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domingo, 6 de dezembro de 2009

ADVENTO – 2º DOMINGO – Convosco, ó Deus, alegro-me e regozijo-me!




DOMINGO II DO ADVENTO


Convosco, ó Deus, alegro-me e regozijo-me!

“Eia, pois, ó alma formosíssima entre todas as criaturas, que tanto desejas saber o lugar onde está teu Amado, a fim de o buscares e a Ele te unires! Já te foi dito que és tu mesma o aposento onde Ele mora e o recôndito e esconderijo em que se oculta. Nisso tenho motivo de grande contentamento e alegria, vendo que todo o meu Bem e esperança se encontram tão perto de mim, a ponto de estar dentro de mim, ou, melhor dizendo, não posso estar sem Ele.

Que mais há de querer, ou buscar fora de mim, se tenho dentro de mim, minhas riquezas e meus deleites, minha satisfação, meu reino, isto é, meu Amado a quem desejo ardentemente? Convosco, ó meu Deus, alegro-me e me regozijo no meu recolhimento interior! Aqui vos desejo, adoro-vos, sem ir procurar-vos fora de mim, porque me distrairei, me cansarei, sem poder encontrar-vos nem gozar com maior segurança, nem mais depressa, nem mais perto do que dentro de mim”.


São João da Cruz
Cântico 1, 7-8

sábado, 14 de novembro de 2009

A VIDA INTERIOR




A VIDA INTERIOR

“Nossa Senhora do Monte Carmelo é a Patrona da vida interior, a Virgem que nos afasta da multidão e nos leva docemente até esses cumes onde o ar é mais puro, o céu mais claro, Deus está mais próximo e nas que transcorre a vida de intimidade com Deus.

Segundo São Gregório Magno, a vida contemplativa e a vida eterna não são duas coisas diferentes, mas uma só realidade; uma é a aurora, a outra o meio-dia. A vida contemplativa é o principio da dita eterna, seu sabor antecipado. Que a Rainha do céu nos conceda, pois, a graça de compreender o estreito vínculo que une essas duas vidas para viver aqui embaixo como se estivéssemos já no céu.

Uma alma interior é uma alma que encontrou a Deus no fundo de seu coração e que vive sempre com Ele.

Deus está no fundo da alma, mas está ali escondido. A vida interior é como uma eclosão de Deus na alma.

Mantenhamo-nos no centro de nossa alma, nesse ponto preciso de onde podemos vigiar todos os seus movimentos, para detê-los ou dirigi-los, segundo o caso. Vivamos ou de Deus ou para Deus, mas repitamos a nós mesmos que não se age de todo para Deus senão quando já não se faz absolutamente nada para nós mesmos. Se age então porque Deus o quer, quando Ele quer e como Ele quer, por estar sempre unidos no fundo com Aquele de quem não somos mais que um ditoso instrumento.

Duas coisas fazem falta para chegar à perfeição e à íntima união com Deus: tempo e paz.

O que dá valor aos atos reflexivos do homem é a união com Deus pela caridade. Quanto mais profunda é essa intimidade, mais valor de eternidade tem seus frutos.

Uma alma cujo olhar interior, afetuoso e humilde, está sempre fixo em Deus, obtém Dele quanto quer.

Entre uma alma recolhida, desligada de tudo, e Deus, não há nada. A união se realiza por si mesma. É imediata.

O tempo passa; sempre se ama a Deus muito pouco e muito tarde.

Que delicado és em teus afetos, Deus meu! Tens em conta o que de legitimamente pessoal há em nós, e tratas a alma que amas como se no mundo não houvesse outra coisa a não ser ela e Tu.

Crer é comungar com a ciência de Deus: Ele vê; nós cremos em sua Palavra de testemunho.

Na fé, Deus fala; pela esperança, Deus ajuda; na caridade, Deus se dá, Deus preenche.

Elevemo-nos então, até Deus constantemente. Deixemos na terra a terra. Vivamos menos nos demais e mais em nós mesmos, mas o mais possível, senão em Deus, pelo menos perto Dele.

Quando no fundo de vossas almas ouvirdes duas vozes contraditórias, convém que escuteis geralmente a que fala mais baixo. Em todo caso, essa é a que pede mais sacrifícios. E tem tanto valor o sofrimento bem entendido! Desliguemo-nos e aproximemo-nos de Deus”.


