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quinta-feira, 8 de abril de 2010

OITAVA DA PÁSCOA - QUINTA-FEIRA - Por que estais perturbados?



QUINTA-FEIRA NA OITAVA DA PÁSCOA

At 3, 11-26
Sl 8
Lc 24,35-48


“Por que estais perturbados?”

Quando Jesus apareceu aos apóstolos, “estando fechadas as portas, e veio pôr-Se ao meio deles, eles ficaram dominados pelo espanto e cheios de medo, julgando ver um espírito” (Jo 20, 19; Lc 24, 37). Mas, quando soprou sobre eles dizendo “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20, 22), e mais tarde, quando lhes enviou do céu esse mesmo Espírito como novo dom, esse dom foi uma prova indubitável da sua ressurreição e da sua nova vida. Com efeito, é o Espírito que dá testemunho no coração dos santos, e em seguida pela sua boca, de que Cristo é a verdade, a verdadeira ressurreição e a vida. É por isso que os apóstolos, que inicialmente tinham duvidado, mesmo à vista do Seu corpo vivo, “davam testemunho da ressurreição com grande poder” (At 4, 33), depois de terem experimentado esse Espírito que dá a vida. É-nos muito mais proveitoso acolher Jesus no coração do que vê-Lo com os olhos e ouvi-Lo falar. A ação do Espírito Santo sobre os nossos sentidos interiores é muito mais poderosa do que a impressão dos objetos materiais sobre os nossos sentidos exteriores.

Muito bem, irmãos, qual é o testemunho que a alegria do vosso coração presta ao vosso amor por Cristo? Quando hoje, na Igreja, tantos mensageiros proclamam a ressurreição, o vosso coração exulta e exclama: “Jesus, o meu Deus, está vivo; eles me anunciaram! Perante esta boa nova, o meu espírito desencorajado, tíbio e entorpecido pela dor, recuperou a vida. A voz que proclama esta boa nova desperta da morte os mais culpados”. Irmão, eis o sinal que te permitirá reconhecer que o teu espírito recuperou a vida em Cristo: se ele disser: “Se Jesus está vivo, tanto me basta!”. Oh, palavra de fé e bem, digna dos amigos de Jesus! “Se Jesus está vivo, tanto me basta!”.


Beato Guerric d'Igny, Abade Cisterciense
I Sermão para a ressurreição do Senhor, 4

sábado, 3 de abril de 2010

TRÍDUO PASCAL – SÁBADO SANTO – VIGÍLIA PASCAL – Dies Christi! O dia do Senhor ressuscitado!



SÁBADO SANTO - VIGÍLIA PASCAL

Gn 1,1 – 2,2/Sl 103
Gn 22,1-18/Sl 15
Ex 14,15 – 15,1
Is 54,5-14/Sl 29
Is 55,1-11
Br 3,9-15.32-4,4/Sl 18
Ez 36,16-17a.18-28/Sl 41
Rm 6,3-11/Sl 117
Lc 24,1-12


« Dies Christi! O dia do Senhor ressuscitado!

Este é o dia que o Senhor fez!»


“Este é o dia que o Senhor fez: seja para nós dia de alegria e de felicidade” (Sl 117, 24)

Irmãos, esperemos o Senhor e exultemos de alegria, a fim de O vermos e de rejubilarmos na Sua luz. Abraão exultou com a simples idéia de ver o dia de Cristo, e por isso mereceu vê-lo e rejubilar (Jo 8, 56). Também tu tens de velar todos os dias às portas da Sabedoria (Pr 8, 34), montar guarda, com Maria Madalena, à porta do túmulo de Cristo. E estou certo de que então compreenderás com ela quão verdadeiro é o que lemos nas Escrituras sobre a Sabedoria em pessoa, que é Cristo: «os que a amam descobrem-na facilmente. Ela antecipa-se a dar-se a conhecer aos que a desejam» (Sb 6, 12-13).

