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sábado, 14 de novembro de 2009

A VIDA INTERIOR




A VIDA INTERIOR

“Nossa Senhora do Monte Carmelo é a Patrona da vida interior, a Virgem que nos afasta da multidão e nos leva docemente até esses cumes onde o ar é mais puro, o céu mais claro, Deus está mais próximo e nas que transcorre a vida de intimidade com Deus.

Segundo São Gregório Magno, a vida contemplativa e a vida eterna não são duas coisas diferentes, mas uma só realidade; uma é a aurora, a outra o meio-dia. A vida contemplativa é o principio da dita eterna, seu sabor antecipado. Que a Rainha do céu nos conceda, pois, a graça de compreender o estreito vínculo que une essas duas vidas para viver aqui embaixo como se estivéssemos já no céu.

Uma alma interior é uma alma que encontrou a Deus no fundo de seu coração e que vive sempre com Ele.

Deus está no fundo da alma, mas está ali escondido. A vida interior é como uma eclosão de Deus na alma.

Mantenhamo-nos no centro de nossa alma, nesse ponto preciso de onde podemos vigiar todos os seus movimentos, para detê-los ou dirigi-los, segundo o caso. Vivamos ou de Deus ou para Deus, mas repitamos a nós mesmos que não se age de todo para Deus senão quando já não se faz absolutamente nada para nós mesmos. Se age então porque Deus o quer, quando Ele quer e como Ele quer, por estar sempre unidos no fundo com Aquele de quem não somos mais que um ditoso instrumento.

Duas coisas fazem falta para chegar à perfeição e à íntima união com Deus: tempo e paz.

O que dá valor aos atos reflexivos do homem é a união com Deus pela caridade. Quanto mais profunda é essa intimidade, mais valor de eternidade tem seus frutos.

Uma alma cujo olhar interior, afetuoso e humilde, está sempre fixo em Deus, obtém Dele quanto quer.

Entre uma alma recolhida, desligada de tudo, e Deus, não há nada. A união se realiza por si mesma. É imediata.

O tempo passa; sempre se ama a Deus muito pouco e muito tarde.

Que delicado és em teus afetos, Deus meu! Tens em conta o que de legitimamente pessoal há em nós, e tratas a alma que amas como se no mundo não houvesse outra coisa a não ser ela e Tu.

Crer é comungar com a ciência de Deus: Ele vê; nós cremos em sua Palavra de testemunho.

Na fé, Deus fala; pela esperança, Deus ajuda; na caridade, Deus se dá, Deus preenche.

Elevemo-nos então, até Deus constantemente. Deixemos na terra a terra. Vivamos menos nos demais e mais em nós mesmos, mas o mais possível, senão em Deus, pelo menos perto Dele.

Quando no fundo de vossas almas ouvirdes duas vozes contraditórias, convém que escuteis geralmente a que fala mais baixo. Em todo caso, essa é a que pede mais sacrifícios. E tem tanto valor o sofrimento bem entendido! Desliguemo-nos e aproximemo-nos de Deus”.


Robert de Langeac, PSS
(Abade Augustin Delage, PSS)
“La vida oculta en Dios”


CAMINHO ESPIRITUAL - AO ENCONTRO DO SENHOR




AO ENCONTRO DO SENHOR

Temos que nos dispor para sair ao encontro do Senhor. Saiamos agora para fora e avancemos por cima de nós mesmos até Deus. É preciso renunciar a todo querer, desejar o atuar próprio. Nada mais que a intenção pura e desnuda de buscar só a Deus, sem o mínimo desejo de buscar-se a si próprio nem coisa alguma que possa redundar em seu proveito. Com vontade plena de ser exclusivamente para Deus, de conceder-lhe a morada mais digna, a mais íntima para que Ele nasça ali e leve a cabo sua obra em nós, sem sofrer impedimento algum.

Com efeito, para que duas coisas se fundam é necessário que uma seja paciente e a outra se comporte como agente. Unicamente quando o olho está limpo é que poderá ver um quadro pendurado na parede ou qualquer outro objeto. Impossível seria se houvesse outra pintura gravada na retina. O mesmo ocorre com o ouvido: enquanto um ruído lhe ocupa, está impedido de captar outro. Como conclusão, o recipiente é tanto mais útil quanto mais puro e vazio.

A esse sossego do espírito se refere o cântico da Missa que começa: “Quando um sossegado silêncio tudo envolvia” (Sb 18, 14). Em pleno silêncio, toda a criação calava na mais alta paz da meia noite. Então, oh Senhor, a Palavra onipotente deixou seu Trono para acampar em nossa tenda (Liturgia de Natal). Será então, no ponto culminante, no apogeu do silêncio, quando todas as coisas ficaram submersas na calma, somente então, se fará sentir a realidade desta Palavra. Porque, se queres que Deus fale, faz falta que tu cales. Para que Ele entre, todas as coisas deverão ter saído”.

A isto se referia Santo Agostinho quando dizia: "Esvazia-te para seres preenchida, sai para entrar". E em outro lugar: "Oh tu, alma nobre, nobre criatura, por que buscas fora a Quem está plena y manifestamente dentro de ti? És partícipe da natureza divina".


Johannes Tauler OP (Juan Tauler/1300-1361)
Instituciones, Temas de oración, CI 9


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

SÃO BERNARDO DE CLARAVAL - Amo porque amo!



20 de agosto

Solenidade no Calendário Litúrgico Cisterciense

Hoje é memória litúrgica do grande Bernardo de Claraval, Abade cisterciense, Doutor da Igreja. Apaixonado pelo Cristo, devotíssimo da Virgem Maria, filho fidelíssimo da Igreja, mestre nas Sagradas Escrituras, monge exemplar! Bernardo é conhecido como Doutor Melífluo, pois seu coração e suas palavras são doces como o mel. O seu Comentário ao Cântico dos Cânticos, é puro mel... Mel que vem da doçura do coração de Deus!

D.Henrique Soares da Costa


“O amor basta-se a si mesmo, em si e por sua causa encontra satisfação. É seu mérito, seu próprio prêmio. Além de si mesmo, o amor não exige motivo nem fruto. Seu fruto é o próprio ato de amar. Amo porque amo, amo para amar!

Grande coisa é o amor, contanto que vá a seu Princípio, volte à sua Origem, mergulhe em sua Fonte, sempre beba donde corre sem cassar.