Robert de Langeac, PSS
(Abade Augustin Delage, PSS)
“La vida oculta en Dios”


CAMINHO ESPIRITUAL - AO ENCONTRO DO SENHOR




AO ENCONTRO DO SENHOR

Temos que nos dispor para sair ao encontro do Senhor. Saiamos agora para fora e avancemos por cima de nós mesmos até Deus. É preciso renunciar a todo querer, desejar o atuar próprio. Nada mais que a intenção pura e desnuda de buscar só a Deus, sem o mínimo desejo de buscar-se a si próprio nem coisa alguma que possa redundar em seu proveito. Com vontade plena de ser exclusivamente para Deus, de conceder-lhe a morada mais digna, a mais íntima para que Ele nasça ali e leve a cabo sua obra em nós, sem sofrer impedimento algum.

Com efeito, para que duas coisas se fundam é necessário que uma seja paciente e a outra se comporte como agente. Unicamente quando o olho está limpo é que poderá ver um quadro pendurado na parede ou qualquer outro objeto. Impossível seria se houvesse outra pintura gravada na retina. O mesmo ocorre com o ouvido: enquanto um ruído lhe ocupa, está impedido de captar outro. Como conclusão, o recipiente é tanto mais útil quanto mais puro e vazio.

A esse sossego do espírito se refere o cântico da Missa que começa: “Quando um sossegado silêncio tudo envolvia” (Sb 18, 14). Em pleno silêncio, toda a criação calava na mais alta paz da meia noite. Então, oh Senhor, a Palavra onipotente deixou seu Trono para acampar em nossa tenda (Liturgia de Natal). Será então, no ponto culminante, no apogeu do silêncio, quando todas as coisas ficaram submersas na calma, somente então, se fará sentir a realidade desta Palavra. Porque, se queres que Deus fale, faz falta que tu cales. Para que Ele entre, todas as coisas deverão ter saído”.

A isto se referia Santo Agostinho quando dizia: "Esvazia-te para seres preenchida, sai para entrar". E em outro lugar: "Oh tu, alma nobre, nobre criatura, por que buscas fora a Quem está plena y manifestamente dentro de ti? És partícipe da natureza divina".


Johannes Tauler OP (Juan Tauler/1300-1361)
Instituciones, Temas de oración, CI 9


sábado, 25 de julho de 2009

A Luz de Cristo



“A fim de receber no coração a Luz de Cristo, é preciso, tanto quanto possível, desligar-se de todos os objetos visíveis. Tendo antes purificado a alma pela contrição e as boas obras, e cheios de fé em Cristo Crucificado, tendo fechado os olhos de carne, o homem deve mergulhar o espírito no coração para chamar o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo; então, na medida de sua assiduidade e fervor para com o Bem Amado, ele encontra no Nome invocado consolo e doçura, o que o incita a buscar um conhecimento mais elevado.

Quando por meio de tais exercícios o espírito se enraíza no coração, a Luz de Cristo vem brilhar no interior, iluminando a alma com sua divina claridade, como diz o profeta Malaquias: ‘Mas para vós, que temeis seu Nome, o sol de justiça brilhará, que tem a cura em seus raios’ (Mal. l 3:20). Esta luz é também a vida, segundo a Palavra do Evangelho ‘De todo ser Ele era a vida, e a vida era a luz dos homens’ (João 1:4).

Quando o homem contempla dentro de si esta Luz eterna, ele esquece tudo o que é carnal, esquece-se a si mesmo e deseja se esconder nas profundezas da terra para não ser privado deste Bem único, Deus”.

São Serafim de Sarov
Extrato das “Instruções Espirituais”
Saint Séraphim – l’Ange de Sarov
Par Valentine Zander – Editions Bénédictines

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Chiara Lubich – A Fonte da vida está em ti



«A fonte da vida está em ti.» (Sl 36,10)

“Não foi suficiente para o amor do Pai pronunciar a Palavra com a qual tudo foi criado. Ele quis que a sua própria Palavra assumisse a nossa carne. Deus, o único verdadeiro Deus, fez-se homem em Jesus e trouxe à terra a fonte da vida. A fonte de todo o bem, de todo o ser e de toda a felicidade veio ficar entre nós, para que a tivéssemos, por assim dizer, ao alcance de nossas mãos. «Eu vim para que tenham a vida, e a tenham em abundância», disse Jesus. Ele preencheu de si cada momento e espaço da nossa existência. E quis permanecer conosco para sempre, de modo a ser reconhecido e amado sob as mais diferentes vestes. Às vezes chegamos a pensar: "Como seria bom viver no tempo de Jesus!" Pois bem, o seu amor inventou um modo de permanecer em todos os pontos da Terra. Conforme a sua promessa, Ele se faz presente na Eucaristia. E ali podemos saciar a nossa sede para nutrir e renovar a nossa vida.

