodas do Cordeiro, 1940

TRÍDUO PASCAL – SEXTA-FEIRA SANTA – Tome a sua cruz e siga-Me



SEXTA -FEIRA DA PAIXÃO DO SENHOR

Is 52, 13-53, 12
Sl 30
Hb 4, 14-16; 5, 7-9
Jo 18, 1-19, 42


«Tome a sua cruz e siga-Me»

A união com Cristo é a nossa bem-aventurança e o aprofundamento dessa união com Ele traz-nos a felicidade terrena. Portanto, o amor à cruz não está, de forma nenhuma, em contradição com a alegria de sermos filhos de Deus. Ajudar a levar a cruz de Cristo dá uma alegria forte e pura aos que são chamados e são capazes de o fazer. Dessa forma, os verdadeiros filhos de Deus participam na edificação do Seu Reino.

Assim, a predileção pelo caminho da cruz também não significa que nos desagrade ver ultrapassada a Sexta-feira Santa e cumprida a Obra da Redenção. Só os resgatados, só os filhos da graça podem verdadeiramente carregar a cruz de Cristo. Só através da união com a divina Cabeça é que o sofrimento humano adquire a sua potencialidade redentora.

Sofrer e sentir-se bem-aventurado no sofrimento, permanecer firme de pé, seguir pelos caminhos poeirentos e pedregosos desta terra e estar ao mesmo tempo sentado com Cristo à direita do Pai (cf. Col 3, 1), rir-se e chorar com as crianças deste mundo sem deixar de cantar com os coros angélicos os louvores de Deus, eis a vida do cristão, até que rompa a aurora da eternidade.


Santa Teresa Benedita da Cruz
A expiação mística - Amor à cruz, 1934
T.Source Cachée, 1999, p. 234

domingo, 7 de março de 2010

Quaresma – Senhor, para não retroceder, necessito do vosso constante auxílio




«Senhor, para não retroceder, necessito do vosso constante auxílio»


“Ó Senhor de minha alma e meu Sumo Bem! Por que não quereis que a alma, quando se decide a amar-vos, fazendo o que está em suas mãos, isto é, abandonando tudo para se entregar ao vosso amor, não tenha logo o gozo de atingi-lo em grau perfeito? Disse mal. Deveria queixar-me de nós e perguntar porque não o queremos? Com efeito, se desde o início não gozamos de tão alta dignidade, a culpa é toda nossa, pois se possuíssemos com perfeição o vosso amor, teríamos com ele todas as espécies de bens! Mas, ó Senhor, somos tão mesquinhos e tardios em nos darmos inteiramente a Vós, que jamais acabamos de nos dispor. O resultado é que, assim como não nos resolvemos a dar tudo de uma vez, também, ó Senhor, não se nos dá duma vez este tesouro.

Ó meu Deus, fazei-me a grande misericórdia de ajudar-me e dai-me a coragem de procurar com todas as forças este bem. Se perseverar, Vós que a ninguém vos negais, pouco a pouco, ir-me-eis habilitando o ânimo para sair vitoriosa. Estou persuadida de que, se com vossa graça me esforçar por chegar ao cume da perfeição, entrarei no céu não sozinha, mas levando comigo muitas almas, como bom capitão, a quem Vós, Senhor, confiastes um grande exército. Mas, para não retroceder, necessito de muitíssima coragem e do vosso constante auxílio”.


Santa Teresa de Jesus
Obras Completas, Vida, 11, 1-4

domingo, 28 de fevereiro de 2010

A Quaresma e o Silêncio – O silêncio interior é imprescindível a nossa vocação de união com Deus



QUARESMA 2010

«O silêncio interior é imprescindível a nossa vocação de união com Deus»

Silêncio não significa só exclusão de palavras e não pode ser considerado somente no seu aspecto negativo. Silêncio não é um estado de esquecimento, de vazio, de “nada”; ao contrário, o silêncio ao qual nos referimos distingue-se pelo seu caráter positivo, é uma linguagem que transborda de uma presença impregnada de vida, de solicitude, de oblação.

O silêncio a que aludimos, “faz falar pouco para ouvir muito”. A necessidade de se derramar em palavras inúteis vai diminuindo progressivamente, porque existe uma vida interior cada vez mais intensa, que se vai impregnando da pura atenção ao OUTRO que é Deus...É o silencio do egoísmo, das susceptibilidades, das vontades e dos caprichos. Este silêncio é o comportamento indispensável para escutar Deus e para acolher a sua comunicação, é a atmosfera VITAL da Oração, da Salmodia e de todo Culto Divino.

Este silêncio é progressivo, amassado primeiramente em muito domínio, quer da língua, quer da imaginação e da memória. É deixar-se avassalar por uma Presença que não é outra senão Deus e daqui radica o silencio do coração.

A necessidade e o valor do silêncio da língua – que é o mais elementar - encontram na Sagrada Escritura um precioso testemunho. A necessidade e o valor do silêncio da língua – que é o mais elementar - encontram na Sagrada Escritura um precioso testemunho. Jesus, ao calar-se diante de Pilatos, eleva o silêncio a uma virtude heróica. Ele recorda com os seus ensinamentos a importância do silêncio. Retira-se para lugares desérticos e silenciosos para passar a “noite em oração” (Lc. 6,12).

O silêncio da palavra e das manifestações exigentes (violentas) do egoísmo dá passo ao silencio interior. Segundo a Patrística citaremos apenas alguns Padres da Igreja a saber:

1-S.Gregório de Nazianzo recorda o “ deserto como fonte de progresso para Deus, de Vida Divina” e chama ao Louvor a “ filha do Silêncio”.
2-S.Basílio recorda o valor purificador e a vantagem da “solidão silenciosa” para o encontro com Deus
3-S.João Clímaco insere o silêncio na “escala de perfeição” (10º, 11º e 12º)
4- Sto.Ambrósio fala da “taciturnidade como remédio da alma” e compara a “quem fala muito com uma vasilha furada incapaz de conservar os segredos do Rei”
5-Sto.Agostinho fala da “alegria de escutar silenciosamente”

Na tradição Monástica o costume de retirar-se para o deserto para escutar Deus, praticado pelos primeiros eremitas e monges, já remonta aos tempos de Moisés, Elias e os demais profetas Tanto na vida eremítica como na vida cenobítica e vidas mistas, o silêncio é um elemento fundamental para se criar um clima de atenção a Deus. Na vida cenobítica, desde os primeiros séculos, o silêncio aparece como preceito de perfeição, moralmente indispensável. Cassiano prescreve observar o silêncio rigoroso durante a noite, à mesa, no Coro e em todo o tempo que se emprega a cantar o Ofício Divino.