Foi Ele mesmo que o prometeu: «Amo os que Me amam; quem Me procura encontrar-Me-á» (Pr 8, 17). Foi assim que Maria encontrou Jesus na carne, pois velava, tendo ido ao túmulo antes de amanhecer. É verdade que tu já não O conhecerás segundo a carne (2Cor 5, 16), mas segundo o espírito. Mas encontrá-Lo-ás espiritualmente, se O procurares com um desejo semelhante ao de Maria: «A minha alma deseja-Vos de noite, e o meu espírito dentro de mim busca-Vos» (Is 26, 9). Diz com o salmista: «A minha alma está sedenta de Vós» (62, 2).

Velai, pois, irmãos, e rezai intensamente! Velai tanto mais quanto desponta já a aurora do dia que não tem ocaso. Sim, «já é hora de despertardes do sono, que a noite vai adiantada e o dia está próximo» (Rm 13, 11-12). Velai, pois, para que a Luz da manhã, Cristo, nasça para vós, pois «iminente como a aurora está a Sua vinda» (Os 6, 3); Ele está disposto a renovar muitas vezes o mistério da Sua ressurreição matinal em favor daqueles que para Ele velam. Então poderás cantar, de coração jubiloso: «O Senhor actuou neste dia, cantemos e alegremo-nos nele».


Beato Guerric d'Igny, Abade Cisterciense
3º Sermão para a Ressurreição
(SC 202, p.249s rev.)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

TRÍDUO PASCAL - QUINTA-FEIRA SANTA – Oh, meu Senhor, por que preço resgataste o meu serviço inútil!



QUINTA-FEIRA SANTA

Ex 12,1-8.11-14
Sl 115
1Cor 11,23-26
Jo 13,1-15


"Oh, meu Senhor, por que preço resgataste o meu serviço inútil"

"Tende em vós os mesmos sentimentos da Jesus Cristo". "Ele, que é de condição divina", igual a Deus por natureza uma vez que partilha do Seu poder, a Sua eternidade e o Seu próprio ser, cumpriu o ofício de servo "humilhando-se e fazendo-se obediente ao Pai até à morte, e morte de cruz" (Fl 2,5-8). Poder-se-ia considerar de somenos que, sendo Seu Filho e Seu igual, Ele tenha servido o Pai como um servo; melhor, serviu o Seu próprio servo mais do que qualquer outro servo. Porque o homem tinha sido criado para servir o seu criador; que haverá de mais justo para ti do que servir Aquele que te criou, sem o qual tu nem existirias? E que haverá de mais feliz do que servi-lo, uma vez que servi-lo é reinar? Mas o homem disse ao seu Criador: "Não servirei" (Jr 2,20).

"Pois bem, servir-te-ei eu!" diz o Criador ao homem. "Senta-te à mesa; farei eu o serviço; lavar-te-ei os pés. Descansa; tomarei os teus males sobre os meus ombros; carregarei todas as tuas fraquezas. Se estiveres fatigado ou carregado, levar-te-ei, a ti a à tua carga, a fim de ser o primeiro a cumprir a minha lei: 'Levai os fardos uns dos outros' (Gal 6,2). Se tiveres fome ou sede, eis-me pronto a ser imolado para que possas comer a minha carne e beber o meu sangue. Se te levarem para o cativeiro ou te venderem, eis-me aqui; resgato-te dando o preço que conseguires com a minha venda; dou-me a mim mesmo como preço. Se estiveres doente, se receares a morte, morrerei em vez de ti para que, do meu sangue, faças remédio para a vida".

Oh, meu Senhor, por que preço resgataste o meu serviço inútil! Com que arte plena de amor, de doçura e de benevolência recuperaste e submeteste este servo rebelde, triunfando do mal pelo bem, confundindo o meu orgulho com a Tua humildade, cumulando o ingrato com os Teus benefícios! Eis aí o triunfo da Tua sabedoria!


Beato Guerric d'Igny, Abade Cisterciense
1º Sermão para os Ramos

domingo, 28 de março de 2010

DOMINGO DE RAMOS – Bendito seja o que vem em nome do Senhor



DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR
28 DE MARÇO


"Bendito seja o que vem em nome do Senhor"

É sob dois aspectos bem diferentes que a festa de hoje apresenta aos filhos dos homens Aquele que a nossa alma deseja (Is 26,9), “o mais belo dos filhos dos homens” (Sl 44,3). Ele atrai o nosso olhar sob esses dois aspectos; amamo-lo sob um e sob o outro, porque num e noutro Ele é o Salvador dos homens.

