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domingo, 4 de abril de 2010

PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR – Contemplar o amor de Cristo



DOMINGO DE PÁSCOA
RESSURREIÇÃO DO SENHOR

At 10,34a.37-43
Sl 117
Cl 3,1-4 ou 1Cor 5,7b.-8a
Jo 20,1-9 ou, à tarde, Lc 24,13-35


«Contemplar o amor de Cristo»

O cristão sabe que está enxertado em Cristo pelo Batismo; habilitado a lutar por Cristo pela Confirmação; chamado a atuar no mundo pela participação que tem na função real, profética e sacerdotal de Cristo; feito uma só coisa com Cristo pela Eucaristia, Sacramento da unidade e do amor. Por isso, tal como Cristo, há de viver voltado para os outros homens, olhando com amor para todos e cada um dos que o rodeiam, para a Humanidade inteira.

A fé leva-nos a reconhecer Cristo como Deus, a vê-Lo como nosso Salvador, a identificarmo-nos com Ele, atuando como Ele atuou. O Ressuscitado, depois de arrancar das suas dúvidas o Apóstolo Tomé, mostrando-lhe as chagas, exclama: Bem-aventurados os que, sem me verem, acreditaram. Aqui - comenta S. Gregório Magno - fala-se de nós de um modo particular, porque nós possuímos espiritualmente Aquele a Quem corporalmente não vimos. Fala-se de nós, mas com a condição de que as nossas ações se conformem à nossa fé. Não crê verdadeiramente senão quem, no seu atuar, põe em prática o que crê. Por isso, a propósito daqueles que da fé não possuem mais do que as palavras, diz S. Paulo: professam conhecer Deus mas negam-no com as obras.

Não é possível separar em Cristo o ser de Deus-Homem e a sua função de Redentor. O Verbo fez-se carne e veio à Terra ut omnes homines salvi fiant, para salvar todos os homens. Com todas as nossas misérias e limitações pessoais, nós somos outros Cristos, o próprio Cristo, e somos também chamados a servir todos os homens.

É necessário que ressoe uma e outra vez aquele mandamento que continuará a ser novo através dos séculos: Caríssimos - escreve S. João - não vos escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que recebestes desde o princípio. Este mandamento antigo é a palavra divina que ouvistes. E, no entanto, falo-vos de um mandamento novo, que é verdadeiro n'Ele mesmo e em vós porque as trevas já passaram e já resplandece a verdadeira luz. Quem diz que está na luz e aborrece o seu irmão, ainda está nas trevas. Quem ama o seu irmão permanece na luz e nele não há ocasião de queda.

Nosso Senhor veio trazer a paz, a boa nova, a vida a todos os homens. Não só aos ricos, nem só aos pobres; não só aos sábios, nem só à gente simples; a todos; aos irmãos, pois somos irmãos, já que somos filhos de um mesmo Pai, Deus. Não há, portanto, mais do que uma raça: a raça dos filhos de Deus. Não há mais que uma cor: a cor dos filhos de Deus. E não há senão uma língua: a que nos fala ao coração e à inteligência, sem ruído de palavras, mas dando-nos a conhecer Deus e fazendo que nos amemos uns aos outros.

É esse amor de Cristo que cada um de nós deve se esforçar por realizar na sua vida. Mas para ser ipse Christus é preciso mirar-se Nele. Não basta ter-se uma idéia geral do espírito que Jesus viveu; é preciso aprender com Ele pormenores e atitudes. É preciso contemplar a sua vida, sobretudo para daí tirar força, luz, serenidade, paz.

Quando se ama alguém, deseja-se conhecer toda a sua vida, o seu caráter, para nos identificarmos com essa pessoa. Por isso temos de meditar na vida de Jesus, desde o Seu nascimento num presépio até à Sua morte e à Sua Ressurreição. Nos primeiros anos do meu labor sacerdotal costumava oferecer exemplares do Evangelho ou livros onde se narra a vida de Jesus, porque é necessário que a conheçamos bem, que a tenhamos inteira na mente e no coração, de modo que, em qualquer momento, sem necessidade de nenhum livro, cerrando os olhos, possamos contemplá-la como um filme; de forma que, nas mais diversas situações da nossa vida, acudam à memória as palavras e os atos do Senhor.