No nosso tempo temos exemplos luminosos de uma atração particular pelo silêncio: Santa Teresinha do Menino Jesus, Charles de Foucauld, mas principalmente a Beata Isabel da Trindade, chamada também a “Santa do Silêncio”, que sentiu em si a missão de atrair as almas ao silêncio e ao recolhimento interior.

O Silêncio interior

O silêncio interior, como se depreende da palavra que o classifica, é aquele que diz respeito ao nosso mundo interior, íntimo, que pode ser ajudado, só minimamente, pelo silêncio exterior. Apesar daquele não poder, de modo algum depender deste, acontece muitas vezes que se desencadeia o crescimento do silêncio interior a partir do exterior, porque o exterior criou um certo ambiente que propiciou a atração da alma para o interior. Mas prestemos atenção ao reino interior, que há que pacificar e silenciar:

a)Silêncio da Imaginação e da memória: Enquanto o ser humano tem poder para “implantar” o silêncio nos seus movimentos exteriores, nos ruídos que a sua atividade pode suscitar, aqui, no ‘reino interior, tem pouco poder. É todo um mundo em que só à força de paciência, perseverança e constantes esforços, poderá conseguir alguma coisa. À partida, temos de saber que o verdadeiro silêncio só pode ser outorgado por Deus, e normalmente isto acontece só depois de muitos esforços da nossa parte. Ele é um dom para a Contemplação.

O encontro com Deus exige a exclusão das dissipações da atividade interior, exercendo sobre a mesma um controle efetivo. O homem, em primeiro lugar, tem de criar o ‘vazio’ nas suas ‘potências’ interiores desocupar a alma de uma forma muito ativa, esforçar-se constantemente por dominar – quanto dele possa depender - pensamentos, desejos, que normalmente se vão fixar naquilo que ama ou teme. É o “desocupar o Palácio da alma” de Santa Teresa, de recordações interiores que perturbam a paz, empregando todas as suas forças para entrar no recolhimento ativo. Todo este trabalho de ‘silenciamento’ das nossas faculdades ‘sensíveis’ é muito necessário e até imprescindível para que o homem se encontre nas condições mínimas da verdadeira escuta.

b)Silêncio com as criaturas e Silencio do coração: Este silêncio é um dos mais necessários para aquele que procura “ver” a Deus, possuir o coração puro requerido para a pura contemplação. É também chamado o silêncio do amor vigilante, que consiste em reagir, vigorosa e energicamente, contra todo o afeto puramente natural que se manifesta em pensamentos, conversas “interiores”, desejos demasiado ardentes, porque demasiado sensíveis, ‘à flor da pele’, como se costuma dizer, para se dirigir, com um movimento de fé e amor, para Deus. O homem deve vigiar o desejo de satisfações contrárias à Vontade de Deus : prazeres, gostos, preferências, simpatias absorventes, etc, tudo aquilo que dificulta a adesão total ao Senhor É necessário fazer calar estes desejos que dividem o coração humano através do exercício do ‘amor virginal’, desinteressado e disposto a renunciar a esses ‘objetos amados’, desejados, sacrificando as próprias exigências egoístas pelo bem alheio, através do dom generoso de si mesmo.

Ao nível sobrenatural, há que mortificar a devoção demasiado ardente, sensível, simplificar a sua relação com Deus (não multiplicar as orações, as penitências) e aceitar em paz as purificações que se manifestam de mil e uma maneiras no dia-a-dia, e tudo aquilo que, na Providência de Deus, Ele permite para nos livrar cada vez mais dos nossos apegos e maus hábitos a fim de estarmos livres para o Amor.

c) Silêncio do espírito e do juízo: A vida contemplativa do homem, quando chega a um certo nível de perfeição, pode resumir-se num só ato: abrir-se e escutar Deus, para receber a irradiação da Sua Luz, que só será possível se a inteligência permanecer livre e vazia de raciocínios, “razões” e juízos naturais, de investigações intelectuais e de intenções alheias a Deus . Este silêncio de que nos fala S.João da Cruz na Noite do Espírito significa o despojamento total do intelecto, é o "nescivi" (nada sei) de S.Paulo e o “apagar qualquer outra luz” de Isabel da Trindade. Antes que Deus intervenha poderosamente com as suas purificações, o homem tem que fazer todo o possível por se purificar ativamente, só assim é que ELE poderá agir, numa alma que se dispôs com o seu próprio trabalho.

O Silêncio Divino

Este silêncio é o silêncio mais precioso que o homem pode alcançar. Ele brota de uma vontade já totalmente decidida de se estar sempre unido com Deus, na mais completa abnegação pessoal. É um dom oferecido pelo próprio Deus a todo aquele que se deixou trabalhar pelo seu FOGO (grandes ou pequenas purificações; aquelas descritas por João da Cruz ou aquelas de que o Santo não fala; tudo o que faz parte da nossa vida pode transformar-se em momento privilegiado de purificação = santificação).

O grande teólogo P. Lacordaire Lagrange, deixou escrito que este silêncio representa o supremo esforço da alma que sair de si mesma, sem saber nem poder já expressar-se. A pessoa, para atingir este nível que lhe é oferecido por Deus, deverá antes ter-se abeirado do último e supremo esforço humano na colaboração com o trabalho de Deus; só depois é que as ‘núpcias espirituais’ acontecem.

Este silêncio não deve ser um silêncio qualquer, mas um silêncio amoroso, porque relacionado diretamente com a Pessoa Divina.

Quando a intimidade divina é profunda, o silêncio distingue-se pela sua “pureza”, onde os ídolos e os desejos alheios a Deus começam a estar ausentes. O silêncio do coração torna-se em ‘puro desejo de Deus’, ' saudades de Deus ', reflexo de um coração não dividido. O silêncio que se vai alastrando a todo o ser da pessoa, é o próprio Deus que avança na posse da alma.

Assim, o silêncio interior é como o nosso ‘oxigênio’, é imprescindível a nossa vocação esponsal, vocação de pura união com Deus.


O Silêncio
Carmelo da SS. Trindade da Guarda

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

NATAL DE NOSSO SENHOR – A própria Criança nos faz perceber Quem é



NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
SOLENIDADE COM OITAVA
25 DE DEZEMBRO

«A própria Criança nos faz perceber Quem é»

“Na oração de quietude, o Senhor começa por nos mostrar que nos ouve e que nos concede o Seu Reino, a fim de que possamos verdadeiramente bendizê-Lo e santificar o Seu nome e de que incitemos todos os homens e mulheres a fazer o mesmo. É qualquer coisa de sobrenatural e que não podemos alcançar pelos nossos esforços, por mais que façamos.

