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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

SÃO JOÃO DA CRUZ – Senhor, dai-me fixar os olhos em Vós!



SÃO JOÃO DA CRUZ
14 DE DEZEMBRO

«Senhor, dai-me fixar os olhos em Vós!»

“A viva esperança em Vós, ó Deus, confere à alma tanta vivacidade e ânimo, e tanta elevação às coisas da vida eterna, que toda coisa da terra, em comparação a tudo quanto espera alcançar no céu, lhe parece murcha, seca e morta, como na verdade é, e de nenhum valor.

Fazei, ó Senhor, que em virtude dessa esperança eu me despoje completamente de todas as vestes e costumes do mundo, tirando o coração de tudo isto, sem nada esperar do mundo, vivendo vestido unicamente de esperança da vida eterna...

Dai-me erguer os olhos para olhar-vos a Vós só, sem esperar bem algum de qualquer outra parte. Como os olhos da escrava estão postos nas mãos de sua senhora, assim se fixem os meus em Vós, Senhor Deus, até que tenhais misericórdia de mim que espero em Vós.

Dai-me fixar sempre em Vós os olhos sem ver outra coisa. Fazei-me não querer outra paga para o meu amor senão Vós só, e então, vos agradarei tanto que alcançarei de Vós tanto quanto espero”.


São João da Cruz
Noite II, 21, 6-8


SÃO JOÃO DA CRUZ – Ó Senhor, põe-me como selo sobre teu coração!



SÃO JOÃO DA CRUZ
14 DE DEZEMBRO

«Ó Senhor, põe-me como selo sobre teu coração!»

“Ó Senhor, ‘ponde-me como selo sobre vosso coração, como selo sobre vosso braço, porque o amor – o ato e as obras de amor – é forte como a morte, e o zelo do amor é tenaz como o inferno’. Fazei, ó Senhor, que, de modo algum, busque eu consolação e gosto em Vós ou em qualquer coisa criada. Nem ande também a desejar mercês, pois já as recebi grandíssimas. Seja todo o meu cuidado dar-vos gosto e servir-vos de algum modo, ainda que isto me custasse muito, pelo que mereceis, e em agradecimento das misericórdias de Vós recebidas.

Deus e Senhor meu, quantas almas estão sempre a buscar em Vós consolo e gosto, graças e mercês! E quão poucas pretendem agradar-vos e oferecer-vos algo à própria custa, deixando de lado seu interesse!

Amado meu, para mim todas as coisas ásperas e trabalhosas, e para Vós todo o suave e saboroso!”


São João da Cruz
Noite II, 19,4; Ditos, 2, 52


SÃO JOÃO DA CRUZ – Ó Deus meu, fazei minha alma enamorada de Vós!



SÃO JOÃO DA CRUZ
14 DE DEZEMBRO

«Ó Deus meu, fazei minha alma bem enamorada de Vós!»

“Porquanto, para buscar-Vos, ó Deus meu, se requer um coração despojado e forte, livre de todos os males e bens que não são puramente Deus, ajudai-me a não colher as flores que encontrar pelo caminho, isto é, a não admitir os gostos, contentamentos e deleites que se me apresentarem nesta vida e que poderiam impedir-me a passagem.

Não apegarei meu coração às riquezas e vantagens que me oferecer o mundo; não aceitarei os prazeres da carne nem tampouco prestarei atenção aos gostos e consolações do espírito, para que nada disto me detenha na busca de meus amores, ó Deus meu, pelos montes das virtudes e dos trabalhos. E a fim de que tal me seja possível, fazei minha alma bem enamorada de Vós, que vos estime sobre todas as coisas, confiando em vosso amor e auxílio”.


São João da Cruz
Cântico 3, 5.8


SÃO JOÃO DA CRUZ – Tender exclusivamente para a honra e a glória de Deus!



SÃO JOÃO DA CRUZ
14 DE DEZEMBRO

«Tender exclusivamente para a honra e a glória de Deus!»

Primeiramente: tenha sempre a alma o desejo contínuo de imitar a Cristo em todas as coisas, conformando-se à sua vida que deve meditar para sabre imitá-la, e agir em todas as circunstâncias como ele próprio agiria.

Em segundo lugar, para bom poder fazer isto, se lhe for oferecida aos sentidos alguma coisa de agradável que não tenda exclusivamente para a honra e a glória de Deus, renuncie e prive-se dela pelo amor de Jesus Cristo, que, durante a sua vida, jamais teve outro gosto, nem outra coisa quis senão fazer a vontade do Pai, a que chamava sua comida e manjar. Por exemplo: se acha satisfação em ouvir coisas em que a glória de Deus não está interessada, rejeite esta satisfação e mortifique a vontade de ouvir. Se tem prazer em olhar objetos que não levam a Deus, afaste este prazer e desvie os olhos. Igualmente nas conversações e em qualquer outra circunstância, deve fazer o mesmo. Em uma palavra, proceda deste modo, na medida do possível, em todas as operações dos sentidos; no caso de não ser possível, basta que a vontade não queira gozar desses atos que lhe vão na alma. Desta maneira há de deixar logo mortificados e vazios de todo o gosto, e como às escuras. E com este cuidado, em breve aproveitará muito.

Para mortificar e pacificar as quatro paixões naturais que são gozo, esperança, temor e dor, de cuja concórdia e harmonia nascem inumeráveis bens, trazendo à alma grande merecimento e muitas virtudes, o remédio universal é o seguinte:

Procure sempre inclinar-se não ao mais fácil, senão ao mais difícil. Não ao mais saboroso, senão ao mais insípido. Não ao mais agradável, senão ao mais desagradável. Não ao descanso, senão ao trabalho. Não ao consolo, mas à desolação. Não ao mais, senão ao menos. Não ao mais alto e precioso, senão ao mais baixo e desprezível. Não a querer algo, e sim a nada querer. Não a andar buscando o melhor das coisas temporais, mas o pior; enfim, desejando entrar por amor de Cristo na total desnudez, vazio e pobreza de tudo quanto há no mundo.

Abrace de coração essas práticas, procurando acostumar a vontade a elas. Porque se de coração as exercitar, em pouco tempo achará nelas grande deleite e consolo, procedendo com ordem e discrição.

O homem espiritual deve:

1.º Agir em seu desprezo e desejar que os outros o desprezem.

2.º Falar contra si e desejar que os outros também o façam.

3.º Esforçar-se por conceber baixos sentimentos de sua própria pessoa e desejar que os outros pensem do mesmo modo.