De todos os movimentos da alma, sentidos e afeições, o amor é o único com que pode a criatura, embora não condignamente, responder ao Criador e, por sua vez, dar-lhe outro tanto. Pois quando Deus ama não quer outra coisa senão ser amado, já que ama para ser amado; porque sabe que serão felizes pelo amor aqueles que o amarem.

O amor do Esposo, ou melhor, o Esposo-amor somente procura a resposta do amor e a fidelidade. Seja permitido à amada responder ao Amor! Por que a esposa - e esposa do Amor – não deveria amar? Por que não seria amado o Amor?

É justo que, renunciando a todos os outros sentimentos, única e totalmente se entregue ao amor, aquela que há de corresponder a ele, pagando amor com amor. Pois mesmo que se esgote toda no amor, que é isto diante da perene corrente do amor do outro?

Certamente não corre com igual abundância o caudal do amante e do Amor, da alma e do Verbo, da esposa e do Esposo, do Criador e da criatura; há entre eles mesma diferença que entre o sedento e a fonte.

E então? Desaparecerá por isto e se esvaziará de todo a promessa da desposada, o desejo que suspira, o ardor da que a ama, a confiança da que ousa, já que não pode de igual para igual correr com o gigante, rivalizar a doçura com o mel, a brandura com o cordeiro, a alvura com o lírio, a claridade com o sol, a caridade com aquele que é a caridade?

Não. Mesmo amando menos, por ser menor, se a criatura amar com tudo o que é, haverá de dar tudo. Por esta razão, amar assim é unir-se em matrimônio, porque não pode amar deste modo e ser menos amada, de sorte que no consenso dos dois haja íntegro e perfeito casamento. A não ser que alguém duvide ser amado primeiro e muito mais pelo Verbo”.


São Bernardo de Claraval, Abade e Doutor

Sermo 83, 4-6 in Opera Omnia

(Editiones Cistercienses 2, 300-302)

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Santa Clara de Assis - O amor esponsal em Clara



Festa 11 de agosto

“O amor esponsal em Clara”

“Santa Clara fez-se esposa do Senhor dos senhores porque se sentiu profundamente afeiçoada pelo Seu irrestrito amor. Por divina inspiração, Clara renunciou a todos os outros amores possíveis para poder entregar-se inteiramente ao único esposo Jesus Cristo. Em outras palavras, com todas as fibras do seu coração, procurou evitar que ‘toda soberba, vanglória, inveja, avareza, cuidado e solicitude deste mundo’(RSC 10,6) desviassem o seu coração do único necessário: Jesus Cristo. Assim, conservando o seu corpo casto e virginal, sem nada de próprio, acolhe Jesus no claustro de seu seio. Por conseguinte, Clara revive espiritualmente o mistério da mãe do Senhor, que humildemente dispôs-se à ação transformadora do Espírito Santo e tornou-se efetivamente a mãe do Filho do altíssimo Pai.

Clara retrai-se do corre-corre da ‘cidade’ e recolhe-se no santuário de sua alma para ali, na mais pessoal e individual solidão, encontrar-se a sós com o Amado. No tálamo do seu coração, no silêncio dos sentidos e do intelecto deixa-se enlevar tanto pelo amor do Amado, ou melhor, do Amante, que todo o seu afeto, amor, carinho, atenção e serviço às suas Irmãs, aos pobres e doentes são manifestações concretas de sua uniformidade com o Espírito de Cristo.

Parte da Segunda Carta de Santa Clara a Santa Inês de Praga:

‘Agradeço ao Doador da graça, do qual cremos que procedem toda dádiva boa e todo dom perfeito (Tg 1,17), pois adornou-a com tantos títulos de virtude e a fez brilhar em sinais de tanta perfeição, para que, feita imitadora atenta do Pai perfeito (cf. Mt 5,48), mereça ser tão perfeita que seus olhos não vejam em você nada de imperfeito (cf. Sl 138,16).

É essa perfeição que vai uni-la ao próprio Rei no tálamo celeste, onde se assenta glorioso sobre um trono estrelado. Desprezando o fausto de um reino da terra, dando pouco valor à proposta de um casamento imperial, você se fez seguidora da santíssima pobreza em espírito de grande humildade e do mais ardente amor, juntando-se aos passos daquele com quem mereceu unir-se em matrimônio.

Veja como por você ele (o Cristo pobre) se fez desprezível e siga-o, sendo desprezível por ele neste mundo. Com o desejo de imitá-lo, mui nobre rainha, olhe, considere, contemple o seu esposo, o mais belo entre os filhos dos homens (Sl 44,3), feito por sua salvação o mais vil de todos, desprezado, ferido e tão flagelado em todo o corpo, morrendo no meio das angústias próprias da cruz. Se você sofrer com Ele, com Ele vai reinar’ (Fontes Franciscanas e Clarianas)”.

Cit.por franciscanos.org

São Lourenço - O Fogo do teu Amor, Senhor



Festa 10 de agosto

O Fogo do teu Amor, Senhor

“Foi o Fogo do teu Amor, Senhor, que permitiu ao Diácono São Lourenço permanecer fiel”

“O exemplo de São Lourenço encoraja-nos a dar a vida, ilumina a fé, atrai a devoção. Não são as chamas da fogueira, mas as chamas de uma fé viva, que nos consomem. O nosso corpo não foi queimado pela causa de Jesus Cristo, mas a nossa alma é transportada pelos ardores do seu amor, o nosso coração arde de amor por Jesus. Não foi o próprio Salvador que disse, acerca deste fogo sagrado: ‘vim lançar fogo sobre a terra; e que quero Eu senão que ele já se tenha ateado?’ (Lc 12, 49). Cleofas e o companheiro experimentaram os seus efeitos quando diziam: ‘Não estava o nosso coração a arder cá dentro, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?’ (Lc 24, 32).

Foi também graças a este incêndio interior que São Lourenço permaneceu insensível às chamas do martírio; arde em desejo de estar com Jesus, e não sente a tortura. Quanto mais cresce nele o ardor da fé, menos sofre a tortura. A força do braseiro divino que tem aceso no coração acalma as chamas do braseiro ateado pelo carrasco.”

Santo Agostinho
Bispo de Hipona e Doutor da Igreja
Sermo 206

Santa Teresa Benedita da Cruz - Edith Stein, mestra de espiritualidade



Festa 09 de agosto

Entrevista com o Carmelita Jesús Castellano Cervera

«Edith Stein, mestra de espiritualidade»

Edith Stein (1891-1942), judia, filósofa, mártir, Carmelita santa e co-patrona da Europa, considerava-se «uma superlitúrgica». Quem explica isso a Zenit é o Padre Carmelita Jesús Castellano, ocd, que esta sexta-feira pela tarde ministra uma conferência sobre liturgia no Centro de Estudos Edith Stein de Lanciano (Itália).