«A fonte da vida está em ti.»

Outra fonte de onde extrair a água viva da presença de Deus é o irmão, a irmã. Se nós amamos cada próximo que passa ao nosso lado, especialmente o mais necessitado, não podemos considerá-lo um nosso beneficiado, mas um nosso benfeitor, porque ele nos doa Deus. De fato, amando Jesus nele - «Pois eu estava com fome, estava com sede, eu era estrangeiro, estava na prisão» - recebemos em troca o seu amor, a sua vida, porque Ele mesmo, presente nos nossos irmãos e irmãs, é a nascente para nós.



Uma fonte rica de água é também a presença de Deus dentro de nós. Ele sempre nos fala, e cabe a nós escutar a sua voz que fala na nossa consciência. Quanto mais nos esforçamos em amar a Deus e o próximo, tanto mais a sua voz se torna forte e supera todas as outras. Mas existe um momento privilegiado no qual, como em nenhum outro, podemos gerar a sua presença dentro de nós: é quando rezamos e procuramos aprofundar o nosso relacionamento direto com Ele, que habita no fundo do nosso coração.

É comparado ainda a um profundo lençol d'água que jamais seca, que está sempre à nossa disposição e que pode saciar a nossa sede a cada instante. Bastará fechar por um momento as janelas da alma e recolher-nos para encontrar esse manancial, mesmo estando no mais árido deserto. Até alcançar aquela união com Ele na qual sentimos que não estamos mais sós, e somos dois: Ele em mim e eu n'Ele. Todavia, somos um - por sua graça - como a água e a nascente, a flor e a sua semente.

A Palavra do Salmo nos lembra que somente Deus é a fonte da vida e, por isso, da comunhão plena, da paz e da alegria. Quanto mais nos saciarmos desta fonte, quanto mais vivermos desta água viva que é a sua Palavra, tanto mais nos aproximaremos uns dos outros e viveremos como irmãos e irmãs. Então se realizará, como continua o Salmo: «Quando nos iluminais, vivemos na luz», aquela mesma luz que a humanidade espera.”

Chiara Lubich
Fundadora dos Focolares
Palavra de vida, Jan de 2002

sábado, 28 de março de 2009

A Voz do silêncio



"A Voz do silêncio

Introversão

É de todo necessário a volta ao interior, entrar dentro de nós mesmos, para que Deus nasça na alma. Urge alcançar um forte impulso de recolhimento, recolher e introduzir todas as nossas potências, inferiores e superiores, e trocar a dispersão pela concentração, pois, como dizem, a união faz a força. Quando um atirador pretende um golpe certeiro no branco, fecha um olho para fixar melhor com o outro. Assim também quem quer conhecer algo a fundo necessita que todos os seus sentidos convirjam a um mesmo ponto a fim de dirigi-los ao centro da alma de onde saíram.

Ao encontro do Senhor

Assim, nos teremos disposto para sair ao encontro do Senhor. Saiamos agora e avancemos por cima de nós mesmos até Deus. É necessário renunciar a todo querer, desejar ou atuar próprio. Nada mais que a intenção pura e desnuda de buscar só a Deus, sem o mínimo desejo de buscar-se a si mesmo nem coisa alguma que possa redundar em seu proveito. Com vontade plena de ser exclusivamente para Deus, de conceder-lhe a morada mais digna, a mais íntima a fim de que Ele nasça e leve a cabo a sua obra em nós, sem impedimento algum.

Com efeito, para que haja fusão entre duas coisas é necessário que uma seja paciente e a outra se comporte como agente. Unicamente quando o olho está limpo é que poderá ver um quadro pregado na parede ou qualquer outro objeto. Isso seria impossível se houvesse outra pintura gravada na retina. O mesmo ocorre com o ouvido: enquanto um ruído lhe ocupa, está impedido de captar outro. Como conclusão, o recipiente é tanto mais útil quanto mais puro e vazio.