São João da Cruz
Subida do Monte Carmelo I, Cap XIII, §3-7; 9


SÃO JOÃO DA CRUZ – ELE, O ESPOSO, TE AMA!



SÃO JOÃO DA CRUZ
14 DE DEZEMBRO

«ELE, O ESPOSO, TE AMA!»

«O Esposo está com eles» Mt 9, 14-17

“Uma pessoa que ama outra e que lhe faz bem ama-a e faz-lhe bem segundo as suas qualidades, segundo as suas propriedades pessoais. É assim que age o teu Esposo, que em ti reside enquanto onipotente: ama-te e faz-te bem segundo a Sua onipotência.

Infinitamente Sábio, Ele ama-te e faz-te bem segundo a extensão da Sua sabedoria.
Infinitamente Bom, Ele ama-te e faz-te bem segundo a extensão da Sua bondade.
Infinitamente Santo, Ele ama-te e faz-te bem segundo a extensão da Sua santidade.
Infinitamente Justo, Ele ama-te e concede-te as Suas graças segundo a extensão da Sua justiça.
Infinitamente Misericordioso, Clemente e Compassivo, Ele faz-te experimentar a Sua clemência e a Sua compaixão.
Forte, Delicado, Sublime em Seu ser, Ele ama-te de maneira forte, delicada e sublime.
Infinitamente Puro, ama-te segundo a extensão da Sua pureza.
Soberanamente Verdadeiro, ama-te segundo a extensão da Sua verdade.
Infinitamente Generoso, ama-te e cumula-te de graças, segundo a extensão da Sua generosidade, sem qualquer interesse pessoal e visando apenas fazer-te bem.
Soberanamente Humilde, ama-te com humildade soberana e com soberana estima.

Eleva-te até Si, a ti Se descobre alegremente, com uma face cheia de graça, nesta via dos conhecimentos que te dá. E tu ouve-Lo dizer-te: «Sou teu e por ti; alegro-me por ser o que sou, a fim de Me dar a ti e de ser teu para sempre».

Quem poderá exprimir o que sentes, alma bem-aventurada, vendo-te amada a este ponto, vendo-te tida por Deus em semelhante estima?”


São João da Cruz
Chama Viva do Amor, 3, 6

SÃO JOÃO DA CRUZ – É no silêncio da alma que Ele se faz ouvir



SÃO JOÃO DA CRUZ
14 DE DEZEMBRO

«É no silêncio da alma que Ele se faz ouvir»

O Pai celeste disse uma única palavra: é o Seu Filho. Disse-a eternamente e num eterno silêncio. É no silêncio da alma que Ele se faz ouvir.

Falai pouco e não vos metais em assuntos sobre os quais não fostes interrogados.

Não vos queixeis de ninguém; não façais perguntas ou, se for absolutamente necessário, que seja com poucas palavras.

Procurai não contradizer ninguém e não vos permitais uma palavra que não seja pura.

Quando falardes, que seja de modo a não ofender ninguém e não digais senão coisas que possais dizer sem receio diante de toda a gente.

Tende sempre paz interior assim como uma atenção amorosa para com Deus e, quando for necessário falar, que seja com a mesma calma e a mesma paz.

Guardai para vós o que Deus vos diz e lembrai-vos desta palavra da Escritura: "O meu segredo é meu" (Is 24,16)...

Para avançar na virtude, é importante calar-se e agir, porque falando as pessoas distraem-se, ao passo que, guardando o silêncio e trabalhando, as pessoas recolhem-se.

A partir do momento em que aprendemos com alguém o que é preciso para o avanço espiritual, não é preciso pedir-lhe que diga mais nem que continue a falar, mas pôr mãos às obras, com seriedade e em silêncio, com zelo e humildade, com caridade e desprezo de si mesmo.

Antes de todas as coisas, é necessário e conveniente servir a Deus no silêncio das tendências desordenadas, bem como da língua, a fim de só ouvir palavras de amor.


São João da Cruz
Conselhos e Máximas

SÃO JOÃO DA CRUZ – São João da Cruz e a Subida do Monte Carmelo



SÃO JOÃO DA CRUZ
14 DE DEZEMBRO

« São João da Cruz e a Subida do Monte Carmelo»

São João da Cruz, o grande místico e poeta espanhol, nasceu em Fontiveros, nas proximidades de Ávila, na Espanha, no ano de 1542. Filho de pais pobres e tendo ele mesmo conhecido prematuramente a orfandade paterna, a fome e as demais inseguranças que atingiam os pobres de sua época, soube transformar todo esse “material humano” em húmus fertilíssimo do qual brotou toda a sua obra e espiritualidade, lida e cultivada em todos os recantos do mundo.

Apropriando-se de símbolos mais do que expressivos, o santo espanhol expressa a relação do ser humano com Deus, ou a tentativa dessa relação-aproximação, por meio de elementos da natureza, entre outros:

A NOITE ( NOITE ESCURA),
O FOGO (CHAMA VIVA DE AMOR),
A ÁQUA (CÂNTICO ESPIRITUAL),
O MONTE (SUBIDA DO MONTE CARMELO)

Homem de grande sensibilidade, abertura de coração e generosidade, João da Cruz soube apoderar-se do melhor da literatura e da mística de sua época, produzindo assim uma obra ímpar e insubstituível. Mantendo os pés bem plantados na realidade castelhana de seu tempo, sorveu dos versos populares, da literatura de cordel, dos cantores de feiras e mercados, o estilo com o qual plasmou seus versos e sonetos.

Uma de suas obras mais densas é, sem dúvida alguma, a Subida do Monte Carmelo. Nesta obra o autor vai comentando e descrevendo, parte por parte, qual o itinerário que o ser humano deve percorrer para chegar a Deus. A Subida ao Monte é a meta principal e final da perfeição, sabendo-se que para atingir-se tal finalidade, o ser humano deverá passar por situações de escuridão, trevas, privações... É o caminho árduo proposto pelo místico espanhol, que não engana com facilidades aquelas pessoas que queiram verdadeiramente fazer uma profunda experiência de Deus.

Nenhum viajante, ao partir, carrega uma mochila pesada demais, porque senão as suas forças poderiam faltar-lhe brevemente. Ainda mais quando alguém se propõe a subir uma montanha, deve mais ainda, tornar-se leve e ágil para a escalada, sabendo que o excesso de “coisas”que leva consigo, podem tornar-se empecilho para a missão.

Pensamentos, sentimentos, gostos próprios, são exemplos das “coisas” que podem dificultar nossa ascensão ao cume do monte da perfeição. Daí a necessidade do esvaziamento do “negar-se a si mesmo” – ‘quem não renunciar a si mesmo...’ – para se chegar ao TUDO QUE É DEUS.