Com efeito, aqui, a alma mergulha na paz ou, melhor dito, o Senhor envolve-a nela com a Sua presença, tal como fez com o justo Simeão. Então, todas as potências da alma se apaziguam e ela compreende, com um tipo de compreensão muito diferente daquele que nos vem por meio dos sentidos exteriores, que está muito perto do seu Deus e que, por um pouco, conseguiria chegar a ser, pela união, uma só coisa com Ele. Não que O veja com os olhos do corpo nem com os da alma; o justo Simeão também não viu, exteriormente, mais do que o augusto Pobrezinho e, pelos panos que O envolviam e pelo pequeno número dos que Lhe faziam cortejo, poderia tê-Lo tomado pelo filho de pessoas pobres, mais do que pelo Filho do Pai celeste. Mas a própria Criança o fez perceber Quem era.

Aqui, é da mesma maneira que a alma compreende; ainda assim, apreende-o de forma menos clara, porque ainda não percebe como é que compreende. Sabe apenas que se encontra no Reino ou, pelo menos, perto do Rei que deve dar-lho, e é presa de um tão grande respeito, que não ousa pedir-Lhe nada”.


Santa Teresa de Jesus
Caminho da Perfeição, cap.31-33, p.814


quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

SÃO JOÃO DA CRUZ – Senhor, dai-me fixar os olhos em Vós!



SÃO JOÃO DA CRUZ
14 DE DEZEMBRO

«Senhor, dai-me fixar os olhos em Vós!»

“A viva esperança em Vós, ó Deus, confere à alma tanta vivacidade e ânimo, e tanta elevação às coisas da vida eterna, que toda coisa da terra, em comparação a tudo quanto espera alcançar no céu, lhe parece murcha, seca e morta, como na verdade é, e de nenhum valor.

Fazei, ó Senhor, que em virtude dessa esperança eu me despoje completamente de todas as vestes e costumes do mundo, tirando o coração de tudo isto, sem nada esperar do mundo, vivendo vestido unicamente de esperança da vida eterna...

Dai-me erguer os olhos para olhar-vos a Vós só, sem esperar bem algum de qualquer outra parte. Como os olhos da escrava estão postos nas mãos de sua senhora, assim se fixem os meus em Vós, Senhor Deus, até que tenhais misericórdia de mim que espero em Vós.

Dai-me fixar sempre em Vós os olhos sem ver outra coisa. Fazei-me não querer outra paga para o meu amor senão Vós só, e então, vos agradarei tanto que alcançarei de Vós tanto quanto espero”.


São João da Cruz
Noite II, 21, 6-8


SÃO JOÃO DA CRUZ – Ó Senhor, põe-me como selo sobre teu coração!



SÃO JOÃO DA CRUZ
14 DE DEZEMBRO

«Ó Senhor, põe-me como selo sobre teu coração!»

“Ó Senhor, ‘ponde-me como selo sobre vosso coração, como selo sobre vosso braço, porque o amor – o ato e as obras de amor – é forte como a morte, e o zelo do amor é tenaz como o inferno’. Fazei, ó Senhor, que, de modo algum, busque eu consolação e gosto em Vós ou em qualquer coisa criada. Nem ande também a desejar mercês, pois já as recebi grandíssimas. Seja todo o meu cuidado dar-vos gosto e servir-vos de algum modo, ainda que isto me custasse muito, pelo que mereceis, e em agradecimento das misericórdias de Vós recebidas.

Deus e Senhor meu, quantas almas estão sempre a buscar em Vós consolo e gosto, graças e mercês! E quão poucas pretendem agradar-vos e oferecer-vos algo à própria custa, deixando de lado seu interesse!

Amado meu, para mim todas as coisas ásperas e trabalhosas, e para Vós todo o suave e saboroso!”


São João da Cruz
Noite II, 19,4; Ditos, 2, 52


SÃO JOÃO DA CRUZ – Ó Deus meu, fazei minha alma enamorada de Vós!



SÃO JOÃO DA CRUZ
14 DE DEZEMBRO

«Ó Deus meu, fazei minha alma bem enamorada de Vós!»

“Porquanto, para buscar-Vos, ó Deus meu, se requer um coração despojado e forte, livre de todos os males e bens que não são puramente Deus, ajudai-me a não colher as flores que encontrar pelo caminho, isto é, a não admitir os gostos, contentamentos e deleites que se me apresentarem nesta vida e que poderiam impedir-me a passagem.

Não apegarei meu coração às riquezas e vantagens que me oferecer o mundo; não aceitarei os prazeres da carne nem tampouco prestarei atenção aos gostos e consolações do espírito, para que nada disto me detenha na busca de meus amores, ó Deus meu, pelos montes das virtudes e dos trabalhos. E a fim de que tal me seja possível, fazei minha alma bem enamorada de Vós, que vos estime sobre todas as coisas, confiando em vosso amor e auxílio”.


São João da Cruz
Cântico 3, 5.8


SÃO JOÃO DA CRUZ – Tender exclusivamente para a honra e a glória de Deus!



SÃO JOÃO DA CRUZ
14 DE DEZEMBRO

«Tender exclusivamente para a honra e a glória de Deus!»

Primeiramente: tenha sempre a alma o desejo contínuo de imitar a Cristo em todas as coisas, conformando-se à sua vida que deve meditar para sabre imitá-la, e agir em todas as circunstâncias como ele próprio agiria.

Em segundo lugar, para bom poder fazer isto, se lhe for oferecida aos sentidos alguma coisa de agradável que não tenda exclusivamente para a honra e a glória de Deus, renuncie e prive-se dela pelo amor de Jesus Cristo, que, durante a sua vida, jamais teve outro gosto, nem outra coisa quis senão fazer a vontade do Pai, a que chamava sua comida e manjar. Por exemplo: se acha satisfação em ouvir coisas em que a glória de Deus não está interessada, rejeite esta satisfação e mortifique a vontade de ouvir. Se tem prazer em olhar objetos que não levam a Deus, afaste este prazer e desvie os olhos. Igualmente nas conversações e em qualquer outra circunstância, deve fazer o mesmo. Em uma palavra, proceda deste modo, na medida do possível, em todas as operações dos sentidos; no caso de não ser possível, basta que a vontade não queira gozar desses atos que lhe vão na alma. Desta maneira há de deixar logo mortificados e vazios de todo o gosto, e como às escuras. E com este cuidado, em breve aproveitará muito.

Para mortificar e pacificar as quatro paixões naturais que são gozo, esperança, temor e dor, de cuja concórdia e harmonia nascem inumeráveis bens, trazendo à alma grande merecimento e muitas virtudes, o remédio universal é o seguinte:

Procure sempre inclinar-se não ao mais fácil, senão ao mais difícil. Não ao mais saboroso, senão ao mais insípido. Não ao mais agradável, senão ao mais desagradável. Não ao descanso, senão ao trabalho. Não ao consolo, mas à desolação. Não ao mais, senão ao menos. Não ao mais alto e precioso, senão ao mais baixo e desprezível. Não a querer algo, e sim a nada querer. Não a andar buscando o melhor das coisas temporais, mas o pior; enfim, desejando entrar por amor de Cristo na total desnudez, vazio e pobreza de tudo quanto há no mundo.