Se considerarmos ao mesmo tempo a procissão de hoje e a Paixão, vemos Jesus, por um lado sublime e glorioso, por outro humilhado e doloroso. Porque, na procissão, Ele recebe as honras reais e, na Paixão, vemo-lo castigado como um malfeitor. Aqui cercam-no a glória e a honra; além, “não tem aparência nem beleza” (is 53,2). Aqui, temos a alegria dos homens e o orgulho do povo; além, temos “a vergonha dos homens e o desprezo do povo” (Sl 21,7). Aqui, aclamam-no: “Hosana ao Filho de David. Bendito seja o rei de Israel que vem!” Além, vociferam que merece a morte e escarnecem dele porque se fez rei de Israel. Aqui, correm para Ele com palmas; além, flagelam-lhe o rosto com as mesmas palmas e batem-lhe na cabeça com uma cana.. Aqui, cumulam-no de elogios; além, afogam-no em injúrias. Aqui, disputam-se para juncar-lhe o caminho com as vestes dos outros; além, despojam-no das suas próprias vestes. Aqui, recebem-no em Jerusalém como o rei justo e o Salvador; além, é expulso de Jerusalém como um criminoso e um impostor. Aqui, montam-no sobre um burro, rodeado de homenagens; além, é pendurado da cruz, rasgado pelos chicotes, trespassado de chagas e abandonado pelos seus.

Senhor Jesus, quer o Teu rosto apareça glorioso quer humilhado, sempre nele vemos brilhar a sabedoria. Do Teu rosto irradia o fulgor da luz eterna (Sb 7,26). Que brilhe sempre sobre nós, Senhor, a luz do Teu rosto (Sl 4,7) nas tristezas como nas alegrias... Tu és a alegria e a salvação de todos, quer te vejam montado sobre o burro, quer suspenso do madeiro da cruz.


Beato Guerric d'Igny
Abade cisterciense
Sermão sobre os Ramos

sábado, 16 de janeiro de 2010

EPIFANIA DO SENHOR - Bendita Luz que vem em nome do Senhor e nos ilumina



SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR
03 DE JANEIRO

«Bendita Luz que vem em nome do Senhor e nos ilumina»

«Levanta-te, resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua Luz. Bendita Luz que vem em nome do Senhor, é o Senhor Deus e nos ilumina. E por sua bondade, também iluminou para nós este dia santificado pela iluminação da Igreja.

Graças a ti, Luz verdadeira, que iluminas a todo homem que vem a este mundo, e veio para isso como homem a este mundo. Foi iluminada Jerusalém, nossa mãe, mãe de todos os que mereceram ser iluminados, de modo que já resplandeça para todos os que estão no mundo. Graças a ti, Luz verdadeira, que te converteste em uma lâmpada para iluminar a Jerusalém e para que a Palavra de Deus fosse uma lâmpada para meus passos. Graças a ti, digo, porque a mesma Jerusalém plena de luz, se converteu em uma lâmpada que ilumina a todos. Pois não só foi iluminada, mas posta sobre o candelabro, todo de ouro. Ei-la aqui posta como cidade sobre o cume dos montes, ela que em outro tempo estava abandonada e odiada! Ei-la aqui, feito o orgulho de todos os séculos, para que seu evangelho brilhe ao largo e na largura até onde cheguem os confins do mundo!»


Beato Guerric d’Igny
Camino de Luz - Sermones Litúrgicos I,Sermón III, En la Epifanía
Monte Carmelo, Burgos 2004, p. 119-120

EPIFANIA DO SENHOR – A Luz estava no mundo e o mundo foi feito por ela, mas o mundo não a conheceu



SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR
03 DE JANEIRO

«A Luz estava no mundo e o mundo foi feito por ela, mas o mundo não a conheceu»

“Bendita Luz! Chegou realmente a tua luz! Ela estava no mundo e o mundo foi feito por ela, mas o mundo não a conheceu.