A caridade, como nos descreve 1 Cor.13,4-7 é o parâmetro para avaliarmos se esse esvaziamento, essa humildade e caridade de fato acontecem em nossas vidas. Não querer nada para si mesmo, eis a norma, mas querer tudo para os demais.

Num mundo de competição, ganância e desvalorização da vida humana como tal, num mundo mercantilizado como o que vivemos, parece impossível se chegar a viver esse ideal pregado por São João da Cruz. No entanto, ontem como hoje, o cristão que esteja verdadeiramente revestido de fé, esperança e caridade, poderá sim trilhar esse caminho árduo e estreito e chegar ao cume da perfeição aonde, como diz João da Cruz, “AQUI JÁ NÃO EXISTE CAMINHO”, ele já não se faz necessário, porque O PRÓPRIO DEUS HABITA NESSE “MONTE”E ELE É O CAMINHO.


Frei Osmar Vieira Branco O.Carm.


quinta-feira, 5 de novembro de 2009

CANONIZAÇÃO/CANONIZACIÓN San Rafael Arnáiz Barón – A mensagem de um jovem Trapista




CANONIZAÇÃO 11 DE OUTUBRO DE 2009

SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN

A mensagem de um jovem Trapista

Domingo, 11 de outubro tem lugar, em Roma, uma cerimônia de canonização presidida pelo Papa, na qual serão propostos como modelos aos católicos de todo o mundo 5 novos santos: Zygmunt Szczesny Felinski, Marie de la Croix; Damián de Veuster; Francisco Coll y Guitart e Rafael Arnáiz Barón, mais conhecido como “o Irmão Rafael”.

Neste escrito, vou referir-me somente a este último. Se me permitem uma recordação pessoal, direi que quando tinha só 18 anos li os escritos do “Irmão Rafael” e fiquei profundamente impressionado por seu testemunho de fé. Digamos, para começar, que o Irmão Rafael é um dos autores de escritos espirituais e místicos mais profundos do século passado. Não me parece exagerado dizer que cabe situar sua figura e sua obra na mesma linha de nossos grandes místicos do século XVI, como Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz.

Sua condição de místico está refletida em uma de suas frases: “Quisera ser santo e que não o saiba ninguém”. Santa Teresa de Jesus viveu aquele famoso “só Deus basta”. O Irmão Rafael centrará seu ideal nas palavras: “Só Deus”, expressão de sua vocação mística, testemunho de quem jogou em sua vida uma só carta: só Deus. E esta radicalidade fica expressa em sua escolha: seria monge trapista. É sabido que a Trapa é um ramo da Ordem do Cister que se caracteriza pelo rigor e a grande austeridade da vida monástica.

Rafael Arnáiz não teve precisamente uma vida fácil. Nasceu em 9 de abril de 1911, em Burgos e morreu aos 27 anos, em 26 de abril de 1938, em seu querido Mosteiro de San Isidro de Dueñas, vítima de uma dolorosa enfermidade. Educado em uma família profundamente cristã, Rafael estudou Arquitetura em Madri. Possuía um temperamento artístico notável e era muito aficcionado à fotografia. Mas em sua vida se impôs sobretudo o chamado de Cristo e não duvidou em deixar tudo.

Em 1934 ingressou no Mosteiro Trapista de San Isidro de Dueñas, na Diocese de Palencia, com vontade de consagrar-se a Deus. Mas ali lhe esperava a grande cruz de sua vida. Pouco tempo depois de haver ingressado, contraiu uma diabetes sacarina, que o fez interromper seus estudos e lhe obrigou a sair do Mosteiro por três vezes. Não pôde chegar a ser ordenado sacerdote e quis permanecer na condição de oblato, e por isso é chamado, com toda razão, “o Irmão Rafael”, porque assim assumiu permanecer. Ele queria desaparecer ante o mundo e ser só de Deus.

É conhecida a afirmação do grande teólogo Karl Rahner, segundo a qual os cristãos do futuro ou serão místicos ou não serão nada. A condição de místico está radicada sobretudo em uma experiência íntima, profunda e sumamente autêntica do Mistério de Deus e de seu amor, que é sua natureza mais íntima e que, de tão pleno, flui até todas as
criaturas. Os místicos são as grandes testemunhas da fé.

João Paulo II propôs a este jovem monge trapista como modelo de vida cristã aos jovens na Jornada Mundial da Juventude, de Santiago de Compostela (1989). Já se pensa em propor também sua vida e seu testemunho com motivo da próxima Jornada Mundial da Juventude de Madri (2011). E me parece que lhe podemos recomendar já os frutos do X Aplec de l’Esperit, organizado pela juventude cristã das Dioceses catalãs e que celebraremos pela primeira vez em nossa cidade de Terrassa, em 22 de maio de 2010.


+D.Josep Àngel Saiz Meneses - Bispo de Terrassa
Revistaecclesia
Do Blog Irmão Rafael Arnáiz, OCSO


CANONIZAÇÃO/CANONIZACIÓN Rafael Arnáiz Barón – Familiarizar-se com a mística




CANONIZAÇÃO 11 DE OUTUBRO DE 2009

SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN


Navegar mar adentro

A figura do Irmão Rafael é um convite para que nos familiarizemos com a “mística”; quer dizer, com o caminho que Deus traça para que as almas cheguem à união íntima com Ele.

Temos a sorte de viver na Espanha, que é provavelmente a nação com maior tradição mística da Igreja Católica. Rafael Arnáiz traz a nossos dias o melhor da herança da mística espanhola; mas o faz com uma forma de expressão própria do século XX. Sua figura se torna atraente por sua jovialidade, seu sentido de humor, sua pluma privilegiada, seus exemplos pertos… Por isso… Percamos o “medo” da mística!

Não a vejamos como algo distante e inalcançável para nós. Pelo menos, em certa medida, todos estamos envoltos nela! Marchemos sem medo, “navegando mar adentro”, no oceano do Mistério de Deus misericordioso, Pai, Filho e Espírito Santo. Assim, entenderemos o texto de São Paulo aos Efésios: “Que Cristo habite pela fé em vossos corações, para que, arraigados e cimentados no amor, possais compreender com todos os santos qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede a todo conhecimento, para que sejais plenificados com toda a Plenitude de Deus” (Ef 3, 17-19).