Abrace de coração essas práticas, procurando acostumar a vontade a elas. Porque se de coração as exercitar, em pouco tempo achará nelas grande deleite e consolo, procedendo com ordem e discrição.

O homem espiritual deve:

1.º Agir em seu desprezo e desejar que os outros o desprezem.

2.º Falar contra si e desejar que os outros também o façam.

3.º Esforçar-se por conceber baixos sentimentos de sua própria pessoa e desejar que os outros pensem do mesmo modo.


São João da Cruz
Subida do Monte Carmelo I, Cap XIII, §3-7; 9


SÃO JOÃO DA CRUZ – ELE, O ESPOSO, TE AMA!



SÃO JOÃO DA CRUZ
14 DE DEZEMBRO

«ELE, O ESPOSO, TE AMA!»

«O Esposo está com eles» Mt 9, 14-17

“Uma pessoa que ama outra e que lhe faz bem ama-a e faz-lhe bem segundo as suas qualidades, segundo as suas propriedades pessoais. É assim que age o teu Esposo, que em ti reside enquanto onipotente: ama-te e faz-te bem segundo a Sua onipotência.

Infinitamente Sábio, Ele ama-te e faz-te bem segundo a extensão da Sua sabedoria.
Infinitamente Bom, Ele ama-te e faz-te bem segundo a extensão da Sua bondade.
Infinitamente Santo, Ele ama-te e faz-te bem segundo a extensão da Sua santidade.
Infinitamente Justo, Ele ama-te e concede-te as Suas graças segundo a extensão da Sua justiça.
Infinitamente Misericordioso, Clemente e Compassivo, Ele faz-te experimentar a Sua clemência e a Sua compaixão.
Forte, Delicado, Sublime em Seu ser, Ele ama-te de maneira forte, delicada e sublime.
Infinitamente Puro, ama-te segundo a extensão da Sua pureza.
Soberanamente Verdadeiro, ama-te segundo a extensão da Sua verdade.
Infinitamente Generoso, ama-te e cumula-te de graças, segundo a extensão da Sua generosidade, sem qualquer interesse pessoal e visando apenas fazer-te bem.
Soberanamente Humilde, ama-te com humildade soberana e com soberana estima.

Eleva-te até Si, a ti Se descobre alegremente, com uma face cheia de graça, nesta via dos conhecimentos que te dá. E tu ouve-Lo dizer-te: «Sou teu e por ti; alegro-me por ser o que sou, a fim de Me dar a ti e de ser teu para sempre».

Quem poderá exprimir o que sentes, alma bem-aventurada, vendo-te amada a este ponto, vendo-te tida por Deus em semelhante estima?”


São João da Cruz
Chama Viva do Amor, 3, 6

SÃO JOÃO DA CRUZ – É no silêncio da alma que Ele se faz ouvir



SÃO JOÃO DA CRUZ
14 DE DEZEMBRO

«É no silêncio da alma que Ele se faz ouvir»

O Pai celeste disse uma única palavra: é o Seu Filho. Disse-a eternamente e num eterno silêncio. É no silêncio da alma que Ele se faz ouvir.

Falai pouco e não vos metais em assuntos sobre os quais não fostes interrogados.

Não vos queixeis de ninguém; não façais perguntas ou, se for absolutamente necessário, que seja com poucas palavras.

Procurai não contradizer ninguém e não vos permitais uma palavra que não seja pura.

Quando falardes, que seja de modo a não ofender ninguém e não digais senão coisas que possais dizer sem receio diante de toda a gente.

Tende sempre paz interior assim como uma atenção amorosa para com Deus e, quando for necessário falar, que seja com a mesma calma e a mesma paz.

Guardai para vós o que Deus vos diz e lembrai-vos desta palavra da Escritura: "O meu segredo é meu" (Is 24,16)...

Para avançar na virtude, é importante calar-se e agir, porque falando as pessoas distraem-se, ao passo que, guardando o silêncio e trabalhando, as pessoas recolhem-se.

A partir do momento em que aprendemos com alguém o que é preciso para o avanço espiritual, não é preciso pedir-lhe que diga mais nem que continue a falar, mas pôr mãos às obras, com seriedade e em silêncio, com zelo e humildade, com caridade e desprezo de si mesmo.

Antes de todas as coisas, é necessário e conveniente servir a Deus no silêncio das tendências desordenadas, bem como da língua, a fim de só ouvir palavras de amor.


São João da Cruz
Conselhos e Máximas

SÃO JOÃO DA CRUZ – São João da Cruz e a Subida do Monte Carmelo



SÃO JOÃO DA CRUZ
14 DE DEZEMBRO

« São João da Cruz e a Subida do Monte Carmelo»

São João da Cruz, o grande místico e poeta espanhol, nasceu em Fontiveros, nas proximidades de Ávila, na Espanha, no ano de 1542. Filho de pais pobres e tendo ele mesmo conhecido prematuramente a orfandade paterna, a fome e as demais inseguranças que atingiam os pobres de sua época, soube transformar todo esse “material humano” em húmus fertilíssimo do qual brotou toda a sua obra e espiritualidade, lida e cultivada em todos os recantos do mundo.

Apropriando-se de símbolos mais do que expressivos, o santo espanhol expressa a relação do ser humano com Deus, ou a tentativa dessa relação-aproximação, por meio de elementos da natureza, entre outros:

A NOITE ( NOITE ESCURA),
O FOGO (CHAMA VIVA DE AMOR),
A ÁQUA (CÂNTICO ESPIRITUAL),
O MONTE (SUBIDA DO MONTE CARMELO)

Homem de grande sensibilidade, abertura de coração e generosidade, João da Cruz soube apoderar-se do melhor da literatura e da mística de sua época, produzindo assim uma obra ímpar e insubstituível. Mantendo os pés bem plantados na realidade castelhana de seu tempo, sorveu dos versos populares, da literatura de cordel, dos cantores de feiras e mercados, o estilo com o qual plasmou seus versos e sonetos.

Uma de suas obras mais densas é, sem dúvida alguma, a Subida do Monte Carmelo. Nesta obra o autor vai comentando e descrevendo, parte por parte, qual o itinerário que o ser humano deve percorrer para chegar a Deus. A Subida ao Monte é a meta principal e final da perfeição, sabendo-se que para atingir-se tal finalidade, o ser humano deverá passar por situações de escuridão, trevas, privações... É o caminho árduo proposto pelo místico espanhol, que não engana com facilidades aquelas pessoas que queiram verdadeiramente fazer uma profunda experiência de Deus.