«Era uma contemplativa sumamente ativa, antes e depois de seu ingresso no Carmelo, como demonstra sua atividade e seus escritos», sublinha este professor de espiritualidade na Faculdade Pontifícia Teológica Teresianum de Roma. O Padre Castellano é consultor, entre outros organismos vaticanos, da Congregação para a Doutrina da Fé e colabora em diversas revistas de teologia, liturgia e espiritualidade.

-Podemos considerar Edith Stein como precursora da espiritualidade litúrgica do Vaticano II?

-Castellano: Podemos afirmar sem dúvidas. Ela vive na alvorada do movimento litúrgico na Alemanha, conhece alguns protagonistas deste despertar eclesial, como Romano Guardini e Odo Casel, tem como pátria espiritual um dos centros propulsores do movimento litúrgico alemão, a Abadia de Beuron, onde o Abade Rafael Walzer é seu diretor espiritual.

Vive o fervor das celebrações de Natal e Semana Santa. Participa, como ela recorda, das «formas renovadas da piedade da Igreja» de seu tempo. Considera-se «uma superlitúrgica» por sua sensibilidade ante o mistério e o celebrar da liturgia. E contribui com seu livro «A oração da Igreja», um texto clássico sobre a Eucaristia, suas raízes judaicas e sua dimensão espiritual.

-Por que não se conhece a contribuição litúrgica de Edith Stein, ela que esteve na vanguarda com Guardini e com outros grandes mestres da liturgia de seu tempo?

-Castellano: Edith é uma figura polivalente. É admirada como fenomenóloga e filósofa como intérprete de São Tomás, de Teresa de Jesus e de João da Cruz. Seus escritos são numerosos. Este fragmento de sua espiritualidade, que é um fragmento que contém o todo, foi-se descobrindo pouco a pouco, sobretudo quando se tratou de contextualizar seu itinerário espiritual, as raízes de sua educação na liturgia judaica, seus influxos e sua participação na espiritualidade de sua época, e quando se trata de descobrir alguns escritos seus onde se manifesta, sobretudo, sua veia teológica e espiritual. Há ainda textos inéditos e outros não são muito conhecidos como o diário de seu retiro espiritual em preparação para sua profissão perpétua (10-21 de abril de 1938), uma verdadeira jóia de espiritualidade do mistério pascal vivido com Maria.


-Edith, antes de ser uma contemplativa, foi uma mulher de ação. Soube conjugar bem a oração litúrgica com a oração pessoal?

-Castellano: Nela não há dicotomias: tudo o que vive e aborda tem o toque de uma fenomenóloga que vai até o fundo vital da experiência. Vive isso desde a profundidade de seu ser, mas com toda a participação dos sentidos. Em um escrito de 1930, uma conferência para mulheres de Speyr, sobre a educação à vida eucarística, sublinha a aplicação da espiritualidade da Eucaristia à vida de cada um, tanto para os religiosos como para a mulher casada, como para as que, como ela, vivem só. E em seu livro «A oração da Igreja» faz uma maravilhosa apologia da imprescindível dimensão da oração pessoal e de seu valor eclesial. Até afirmar que toda oração pessoal é oração eclesial. Era uma contemplativa sumamente ativa, antes e depois de seu ingresso no Carmelo, como demonstra sua atividade e seus escritos.

-É exagero ver em Edith Stein um modelo de espiritualidade litúrgica feminina?

-Castellano: É evidente que toda a experiência de Edith tem o toque de seu olhar de mulher, seu coração e sua empatia feminina, com um toque de delicadeza e de profundidade. A seu modo, é um modelo de espiritualidade feminina se a entendemos como personificação do feminino da Igreja esposa, de sua atitude mariana, de seu recurso às mulheres santas, e valorizamos algumas expressões de fina poesia e sensibilidade como suas invocações ao Espírito Santo. Em seus escritos sobre a mulher e para a mulher nota-se esta peculiaridade em Edith, sem complexos nem polêmicas, com toda naturalidade.

-O que é a espiritualidade eucarística, segundo Edith Stein?

-Castellano: Algo tão simples como viver como resposta vital ante a consciência do dom que supõe a Eucaristia: ante a presença responder com a oração ante o Santíssimo e a eucaristia diária; ante o dom da comunhão com o agradecimento a quem nos nutre com sua carne e seu sangue «como uma mãe a seu filho», ante o sacrifício eucarístico acolhendo o dom e fazendo-o vida como oferenda espiritual. Trata-se de uma espiritualidade que se alimenta, em Edith Stein, com o exemplo e o testemunho, que se esclarece com o ensinamento e iniciação às riquezas do mistério, e passa pouco a pouco à vida e aos costumes até ser uma existência eucarística que impregna todo o ser e o viver.

-O que ensina Edith Stein a suas irmãs Carmelitas com seu testemunho?

-Castellano: Ensina a sentir com a Igreja totalmente no que se refere à liturgia, sem saudades do passado, com a alegria do presente e do futuro. Edith é modelo de seriedade na própria vocação contemplativa, tão aberta à liturgia como à contemplação, tão vibrante pela novidade da renovação litúrgica quanto ansiosa de transmitir a todos o viver e sentir com a Igreja. No fundo Edith é, por co-naturalidade, uma discípula de Teresa de Jesus também nisto, pois a Santa, em seu tempo, vibrava com a liturgia da Igreja e sua experiência mística tem páginas belas de comunhão com os mistérios e de entusiasmo pelas festas do Senhor, de Maria e dos Santos, de amor pela liturgia eclesial e pelo decoro das celebrações.Edith Stein contribuiu em tudo isto com a teologia de seu tempo e com a busca da excelência da celebração dos mistérios.

Padre Jesús Castellano, ocd
Consultor da Congregação para a Doutrina da Fé
Professor de espiritualidade na Faculdade Pontifícia Teológica Teresianum de Roma-Cit.por shalom.org

Santa Teresa Benedita da Cruz: Já não sou o que era



Festa 09 de agosto

JÁ NÃO SOU O QUE ERA

Tu, com imenso amor, fundes o Teu olhar no meu
e inclinas Teus ouvidos à minhas mudas palavras
e enche-me o coração de uma profunda paz.

Mas teu amor não acha satisfação
nesse intercâmbio, em que pode haver ainda separação:
Teu coração anseia por mais.