De la Carta Pastoral a los Jóvenes III, 6
BUSCAD EL ROSTRO DE DIOS
Do Blog Irmão Rafael Arnáiz, OCSO

São Rafael Arnáiz Barón – A mística do Beato Rafael Arnáiz




CANONIZAÇÃO 11 DE OUTUBRO DE 2009

SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN


A mística do Irmão Rafael Arnáiz


“A mística do Irmão Rafael flui e reflui por todos os poros de sua pessoa, não somente quando escreve, pensa e compõe, mas também quando esboça, desenha e pinta. Traduzindo plasticamente seus sentimentos mais profundos com seu espírito e sensibilidade de artista, nos pintará, já não só o «monte da perfeição», rematado pela Cruz, mas «o cervo correndo com insaciáveis ânsias de Deus»: sua «busca de amores, passando por fortes e fronteiras» e, sobretudo, «a alma na cruz» que, em frase paulina, significa a plena identificação com Cristo e que, começando por uma coroa de espinhos a seus pés, termina com o dardo da transverberação da mais alta mística.

Nesse sentido, nos deixou preciosas interpretações feitas a pincel ou a simples pena, traduzindo as palavras dos salmos ou explicando plasticamente as poesias mais elevadas de São João da Cruz em estampas de alto valor extraordinário e místico. Assim, teremos: «Estrangeiro sou na terra» (Sl 118, 19), «Que se prostre ante Ti a terra inteira» (Sl 65. 4), «Escolhi o caminho da verdade» (Sl 118, 30). É o que nos expressa o Irmão Rafael quando, por força da sua experiência mística, plasma em estampas as canções de São João da Cruz”.


Fray Mª Alberico Feliz Carvajal, OCSO
Vida y Escritos del Beato Fray María Rafael Arnáiz Barón
Introducción, p.52
Do Blog Irmão Rafael Arnáiz, OCSO


São Rafael Arnáiz Barón e São João da Cruz – San Rafael Arnáiz y San Juan de La Cruz




São Rafael Arnáiz Barón

CANONIZAÇÃO 11 DE OUTUBRO DE 2009


São Rafael Arnáiz e São João da Cruz

“Sabemos que o Cântico de São João da Cruz é sua obra predileta e, além disso, reflexa fielmente a sua própria alma, pois o cantou e o viveu nos momentos decisivos de sua existência. O Cântico é a oração de um místico poeta que vive do amor de Deus e, por isso, é o poema mais completo e mais próximo de sua experiência. Na realidade, tomado em seu conjunto, tem muito de autobiografia espiritual. O amor que anima a vida inteira de São João da Cruz e inspira seus escritos assume no Cântico toda a força de uma vocação e de uma paixão.

Nesse sentido, alguém de muita autoridade, ao estudar «a experiência do Irmão Rafael à luz dos ensinamentos de São João da Cruz», disse:

«Ao querer comparar estas duas almas (São João da Cruz e o Irmão Rafael), ao tratar de explicar este encontro que se deu entre elas, tem que ter em conta a fortíssima paixão de Deus, que ambos padeceram e que é o segredo de suas vidas entregues. Sem dúvida, essa paixão foi vivida e manifestada com seus próprios matizes existenciais em cada um deles. Cada alma é uma alma. Mas com uma paixão cravada como um dardo no coração de um e de outro, e que é o que provoca o dinamismo vital em suas respectivas vidas.

São João da Cruz foi um de seus grandes amigos. Um de seus guias espirituais. O mais citado em seus escritos. Com ele sintonizou maravilhosamente sua alma endeusada. Ambos foram peregrinos do Absoluto. Sofreram a paixão de Deus. Paixão de amor e de dor. Paixão mística. Só Deus! Só Deus!, foi seu grito na noite. É o pessoal e o social que todos padecemos e que talvez nos acovarde, como um sinal de luz que Deus, por meio de Rafael, nos regala para despertar nossa pobreza de fé, de esperança e de amor. Nada e Tudo. Só Deus!» (Jiménez Duque, B., Espiritualidad del Hermano Rafael, pp.75,85, na Semana de Espiritualidade do Irmão Rafael, Monasterio Cisterciense de San Isidro de Dueñas, Palencia, 1984)”.


Fray Mª Alberico Feliz Carvajal, OCSO
Vida y Escritos del Beato Fray María Rafael Arnáiz Barón
Introducción, pp.52-53
Do Blog Irmão Rafael Arnáiz, OCSO


quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Santa Clara de Assis - O amor esponsal em Clara



Festa 11 de agosto

“O amor esponsal em Clara”

“Santa Clara fez-se esposa do Senhor dos senhores porque se sentiu profundamente afeiçoada pelo Seu irrestrito amor. Por divina inspiração, Clara renunciou a todos os outros amores possíveis para poder entregar-se inteiramente ao único esposo Jesus Cristo. Em outras palavras, com todas as fibras do seu coração, procurou evitar que ‘toda soberba, vanglória, inveja, avareza, cuidado e solicitude deste mundo’(RSC 10,6) desviassem o seu coração do único necessário: Jesus Cristo. Assim, conservando o seu corpo casto e virginal, sem nada de próprio, acolhe Jesus no claustro de seu seio. Por conseguinte, Clara revive espiritualmente o mistério da mãe do Senhor, que humildemente dispôs-se à ação transformadora do Espírito Santo e tornou-se efetivamente a mãe do Filho do altíssimo Pai.

Clara retrai-se do corre-corre da ‘cidade’ e recolhe-se no santuário de sua alma para ali, na mais pessoal e individual solidão, encontrar-se a sós com o Amado. No tálamo do seu coração, no silêncio dos sentidos e do intelecto deixa-se enlevar tanto pelo amor do Amado, ou melhor, do Amante, que todo o seu afeto, amor, carinho, atenção e serviço às suas Irmãs, aos pobres e doentes são manifestações concretas de sua uniformidade com o Espírito de Cristo.

Parte da Segunda Carta de Santa Clara a Santa Inês de Praga:

‘Agradeço ao Doador da graça, do qual cremos que procedem toda dádiva boa e todo dom perfeito (Tg 1,17), pois adornou-a com tantos títulos de virtude e a fez brilhar em sinais de tanta perfeição, para que, feita imitadora atenta do Pai perfeito (cf. Mt 5,48), mereça ser tão perfeita que seus olhos não vejam em você nada de imperfeito (cf. Sl 138,16).

É essa perfeição que vai uni-la ao próprio Rei no tálamo celeste, onde se assenta glorioso sobre um trono estrelado. Desprezando o fausto de um reino da terra, dando pouco valor à proposta de um casamento imperial, você se fez seguidora da santíssima pobreza em espírito de grande humildade e do mais ardente amor, juntando-se aos passos daquele com quem mereceu unir-se em matrimônio.