Nenhum viajante, ao partir, carrega uma mochila pesada demais, porque senão as suas forças poderiam faltar-lhe brevemente. Ainda mais quando alguém se propõe a subir uma montanha, deve mais ainda, tornar-se leve e ágil para a escalada, sabendo que o excesso de “coisas”que leva consigo, podem tornar-se empecilho para a missão.

Pensamentos, sentimentos, gostos próprios, são exemplos das “coisas” que podem dificultar nossa ascensão ao cume do monte da perfeição. Daí a necessidade do esvaziamento do “negar-se a si mesmo” – ‘quem não renunciar a si mesmo...’ – para se chegar ao TUDO QUE É DEUS.

A caridade, como nos descreve 1 Cor.13,4-7 é o parâmetro para avaliarmos se esse esvaziamento, essa humildade e caridade de fato acontecem em nossas vidas. Não querer nada para si mesmo, eis a norma, mas querer tudo para os demais.

Num mundo de competição, ganância e desvalorização da vida humana como tal, num mundo mercantilizado como o que vivemos, parece impossível se chegar a viver esse ideal pregado por São João da Cruz. No entanto, ontem como hoje, o cristão que esteja verdadeiramente revestido de fé, esperança e caridade, poderá sim trilhar esse caminho árduo e estreito e chegar ao cume da perfeição aonde, como diz João da Cruz, “AQUI JÁ NÃO EXISTE CAMINHO”, ele já não se faz necessário, porque O PRÓPRIO DEUS HABITA NESSE “MONTE”E ELE É O CAMINHO.


Frei Osmar Vieira Branco O.Carm.


domingo, 6 de dezembro de 2009

ADVENTO – 2º DOMINGO – Convosco, ó Deus, alegro-me e regozijo-me!




DOMINGO II DO ADVENTO


Convosco, ó Deus, alegro-me e regozijo-me!

“Eia, pois, ó alma formosíssima entre todas as criaturas, que tanto desejas saber o lugar onde está teu Amado, a fim de o buscares e a Ele te unires! Já te foi dito que és tu mesma o aposento onde Ele mora e o recôndito e esconderijo em que se oculta. Nisso tenho motivo de grande contentamento e alegria, vendo que todo o meu Bem e esperança se encontram tão perto de mim, a ponto de estar dentro de mim, ou, melhor dizendo, não posso estar sem Ele.

Que mais há de querer, ou buscar fora de mim, se tenho dentro de mim, minhas riquezas e meus deleites, minha satisfação, meu reino, isto é, meu Amado a quem desejo ardentemente? Convosco, ó meu Deus, alegro-me e me regozijo no meu recolhimento interior! Aqui vos desejo, adoro-vos, sem ir procurar-vos fora de mim, porque me distrairei, me cansarei, sem poder encontrar-vos nem gozar com maior segurança, nem mais depressa, nem mais perto do que dentro de mim”.


São João da Cruz
Cântico 1, 7-8

domingo, 25 de outubro de 2009

SANTA TERESA DE JESUS - Quem Vos ama de verdade vai por um caminho seguro



FESTA 15 DE OUTUBRO

Memória


Quem Vos ama de verdade vai por um caminho seguro

“Oh, Senhor meu, como mostrais que sois poderoso! Não é preciso buscar razões para o que quereis, porque, acima de toda razão natural, fazeis todas as coisas tão possíveis que levais a entender sem nenhuma dúvida que basta amar-Vos de verdade e abandonar com sinceridade tudo por Vós para que, Senhor meu, torneis tudo fácil. Cabe dizer neste ponto que fingis trabalho em Vossa lei; porque não vejo, Senhor, nem sei como é estreito o caminho que leva a Vós. Vejo que é caminho real, e não vereda; caminho pelo qual vai com segurança quem de verdade entra nele. Muito longe estão os recifes e despenhadeiros onde cair, porque as ocasiões também o estão. Senda, e senda ruim, e caminho difícil, considero ser o que de um lado tem um vale muito profundo onde cair e do outro um despenhadeiro. A um mero descuido, os que vão por aí caem e se despedaçam.

Quem Vos ama de verdade, Bem meu, vai seguro por um caminho amplo e real, longe do despenhadeiro, entrada na qual, ao primeiro tropeço, Vós, Senhor, dais a mão; não se perde, por uma queda e nem mesmo por muitas, quem tiver amor a Vós, e não às coisas do mundo. Quem assim é percorre o vale da humildade. Não posso entender o que temem as pessoas diante do caminho da perfeição. O Senhor, por quem é, nos mostra quão falsa é a segurança dos que seguem os costumes do mundo sem se darem conta dos manifestos perigos aí existentes, e que a verdadeira segurança está em fazer esforços para avançar no caminho de Deus. Ponhamos os olhos Nele e não tenhamos medo que esse Sol de Justiça conheça ocaso, pois Ele não nos deixará andar nas trevas para a perdição se não O tivermos deixado antes.

Não se teme andar entre leões – parecendo que cada um quer levar um pouco – leões que são as honras, deleites e contentamentos semelhantes do mundo, enquanto, no caminho da perfeição, o mal infunde temor até de insetos. Mil vezes me espanto e dez mil vezes gostaria de chorar copiosamente e clamar a todos, tornando pública minha grande cegueira e maldade, para ajudar as pessoas de alguma maneira a abrirem os olhos. Que Aquele que pode, pela Sua Bondade, abra-lhes os olhos, e não permita que os meus voltem a ficar cegos. Amém.”.


Santa Teresa de Jesus
Livro da vida, Cap.XXXV

SANTA TERESA DE JESUS – Da Homilia do Papa Paulo VI na proclamação de Santa Teresa como Doutora da Igreja



SANTA TERESA DE JESUS, SANTA ESPANHOLA COM TÊMPERA DE REFORMADORA

FESTA 15 DE OUTUBRO

Memória

“Em sua personalidade (de Santa Teresa) se apreciam os traços de sua pátria: a fortaleza de espírito, a profundidade de sentimentos, a sinceridade de alma, o amor à Igreja. Sua figura se centra em uma época gloriosa de santos e de mestres que marcam seu século com o florescimento da espiritualidade. Escuta-os com a humildade da discípula, que por sua vez sabe julgá-los com a perspicácia de uma grande mestra de vida espiritual, e como tal a consideram eles.