Como banquete matinal vens a mim toda a manhã,
Tua carne e Teu sangue se fazem comida e bebida para mim,
e acontecem maravilhas.

Teu corpo misteriosamente penetra o meu,
e Tua alma se une com a minha:
já não sou mais o que era!

Tu chegas e partes, permanece porém a semente
que lançaste para frutificar na glória futura,
escondida no corpo de barro.

Permanece o vínculo que une coração a coração,
a corrente vital que brota da Tua
e a todos os membros vivifica.

Como são admiráveis Teus amados milagres!
só nos resta assombrar-nos, balbuciar e calar,
pois a mente e a palavra aqui falham.

Santa Teresa Benedita da Cruz, ocd
Carmelo Santa Teresa-
Itajaí-SC
Mosteiro das Irmãs Carmelitas Descalças


Edith Stein: fenomenologia e espiritualidade



Festa 09 de agosto

Edith Stein: fenomenologia e espiritualidade!


O teor espiritual da vida de Edith Stein foi ascendente, culminando, na última etapa de sua curta estada existencial – quando fora ‘hóspede’ de Hitler em Auschwitz – numa vida contemplativa. Esta elevação silenciosa, como a subida do Monte Carmelo, foi cada vez mais apurada e, inclusive, podemos dizer que tal acuidade espiritual revestiu, plenamente, sua existência (1). Esta ascensão purificadora, como o caminhar da alma às escuras da noite (2) é o que define o caminho da ascética à mística (3). A dimensão espiritual de sua vida foi, pouco a pouco, revelada através do caráter dinâmico de sua obra. Seus escritos se desenvolvem, verdadeiramente, a partir dos mais profundos anseios espirituais de uma vida intima e dinamicamente voltada para Deus. E esta veemência, longe de afastá-la do real, acercou-a ainda mais do mundo fenomênico a ponto de desejá-lo, entendê-lo e questioná-lo, objetivamente, mediante uma percepção cada vez mais apurada do mesmo.

Ela nos diz que é no seu íntimo, na sua essência, que a alma se encontra em casa. Por meio da atividade natural de suas faculdades, ela sai de si própria e vai ao encontro do mundo exterior, exercendo uma atividade sensível que é inferior à ela mesma (4). Tudo isso, mediante expressões sensíveis, sensações, sons, palavras, ações e obras, que correspondem certa manifestação interior, espontânea ou não, consciente ou inconsciente (5). Sua intensa preocupação acerca de uma teoria do conhecimento que desse conta do estabelecimento desta ponte é o marco de sua incansável busca. Mesmo os seus interesses mais comuns permearam-se com este ardor espiritual de uma vida interior (6). Independente de sua proeminente formação acadêmica edificava-se nela um natural interesse objetivo pelo mundo, mediante uma profunda e perspicaz visão subjetiva do mesmo. Nascera-lhe o desejo filosófico, mediante uma percepção natural.

Este amor à sabedoria a levaria questionar o modo como teria que se edificar uma ponte entre a maneira como este denso mundo pessoal –subjetivo marcado fortemente por uma atividade espiritual– percebe o mundo aparente e o modo como este mundo aparente –objetivo e caracterizado intensamente por uma objetividade corpórea– se apresenta à percepção subjetiva da consciência. Este modo subjetivo de considerar a realidade a aproximou da filosofia e de uma intensa percepção filosófica do mundo objetivo. Não obstante, esta cercania se deu a partir da própria tensão de seu mundo subjetivo, ou seja, de sua visão ‘pessoal’ e subjetiva do real.


Nestes termos seria plausível supor que a densidade espiritual de sua percepção subjetiva do mundo objetivo a impulsionaria, necessariamente, entendê-lo, a partir desta mesma subjetividade. Podemos dizer que a finura espiritual de sua vida a incentivou à percepção filosófica subjetiva de um mundo objetivo. Esta espiritualidade lhe exigia, em sua dimensão cognoscitiva, uma explicação. Era necessário, para um melhor entendimento do mundo, compreender-se a si mesma, mediante a compreensão do modo como sua própria consciência opera. Esta exigência passava pela compreensão de uma teoria do conhecimento que se arquitetasse sobre princípios norteadores da consciência, determinando-lhe a intencionalidade da percepção objetiva. Neste caso, qual filosofia, senão a de Edmund Husserl, poderia oferecer-lhe naquele momento, respostas mais adequadas à busca de compreensão do modo como se estruturava e operava a consciência, subjetivamente, na consideração objetiva do mundo? Sua aproximação à fenomenologia de Husserl foi inevitável.

E ela buscava, primeiramente, compreender e logo viabilizar, mediante a percepção filosófica subjetiva, esta ponte entre a percepção intencional da consciência e a objetividade do mundo real, a partir de um vivo diálogo da percepção do ego – a subjetividade – com o mundo – a objetividade. Não foi a intensidade da fenomenologia de Husserl que a fez desvelar-se em sua densidade subjetiva espiritual e convertê-la ao Catolicismo, mas ao contrário, foi a sua própria intensa vida espiritual, que a aproximou da fenomenologia de Husserl, vendo nesta uma possibilidade de arquitetar um modelo filosófico para a compreensão de como a consciência subjetiva e intencional opera sobre o real objetivo.

Foi esta veemência espiritual que a fez ver, cada vez mais, no Cristianismo, uma efetiva resposta às suas mais profundas aspirações intelectuais e espirituais, que a própria fenomenologia não lhe poderia oferecer. Este clamor de uma vida contemplativa não pressupôs a filosofia, antes, ao contrário, foi este ardor místico que a fez amar a filosofia e denotar, mediante ela, sua vocação sobrenatural. Não há dúvida que a filosofia colaborara para uma melhor visão cristã do mundo. Se a filosofia a fez chegar ao Cristianismo, a própria ciência do Cristianismo – a qual denominou ciência da cruz – lhe proporcionaria descobrir a intensa vida do Evangelho, cristalizadas em obras de espiritualidade e de teologia, como as de mística de São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila e a Filosofia e Teologia de Tomás de Aquino. Eis as descobertas que lhe marcariam profundamente, no que se refere ao seu modo de ser e ao modo de pensar o mundo.

