quinta-feira, 9 de abril de 2009

Tríduo Pascal – Quinta-feira Santa - Cristo se entregou a si mesmo por amor a nós e à Igreja



Cristo se entregou a si mesmo, inteiramente, às dores e à morte por amor a nós e à Igreja

“São Paulo nos diz que ‘Cristo amou a Igreja’. A Igreja significa aqui o reino daqueles que devem, como da mesma forma o diz o Apóstolo, formar o corpo místico de Jesus. Cristo amou esta Igreja, e foi porque a amou que se entregou por ela. Foi o amor que comandou a Paixão.

Sem dúvida, antes de tudo, é pelo amor por seu Pai que Jesus quis sofrer a morte da cruz. Ele mesmo disse explicitamente: Ut cognoscat mundus quia diligo Patrem, sic facio, ‘A fim de que o mundo saiba que amo a meu Pai, realizo sua vontade, que é entregar-me à morte’.

Vejam Jesus Cristo em sua agonia. Durante três horas, a tristeza, o temor, as angústias inundam sua alma como uma torrente, e o invadem a ponto do sangue escapar das sagradas veias. Que abismo de dores nesta agonia! E o que diz Jesus a seu Pai? ‘Pai, se é possível afasta de mim este cálice’. Por acaso Cristo não aceitava a vontade de seu Pai? Sim! Certamente. Mas esta oração é o grito da sensibilidade da pobre natureza humana triturada pelo desgosto e o sofrimento: nesse momento, é sobretudo Vir sciens infirmitatem: um ‘homem tocado pela dor’. Nosso Senhor sente o peso espantoso da agonia sobre suas espaldas; quer que o saibamos, e este é o motivo pelo qual faz esta oração.


Mas escutem o que Ele subtamente acrescenta: ‘Todavia, ó Pai, que não se faça a minha vontade, mas a tua’. Eis aquí o triunfo do amor. Porque ama a seu Pai, põe a vontade de seu Pai acima de tudo e aceita sofrer tudo. Destaque-se que o Pai poderia, se o quisesse em seus desígnios eternos, atenuar os sofrimentos de Nosso Senhor, mudar as circunstâncias de sua morte; não o quis. Em sua justiça, exigiu que, para salvar o mundo, Cristo se entregasse a todas as dores. Esta vontade diminuiu o amor de Cristo? Certamente que não; Ele não disse: Meu pai poderia dispor as coisas de outra maneira; não. Ele aceita plenamente tudo o que seu Pai quer: Non mea voluntas, sed tua fiat.

Irá adiante, até a culminação do sacrifício. Alguns momentos antes de sua agonia, no momento de sua prisão, quando São Pedro quis defendê-lo, golpeando com sua espada um dos que vieram prender seu Mestre, o que disse o Salvador? 'Guarda a espada na bainha; acaso não beberei eu o cálice que meu pai me entregou?’ Calicem quem dedit mihi Pater, non bibam illum?'


Assim, pois, é antes de tudo o amor por seu Pai que move Cristo a aceitar os sofrimentos da Paixão. Mas é também o amor que tem por nós. Na última ceia, quando vai chegar a hora de terminar sua oblação, o que ele diz aos seus apóstolos reunidos ao redor dele? ‘Não há amor maior do que o amor daquele que dá a vida por seus amigos’, Majorem hac dilectionem nemo habet, ut animam suma Ponta quis pro amicis suiis. E este amor que sobrepassa todo amor, Jesus o vai mostrar a nós, porque, diz São Paulo, ‘foi por todos que se entregou’. Morreu por nós, ‘quando éramos seus inimigos’. Que maior prova de amor podia dar-nos? Nenhuma.

Do mesmo modo, o Apóstolo não cessa de proclamar que ‘é porque nos ama que se entregou; por causa do amor que me teve, deu-se por mim’. E ‘entregou’, ‘deu’ em que medida? Até a morte: Semetipsum tradidit”.

Beato Columba Marmion
“Jesus Cristo em seus mistérios”

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