Por outro lado, dentro e fora das fronteiras de sua pátria, se agitam violentos os ares da Reforma, enfrentando entre si aos filhos da Igreja. Ela, por seu amor à verdade e pelo trato íntimo com o Mestre, teve de enfrentar dissabores e incompreensões de toda parte, e não sabia como dar paz a seu espírito ante à ruptura da unidade: "Fatiguei-me muito – escreve - e, como se eu pudesse algo ou fosse algo, chorava com o Senhor e Lhe suplicava redimisse tanto mal".

Este seu sentir com a Igreja, provado na dor que consumia suas forças, a levou a reagir com toda a força de seu espírito castelhano num afã de edificar o reino de Deus; ela decidiu penetrar no mundo que a rodeava com uma visão reformadora para dar-lhe um sentido, uma harmonia, uma alma cristã.

Depois de cinco séculos, Santa Teresa de Ávila continua marcando as pegadas de sua missão espiritual, da nobreza de seu coração sedento de catolicidade, de seu amor despojado de todo apego terreno para entregar-se totalmente à Igreja. Bem pôde dizer, antes de seu último suspiro, como um resumo de sua vida: «Enfim, sou filha da Igreja»”.


Papa Paulo VI
Homilia na proclamação de Santa Teresa como Doutora da Igreja Universal, em 27 de setembro de 1970


SANTA TERESA DE JESUS – A oração em Santa Teresa de Ávila



FESTA 15 DE OUTUBRO

Memória

A ORAÇÃO EM SANTA TERESA DE ÁVILA

Penso que como membros da Igreja, a todos nos interessa a experiência de oração e vida dos grandes místicos(as) que a própria Igreja consagrou e apresentou ao mundo como modelos para a humanidade de todos os tempos. É nessa perspectiva que traço algumas linhas, a titulo de introdução, do que viveu e nos legou Santa Tereza de Ávila.

A oração é o tema central da mensagem de Santa Teresa; é a sua primeira lição. Foi também a oração o eixo principal de sua experiência: a aventura de seu drama pessoal e a base maior e mais profunda de sua interioridade. Serviu à santa para compreender-se a si mesma e ao mistério da vida cristã. Serviu-lhe igualmente de suporte para poder transmitir ao mundo a sua mensagem. Lembrando que esta mulher viveu no século XIV, quando as mulheres não tinham a menor possibilidade de expressão na família, na sociedade ou na Igreja, Teresa rompeu essas barreiras e fez-se ouvir.

O problema da oração hoje é fundamental em todas as grandes religiões e para nós cabe ainda mais a pergunta: o que é a oração cristã? Como vivenciar hoje a dimensão orante-cristã ? Como fazê-la atuar com a vida concreta das pessoas de hoje? A atualidade da lição que Teresa nos traz não significa apenas textos que ela nos deixou escritos, mas sobretudo, o espírito que ela nos legou, sua coragem, desenvoltura, alegria de viver e confiança em Deus: “Só Deus basta”. É difícil que leiamos qualquer de suas páginas e não encontremos ressonância em nossas vidas. Podemos encontrar eco para quase todos os nossos problemas, nas obras da santa castelhana, a andarilha que a Inquisição julgou “perigosa” por falar de coisas que não competiam às mulheres tratar.

Acima da problemática da oração (o que o nosso povo reza hoje? qual de suas orações?), Sta. Teresa leva-nos a questionarmos o pequeno mundo que criamos para nós mesmos e no qual nos enclausuramos. Como superarmos essas muralhas que edificamos e elevarmos palavras que cheguem a Deus? Afinal, na definição teresiana, oração exige relacionamento entre seres que têm afinidade – falar a um Deus que é amigo e que sei que me ouve! Como poderemos chegar ao coração de Cristo com nossa pobre oração e como essa oração pode levar-nos a um compromisso de transformação da realidade em que vivemos?

Em Santa Teresa, a oração compreende três momentos: a experiência (o que experimentamos da presença de Deus), a reflexão (a ruminação da Palavra) e o magistério (a transmissão do que usufruirmos da Palavra).

Não pensamos que esta mulher viveu nas nuvens; pelo contrário, muito em contato com a sua realidade (seu chão), daí extraia os elementos para a sua oração e para “confecção” da doutrina que legou á Igreja – místicos das mais diferentes religiões buscam nessa mulher cristã a luz que não encontram facilmente em seus escritos e
místicos.

Que este princípio de apresentação desta estupenda mulher e santa nos anime a conhecê-la, a ler seus textos, a mergulhar nos Evangelhos, a fonte principal de inspiração de Santa Teresa. Mas, principalmente, neste tempo pascal, que o nosso ser cristão seja expressão da experiência que fizemos do Ressuscitado!


Frei Osmar Vieira Branco
Comunidade Carmelitana
Comissariado do Paraná

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Santa Teresa Benedita da Cruz - Edith Stein, mestra de espiritualidade



Festa 09 de agosto

Entrevista com o Carmelita Jesús Castellano Cervera

«Edith Stein, mestra de espiritualidade»

Edith Stein (1891-1942), judia, filósofa, mártir, Carmelita santa e co-patrona da Europa, considerava-se «uma superlitúrgica». Quem explica isso a Zenit é o Padre Carmelita Jesús Castellano, ocd, que esta sexta-feira pela tarde ministra uma conferência sobre liturgia no Centro de Estudos Edith Stein de Lanciano (Itália).

«Era uma contemplativa sumamente ativa, antes e depois de seu ingresso no Carmelo, como demonstra sua atividade e seus escritos», sublinha este professor de espiritualidade na Faculdade Pontifícia Teológica Teresianum de Roma. O Padre Castellano é consultor, entre outros organismos vaticanos, da Congregação para a Doutrina da Fé e colabora em diversas revistas de teologia, liturgia e espiritualidade.

-Podemos considerar Edith Stein como precursora da espiritualidade litúrgica do Vaticano II?

-Castellano: Podemos afirmar sem dúvidas. Ela vive na alvorada do movimento litúrgico na Alemanha, conhece alguns protagonistas deste despertar eclesial, como Romano Guardini e Odo Casel, tem como pátria espiritual um dos centros propulsores do movimento litúrgico alemão, a Abadia de Beuron, onde o Abade Rafael Walzer é seu diretor espiritual.

Vive o fervor das celebrações de Natal e Semana Santa. Participa, como ela recorda, das «formas renovadas da piedade da Igreja» de seu tempo. Considera-se «uma superlitúrgica» por sua sensibilidade ante o mistério e o celebrar da liturgia. E contribui com seu livro «A oração da Igreja», um texto clássico sobre a Eucaristia, suas raízes judaicas e sua dimensão espiritual.

-Por que não se conhece a contribuição litúrgica de Edith Stein, ela que esteve na vanguarda com Guardini e com outros grandes mestres da liturgia de seu tempo?