Veja como por você ele (o Cristo pobre) se fez desprezível e siga-o, sendo desprezível por ele neste mundo. Com o desejo de imitá-lo, mui nobre rainha, olhe, considere, contemple o seu esposo, o mais belo entre os filhos dos homens (Sl 44,3), feito por sua salvação o mais vil de todos, desprezado, ferido e tão flagelado em todo o corpo, morrendo no meio das angústias próprias da cruz. Se você sofrer com Ele, com Ele vai reinar’ (Fontes Franciscanas e Clarianas)”.

Cit.por franciscanos.org

São Lourenço - O Fogo do teu Amor, Senhor



Festa 10 de agosto

O Fogo do teu Amor, Senhor

“Foi o Fogo do teu Amor, Senhor, que permitiu ao Diácono São Lourenço permanecer fiel”

“O exemplo de São Lourenço encoraja-nos a dar a vida, ilumina a fé, atrai a devoção. Não são as chamas da fogueira, mas as chamas de uma fé viva, que nos consomem. O nosso corpo não foi queimado pela causa de Jesus Cristo, mas a nossa alma é transportada pelos ardores do seu amor, o nosso coração arde de amor por Jesus. Não foi o próprio Salvador que disse, acerca deste fogo sagrado: ‘vim lançar fogo sobre a terra; e que quero Eu senão que ele já se tenha ateado?’ (Lc 12, 49). Cleofas e o companheiro experimentaram os seus efeitos quando diziam: ‘Não estava o nosso coração a arder cá dentro, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?’ (Lc 24, 32).

Foi também graças a este incêndio interior que São Lourenço permaneceu insensível às chamas do martírio; arde em desejo de estar com Jesus, e não sente a tortura. Quanto mais cresce nele o ardor da fé, menos sofre a tortura. A força do braseiro divino que tem aceso no coração acalma as chamas do braseiro ateado pelo carrasco.”

Santo Agostinho
Bispo de Hipona e Doutor da Igreja
Sermo 206

Santa Teresa Benedita da Cruz - Edith Stein, mestra de espiritualidade



Festa 09 de agosto

Entrevista com o Carmelita Jesús Castellano Cervera

«Edith Stein, mestra de espiritualidade»

Edith Stein (1891-1942), judia, filósofa, mártir, Carmelita santa e co-patrona da Europa, considerava-se «uma superlitúrgica». Quem explica isso a Zenit é o Padre Carmelita Jesús Castellano, ocd, que esta sexta-feira pela tarde ministra uma conferência sobre liturgia no Centro de Estudos Edith Stein de Lanciano (Itália).

«Era uma contemplativa sumamente ativa, antes e depois de seu ingresso no Carmelo, como demonstra sua atividade e seus escritos», sublinha este professor de espiritualidade na Faculdade Pontifícia Teológica Teresianum de Roma. O Padre Castellano é consultor, entre outros organismos vaticanos, da Congregação para a Doutrina da Fé e colabora em diversas revistas de teologia, liturgia e espiritualidade.

-Podemos considerar Edith Stein como precursora da espiritualidade litúrgica do Vaticano II?

-Castellano: Podemos afirmar sem dúvidas. Ela vive na alvorada do movimento litúrgico na Alemanha, conhece alguns protagonistas deste despertar eclesial, como Romano Guardini e Odo Casel, tem como pátria espiritual um dos centros propulsores do movimento litúrgico alemão, a Abadia de Beuron, onde o Abade Rafael Walzer é seu diretor espiritual.

Vive o fervor das celebrações de Natal e Semana Santa. Participa, como ela recorda, das «formas renovadas da piedade da Igreja» de seu tempo. Considera-se «uma superlitúrgica» por sua sensibilidade ante o mistério e o celebrar da liturgia. E contribui com seu livro «A oração da Igreja», um texto clássico sobre a Eucaristia, suas raízes judaicas e sua dimensão espiritual.

-Por que não se conhece a contribuição litúrgica de Edith Stein, ela que esteve na vanguarda com Guardini e com outros grandes mestres da liturgia de seu tempo?

-Castellano: Edith é uma figura polivalente. É admirada como fenomenóloga e filósofa como intérprete de São Tomás, de Teresa de Jesus e de João da Cruz. Seus escritos são numerosos. Este fragmento de sua espiritualidade, que é um fragmento que contém o todo, foi-se descobrindo pouco a pouco, sobretudo quando se tratou de contextualizar seu itinerário espiritual, as raízes de sua educação na liturgia judaica, seus influxos e sua participação na espiritualidade de sua época, e quando se trata de descobrir alguns escritos seus onde se manifesta, sobretudo, sua veia teológica e espiritual. Há ainda textos inéditos e outros não são muito conhecidos como o diário de seu retiro espiritual em preparação para sua profissão perpétua (10-21 de abril de 1938), uma verdadeira jóia de espiritualidade do mistério pascal vivido com Maria.


-Edith, antes de ser uma contemplativa, foi uma mulher de ação. Soube conjugar bem a oração litúrgica com a oração pessoal?

-Castellano: Nela não há dicotomias: tudo o que vive e aborda tem o toque de uma fenomenóloga que vai até o fundo vital da experiência. Vive isso desde a profundidade de seu ser, mas com toda a participação dos sentidos. Em um escrito de 1930, uma conferência para mulheres de Speyr, sobre a educação à vida eucarística, sublinha a aplicação da espiritualidade da Eucaristia à vida de cada um, tanto para os religiosos como para a mulher casada, como para as que, como ela, vivem só. E em seu livro «A oração da Igreja» faz uma maravilhosa apologia da imprescindível dimensão da oração pessoal e de seu valor eclesial. Até afirmar que toda oração pessoal é oração eclesial. Era uma contemplativa sumamente ativa, antes e depois de seu ingresso no Carmelo, como demonstra sua atividade e seus escritos.

-É exagero ver em Edith Stein um modelo de espiritualidade litúrgica feminina?

-Castellano: É evidente que toda a experiência de Edith tem o toque de seu olhar de mulher, seu coração e sua empatia feminina, com um toque de delicadeza e de profundidade. A seu modo, é um modelo de espiritualidade feminina se a entendemos como personificação do feminino da Igreja esposa, de sua atitude mariana, de seu recurso às mulheres santas, e valorizamos algumas expressões de fina poesia e sensibilidade como suas invocações ao Espírito Santo. Em seus escritos sobre a mulher e para a mulher nota-se esta peculiaridade em Edith, sem complexos nem polêmicas, com toda naturalidade.

-O que é a espiritualidade eucarística, segundo Edith Stein?

