quinta-feira, 9 de abril de 2009

Tríduo Pascal - Quinta-feira Santa - Na Agonia do Horto, Jesus aceita consolo do anjo



A Agonia do horto: aceitando o consolo do anjo, Jesus aceitava antecipadamente nossos consolos

“Por meio da tríplice oração de sua agonia, Jesus quis manifestar, com sua tristeza de morte diante do pecado do mundo, na véspera da quinta-feira, antes do começo de sua paixão externa, a disposição santíssima desta humanidade, sua oferenda como vítima, verbalizada já na ceia, pelos pecadores. Embora experimentasse um medo natural pelos sofrimentos, os suplícios e a morte sangrenta, se oferecia em um ato de livre e voluntária obediência à vontade salvífica do Pai para consumar a obra da Redenção. Foi nesse momento que – segundo o Evangelho de São Lucas – o Anjo Consolador apareceu a Jesus para fortalecê-lo (Lc 22,43). Propondo-lhe considerações que podiam diminuir sua tristeza e fortalecer as potências inferiores de sua alma, o Anjo não ensinou a Cristo como um mestre que ilumina a um discípulo. Cristo não ignorava os pensamentos propostos pelo Anjo, mas sua razão superior os tomava em consideração sem permitir a suas potências inferiores receber consolação alguma; o Anjo lhe apareceu de maneira sensível, humana, e lhe falou exteriormente.


Cristo quis receber este consolo como um dom do Pai, e o recebeu com gratidão, respeito e humildade. Este consolo não tinha por única finalidade ou por efeito dispensá-lo de sofrer pela salvação do mundo, mas, ao contrário, de ajudá-lo. Isto é muito bem mostrado no Evangelho de S. Lucas, segundo o qual a aparição consoladora é seguida pela «agonia», uma oração mais intensa, e pelo suor de sangue. Mais profundamente, este consolo não significava que Cristo houvesse tido necessidade do auxílio angélico – o Criador dos Anjos podia fazer descer do céu doze legiões de Anjos (Mt 26,53), mas que lhe pareceu necessário ser fortalecido com vistas à nossa consolação, da mesma maneira que esteve triste por nossa causa - propter nos tristis, propter nos confortatus – disse o Venerável Beda, seguido por São Boaventura.

Ao aceitar este consolo por nós, e em nosso nome, Jesus mostrava a realidade de sua humanidade e da debilidade humana que lhe reconhecia a Epístola aos Hebreus. Na aceitação, por nós e a nosso favor, do consolo angélico, Jesus antecipadamente queria significar que aceitaria nossos consolos para consolar-nos. Não só nos fazia merecedores de poder consolá-lo, mas também, por generosidade a nosso respeito, faz de nós seus consoladores para consolar-nos em nossos momentos de desolação.

Ao rezar por si mesmo, Jesus agonizante manifestava a vontade salvífica do Pai a respeito de nós. «Não a minha vontade, minha vontade espontânea de morrer, mas a tua vontade sobre mim, vontade pela salvação do mundo». Podemos dizer, pois, com São Tomás de Aquino, que sua oração por si mesmo era também oração pelos outros; e o santo acrescenta: «todo homem que pede a Deus um bem para empregá-lo em benefício dos outros não ora por si mesmo, mas também pelos demais». A vontade de Cristo de ser consolado é, portanto, vontade consoladora, longe de ser sinal de egoísmo. A fim de consolar-nos Nele, quer ser consolado por nós. Para fortalecer-nos quis ser fortalecido por um Anjo”.


Bertrand de Margerie, S.J.
Histoire doctrinal du culte au Coeur de Jesús

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