-Castellano: Edith é uma figura polivalente. É admirada como fenomenóloga e filósofa como intérprete de São Tomás, de Teresa de Jesus e de João da Cruz. Seus escritos são numerosos. Este fragmento de sua espiritualidade, que é um fragmento que contém o todo, foi-se descobrindo pouco a pouco, sobretudo quando se tratou de contextualizar seu itinerário espiritual, as raízes de sua educação na liturgia judaica, seus influxos e sua participação na espiritualidade de sua época, e quando se trata de descobrir alguns escritos seus onde se manifesta, sobretudo, sua veia teológica e espiritual. Há ainda textos inéditos e outros não são muito conhecidos como o diário de seu retiro espiritual em preparação para sua profissão perpétua (10-21 de abril de 1938), uma verdadeira jóia de espiritualidade do mistério pascal vivido com Maria.


-Edith, antes de ser uma contemplativa, foi uma mulher de ação. Soube conjugar bem a oração litúrgica com a oração pessoal?

-Castellano: Nela não há dicotomias: tudo o que vive e aborda tem o toque de uma fenomenóloga que vai até o fundo vital da experiência. Vive isso desde a profundidade de seu ser, mas com toda a participação dos sentidos. Em um escrito de 1930, uma conferência para mulheres de Speyr, sobre a educação à vida eucarística, sublinha a aplicação da espiritualidade da Eucaristia à vida de cada um, tanto para os religiosos como para a mulher casada, como para as que, como ela, vivem só. E em seu livro «A oração da Igreja» faz uma maravilhosa apologia da imprescindível dimensão da oração pessoal e de seu valor eclesial. Até afirmar que toda oração pessoal é oração eclesial. Era uma contemplativa sumamente ativa, antes e depois de seu ingresso no Carmelo, como demonstra sua atividade e seus escritos.

-É exagero ver em Edith Stein um modelo de espiritualidade litúrgica feminina?

-Castellano: É evidente que toda a experiência de Edith tem o toque de seu olhar de mulher, seu coração e sua empatia feminina, com um toque de delicadeza e de profundidade. A seu modo, é um modelo de espiritualidade feminina se a entendemos como personificação do feminino da Igreja esposa, de sua atitude mariana, de seu recurso às mulheres santas, e valorizamos algumas expressões de fina poesia e sensibilidade como suas invocações ao Espírito Santo. Em seus escritos sobre a mulher e para a mulher nota-se esta peculiaridade em Edith, sem complexos nem polêmicas, com toda naturalidade.

-O que é a espiritualidade eucarística, segundo Edith Stein?

-Castellano: Algo tão simples como viver como resposta vital ante a consciência do dom que supõe a Eucaristia: ante a presença responder com a oração ante o Santíssimo e a eucaristia diária; ante o dom da comunhão com o agradecimento a quem nos nutre com sua carne e seu sangue «como uma mãe a seu filho», ante o sacrifício eucarístico acolhendo o dom e fazendo-o vida como oferenda espiritual. Trata-se de uma espiritualidade que se alimenta, em Edith Stein, com o exemplo e o testemunho, que se esclarece com o ensinamento e iniciação às riquezas do mistério, e passa pouco a pouco à vida e aos costumes até ser uma existência eucarística que impregna todo o ser e o viver.

-O que ensina Edith Stein a suas irmãs Carmelitas com seu testemunho?

-Castellano: Ensina a sentir com a Igreja totalmente no que se refere à liturgia, sem saudades do passado, com a alegria do presente e do futuro. Edith é modelo de seriedade na própria vocação contemplativa, tão aberta à liturgia como à contemplação, tão vibrante pela novidade da renovação litúrgica quanto ansiosa de transmitir a todos o viver e sentir com a Igreja. No fundo Edith é, por co-naturalidade, uma discípula de Teresa de Jesus também nisto, pois a Santa, em seu tempo, vibrava com a liturgia da Igreja e sua experiência mística tem páginas belas de comunhão com os mistérios e de entusiasmo pelas festas do Senhor, de Maria e dos Santos, de amor pela liturgia eclesial e pelo decoro das celebrações.Edith Stein contribuiu em tudo isto com a teologia de seu tempo e com a busca da excelência da celebração dos mistérios.

Padre Jesús Castellano, ocd
Consultor da Congregação para a Doutrina da Fé
Professor de espiritualidade na Faculdade Pontifícia Teológica Teresianum de Roma-Cit.por shalom.org

Santa Teresa Benedita da Cruz: Já não sou o que era



Festa 09 de agosto

JÁ NÃO SOU O QUE ERA

Tu, com imenso amor, fundes o Teu olhar no meu
e inclinas Teus ouvidos à minhas mudas palavras
e enche-me o coração de uma profunda paz.

Mas teu amor não acha satisfação
nesse intercâmbio, em que pode haver ainda separação:
Teu coração anseia por mais.

Como banquete matinal vens a mim toda a manhã,
Tua carne e Teu sangue se fazem comida e bebida para mim,
e acontecem maravilhas.

Teu corpo misteriosamente penetra o meu,
e Tua alma se une com a minha:
já não sou mais o que era!

Tu chegas e partes, permanece porém a semente
que lançaste para frutificar na glória futura,
escondida no corpo de barro.

Permanece o vínculo que une coração a coração,
a corrente vital que brota da Tua
e a todos os membros vivifica.

Como são admiráveis Teus amados milagres!
só nos resta assombrar-nos, balbuciar e calar,
pois a mente e a palavra aqui falham.

Santa Teresa Benedita da Cruz, ocd
Carmelo Santa Teresa-
Itajaí-SC
Mosteiro das Irmãs Carmelitas Descalças


Edith Stein: fenomenologia e espiritualidade



Festa 09 de agosto

Edith Stein: fenomenologia e espiritualidade!


O teor espiritual da vida de Edith Stein foi ascendente, culminando, na última etapa de sua curta estada existencial – quando fora ‘hóspede’ de Hitler em Auschwitz – numa vida contemplativa. Esta elevação silenciosa, como a subida do Monte Carmelo, foi cada vez mais apurada e, inclusive, podemos dizer que tal acuidade espiritual revestiu, plenamente, sua existência (1). Esta ascensão purificadora, como o caminhar da alma às escuras da noite (2) é o que define o caminho da ascética à mística (3). A dimensão espiritual de sua vida foi, pouco a pouco, revelada através do caráter dinâmico de sua obra. Seus escritos se desenvolvem, verdadeiramente, a partir dos mais profundos anseios espirituais de uma vida intima e dinamicamente voltada para Deus. E esta veemência, longe de afastá-la do real, acercou-a ainda mais do mundo fenomênico a ponto de desejá-lo, entendê-lo e questioná-lo, objetivamente, mediante uma percepção cada vez mais apurada do mesmo.