-Castellano: Algo tão simples como viver como resposta vital ante a consciência do dom que supõe a Eucaristia: ante a presença responder com a oração ante o Santíssimo e a eucaristia diária; ante o dom da comunhão com o agradecimento a quem nos nutre com sua carne e seu sangue «como uma mãe a seu filho», ante o sacrifício eucarístico acolhendo o dom e fazendo-o vida como oferenda espiritual. Trata-se de uma espiritualidade que se alimenta, em Edith Stein, com o exemplo e o testemunho, que se esclarece com o ensinamento e iniciação às riquezas do mistério, e passa pouco a pouco à vida e aos costumes até ser uma existência eucarística que impregna todo o ser e o viver.

-O que ensina Edith Stein a suas irmãs Carmelitas com seu testemunho?

-Castellano: Ensina a sentir com a Igreja totalmente no que se refere à liturgia, sem saudades do passado, com a alegria do presente e do futuro. Edith é modelo de seriedade na própria vocação contemplativa, tão aberta à liturgia como à contemplação, tão vibrante pela novidade da renovação litúrgica quanto ansiosa de transmitir a todos o viver e sentir com a Igreja. No fundo Edith é, por co-naturalidade, uma discípula de Teresa de Jesus também nisto, pois a Santa, em seu tempo, vibrava com a liturgia da Igreja e sua experiência mística tem páginas belas de comunhão com os mistérios e de entusiasmo pelas festas do Senhor, de Maria e dos Santos, de amor pela liturgia eclesial e pelo decoro das celebrações.Edith Stein contribuiu em tudo isto com a teologia de seu tempo e com a busca da excelência da celebração dos mistérios.

Padre Jesús Castellano, ocd
Consultor da Congregação para a Doutrina da Fé
Professor de espiritualidade na Faculdade Pontifícia Teológica Teresianum de Roma-Cit.por shalom.org

Santa Teresa Benedita da Cruz: Já não sou o que era



Festa 09 de agosto

JÁ NÃO SOU O QUE ERA

Tu, com imenso amor, fundes o Teu olhar no meu
e inclinas Teus ouvidos à minhas mudas palavras
e enche-me o coração de uma profunda paz.

Mas teu amor não acha satisfação
nesse intercâmbio, em que pode haver ainda separação:
Teu coração anseia por mais.

Como banquete matinal vens a mim toda a manhã,
Tua carne e Teu sangue se fazem comida e bebida para mim,
e acontecem maravilhas.

Teu corpo misteriosamente penetra o meu,
e Tua alma se une com a minha:
já não sou mais o que era!

Tu chegas e partes, permanece porém a semente
que lançaste para frutificar na glória futura,
escondida no corpo de barro.

Permanece o vínculo que une coração a coração,
a corrente vital que brota da Tua
e a todos os membros vivifica.

Como são admiráveis Teus amados milagres!
só nos resta assombrar-nos, balbuciar e calar,
pois a mente e a palavra aqui falham.

Santa Teresa Benedita da Cruz, ocd
Carmelo Santa Teresa-
Itajaí-SC
Mosteiro das Irmãs Carmelitas Descalças


Edith Stein: fenomenologia e espiritualidade



Festa 09 de agosto

Edith Stein: fenomenologia e espiritualidade!


O teor espiritual da vida de Edith Stein foi ascendente, culminando, na última etapa de sua curta estada existencial – quando fora ‘hóspede’ de Hitler em Auschwitz – numa vida contemplativa. Esta elevação silenciosa, como a subida do Monte Carmelo, foi cada vez mais apurada e, inclusive, podemos dizer que tal acuidade espiritual revestiu, plenamente, sua existência (1). Esta ascensão purificadora, como o caminhar da alma às escuras da noite (2) é o que define o caminho da ascética à mística (3). A dimensão espiritual de sua vida foi, pouco a pouco, revelada através do caráter dinâmico de sua obra. Seus escritos se desenvolvem, verdadeiramente, a partir dos mais profundos anseios espirituais de uma vida intima e dinamicamente voltada para Deus. E esta veemência, longe de afastá-la do real, acercou-a ainda mais do mundo fenomênico a ponto de desejá-lo, entendê-lo e questioná-lo, objetivamente, mediante uma percepção cada vez mais apurada do mesmo.

Ela nos diz que é no seu íntimo, na sua essência, que a alma se encontra em casa. Por meio da atividade natural de suas faculdades, ela sai de si própria e vai ao encontro do mundo exterior, exercendo uma atividade sensível que é inferior à ela mesma (4). Tudo isso, mediante expressões sensíveis, sensações, sons, palavras, ações e obras, que correspondem certa manifestação interior, espontânea ou não, consciente ou inconsciente (5). Sua intensa preocupação acerca de uma teoria do conhecimento que desse conta do estabelecimento desta ponte é o marco de sua incansável busca. Mesmo os seus interesses mais comuns permearam-se com este ardor espiritual de uma vida interior (6). Independente de sua proeminente formação acadêmica edificava-se nela um natural interesse objetivo pelo mundo, mediante uma profunda e perspicaz visão subjetiva do mesmo. Nascera-lhe o desejo filosófico, mediante uma percepção natural.

Este amor à sabedoria a levaria questionar o modo como teria que se edificar uma ponte entre a maneira como este denso mundo pessoal –subjetivo marcado fortemente por uma atividade espiritual– percebe o mundo aparente e o modo como este mundo aparente –objetivo e caracterizado intensamente por uma objetividade corpórea– se apresenta à percepção subjetiva da consciência. Este modo subjetivo de considerar a realidade a aproximou da filosofia e de uma intensa percepção filosófica do mundo objetivo. Não obstante, esta cercania se deu a partir da própria tensão de seu mundo subjetivo, ou seja, de sua visão ‘pessoal’ e subjetiva do real.


Nestes termos seria plausível supor que a densidade espiritual de sua percepção subjetiva do mundo objetivo a impulsionaria, necessariamente, entendê-lo, a partir desta mesma subjetividade. Podemos dizer que a finura espiritual de sua vida a incentivou à percepção filosófica subjetiva de um mundo objetivo. Esta espiritualidade lhe exigia, em sua dimensão cognoscitiva, uma explicação. Era necessário, para um melhor entendimento do mundo, compreender-se a si mesma, mediante a compreensão do modo como sua própria consciência opera. Esta exigência passava pela compreensão de uma teoria do conhecimento que se arquitetasse sobre princípios norteadores da consciência, determinando-lhe a intencionalidade da percepção objetiva. Neste caso, qual filosofia, senão a de Edmund Husserl, poderia oferecer-lhe naquele momento, respostas mais adequadas à busca de compreensão do modo como se estruturava e operava a consciência, subjetivamente, na consideração objetiva do mundo? Sua aproximação à fenomenologia de Husserl foi inevitável.