Sentir-nos-emos assim metidos na sua vida. Na verdade, não se trata apenas de pensar em Jesus e de imaginar aqueles episódios; temos de meter-nos em cheio neles, como atores; temos de seguir Cristo tão de perto como Santa Maria, sua Mãe; como os primeiros Doze; como as santas mulheres; como aquelas multidões que se apertavam ao Seu redor. Se fizermos assim, se não criarmos obstáculos, as palavras de Cristo penetrarão até ao fundo da nossa alma e transformar-nos-ão. Porque a palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante que uma espada de dois gumes; introduz-se até à divisão da alma e do espírito, até às junturas e medulas; e discerne os pensamentos e intenções do coração.

Se queremos levar os outros homens ao Senhor, é necessário abrir o Evangelho e contemplar o amor de Cristo. Podíamos fixar as cenas-cume da Paixão, porque, como Ele mesmo disse, ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos. Mas também podemos considerar o resto da sua vida, o seu modo habitual de tratar com quem se cruzava com Ele.

Cristo, perfeito Deus e perfeito Homem, procedeu de um modo humano e divino para fazer chegar aos homens a Sua doutrina de salvação e para lhes manifestar o amor de Deus. Deus condescende com o homem, assume a nossa natureza sem reservas, exceto no pecado.

Dá-me uma grande alegria considerar que Cristo quis ser plenamente homem, com carne como a nossa. Emociona-me contemplar a maravilha de um Deus que ama com coração de homem.


São Josemaría Escrivá
Cristo que Passa, pontos 106- 107

sábado, 3 de abril de 2010

TRÍDUO PASCAL – SÁBADO SANTO – VIGÍLIA PASCAL – Corramos como o cervo que anseia pelas fontes de água viva



SÁBADO SANTO - VIGÍLIA PASCAL

Gn 1,1 – 2,2/Sl 103
Gn 22,1-18/Sl 15
Ex 14,15 – 15,1
Is 54,5-14/Sl 29
Is 55,1-11
Br 3,9-15.32-4,4/Sl 18
Ez 36,16-17a.18-28/Sl 41
Rm 6,3-11/Sl 117
Lc 24,1-12


«Corramos como o cervo que anseia pelas fontes de água viva»

Num horto muito perto do Calvário, José de Arimatéia tinha mandado lavrar, na rocha, um sepulcro novo. E, por ser a véspera da grande Páscoa dos judeus, põem Jesus ali. Depois, José rolou uma grande pedra, para diante da boca do sepulcro, e retirou-se (Mt 27, 60).

Sem nada veio Jesus ao mundo e sem nada - nem sequer o lugar onde repousa - se nos foi.

A Mãe do Senhor - minha Mãe - e as mulheres que seguiram o Mestre desde a Galileia, depois de observar tudo atentamente, partem também. Cai a noite.

Agora consumou-se tudo. Cumpriu-se a obra da nossa Redenção. Já somos filhos de Deus, porque Jesus morreu por nós e a Sua morte resgatou-nos.

Empti enim estis pretio magno! (I Cor VI, 20), tu e eu fomos comprados por alto preço.

Temos de fazer vida nossa a vida e a morte de Cristo. Morrer pela mortificação e a penitência, para que Cristo viva em nós pelo Amor. E seguir, então, as pisadas de Cristo, com ânsia de co-redimir todas as almas.

Dar a vida pelos outros. Só assim se vive a vida de Jesus e nos fazemos uma só coisa com Ele.


PONTOS DE MEDITAÇÃO

1. Dos altos cargos que ocupam Nicodemos e José de Arimatéia - discípulos ocultos de Cristo - intercedem por Ele. Na hora da solidão, do abandono total e do desprezo, então expõem-se audacter (Mc 15, 43): valentia heróica!