A isto se referia Santo Agostinho quando disse: “Esvazia-te para seres preenchido, sai para entrar”. E em outro lugar: “Oh, tu, alma nobre, nobre criatura, porque buscas fora a quem está plena e manifestadamente dentro de ti? És partícipe da natureza divina, porque então escravizar-te às criaturas?”.


Vazio e plenitude

Se de tal modo o homem preparasse a sua morada, o fundo da alma, Deus o preencheria sem dúvida alguma, se lhe daria em abundância. Romperiam-se os céus para preencher o vazio.

A nossa natureza tem horror ao vazio, dizem. Então, quanto seria contrário ao Criador e à sua justiça, abandonar uma alma assim disposta! Escolhe pois um dos dois: calar, tu, e falar Deus ou falar, tu, para que Ele se cale. Deves fazer silêncio.

Então, será outra vez pronunciada a Palavra que tu poderás entender e nascer: Deus na alma. Em troca, tens por certo que se tu insistires em falar, nunca ouvirás a sua Voz. Manter nosso silêncio, aguardando a escuta do Verbo é o melhor serviço que lhe podemos prestar. Se saíres de ti completamente, Deus de novo se te dará em plenitude. Porque à medida que tu sais, Ele entra. Nem mais nem menos.

Silêncio da alma

A esse sossego do espírito se refere o cântico da Missa que começa: “Quando um sossegado silêncio tudo envolvia” (Sb 18, 14). Em pleno silêncio, toda a criação calava na mais alta paz da meia noite. Então, oh Senhor, a Palavra onipotente deixou seu Trono para acampar em nossa tenda (Liturgia de Natal). Será então, no ponto culminante, no apogeu do silêncio, quando todas as coisas ficaram submersas na calma, somente então, se fará sentir a realidade desta Palavra. Porque, se queres que Deus fale, faz falta que tu cales. Para que Ele entre, todas as coisas deverão ter saído”.


Johannes Tauler, O.P. (Juan Tauler/1300-1361)
Instituciónes, Temas de oración


quinta-feira, 26 de março de 2009

Oração à Senhora do Silêncio



“Mãe do silêncio e da humildade, Tu vives perdida e encontrada no mar sem fundo do Mistério do Senhor.

Tu és disponibilidade e receptividade. Tu és fecundidade e plenitude. Tu és atenção e solicitude pelos irmãos. Estás revestida de fortaleza. Resplandecem em Ti a maturidade humana e a elegância espiritual. És senhora de Ti mesma antes de ser Nossa Senhora.

Em Ti não existe dispersão. Em um ato simples e total, tua alma, toda imóvel, está paralisada e identificada com o Senhor. Estás dentro de Deus, e Deus dentro de Ti. O Mistério total te envolve e te penetra e te possui, ocupa e integra todo o teu ser.

Parece que em Ti tudo ficou parado, tudo se identificou contigo: o tempo, o espaço, a palavra, a música, o silêncio, a mulher, Deus. Tudo ficou assumido em Ti, e divinizado.

Jamais se viu figura humana de tamanha doçura, nem se voltará a ver nesta terra uma mulher tão inefavelmente evocadora.

Entretanto, teu silêncio não é ausência, mas presença. Estás abismada no Senhor e ao mesmo tempo atenta aos irmãos, como em Caná. A comunicação nunca é tão profunda como quando não se diz nada, e o silêncio nunca é tão eloqüente como quando nada se comunica.

Faz-nos compreender que o silêncio não é desinteresse pelos irmãos ou pela vida mas fonte de energia e irradiação; não é encolhimento e sim projeção. Faz-nos compreender que, para que se derrame de si, é preciso preencher-se.

Afoga-se o mundo no mar da dispersão, e não é possível amar os irmãos com um coração disperso. Faz-nos compreender que o apostolado, sem silêncio, é alienação, e que o silêncio, sem apostolado, é comodidade.

Envolve-nos em teu manto de silêncio e comunica-nos a fortaleza de tua Fé, a altura de tua Esperança e a profundidade de teu Amor. Fica com os que ficam e vem com os que partem.

Ó Mãe Admirável do Silêncio!"