E ela buscava, primeiramente, compreender e logo viabilizar, mediante a percepção filosófica subjetiva, esta ponte entre a percepção intencional da consciência e a objetividade do mundo real, a partir de um vivo diálogo da percepção do ego – a subjetividade – com o mundo – a objetividade. Não foi a intensidade da fenomenologia de Husserl que a fez desvelar-se em sua densidade subjetiva espiritual e convertê-la ao Catolicismo, mas ao contrário, foi a sua própria intensa vida espiritual, que a aproximou da fenomenologia de Husserl, vendo nesta uma possibilidade de arquitetar um modelo filosófico para a compreensão de como a consciência subjetiva e intencional opera sobre o real objetivo.

Foi esta veemência espiritual que a fez ver, cada vez mais, no Cristianismo, uma efetiva resposta às suas mais profundas aspirações intelectuais e espirituais, que a própria fenomenologia não lhe poderia oferecer. Este clamor de uma vida contemplativa não pressupôs a filosofia, antes, ao contrário, foi este ardor místico que a fez amar a filosofia e denotar, mediante ela, sua vocação sobrenatural. Não há dúvida que a filosofia colaborara para uma melhor visão cristã do mundo. Se a filosofia a fez chegar ao Cristianismo, a própria ciência do Cristianismo – a qual denominou ciência da cruz – lhe proporcionaria descobrir a intensa vida do Evangelho, cristalizadas em obras de espiritualidade e de teologia, como as de mística de São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila e a Filosofia e Teologia de Tomás de Aquino. Eis as descobertas que lhe marcariam profundamente, no que se refere ao seu modo de ser e ao modo de pensar o mundo.

1 E. Stein, Chemins vers le silence intérieur. Textes choisis et présentés par Vincent Aucante. Saint-Maur, Parole et Silence, 1998, p. 11-69.
2 S. João da Cruz, Subida do Monte Carmelo, Liv. I. Cap. II, n. 1. [Obras Completas, 7ª edição. Petrópolis, Vozes, 2002, p. 143].
3 R. Garrigou-Lagrange, Les trois âges de la vie intérieure, prélude de celle du Ciel. Tome Ier. Paris, Les Éditions du Cerf, 1938, p. 16-29.
4 E. Stein, A Ciência da Cruz. Tradução de D. Beda Kruse. São Paulo, Edições Loyola, 2002, p. 127.
5 E. Stein, A Ciência da Cruz. Op. cit., p. 130.
6 E. Stein, Chemins vers le silence intérieur. Op. Cit. p. 11-69.


Professor Dr. Paulo Faitanin
Departamento de Filosofia –UFF
Cit.por aquinate.com

sábado, 1 de agosto de 2009

São Bernardo - Ó minha alma, volta ao Verbo para seres transformada por Ele!



“Ó meu Deus, que não poderia eu, confiante, ousar Convosco, cuja nobre imagem e luminosa semelhança sei que trago em mim? Por que deveria eu temer tão alta Majestade, quando posso confiar na nobreza de minha origem? Ajudai-me a conservar a integridade de minha natureza com a inocência da vida! Ensinai-me a embelezar e honrar, com virtudes e afetos dignos, a Celeste Imagem que trago em mim.

Ó minha alma, volta ao Verbo para seres transformada por Ele, para te tornares igual a Ele na caridade! Se amares perfeitamente, desposar-te-ei com Ele. Haverá coisa mais feliz do que esta conformidade? Haverá coisa mais desejável do que o amor pelo qual tu, minha alma, te aproximas espontânea e confiantemente do Verbo, a Ele constantemente adoras, a Ele familiarmente interrogas e consultas em todas as coisas, tão capaz de entender quanto audaz em desejar?

Este é verdadeiramente contrato de espiritual e santo matrimônio! É o amplexo! Sim, é verdadeiramente amplexo porque um idêntico querer e não querer faz de dois um só espírito”.

São Bernardo de Claraval
In Cantica Cant. 83, 1-3
Oeuvres mystiques de Saint Bernard, Paris, 1953

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Santo Inácio de Loyola – O amor é o critério da sua vida espiritual



Festa 31 de julho

S. Inácio - O Discernimento a partir da caridade.

“O peso da alma é o amor”. Assim escrevia S. Inácio a um antigo colega da universidade de Paris dando-nos a chave do seu itinerário interior e do próprio carisma da Companhia de Jesus. 450 anos depois da sua morte, Inácio de Loyola, continua a ser reconhecido na Igreja como o grande especialista do discernimento. O que é talvez menos conhecido é a importância dada por S. Inácio ao amor como critério do discernimento afetivamente livre. Segundo os Exercícios Espirituais o desejo de viver em reciprocidade com Jesus, “Eterno Senhor de todas as coisas”, sintetiza-se no exercício de “Contemplação” que é capaz de “alcançar o Amor”. S. Inácio une assim a “ação” com a “Contemplação” (ser alcançado pelo Amor).

“Sair do próprio amor” para abraçar o amor de Cristo foi, para S. Inácio, tal como é hoje para todos os que continuam a seguir a sua espiritualidade, o processo que leva cada homem a ver o “Mundo” para além do “mundo” do seu próprio eu, abandonando-se nas mãos do Pai, na confiança de que só o Seu amor basta.”Dá-me o Teu amor e a Tua graça que isto me basta” dizia S. Inácio. O amor é para S. Inácio o critério averiguador da verdade do discernimento, a condição de possibilidade da autêntica liberdade humana. Para S. Inácio, não é possível reduzir o amor a uma experiência sentimental, intimista ou platônica. O amor é Deus. E Deus é “ativo”, “habita”, “trabalha” em todas as coisas. S. Inácio experimentou este amor e, foi este amor que lhe permitiu encontrar “Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus”. O amor verdadeiro é operativo, concreto, eficaz. Cresce, tende para o “mais”. O importante é libertar o amor de toda a afetividade egoísta, de toda a desordem. Já não se trata de viver apenas para evitar o pecado; trata-se de “amar para poder viver na liberdade” e na “discrição da caridade” colocando “toda a confiança com verdadeira fé e intenso amor no Seu Criador e Senhor”. Sem amor nada fazia sentido, nada podia ser discernido. Não fazia sentido viver em pobreza. A pobreza escolhe-se por amor a Cristo pobre. Não fazia sentido a obediência. O amor é a alma da obediência dizia o P. Pedro Arrupe referindo-se a S. Inácio. Não fazia sentido a Castidade. A castidade sem amor é inútil. Nada sem amor fazia sentido para S. Inácio.