Eu subirei com eles ao pé da Cruz, apertar-me-ei ao Corpo frio, cadáver de Cristo, com o fogo do meu amor, despregá-Lo-ei com os meus desagravos e mortificações, envolvê-Lo-ei com o lençol novo da minha vida limpa e enterrá-Lo-ei no meu peito de rocha viva, donde ninguém mO poderá arrancar; e, aí, Senhor, descansai!

Mesmo que todos Vos abandonem e desprezem, serviam!, servir-Vos-ei, Senhor.

2. Sabei que fostes resgatados da vossa vã conduta, não com prata ou ouro, que são coisas perecíveis, mas com o sangue precioso de Cristo (1 Pe 1, 18-19).

Não nos pertencemos. Jesus comprou-nos com a Sua Paixão e com a Sua Morte. Somos vida Sua. Só já há um único modo de viver na terra: morrer com Cristo para ressuscitar com Ele, até que possamos dizer com o Apóstolo: não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim (Gal 2, 20).

3. A Paixão de Jesus é manancial inesgotável de vida.

Umas vezes, renovamos o gozoso impulso que levou o Senhor a Jerusalém. Outras, a dor da agonia que culminou no Calvário. Ou a glória do Seu triunfo sobre a morte e o pecado. Mas, sempre, o amor - gozoso, doloroso, glorioso - do Coração de Jesus Cristo.

4. Pensa primeiro nos outros. Assim, passarás pela terra com erros, sim - que são inevitáveis -, mas deixando um rasto de bem.

E, quando chegar a hora da morte, que virá inexorável, acolhê-la-ás com júbilo, como Cristo, porque como Ele também ressuscitaremos para receber o prêmio do Seu Amor.

5. Quando me sinto capaz de todos os horrores e de todos os erros que cometeram as pessoas mais vis, compreendo bem que posso não ser fiel. Mas essa incerteza é uma das bondades do Amor de Deus, que me leva a estar, como uma criança, agarrado aos braços do meu Pai, lutando cada dia um pouco para não me afastar d'Ele.

Assim, tenho a certeza de que Deus não me largará da Sua mão.

Pode a mulher esquecer-se do fruto do seu ventre, não se compadecer do filho da suas entranhas? Pois, ainda que ela se esqueça, eu não te esquecerei (Is 49, 15).

Corremos como o cervo, que anseia pelas fontes das águas; com sede, gretada a boca, ressequida. Queremos beber nesse manancial de água viva. Sem esquisitices, mergulhamos ao longo do dia nesse veio abundante e cristalino de frescas linfas que saltam até a vida eterna. Sobram as palavras, porque a língua não consegue expressar-se; começa a serenar-se a inteligência. Não se raciocina, fita-se! E a alma rompe outra vez a cantar com um cântico novo, porque se sente e se sabe também fitada amorosamente por Deus, em todos os momentos.


São Josemaría Escrivá
Via Sacra, Cap 14
Amigos de Deus, pt.307

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

IMACULADA CONCEIÇÃO - Mãe Imaculada, faz com que me mova exclusivamente o Amor!




IMACULADA CONCEIÇÃO DE NOSSA SENHORA

SOLENIDADE
08 DE DEZEMBRO

Mãe Imaculada, faz com que me mova exclusivamente o Amor!

Nestes dias, vendo como tantos cristãos exprimem dos mais diversos modos o seu carinho à Virgem Santa Maria, também vós certamente vos sentis mais dentro da Igreja, mais irmãos de todos esses vossos irmãos.

É uma espécie de reunião de família, como quando os irmãos que a vida separou voltam a encontrar-se junto da Mãe, por ocasião de alguma festa. Ainda que alguma vez tenham discutido uns com os outros e se tenham tratado mal, naquele dia não; naquele dia sentem-se unidos, reencontram-se unidos, reencontram-se todos no afeto comum.