Inácio Larrañaga, OFM
“O silêncio de Maria.”


sábado, 21 de março de 2009

A Vida Interior



“Jesus, nos Evangelhos, é o Divino Semeador, que por todos os caminhos vai derramando os tesouros de amor de um Coração ávido de aproximar dos homens a Verdade e a Vida. Transmite, às almas e à Igreja, essa chama, dom de seu Amor, difusão de sua Vida, expressão de sua Verdade, reflexo de sua Santidade. Que essa chama chegue até as almas que, com todo o zelo e ardor, se expõem pela atividade em seus trabalhos, com o perigo de não serem, antes de tudo, almas de vida interior, e que talvez algum dia, amarguradas por fracassos inexplicáveis em aparência ou por graves danos em seus espíritos, possam sentir a tentação de abandonar a luta e recolherem-se em suas tendas cheias de abatimento. Que todos possam compreender a necessidade de sua vida não ser apenas piedosa, mas profundamente interior, a fim de que seu zelo ganhe eficácia, dando inúmeros frutos e perfumando tudo e todos com o Espírito de Cristo, que lhes dará a sua Paz inalterável, a qual, embora através de quaisquer provas, por mais duras que possam ser, será sempre a sua fiel companhia.

“Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10). Estas palavras são tão precisas como luminosa é a parábola da videira e dos sarmentos com que o Mestre clareia esta verdade. Com que insistência quer gravar no coração de suas almas o princípio fundamental de que só Ele, Jesus, é a VIDA, e que para participar desta vida e comunicá-la aos demais, é preciso ser um imitador seu, mediante uma vida interior com Ele. Quem aceitar a honra de colaborar com Jesus na transmissão desta vida divina às almas, deve refletir que são apenas canais ligados à essa Fonte única, para tomar dela a vida a ser distribuída. Que as almas se ocupem das obras juntamente com a prática da vida interior, a fim de que possam agir e saber sempre que Jesus é o único princípio da Vida. Eis aqui a enorme importância da vida interior, a única que pode fazer das obras exteriores um ministério frutuoso e pleno de amor e serviço aos irmãos.



Mas o que é vida interior?

A vida interior, também chamada vida contemplativa, é o caminho que a alma trilha dentro de si mesma em busca da intimidade com Cristo e de viver no seu amor; vida interior essa, que vai infundindo na alma a graça santificante que a transfigura em doação e amor a Deus e a todos os irmãos, em uma incessante imitação de Cristo Amor.

A vida interior visa entre muitas outras coisas, estimular as almas que preferem o descanso ao trabalho; fortificar as almas adormecidas no egoísmo que fomenta a inatividade; sacudir a indiferença dos indolentes, induzir a uma quietude interior que permita ouvir a Voz do Senhor e a fazer a sua Vontade, livrar das perturbações provenientes do orgulho e vaidade por obras realizadas; ajudar aos esforços que a alma faz para adquirir as virtudes; conduzir o caminho para Deus.

Os caminhos de Deus levam ao selo da sabedoria e da bondade e, por isso mesmo, o caminho das almas entregues à vida interior é verdadeiramente maravilhoso. Quando essas almas sabem oferecer-se a Deus e por amor a Deus nessa vida interior, a pena que lhes produz o privar-se de Deus em obséquio das obras de Deus, é verdadeiramente grande. Essa pena tem a sua paga, porque graças a ela desaparecem os perigos de dissipação, amor próprio e afeições desordenadas; também as faz mais reflexivas e fomenta nelas a prática da presença de Deus, porque a alma encontra na graça do momento presente a Jesus vivente, que se oferece oculto na obra que realiza, trabalhando com ela e sustentando-a.

O trabalho da vida interior é importantíssimo porque não aperfeiçoa a alma em uma profissão determinada mas em sua própria formação. O esforço constante em dominar-se a si mesma para trabalhar pelos irmãos, pela Igreja e pela glória de Deus é o ideal da alma que quer adquirir a vida interior e dar muitos frutos no mundo junto a seus irmãos. E para consegui-lo, a alma põe todo o seu esforço em estar sempre unida a Jesus em uma vida interior de intimidade e amor ao Salvador”.


D. Jean-Baptiste Gustave Chautard
L’âme de tout Apostolat


sexta-feira, 13 de março de 2009

Deserto,silêncio,solidão



“Deserto, silêncio, solidão. Para um espírito que compreenda a tremenda importância destes três elementos na caminhada espiritual, abrem-se inúmeras perspectivas e oportunidades de todos os lados, até mesmo nos congestionados labirintos e armadilhas que são as ruas das grandes cidades.