1 E. Stein, Chemins vers le silence intérieur. Textes choisis et présentés par Vincent Aucante. Saint-Maur, Parole et Silence, 1998, p. 11-69.
2 S. João da Cruz, Subida do Monte Carmelo, Liv. I. Cap. II, n. 1. [Obras Completas, 7ª edição. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 143].
3 R. Garrigou-Lagrange, Les trois âges de la vie intérieure, prélude de celle du Ciel. Tome Ier. Paris, Les Éditions du Cerf, 1938, p. 16-29.
4 E. Stein, A Ciência da Cruz. Tradução de D. Beda Kruse. São Paulo, Edições Loyola, 2002, p. 127.
5 E. Stein, A Ciência da Cruz. Op. cit., p. 130.
6 E. Stein, Chemins vers le silence intérieur. Op. Cit. p. 11-69.


Professor Dr. Paulo Faitanin
Departamento de Filosofia –UFF
Cit.por aquinate.com

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

SANTO CURA D’ARS - A oração é uma união com Deus



FESTA 04 DE AGOSTO

«Até agora, ainda não pedistes nada. Pedi e recebereis; assim sereis cumulados de alegria».

“Vede, meus filhos: o tesouro do cristão não está na terra, mas no Céu. (Mt. 6, 20). Pois bem! O nosso pensamento deve estar onde está o nosso tesouro. O homem tem a bela função de rezar e amar. Vós rezais, e amais: eis a felicidade do homem sobre a terra.

A oração, outra coisa não é senão uma união com Deus. Quando se tem o coração puro e unido a Deus, sente-se um bálsamo, uma doçura que inebria, uma luz que encandeia, atrai, seduz. Nesta íntima união, Deus e a alma são como dois pedaços de cera fundidos entre si; jamais se podem separar. É uma coisa muito bela esta união de Deus com a sua pequena criatura. É uma felicidade que não se pode compreender. Nós não éramos dignos de rezar, mas Deus, na Sua bondade, permitiu que lhe falássemos. A nossa oração é um incenso que Deus recebe com um extremo, imenso prazer.

Meus filhos, vós tendes um coração pequeno, mas a oração dilata-o e torna-o capaz de amar a Deus. A oração é um ante gozo do Céu, um fluxo do paraíso. Ela nunca nos deixa sem doçura. É um mel que desliza pela alma e tudo dulcifica. Os sofrimentos, as dores derretem-se diante duma oração bem feita, como a neve diante do sol”.

S. João Maria Vianney
Catecismo sobre a oração

sábado, 1 de agosto de 2009

São Bernardo - Ó minha alma, volta ao Verbo para seres transformada por Ele!



“Ó meu Deus, que não poderia eu, confiante, ousar Convosco, cuja nobre imagem e luminosa semelhança sei que trago em mim? Por que deveria eu temer tão alta Majestade, quando posso confiar na nobreza de minha origem? Ajudai-me a conservar a integridade de minha natureza com a inocência da vida! Ensinai-me a embelezar e honrar, com virtudes e afetos dignos, a Celeste Imagem que trago em mim.

Ó minha alma, volta ao Verbo para seres transformada por Ele, para te tornares igual a Ele na caridade! Se amares perfeitamente, desposar-te-ei com Ele. Haverá coisa mais feliz do que esta conformidade? Haverá coisa mais desejável do que o amor pelo qual tu, minha alma, te aproximas espontânea e confiantemente do Verbo, a Ele constantemente adoras, a Ele familiarmente interrogas e consultas em todas as coisas, tão capaz de entender quanto audaz em desejar?

Este é verdadeiramente contrato de espiritual e santo matrimônio! É o amplexo! Sim, é verdadeiramente amplexo porque um idêntico querer e não querer faz de dois um só espírito”.

São Bernardo de Claraval
In Cantica Cant. 83, 1-3
Oeuvres mystiques de Saint Bernard, Paris, 1953

terça-feira, 28 de julho de 2009

Beato Frei Tito Brandsma – Buscando a união com Deus



Festa 27 de julho

“Para Deus o coração de Maria permaneceu sempre aberto. Nela devemos aprender a expulsar do nosso coração tudo o que não pertence ao Senhor, e que para Ele o nosso coração esteja sempre aberto para se encher da graça divina. Então Jesus descerá no nosso peito, crescerá e renascerá em nós e encher-nos-á de graças. Devemos viver uma vida divina não buscando outra glória e outra salvação que não a união com Deus”.


Beato Frei Tito Brandsma, Carmelita e Mártir
Do Discurso no Congresso Mariano de Tongezloo


quarta-feira, 1 de julho de 2009

Chiara Lubich – A Fonte da vida está em ti



«A fonte da vida está em ti.» (Sl 36,10)

“Não foi suficiente para o amor do Pai pronunciar a Palavra com a qual tudo foi criado. Ele quis que a sua própria Palavra assumisse a nossa carne. Deus, o único verdadeiro Deus, fez-se homem em Jesus e trouxe à terra a fonte da vida. A fonte de todo o bem, de todo o ser e de toda a felicidade veio ficar entre nós, para que a tivéssemos, por assim dizer, ao alcance de nossas mãos. «Eu vim para que tenham a vida, e a tenham em abundância», disse Jesus. Ele preencheu de si cada momento e espaço da nossa existência. E quis permanecer conosco para sempre, de modo a ser reconhecido e amado sob as mais diferentes vestes. Às vezes chegamos a pensar: "Como seria bom viver no tempo de Jesus!" Pois bem, o seu amor inventou um modo de permanecer em todos os pontos da Terra. Conforme a sua promessa, Ele se faz presente na Eucaristia. E ali podemos saciar a nossa sede para nutrir e renovar a nossa vida.

«A fonte da vida está em ti.»

Outra fonte de onde extrair a água viva da presença de Deus é o irmão, a irmã. Se nós amamos cada próximo que passa ao nosso lado, especialmente o mais necessitado, não podemos considerá-lo um nosso beneficiado, mas um nosso benfeitor, porque ele nos doa Deus. De fato, amando Jesus nele - «Pois eu estava com fome, estava com sede, eu era estrangeiro, estava na prisão» - recebemos em troca o seu amor, a sua vida, porque Ele mesmo, presente nos nossos irmãos e irmãs, é a nascente para nós.



Uma fonte rica de água é também a presença de Deus dentro de nós. Ele sempre nos fala, e cabe a nós escutar a sua voz que fala na nossa consciência. Quanto mais nos esforçamos em amar a Deus e o próximo, tanto mais a sua voz se torna forte e supera todas as outras. Mas existe um momento privilegiado no qual, como em nenhum outro, podemos gerar a sua presença dentro de nós: é quando rezamos e procuramos aprofundar o nosso relacionamento direto com Ele, que habita no fundo do nosso coração.