Como gostam os homens de que lhes recordem o seu parentesco com personagens da literatura, da política, do exército, da Igreja!... - Canta diante da Virgem Imaculada, recordando-Lhe:Ave, Maria, Filha de Deus Pai; Ave, Maria, Mãe de Deus Filho; Ave, Maria, Esposa de Deus Espírito Santo... Mais do que tu, só Deus!

Permite-me um conselho, para que o ponhas diariamente em prática: quando o coração te fizer notar as suas baixas tendências, reza devagar à Virgem Imaculada: - "Olha-me com compaixão, não me deixes, minha Mãe!". E aconselha-o a outros. João, o discípulo amado de Jesus, recebe Maria e introdu-la em sua casa, na sua vida. Os autores espirituais viram nestas palavras do Santo Evangelho um convite dirigido a todos os cristãos para que Maria entre também nas suas vidas.

Quando te vires com o coração seco, sem saber o que hás de dizer, recorre com confiança a Nossa Senhora. Se a invocares com fé, Ela far-te-á saborear - no meio dessa secura - a proximidade de Deus.

Diz-Lhe: "Minha Mãe Imaculada, intercede por mim!. Virgem Imaculada, Mãe!, não me abandones: olha como se enche de lágrimas o meu pobre coração. Não quero ofender o meu Deus!Já sei, e penso que nunca o esquecerei, que não valho nada: quanto me pesa a minha insignificância, a minha solidão! Mas... não estou sozinho: tu, Doce Senhora, e o meu Pai Deus não me deixais. Ante a rebelião da minha carne e ante as razões diabólicas contra a minha Fé, amo a Jesus e creio: Amo e Creio. Meu Deus, só desejo ser agradável aos teus olhos, tudo o resto não me importa. Mãe Imaculada, faz com que me mova exclusivamente o Amor".


São Josemaría Escrivá
Caminho,496; Cristo que passa,139,140; Forja, 215,1028; Sulco,695,849


sábado, 2 de maio de 2009

Vida interior, vida de oração



“Persevera na oração. Persevera, ainda que o teu esforço
pareça estéril. A oração é sempre fecunda”

São Josemaría Escrivá
Caminho 101


“Vida interior, em primeiro lugar. Como são poucos ainda os que a entendem! Ao ouvirem falar de vida interior, pensam na escuridão do templo, quando não no ambiente rarefeito de certas sacristias. Há mais de um quarto de século venho dizendo que não é isso. O que descrevo é a vida interior de um simples cristão, que habitualmente se encontra em plena rua, ao ar livre; e que na rua, no trabalho, na família e nos momentos de lazer permanece atento a Jesus o dia todo. E o que é isso senão vida de oração contínua? Não é verdade que compreendeste a necessidade de ser alma de oração, com uma relação de amizade com Deus que te leve a endeusar-te? Essa é a fé cristã e assim o compreenderam sempre as almas de oração. Escreve Clemente de Alexandria: ‘Torna-se Deus o homem que quer o mesmo que Deus quer (Pædagogus, 3, 1, 1, 5)’.

A princípio custa. É preciso esforçar-se por dirigir o olhar para o Senhor, por agradecer a sua piedade paternal e concreta para conosco. Pouco a pouco, o amor de Deus - embora não seja coisa de sentimentos - torna-se tão palpável como uma flechada na alma. É Cristo que nos persegue amorosamente: ‘Eis que estou à tua porta e bato’ (Ap 3,20). Como vai a tua vida de oração? Não sentes às vezes, durante o dia, desejos de conversar mais com Ele? Não lhe dizes: mais tarde te contarei isto, mais tarde conversarei sobre isto contigo?

A oração se torna contínua, como o palpitar do coração, como o pulso. Sem essa presença de Deus, não há vida contemplativa; e, sem vida contemplativa, de pouco vale trabalhar por Cristo, porque, se Deus não edifica a casa, em vão trabalham os que a constroem.