Mas, como pode alguém, na prática, ir ao deserto e conseguir a solidão? Parando! Pare! Deixe que a estranha e mortal inquietude do nosso tempo caia dos seus ombros, como um manto empoeirado e gasto – este manto que um dia, talvez, tenha sido considerado belo. A inquietude, o desassossego já foram considerados poeticamente como um tapete mágico e voador em demanda de um apressado amanhã. Hoje ele perdeu sua bela máscara poética e não passa de uma fuga de si mesmo, um desvio da jornada para dentro de si mesmo que todo homem deve empreender para encontrar-se com Deus nas profundezas de seu próprio coração.

Pare! Olhe bem no fundo das motivações que a vida lhe oferece. Elas são tais que possam constituir fundamentos para a santidade? Sim, porque, de fato, todo homem foi criado para ser santo, para amar o Amor que por nós morreu! Só existe uma tragédia na vida: a de não se ser santo! Se as motivações que sua vida lhe oferece não servem de fundamentos para santidade, então é preciso começar tudo de novo, até encontrar outras que sirvam. E isto pode ser feito. Deve ser feito. E nunca é tarde para tentar fazê-lo!


Pare! Levante a Deus as mãos e o coração, pedindo-lhe que a força do seu Espírito possa desfazer e levar embora todas as teias de temores, egoísmos, cobiças e muitos outros fios em que se enreda e se emaranha seu coração. Que as labaredas deste Espírito desçam até você, até todos nós, devastando o que foi mal construído e deixando coragem para reconstruir direito!

E todas estas paradas, nossas idas ao deserto, não necessariamente precisam ser feitas em um lugar retirado, mas podem também ser feitas em pleno barulho e plena atividade da vida diária de cada pessoa, qualquer que seja o seu estado de vida. São paradas que trazem ordem à alma, a ordem de Deus. E esta ordem divina trará consigo a tranqüilidade e a serenidade do mesmo Deus. E com ela virá o silêncio interior”.


Serva de Deus Catherine de Hueck Doherty
Fundadora de Madonna House
Deserto Vivo


terça-feira, 10 de março de 2009

Recolhimento interior



“ Se alguém quiser seguir-Me, diz o Senhor, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me” Mt 16, 24

“Para isso tem que buscar que o pensamento se aquiete. Não é possível que os olhos se movam continuamente de um lado para o outro, para cima e para baixo, e vejam com nitidez os objetos. Somente quando se fixa o olhar, a visão é clara. Do mesmo modo, é impossível que a mente de um homem que se deixa levar pelas infinitas preocupações deste mundo, contemple clara e estavelmente a verdade.

Quem não está sujeito pelos laços do matrimônio se vê turbado por ambições, impulsos desenfreados e amores loucos; a quem já tem sobre si o vínculo conjugal, não lhe faltam um tumulto de inquietudes: se não tem filhos, o desejo de tê-los; se os tem, a preocupação de educá-los; o cuidado de sua mulher e da casa; o governo de seus empregados; a tensão que os negócios trazem consigo; as rixas com os vizinhos; os pleitos nos tribunais; os riscos do comércio; as fadigas da agricultura. Cada dia que amanhece traz consigo particulares cuidados para a alma. E cada noite, herdeira das preocupações do dia, inquieta o ânimo com os mesmos pensamentos.


Há um só caminho para libertar-se desses afãs: isolar-se. Mas esta separação não consiste em estar fisicamente fora do mundo, senão em aliviar o ânimo de seus laços com as coisas temporais, estando desprendido da pátria, da casa, das propriedades, dos amigos, das posses, da vida, dos negócios, das relações sociais, do conhecimento das ciências humanas, a fim de preparar-se para receber no coração as impressões profundas e duradouras do ensinamento divino.

Esta preparação se alcança despojando o coração do que o monopoliza por causa de um hábito mau e muito enraizado. Não é possível escrever sobre a cera se não se apagam os caracteres precedentes; tampouco se podem imprimir na alma os ensinamentos divinos, se antes não desaparecem os hábitos que ali estavam.

O recolhimento procura grandes vantagens. Adormece nossas paixões e outorga à razão a possibilidade de arrancá-las completamente. Como se pode vencer as feras senão domando-as? Assim, a ambição, a ira, o medo e a ansiedade, paixões nocivas da alma, quando se acalmam com a paz privando-lhes de contínuos estímulos, podem ser derrotadas mais facilmente”.


São Basílio Magno
Epístola 11, 2-4