Ela nos diz que é no seu íntimo, na sua essência, que a alma se encontra em casa. Por meio da atividade natural de suas faculdades, ela sai de si própria e vai ao encontro do mundo exterior, exercendo uma atividade sensível que é inferior à ela mesma (4). Tudo isso, mediante expressões sensíveis, sensações, sons, palavras, ações e obras, que correspondem certa manifestação interior, espontânea ou não, consciente ou inconsciente (5). Sua intensa preocupação acerca de uma teoria do conhecimento que desse conta do estabelecimento desta ponte é o marco de sua incansável busca. Mesmo os seus interesses mais comuns permearam-se com este ardor espiritual de uma vida interior (6). Independente de sua proeminente formação acadêmica edificava-se nela um natural interesse objetivo pelo mundo, mediante uma profunda e perspicaz visão subjetiva do mesmo. Nascera-lhe o desejo filosófico, mediante uma percepção natural.

Este amor à sabedoria a levaria questionar o modo como teria que se edificar uma ponte entre a maneira como este denso mundo pessoal –subjetivo marcado fortemente por uma atividade espiritual– percebe o mundo aparente e o modo como este mundo aparente –objetivo e caracterizado intensamente por uma objetividade corpórea– se apresenta à percepção subjetiva da consciência. Este modo subjetivo de considerar a realidade a aproximou da filosofia e de uma intensa percepção filosófica do mundo objetivo. Não obstante, esta cercania se deu a partir da própria tensão de seu mundo subjetivo, ou seja, de sua visão ‘pessoal’ e subjetiva do real.


Nestes termos seria plausível supor que a densidade espiritual de sua percepção subjetiva do mundo objetivo a impulsionaria, necessariamente, entendê-lo, a partir desta mesma subjetividade. Podemos dizer que a finura espiritual de sua vida a incentivou à percepção filosófica subjetiva de um mundo objetivo. Esta espiritualidade lhe exigia, em sua dimensão cognoscitiva, uma explicação. Era necessário, para um melhor entendimento do mundo, compreender-se a si mesma, mediante a compreensão do modo como sua própria consciência opera. Esta exigência passava pela compreensão de uma teoria do conhecimento que se arquitetasse sobre princípios norteadores da consciência, determinando-lhe a intencionalidade da percepção objetiva. Neste caso, qual filosofia, senão a de Edmund Husserl, poderia oferecer-lhe naquele momento, respostas mais adequadas à busca de compreensão do modo como se estruturava e operava a consciência, subjetivamente, na consideração objetiva do mundo? Sua aproximação à fenomenologia de Husserl foi inevitável.

E ela buscava, primeiramente, compreender e logo viabilizar, mediante a percepção filosófica subjetiva, esta ponte entre a percepção intencional da consciência e a objetividade do mundo real, a partir de um vivo diálogo da percepção do ego – a subjetividade – com o mundo – a objetividade. Não foi a intensidade da fenomenologia de Husserl que a fez desvelar-se em sua densidade subjetiva espiritual e convertê-la ao Catolicismo, mas ao contrário, foi a sua própria intensa vida espiritual, que a aproximou da fenomenologia de Husserl, vendo nesta uma possibilidade de arquitetar um modelo filosófico para a compreensão de como a consciência subjetiva e intencional opera sobre o real objetivo.

Foi esta veemência espiritual que a fez ver, cada vez mais, no Cristianismo, uma efetiva resposta às suas mais profundas aspirações intelectuais e espirituais, que a própria fenomenologia não lhe poderia oferecer. Este clamor de uma vida contemplativa não pressupôs a filosofia, antes, ao contrário, foi este ardor místico que a fez amar a filosofia e denotar, mediante ela, sua vocação sobrenatural. Não há dúvida que a filosofia colaborara para uma melhor visão cristã do mundo. Se a filosofia a fez chegar ao Cristianismo, a própria ciência do Cristianismo – a qual denominou ciência da cruz – lhe proporcionaria descobrir a intensa vida do Evangelho, cristalizadas em obras de espiritualidade e de teologia, como as de mística de São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila e a Filosofia e Teologia de Tomás de Aquino. Eis as descobertas que lhe marcariam profundamente, no que se refere ao seu modo de ser e ao modo de pensar o mundo.

1 E. Stein, Chemins vers le silence intérieur. Textes choisis et présentés par Vincent Aucante. Saint-Maur, Parole et Silence, 1998, p. 11-69.
2 S. João da Cruz, Subida do Monte Carmelo, Liv. I. Cap. II, n. 1. [Obras Completas, 7ª edição. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 143].
3 R. Garrigou-Lagrange, Les trois âges de la vie intérieure, prélude de celle du Ciel. Tome Ier. Paris, Les Éditions du Cerf, 1938, p. 16-29.
4 E. Stein, A Ciência da Cruz. Tradução de D. Beda Kruse. São Paulo, Edições Loyola, 2002, p. 127.
5 E. Stein, A Ciência da Cruz. Op. cit., p. 130.
6 E. Stein, Chemins vers le silence intérieur. Op. Cit. p. 11-69.


Professor Dr. Paulo Faitanin
Departamento de Filosofia –UFF
Cit.por aquinate.com

terça-feira, 28 de julho de 2009

Beato Tito Brandsma – O amor voltará a ganhar o mundo



Festa 27 de julho

Beato Tito Brandsma, Sacerdote Católico em um campo de concentração, ensina que o amor voltará a ganhar o mundo inteiro.

O amor voltará a ganhar o mundo inteiro

Um pastor protestante dizia de Tito Brandsma: “Nosso querido irmão em Cristo é realmente um mistério da graça!”. A graça é o que explica o que havia na alma daquele homem santo e o que lhe impulsionou a viver e amar a todos com tanta boa vontade e perdoar com tanta sinceridade: era a manifestação cada vez mais clara da graça de Cristo. Este era o segredo de sua entrega total pelos demais, a fonte de sua profunda e pura caridade. Tito sabia que tudo se devia à graça, à vida divina que atuava nele. As palavras de Cristo: “Sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5), eram o princípio que regia toda a sua vida quotidiana.

Em suas próprias palavras, Tito deixou por escrito seu ilimitado amor e sua enorme capacidade de querer bem. E é através dessas palavras que descobrimos a profundidade de sua alma ante o ambiente de ódio - difícil de imaginar e se igualar – que sofreu durante os últimos anos de sua vida: “Embora o neo-paganismo não queira mais o amor, o amor voltará a ganhar o amor dos pagãos. A prática da vida faz o amor ser sempre de novo uma força vitoriosa, que conquistará e manterá unidos os corações dos homens”.


Padre Rafael Arce Gargollo
Cit.por encuentra.com