É comparado ainda a um profundo lençol d'água que jamais seca, que está sempre à nossa disposição e que pode saciar a nossa sede a cada instante. Bastará fechar por um momento as janelas da alma e recolher-nos para encontrar esse manancial, mesmo estando no mais árido deserto. Até alcançar aquela união com Ele na qual sentimos que não estamos mais sós, e somos dois: Ele em mim e eu n'Ele. Todavia, somos um - por sua graça - como a água e a nascente, a flor e a sua semente.

A Palavra do Salmo nos lembra que somente Deus é a fonte da vida e, por isso, da comunhão plena, da paz e da alegria. Quanto mais nos saciarmos desta fonte, quanto mais vivermos desta água viva que é a sua Palavra, tanto mais nos aproximaremos uns dos outros e viveremos como irmãos e irmãs. Então se realizará, como continua o Salmo: «Quando nos iluminais, vivemos na luz», aquela mesma luz que a humanidade espera.”

Chiara Lubich
Fundadora dos Focolares
Palavra de vida, Jan de 2002

domingo, 28 de junho de 2009

DIA DO PAPA – Tu és Pedro!





"Tu és Pedro
e sobre esta Pedra
edificarei a minha Igreja!"







Ao Santo Padre Bento XVI,

nossa sempre fiel oração e

a nossa efetiva e sincera obediência!


São Pedro e São Paulo - Duas colunas, um só amor!



Solenidade
28 de junho

“Vós sabeis, irmãos, como entre todos os apóstolos e mártires de nosso Senhor, estes dois, cuja solenidade hoje celebramos, parecem ter uma particular dignidade. Não é de admirar! Foi a eles que, de modo muito especial, o Senhor confiou a Santa Igreja.

Com efeito, quando São Pedro proclamou que o Senhor era o Filho de Deus, este lhe respondeu: ‘Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus’ (Mt 16,18.19). Foi ainda o Senhor que, de certo modo, deu-lhe São Paulo por companheiro, como afirma o próprio Paulo: ‘O mesmo que tinha preparado Pedro para o apostolado entre os judeus preparou também a mim para o apostolado entre os pagãos’ (Gl 2,8). São eles que, através do profeta, o Senhor prometeu à santa Igreja, dizendo: ‘A teus pais sucederão teus filhos’ (Sl 44[45],17). Os pais da santa Igreja são os santos patriarcas e profetas, os primeiros que ensinaram a lei de Deus e anunciaram a vinda de nosso Senhor. Se antes de sua vinda cessaram as profecias, isto se deve aos pecados do povo.

Veio, pois, nosso Senhor e, em lugar dos profetas, escolheu os santos apóstolos, realizando assim o que predissera o profeta: A teus pais sucederão teus filhos. Vede como ele declara ser a dignidade dos apóstolos bem maior que a dos profetas. Estes foram príncipes de um só povo, viveram em uma única nação e em uma só parte da terra; enquanto sobre os apóstolos, ele diz: ‘Deles farás príncipes sobre toda a terra’ (Sl 44[45],17). Que terra existe, irmãos, onde não se reconheça o poder e a dignidade destes apóstolos?

São eles as colunas que, com a doutrina, a oração e o exemplo da própria paciência, sustentam a santa Igreja. Foi nosso Senhor quem tornou inabaláveis estas colunas. No começo eram muito frágeis, não podendo sustentar-se nem a si nem aos outros. Mas isso correspondia a um admirável desígnio de nosso Deus pois, se sempre tivessem sido fortes, outros poderiam pensar que esta graça provinha deles mesmos. Desse modo, nosso Senhor quis primeiramente mostrar quem eram eles para depois fortificá-los: todos então compreenderiam como provinda de Deus a força que possuíam.

Entretanto, visto que seriam os pais da Igreja e os médicos das almas enfermas, não podiam compadecer-se da fraqueza alheia se antes não houvessem feito análoga experiência em si mesmos. Assim tornaram-se sólidas as colunas da terra, isto é, da santa Igreja. De fato, como era frágil esta coluna, quer dizer, São Pedro, quando bastou a voz de uma criada para fazê-lo cair! Mas depois, o Senhor deu-lhe vigor ao interrogá-lo três vezes: ‘Pedro, tu me amas?’; ao que ele também por três vezes respondeu: ‘Eu te amo’. Convém notar que o Senhor, quando Pedro lhe responde: Eu te amo, de imediato acrescenta: ‘Apascenta minhas ovelhas’ (cf. Jo 21,15-17), como se quisesse dizer: demonstra o amor que tens por mim apascentando minhas ovelhas. Por isso, irmãos, não é sincero quem diz amar a Deus mas não quer apascentar suas ovelhas”.

S. Aelred de Rievaulx, Abade Cisterciense
The Liturgical Sermons: The First Clairvaux Collection

São Pedro e São Paulo – Os gigantes da fé!



Solenidade
28 de junho

“Eis os santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus. Estas palavras da Liturgia resumem o significado de São Pedro e São Paulo. A Igreja chama a ambos de 'corifeus' isto é líderes, chefes, colunas. Eles são apóstolos, os primeiros enviados do Senhor, são testemunhas do Cristo morto e ressuscitado. Sua pregação plantou a Igreja, que vive do testemunho que eles deram (Mt 10,1ss; 28,18-20).

Pedro, discípulo da primeira hora, seguiu Jesus nos dias de sua pregação, recebeu do Senhor o nome de Pedra e foi colocado à frente do Colégio dos Doze e de todos os discípulos de Cristo. Generoso e ao mesmo tempo frágil, chegou a negar o Mestre e, após a ressurreição, teve confirmada a missão de apascentar o rebanho de Cristo. Pregou o Evangelho e deu seu último testemunho em Roma, onde foi crucificado sob o Imperador Nero no ano 67.

Paulo não conhecera Jesus segundo a carne. Foi perseguidor ferrenho dos cristãos, até ser alcançado pelo Senhor ressuscitado na estrada de Damasco. Jesus o fez ser apóstolo. Pregou o Evangelho incansavelmente pelas principais cidades do Império Romano e fundou inúmeras igrejas. Combateu ardentemente pela fidelidade à novidade cristã, separando a Igreja da Sinagoga. Por fim, foi preso e decapitado em Roma também sob o Imperador Nero no mesmo ano que Pedro ( 2Cor 11,18 – 12,10).

Estes gigantes da fé foram fiéis à missão recebida. As palavras de Paulo servem também para Pedro: 'Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé'. Ambos foram perseverantes e generosos na missão que o Senhor lhes confiara: entre provações e lágrimas, eles fielmente plantaram a Igreja de Cristo, buscando não o próprio interesse, mas o de Jesus Cristo. Ambos experimentaram também, dia após dia, a presença e o socorro do Senhor. Paulo, como Pedro, pôde dizer: 'Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar...'.