O Menino nascera, mas não foi conhecido enquanto o dia da luz não começou a revelá-lo. Erguei-vos, vós que estais sentados nas trevas! Dirigi-vos para esta luz; ela ergueu-se nas trevas, mas trevas não conseguiram abarcá-la. Aproximai-vos e sereis iluminados; na luz vereis a luz, e dir-se-á sobre vós: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor” (Ef 5, 8). Vede que a luz eterna se acomodou aos vossos olhos, para que Aquele que habita uma luz inacessível possa ser visto pelos vossos olhos fracos e doentes. Descobri a luz numa lâmpada de argila, o sol na nuvem, Deus num homem, no pequeno vaso de argila do vosso corpo o esplendor da glória e o brilho da luz eterna!

Nós de damos graças, Pai da luz, por nos teres chamado das trevas à tua luz admirável. Sim, a verdadeira luz, mais do que isso, a vida eterna, consiste em Te conhecer, a Ti, único Deus, e ao Teu enviado Jesus Cristo. É certo que Te conhecemos pela fé, e temos como seguro que um dia Te conheceremos na visão. Até lá, aumenta-nos a fé. Conduz-nos de fé em fé, de claridade em claridade, sob a moção do teu Espírito, para que penetremos cada dia mais nas profundezas da luz! Que a fé nos conduza à visão face a face e que, à semelhança da estrela, ela nos guie até ao nosso chefe nascido em Belém.

Que alegria, que exultação para a fé dos magos, quando virem reinar, na Jerusalém das alturas, Aquele que adoraram quando vagia em Belém! Viram-no aqui numa habitação de pobres; lá, vê-Lo-emos no palácio dos anjos. Aqui, nos paninhos; lá, no esplendor dos santos. Aqui, no seio de sua Mãe; lá, no trono de seu Pai”.


Beato Guerric d'Igny, Abade Cisterciense
Camino de Luz - Sermones Litúrgicos I, Sermón II, En la Epifanía
Monte Carmelo, Burgos 2004

domingo, 29 de novembro de 2009

ADVENTO – 1º DOMINGO – Vinde a nós, Senhor!



DOMINGO I DO ADVENTO

«Vinde a nós, Senhor!»

“Aguardamos o aniversário de Vosso nascimento, ó Jesus e, segundo Vossa promessa, vê-lo-emos logo. Fazei que, elevando-se nosso espírito acima desse mesmo, se lance, louco de alegria, ao Vosso encontro, Senhor, Vós que vindes com ardor impaciente, desejoso de contemplar o futuro.

Vinde a nós, Senhor, mesmo antes do Vosso Advento! Antes de aparecerdes ao mundo inteiro, vinde visitar-nos, no íntimo da alma. Vinde agora visitar-nos neste tempo entre o primeiro e o último advento, afim de que não nos seja inútil Vossa primeira vinda e não nos condene a última.

Com Vossa vinda atual, procurais corrigir nossa soberba e conformar-nos com Vossa humildade manifestada na primeira vinda. Então podereis transformar nosso humilde corpo, tornando-o semelhante ao Vosso glorioso, quando aparecerdes no último dia.

Suplicamo-vos ardentemente: preparai-nos para obtermos esta visita pessoal, que nos confere à graça do primeiro advento e nos promete a glória do fim dos tempos. Porque Vós, Senhor, amais a misericórdia e a verdade, conferir-nos-eis a graça e a glória; a graça, por Vossa misericórdia, e a glória na verdade.”


Beato Guerric d'Igny, Abade Cisterciense
De Adventu Domini, 2,3

quarta-feira, 15 de abril de 2009

OITAVA DA PÁSCOA - Felizes os que Nele procuram abrigo


“Felizes os que Nele procuram abrigo” (Sl 2, 12)