O P. Gonçalves da Câmara a quem S. Inácio contou algumas memórias autobiográficas deixou-nos este traço do perfil de S. Inácio: “Sempre é mais inclinado ao amor. Todo ele parece amor”. O “magistério” de S. Inácio em socorrer os famintos de Roma durante a grande fome de 1538, em proteger e defender os hebreus espoliados dos seus próprios bens, em socorrer os mendigos, em ajudar as prostitutas sem as obrigar a uma vida religiosa forçada nos conventos como era próprio de então, em dar apoio ás mulheres desprotegidas, permite-nos conhecer a grandeza da sua caridade apostólica. A amizade com o Senhor e a amizade com os mais pobres encontram-se unidas na sua experiência mística. Se a experiência do amor de Cristo levava Inácio à prática da caridade como a forma mais elevada de praticar a justiça, esse mesmo amor moveu-o a agir em todas as outras aéreas da vida com o esforço de um sacerdócio erudito, capaz de dialogar com a cultura do seu tempo, combater as heresias e ajudar a transformar a Igreja a partir de dentro do próprio amor. Para S. Inácio a “Maior Glória de Deus” e o “serviço dos homens” coincide no exercício apostólico de quem, dentro e não fora da Igreja, procura “fazer tudo como se dependesse de si, sabendo que tudo depende de Deus”.

S. Inácio amava o mundo e cada ser humano na sua inteireza como ele próprio se sentiu continuamente amado pelo Senhor. Por ser tão amado pelo Senhor fez do amor o critério da sua vida espiritual, do seu governo apostólico, de todas as suas decisões convidando “todos os que aspiram a mais” a viver na liberdade de quem, pondo “mais amor nas obras do que nas palavras” é capaz de “em tudo amar e servir”. É que o mundo, para S. Inácio não é só o cenário onde Deus se revela. O mundo é revelação de Deus. E o discernimento é a capacidade de descobrir os sinais de Deus a partir da caridade.

Pe.Carlos Carneiro, SJ
Cit.por companhia-jesus.pt

Santo Inácio de Loyola – Tomai minha liberdade



Festa 31 de julho

Santo Inácio de Loyola foi o Fundador da Companhia de Jesus (Jesuítas) em 1534. Sua conversão se dá após ser ferido em combate e tendo que se recuperar em casa. Como homem ativo que era, sente dificuldades em permanecer deitado durante sua convalescência e somente encontra algum alívio nas leituras. Acaba absorvido por leituras espirituais, como a vida de Cristo e a biografia de santos. Após sua recuperação, decide fazer uma peregrinação ao Santuário de Montserrat e depois passar um tempo de recolhimento em Manresa, onde inicia os escritos dos Exercícios espirituais, os quais são um importante e seguro guia para a iniciação das almas na vida contemplativa. Os Exercícios espirituais indicam o caminho para a alma seguir até a união com Deus.


"Tomai, Senhor e recebei
toda a minha liberdade, minha memória,
meu entendimento e toda minha vontade
Tudo que tenho e possuo
Vós me destes com amor,e a Vós,
Senhor, vos devolvo com gratidão.
Tudo é vosso;
dispõe de tudo segundo vossa vontade
Dai-me somente o vosso amor e vossa graça,
que isto me basta sem que te peça outra coisa.
Dai-me vosso Amor e Graça,
que elas me bastam."


Exercícios Espirituais 234

Santo Inácio, rogai por nós!



Santo Inácio de Loyola – Os Exercícios Espirituais, uma experiência para encontrar o Deus Vivo



Festa 31 de julho

Exercícios Espirituais

Os Exercícios Espirituais são uma experiência que Santo Inácio iniciou para ajudar outras pessoas a encontrarem-se com um Deus que não está mudo e que não vive distante, lá acima na abóbada celeste. Um encontro forte, vivo, pessoal, que compromete a quem segue generosamente essa ginástica espiritual e que o leva a entender e experimentar que Jesus ressuscitado chama a colaborar com a missão que Ele mesmo teve: levar a Boa Nova. Os Exercícios são um benéfico terremoto interior.

Ainda que Inácio estivesse se restabelecendo da ferida na perna provocada por uma bala de canhão, durante a defesa de Pamplona contra os franceses, teve uma série de experiências interiores que sacudiram energicamente sua vida e foram levando-o a encontrar-se com uma verdade gozosa: quem decide ouvir ao Senhor, pode escutar sua voz, chegar a conhecer, por meio do discernimento, a vontade de Deus e tomar as decisões importantes seguindo o impulso do Espírito. Esta mesma experiência é a que Inácio partilha com seus companheiros de estudo, quando lhes dá os Exercícios Espirituais. Todos eles também perceberam, por meio destas práticas, que eram capazes de ouvir a Deus, que podiam crescer em liberdade, seguir radicalmente a Cristo, amar a Deus inseridos num mundo, a um Deus que vive, trabalha e ama no mundo. Desde então, os Exercícios Espirituais, o método que Inácio descreveu tão cuidadosamente, são a base da formação dos jovens jesuítas e nosso ministério mais típico.

O Livro dos Exercícios, composto na alvorada do Renascimento e na época da Reforma, deveria ter caído de moda há muito tempo. Ao contrário, conserva sua atualidade plenamente. Porque na vida concreta de cada dia, os Exercícios ajudam a reler pessoalmente toda a obra da salvação, para descobrir a vontade amorosa da divina Majestade sobre cada um de nós, por meio do Senhor Jesus, sob a moção sensível do Espírito e, quando reconhecemos a sua ação seguindo os ensinamentos dos Exercícios, isto nos impulsiona a encarnar por meio da eleição que o inspira, o maior serviço, que atualiza hoje em nossa vida, a Obra de Cristo. Os Exercícios Espirituais ajudam também a formar cristãos alimentados por uma experiência pessoal de Deus e capazes, ao mesmo tempo, de distanciar-se dos falsos absolutos das ideologias e sistemas, para comprometer-se com o esforço apostólico único da promoção integral - espiritual, social e cultural - do homem e da humanidade. Deles obtemos uma vida no Espírito mais vigorosa, um amor cada vez mais pessoal ao Filho, que carrega sua cruz, e um desejo mais encarnado de poder "em tudo amar e servir".

Peter Hans Kolvenbach, S.J., Prepósito Geral
Jesuitas.org