sexta-feira, 31 de julho de 2009

Santo Inácio de Loyola – O amor é o critério da sua vida espiritual



Festa 31 de julho

S. Inácio - O Discernimento a partir da caridade.

“O peso da alma é o amor”. Assim escrevia S. Inácio a um antigo colega da universidade de Paris dando-nos a chave do seu itinerário interior e do próprio carisma da Companhia de Jesus. 450 anos depois da sua morte, Inácio de Loyola, continua a ser reconhecido na Igreja como o grande especialista do discernimento. O que é talvez menos conhecido é a importância dada por S. Inácio ao amor como critério do discernimento afetivamente livre. Segundo os Exercícios Espirituais o desejo de viver em reciprocidade com Jesus, “Eterno Senhor de todas as coisas”, sintetiza-se no exercício de “Contemplação” que é capaz de “alcançar o Amor”. S. Inácio une assim a “ação” com a “Contemplação” (ser alcançado pelo Amor).

“Sair do próprio amor” para abraçar o amor de Cristo foi, para S. Inácio, tal como é hoje para todos os que continuam a seguir a sua espiritualidade, o processo que leva cada homem a ver o “Mundo” para além do “mundo” do seu próprio eu, abandonando-se nas mãos do Pai, na confiança de que só o Seu amor basta.”Dá-me o Teu amor e a Tua graça que isto me basta” dizia S. Inácio. O amor é para S. Inácio o critério averiguador da verdade do discernimento, a condição de possibilidade da autêntica liberdade humana. Para S. Inácio, não é possível reduzir o amor a uma experiência sentimental, intimista ou platônica. O amor é Deus. E Deus é “ativo”, “habita”, “trabalha” em todas as coisas. S. Inácio experimentou este amor e, foi este amor que lhe permitiu encontrar “Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus”. O amor verdadeiro é operativo, concreto, eficaz. Cresce, tende para o “mais”. O importante é libertar o amor de toda a afetividade egoísta, de toda a desordem. Já não se trata de viver apenas para evitar o pecado; trata-se de “amar para poder viver na liberdade” e na “discrição da caridade” colocando “toda a confiança com verdadeira fé e intenso amor no Seu Criador e Senhor”. Sem amor nada fazia sentido, nada podia ser discernido. Não fazia sentido viver em pobreza. A pobreza escolhe-se por amor a Cristo pobre. Não fazia sentido a obediência. O amor é a alma da obediência dizia o P. Pedro Arrupe referindo-se a S. Inácio. Não fazia sentido a Castidade. A castidade sem amor é inútil. Nada sem amor fazia sentido para S. Inácio.


O P. Gonçalves da Câmara a quem S. Inácio contou algumas memórias autobiográficas deixou-nos este traço do perfil de S. Inácio: “Sempre é mais inclinado ao amor. Todo ele parece amor”. O “magistério” de S. Inácio em socorrer os famintos de Roma durante a grande fome de 1538, em proteger e defender os hebreus espoliados dos seus próprios bens, em socorrer os mendigos, em ajudar as prostitutas sem as obrigar a uma vida religiosa forçada nos conventos como era próprio de então, em dar apoio ás mulheres desprotegidas, permite-nos conhecer a grandeza da sua caridade apostólica. A amizade com o Senhor e a amizade com os mais pobres encontram-se unidas na sua experiência mística. Se a experiência do amor de Cristo levava Inácio à prática da caridade como a forma mais elevada de praticar a justiça, esse mesmo amor moveu-o a agir em todas as outras aéreas da vida com o esforço de um sacerdócio erudito, capaz de dialogar com a cultura do seu tempo, combater as heresias e ajudar a transformar a Igreja a partir de dentro do próprio amor. Para S. Inácio a “Maior Glória de Deus” e o “serviço dos homens” coincide no exercício apostólico de quem, dentro e não fora da Igreja, procura “fazer tudo como se dependesse de si, sabendo que tudo depende de Deus”.

S. Inácio amava o mundo e cada ser humano na sua inteireza como ele próprio se sentiu continuamente amado pelo Senhor. Por ser tão amado pelo Senhor fez do amor o critério da sua vida espiritual, do seu governo apostólico, de todas as suas decisões convidando “todos os que aspiram a mais” a viver na liberdade de quem, pondo “mais amor nas obras do que nas palavras” é capaz de “em tudo amar e servir”. É que o mundo, para S. Inácio não é só o cenário onde Deus se revela. O mundo é revelação de Deus. E o discernimento é a capacidade de descobrir os sinais de Deus a partir da caridade.

Pe.Carlos Carneiro, SJ
Cit.por companhia-jesus.pt

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