“Bem-aventurado seja Aquele que, para me permitir ocultar-me ‘nas fendas do rochedo’ (Cant 2, 14), deixou que lhe perfurassem as mãos, os pés e o lado. Bem-aventurado Aquele que se abriu por completo a mim, a fim de que eu pudesse ‘penetrar no admirável santuário’ (Sl 41, 5) e ‘abrigar-me na sua tenda’ (Sl 26, 5). Este rochedo é um refúgio, doce lugar de repouso para as pombas, e os orifícios escancarados das chagas que tem por todo o corpo oferecem o perdão aos pecadores e concedem a graça aos justos. É morada segura, irmãos, “torre sólida contra o inimigo” (Sl 60, 4). É preciso habitar nessa morada por meio da meditação amante e constante nas chagas de Cristo Nosso Senhor, da busca do Crucificado na fé e no amor, da busca daquele que é abrigo seguro para a nossa alma, abrigo contra a veemência da carne, as trevas deste mundo, os assaltos do demônio. A proteção desse Santuário sobrepõe-se a todas as vantagens deste mundo.

Entra pois neste rochedo, esconde-te, refugia-te no Crucificado. O que é a chaga do lado de Cristo, senão a porta aberta da arca para os que serão preservados do dilúvio? Mas a Arca de Noé era apenas um símbolo; isto é a realidade; já não se trata de salvar a vida mortal, mas de receber a imortalidade.

É, pois, razoável que a pomba de Cristo, a sua amiga formosa (Cant 2, 13-14), cante hoje os louvores do Amado com alegria. Da memória ou da imitação da Paixão, da meditação das suas santas chagas, como das fendas do rochedo, a sua voz dulcíssima ressoa sempre aos ouvidos do Esposo (Cant 2, 14)”.

Beato Guerric d'Igny, Abade Cisterciense
Sermão IV para os Ramos

terça-feira, 7 de abril de 2009

Terça-feira Santa - A minha vez de servir



«Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos. Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos.» Mc 10,32-45.

“O homem tinha sido criado para servir o seu criador. Haverá coisa mais justa, que servir Aquele que nos pôs no mundo, sem o qual não teríamos existência? E haverá coisa mais feliz que servi-Lo, pois que servi-Lo, é reinar? Mas o homem disse ao seu Criador: «Não servirei» (Jr 2,20). «Então servir-te-ei Eu», disse o Criador ao homem. «Senta-te, servir-te-ei, lavar-te-ei os pés».

Sim, Cristo, «servo bom e fiel» (Mt 25,21), Tu foste verdadeiramente servo, servo em fé e verdade, em paciência e constância. Sem tibieza, lançaste-Te, qual gigante que corre, na via da obediência (Sl 18,6); sem fingimento, deste-nos sobretudo, depois de tantos cansaços, a tua própria vida; maltratado, inocente, humilhaste-Te e não abriste a boca (Is 53,7). Está escrito e é verdade: «O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou e não agiu conforme os seus desejos, será castigado com muitos açoites» (Lc 12,47). Mas, pergunto-vos, que ações dignas deixou por cumprir este servo? Que omitiu Ele do que devia ter feito?

«Fez tudo bem feito», dizem aqueles que observavam a sua conduta; «fez ouvir os surdos e falar os mudos» (Mc 7,37). Pois se cumpriu todas as ações que são dignas de recompensa, como sofreu então tanta indignidade? Ofereceu as costas ao chicote, recebeu uma quantidade inimaginável de chicotadas atrozes, por todo o lado o seu sangue correu. Foi interrogado no meio de opróbrios e de tormentos, como escravo ou malfeitor que é submetido a interrogatórios para que lhe seja arrancada a confissão de um crime. Ó detestável orgulho do homem que desdenha servir, a quem tão só humilha o máximo exemplo da servidão do seu próprio Deus!


Sim, meu Senhor, pois muito sofreste Tu a servir-me; seria justo e equitativo que de agora em diante tivesses repouso, e que o teu servo, por seu turno, te servisse agora; chegou a sua vez. Venceste, Senhor, este servo rebelde; estendo as mãos para que a Ti as ligues, curvo a cabeça para receber o teu jugo. Permite que Te sirva. Recebe-me como teu servo para sempre, ainda que servo inútil se não tiver em mim a tua graça; envia-a pois do teu santo céu, para que me assista nos meus trabalhos (Sb 9,10)”.

Beato Guerric d'Igny
Abade Cisterciense