Não sabes o que dizer ao Senhor na oração. Não te lembras de nada, e, no entanto, quererias consultá-Lo sobre muitas coisas. Olha: durante o dia, toma algumas notas sobre os assuntos que desejes considerar na presença de Deus. E depois, serve-te dessas notas na oração.

A vida de oração e de penitência, e a consideração da nossa filiação divina, nos transformam em cristãos profundamente piedosos, como crianças diante de Deus. A piedade é a virtude dos filhos e, para que o filho possa confiar-se aos braços de seu pai, deve ser e sentir-se pequeno, necessitado. Tenho meditado com frequência nessa vida de infância espiritual, que não se opõe à fortaleza porque exige uma vontade enérgica, uma maturidade temperada, um caráter firme e aberto.

Não saímos nunca do mesmo: tudo é oração, tudo pode e deve levar-nos a Deus, alimentar esse convívio contínuo com Ele, da manhã até à noite. Todo o trabalho honrado pode ser oração; e todo o trabalho que for oração, é apostolado. Desse modo, a alma se enrijece numa unidade de vida simples e forte”.


São Josemaría Escrivá
É Cristo que passa 8, 10
Caminho, 97


terça-feira, 7 de abril de 2009

Terça-feira Santa - A Semana Santa



“Na tragédia da Paixão, consuma-se a nossa própria vida e toda a história humana. A Semana Santa não pode reduzir-se a uma simples recordação, porque é a consideração do mistério de Jesus Cristo, que se prolonga em nossas almas; o cristão está obrigado a ser alter Christus, ipse Christus, outro Cristo, o próprio Cristo. Pelo Batismo, todos fomos constituídos sacerdotes da nossa própria existência, para oferecer vítimas espirituais, que sejam agradáveis a Deus por Jesus Cristo, para realizar cada uma de nossas ações em espírito de obediência à vontade de Deus, e assim perpetuarmos a missão do Deus Homem.

Por contraste, essa realidade nos leva a deter-nos nas nossas desditas, nos nossos erros pessoais. É uma consideração que não nos deve desanimar nem colocar-nos na atitude cética de quem renunciou às grandes esperanças, porque o Senhor reclama-nos tal como somos, para que participemos da sua vida, para que lutemos por ser santos.

A santidade: quantas vezes pronunciamos esta palavra como se fosse um som vazio! Para muitos, chega a ser um ideal inacessível, um lugar comum da ascética, mas não um fim concreto, uma realidade viva. Não pensavam assim os primeiros cristãos, que usavam os nomes dos santos para se chamarem entre si, com toda a naturalidade e com grande freqüência: Todos os santos vos saúdam, saudai a todos os santos em Cristo Jesus.

Situados agora perante o momento do Calvário, em que Jesus já morreu e ainda se não manifestou a glória do seu triunfo, temos uma excelente ocasião para examinarmos os nossos desejos de vida cristã, de santidade; para reagirmos com um ato de fé perante as nossas fraquezas e, confiantes no poder de Deus, fazermos o propósito de depositar amor nas coisas do nosso dia-a-dia. A experiência do pecado tem que nos conduzir à dor, a uma decisão mais amadurecida e mais profunda de ser fiéis, de nos identificarmos deveras com Cristo, de perseverar custe o que custar nessa missão sacerdotal que Ele confiou a todos os seus discípulos sem exceção, e que nos impele a ser sal e luz do mundo.


O pensamento da morte de Cristo traduz-se num convite para que nos situemos com absoluta sinceridade perante os nossos afazeres diários e tomemos a sério a fé que professamos. A Semana Santa não pode, pois, ser um parêntesis sagrado no contexto de um viver motivado exclusivamente por interesses humanos; deve ser uma ocasião de adentrar nas profundezas do Amor de Deus, para assim podermos mostrá-lo aos homens, com a palavra e com as obras.