Ambos viveram profundamente o que pregaram: pregaram o Cristo com a palavra e a vida, tudo dando por Cristo. Pedro disse com acerto: 'Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo'; Paulo exclamou com verdade: 'Para mim, o viver é Cristo. Minha vida presente na carne, eu a vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim'. Dois homens, um amor apaixonado: Jesus Cristo! Duas vidas, um só ideal: anunciar Jesus Cristo! Em Jesus, eles apostaram tudo; por Jesus, gastaram a própria vida; da loucura da cruz e da esperança da ressurreição de Jesus, eles fizeram seu tesouro e seu critério de vida (Jo 21,15-19; Fl 3,4-14).

Ambos derramaram o Sangue pelo Senhor: 'Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus'. Eis a maior de todas a honras de Pedro e de Paulo: beberam o cálice do Senhor, participando dos seus sofrimentos, unido a ele suas vidas até o martírio em Roma, para serem herdeiros de sua glória.

Hoje também, nossos corações voltam-se para a Igreja de Roma, aquela que foi regada com o sangue dos bem-aventurados Pedro e Paulo, aquela, que guarda seus túmulos, aquela, que é e será sempre a Igreja de Pedro, a Igreja de Roma, que é a Esposa do Cordeiro, imagem da Jerusalém celeste (Ap 21,1-11).

Conhecemos e veneramos o ministério que o Senhor Jesus confiou a Pedro e seus sucessores em benefício de toda a Igreja: ser o pastor de todo o rebanho de Cristo e a primeira testemunha da verdadeira fé naquele que é o 'Cristo, Filho do Deus vivo'. Pedro é o primeiro (Mt 10,2:); sobre ele Cristo fundou sua Igreja (Mt 16,17ss) e por isso ele deve confirmar seus irmãos na fé (Lc 22,31s). Cefas quer dizer Pedro, pedra. Pedro é o chefe da Igreja, sempre ocupando o primeiro lugar na responsabilidade (Jo 20,3-8; At 1,15ss; 2,14ss; 2,3-s; 5,1-11; 1Cor 15,3-5).

Sabemos com certeza de fé que a missão de Pedro perdura nos seus sucessores em Roma; hoje, em Bento XVI. O Papa será sempre, na Igreja, o referencial seguro da comunhão na verdadeira fé e na unidade. Quando surgem, como ervas daninhas, tantas e tantas seitas cristãs e pseudo-cristãs, nossa comunhão com Pedro é garantia de permanência seguríssima na verdadeira fé. Quando o mundo já não mais se constrói nem se regula pelos critérios do Evangelho, a palavra segura de Pedro é, para nós, uma referência segura daquilo que é ou não é conforme o Evangelho”.

D.Henrique Soares da Costa, Bispo
Dos Estudos Bíblicos-Catequéticos
Cit.por domhenrique.com

sábado, 27 de junho de 2009

São Cirilo de Alexandria - Aquele que é bem formado será como o seu mestre



Memória Facultativa

“O discípulo não está acima do mestre. Porque é que estás a julgar quando o Mestre ainda não julga? Porque Ele não veio julgar o mundo mas derramar nele a sua graça. Entendida neste sentido, a Palavra de Cristo passa a ser: Se Eu não julgo, não julgues tu também, tu que és meu discípulo. Pode acontecer que tu sejas culpado de faltas mais graves do que aquele que estás a julgar. Como será a tua vergonha quando disso tiveres consciência!

O Senhor dá-nos o mesmo ensinamento na parábola em que diz: «Porque te preocupas com a palha no olho do teu irmão?» Com argumentos irrefutáveis, Ele convence-nos a não querer julgar os outros e a estarmos sobretudo atentos ao nosso íntimo. Em seguida, pede-nos que procuremos libertar-nos das paixões que aí se instalaram, pedindo a Deus essa graça. Com efeito, é Ele quem cura os que têm o coração desfeito e nos liberta das nossas doenças espirituais. Porque, se os pecados que te esmagam são maiores e mais graves do que os dos outros, porque é que os criticas sem te preocupares com os teus?

Todos os que querem viver piedosamente e sobretudo os que têm o encargo de instruir os outros, tirarão necessariamente proveito deste preceito. Se forem virtuosos e moderados, dando com as suas ações o exemplo da vida evangélica, repreenderão com doçura aqueles que ainda não se tiverem decidido a fazer o mesmo”.

São Cirilo de Alexandria, Bispo e Doutor
Comentário ao Evangelho de Lucas

São Cirilo de Alexandria – União de amor com Jesus


Memória Facultativa

“Quem recebe a Comunhão é tornado santo em corpo e alma, do mesmo modo que a água ferve quando posta sobre o fogo. A Comunhão age como o fermento que se mistura com a farinha, fazendo-a levantar-se. De igual modo, derretendo-se duas velas juntas se obtém uma só peça de cera, assim, creio eu, que aquele que recebe a Carne e o Sangue de Jesus, se funde com Ele por esta Comunhão, e a alma descobre que está em Cristo e Cristo está nela”.


São Cirilo de Alexandria, Bispo e Doutor

Unión de amor con Jesús en la Sagrada Comunión


segunda-feira, 15 de junho de 2009

CORPUS CHRISTI – Eucaristia deve ser o absoluto do nosso amor



Solenidade
11 de junho

“A fé conduz a Jesus Cristo enquanto o amor encontra-o e adora-o. O amor manifesta-se de três maneiras, manifestações essas que lhe constituem a vida.

Manifesta-se, em primeiro lugar, pela simpatia que, formando entre duas almas o laço e a lei de duas vidas, torna-as semelhantes uma a outra. A ação da simpatia natural – e com quanto mais razão da sobrenatural para com Nosso Senhor – constitui a atração forte, a transformação uniforme de duas almas numa só alma, de dois corpos num só corpo. Assim como o fogo absorve e transforma em si toda matéria simpática, assim também o cristão se transforma em Deus pelo Amor de Jesus Cristo. “Símiles ei erimus”.

Como foram os magos atraídos imediatamente a este Menino que ainda não fala nem sequer lhes pode revelar o pensamento? Ah! O amor viu e, vendo, uniu-se ao objeto amado! Contemplai os reis de joelhos ante o presépio, rodeados pelos animais e adorando, num estado tão humilhado e humilhante para a realeza, a débil Criança que os fita com tão singelo olhar!

Se entre amigos fazem-se necessário palavras, aqui basta tão somente o amor. Não imitam eles tanto quanto podem o estado do divino Infante, pois o amor, por ser simpático, é naturalmente imitador? Eles desejariam rebaixar-se, aniquilar-se até às entranhas da terra, a fim de melhor adorar e assemelhar-se àquele que, do Trono de sua Glória, se humilhou até descer, sob a forma do escravo, ao presépio.

Eles abraçam a humildade que o Verbo Encarnado desposou; a pobreza que deificou; o sofrimento que divinizou. O amor, por ser transformador, produz identidade de vida. Torna os reis simples, os sábios humildes, os ricos pobres de coração. Não praticam os magos todas essas virtudes?


A simpatia, indispensável à vida de amor, por suavizar os sacrifícios e assegurar-lhes a perseverança, é, numa palavra, a verdadeira prova de amor e a garantia de sua durabilidade. O amor que não se torna mais simpático é uma virtude laboriosa, privada de alegria e dos encantos da amizade, embora por vezes sublime.

O cristão, chamado a viver do Amor de Deus, precisa desta simpatia de amor. Ora, é na Santa Eucaristia que Nosso Senhor nos dá o suave penhor do seu Amor pessoal como a amigos. É aí que nos permite repousar ligeiramente nosso coração sobre o seu como o discípulo amado. Aí nos faz provar, ao menos passageiramente, a doçura do maná celestial. Aí nos faz gozar no coração a alegria de possuir ao nosso Deus, como Zaqueu; nosso Salvador, como Madalena; nossa soberana felicidade e nosso tudo, como a Esposa dos Cânticos. Aí, soltam-se suspiros de amor: ‘Quão suave sois! Quão bom, quão terno, ó Jesus, para com aquele que vos recebe com amor’.

Mas a simpatia do amor não descansará no gozo. É a brasa que o Salvador acende no coração quando encontra correspondência: ‘Carbo est Eucharistia quae nos inflammat’. O fogo ativo é invasor. Assim é que a alma dominada por ele, é levada a exclamar: ‘Que farei, Senhor, em troca de tamanho Amor?’. E Jesus responde: ‘Procurarás assemelhar-te a mim, viver para mim, viver de mim’. A transformação será fácil. Na escola do Amor, diz a Imitação, não se anda, corre-se, voa-se: ‘Amans, currit, volat’.

Manifesta-se, em segundo lugar, o amor pelo absoluto do sentimento. Quer tudo dominar, como senhor único e radical do coração. O amor é um. Tendendo à unidade, que é sua essência, absorve ou é absorvido.


Tal verdade brilha em todo o seu esplendor na adoração dos magos. Ao encontrar o régio Infante, não tomam em consideração nem a indignidade do local, nem os animais que aí estão, tornando-o repugnante. Não pedem nem prodígios ao Céu, nem explicações à Mãe. Não examinam curiosamente o menino, mas caem logo de joelhos em profunda adoração. Só por Ele vieram. Em presença do sol eclipsam-se todos os astros. O Evangelho nem sequer menciona as honras que, necessariamente, prestaram a Santa Mãe. A adoração, qual o amor que a inspira, é uma delas.

Ora, a Eucaristia, por ser a quintessência de todos os Mistérios de sua Vida de Salvador, é o absoluto do Amor de Jesus Cristo pelo homem. Tudo quanto Jesus Cristo fez, da Encarnação à Cruz, visava ao Dom Eucarístico, visava a sua união pessoal e corporal com cada cristão pela Comunhão, em que via o meio de nos comunicar os tesouros da sua Paixão, as virtudes da sua Santa Humanidade, os méritos da sua Vida. Eis o prodígio do Amor. ‘Qui manducat meam carnem, in me manet et ego in eo’.

A Eucaristia deve também ser o absoluto do nosso amor para com Jesus Cristo, se quisermos alcançar, pelo nosso lado, o fim que se propôs na Comunhão, isto é, transformar-nos nele pela união. A Eucaristia deve, pois, ser a lei das nossas virtudes, a alma da nossa piedade, o supremo anelo da nossa vida, o pensamento real e dominante do nosso coração, a bandeira gloriosa dos nossos combates e sacrifícios. E, fora desta unidade de ação, jamais conseguiremos o absoluto no amor. Com ele, porém, nada é mais suave e mais fácil. Temos então todo o poder do homem e de Deus concentrados harmoniosamente no reinado do amor. ‘Dilectus meus mihi et ego illi’, ‘O meu amado é para mim e eu para o meu amado’.

São Pedro Julião Eymard
A Divina Eucaristia, v.1, pp. 234-237

sábado, 6 de junho de 2009

O Santo Espírito nos une a Cristo



“É necessário seguir Cristo, é necessário aderir a Ele, não O devemos abandonar até à morte.

Como dizia Eliseu ao seu mestre: «Pelo Deus vivo e pela tua vida, juro que não te deixarei» (2R 2,2). Então, sigamos Cristo e unamo-nos a Ele! «A felicidade é estar perto de Deus» diz o salmista (Sl 72,28). «A minha alma está unida a Ti, a Tua mão direita me sustenta» (Sl 62,9). E São Paulo acrescenta: «Quem se une ao Senhor, forma com Ele um só espírito» (1Cor 6,17). Não apenas um só corpo, mas também um só espírito.

Do Espírito de Cristo, todo o seu corpo vive; pelo corpo de Cristo, chegamos ao Espírito de Cristo. Por conseguinte, permanece pela fé no corpo Cristo e um dia serás um só espírito com Ele. Pela fé, estás desde já unido ao seu Corpo; pela visão, também serás unido ao seu Espírito. Não é que no alto vejamos sem o corpo, mas os nossos corpos serão espirituais (1Cor 15,44).

«Para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia»: eis a união pela fé. E mais adiante pede: «que eles cheguem à perfeição da unidade e assim o mundo reconheça»: eis a união pela visão.

Eis o modo de nos alimentarmos espiritualmente do Corpo de Cristo: ter n'Ele uma fé pura, procurar sempre, através da meditação assídua, o conteúdo desta fé, encontrar o que procuramos pela inteligência, amar ardentemente o objeto da nossa descoberta, imitar na medida do possível Aquele que amamos; e, imitando-o, aderir a Ele constantemente para chegarmos à união eterna”.


Guigues de Chartres, o Cartuxo
Prior da Grande Cartuxa
Méditation 10 (trad. SC 163, p. 187)