A vida, a própria alma, é o que o Senhor nos pede. Se somos fátuos, se nos preocupamos apenas com a nossa comodidade pessoal, se encaramos a existência dos outros e inclusive do mundo por referência exclusiva a nós mesmos, não temos o direito de nos chamarmos cristãos e de nos considerarmos discípulos de Cristo. A entrega tem que se realizar com obras e com verdade, não apenas com a boca. O amor a Deus convida-nos a levar a cruz a pulso, a sentir também sobre nós o peso da humanidade inteira, e a cumprir, dentro das circunstâncias próprias do estado e do trabalho de cada um, os desígnios ao mesmo tempo claros e amorosos da vontade do Pai. Na passagem que comentamos, Jesus prossegue: E aquele que não carrega a sua cruz e me segue, também não pode ser meu discípulo (Lc 14, 27).

Temos que aceitar a vontade de Deus sem medo, precisamos formular sem vacilações o propósito de edificar toda a nossa vida de acordo com o que nossa fé nos ensina e exige. Não há dúvida de que encontraremos luta, sofrimento e dor, mas, se possuímos uma fé verdadeira, nunca nos consideraremos infelizes: mesmo com penas e até com calúnias, seremos felizes, com uma felicidade que nos impelirá a amar os outros e a fazê-los participar da nossa alegria sobrenatural”.

São José Maria Escrivá
É Cristo que passa 96, 97

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Meditação - Tempo certo e hora certa



São José Maria Escrivá

“A meditação necessita de tempo certo e hora certa. Caso contrário, ela acabará adaptando-se à nossa comodidade: isso é falta de mortificação. E a oração sem mortificação é muito pouco eficaz”.

Sulco, 446


“É preciso vencer, se por acaso notarmos, o comodismo, que nos dá o falso critério de que a oração pode esperar. Não adiemos nunca para amanhã essa fonte de graças. O tempo oportuno é sempre agora. Deus, que é espectador amoroso de todo o nosso dia, preside à nossa íntima prece. E tu e eu - volto a garantir - temos de confiar-nos a Ele como nos confiamos a um irmão, a um amigo, a um pai. Dize-lhe - eu lho digo - que Ele é toda a Grandeza, toda a Bondade, toda a Misericórdia. E acrescenta: Por isso quero enamorar-me de Ti, apesar de serem tão toscas as minhas maneiras, apesar destas minhas pobres mãos, gastas e maltratadas pelo pó da terra.

Que não faltem no nosso dia alguns momentos dedicados especialmente a conviver com Deus, a elevar até Ele o nosso pensamento, sem que as palavras tenham necessidade de assomar aos lábios, porque cantam no nosso coração. Dediquemos a esta norma de piedade o tempo suficiente e sempre à mesma hora, se possível. Ao lado do Sacrário, fazendo companhia Àquele que ficou entre nós por Amor. E se não houver outro remédio, em qualquer lugar, pois o nosso Deus está de forma inefável na nossa alma em graça”.

Amigos de Deus, 246-249

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Conversei com Ele?



É possível que esta palavra te assuste: meditação. Recorda-te livros de capas pretas e vermelhas, ruídos de suspiros ou de rezas como cantilenas rotineiras... Mas isso não é meditação. Meditar é considerar, contemplar que Deus é Pai, e tu, seu filho, necessitado de muita ajuda; e depois dar-Lhe graças por tudo que já te concedeu e por tudo o que ainda te dará.

Procura-O no teu exame diário:
Deixei passar alguma hora sem falar com meu Pai-Deus?
Conversei com Ele, com amor de filho?

O único meio de conhecer Jesus é chegar ao trato com Ele! NEle encontrarás sempre um Pai, um Amigo, um Conselheiro e um Colaborador para todas as atividades nobres da tua vida cotidiana.

E, com o trato íntimo, nascerá o Amor.

“Fica conosco, porque escureceu...” Foi eficaz a oração de Cléofas e do seu companheiro.

Que pena se tu e eu não soubéssemos “deter” Jesus que passa!

Que dor, se não Lhe pedimos que fique!


São José Maria Escrivá
Sulco, 671