quarta-feira, 1 de abril de 2009

Como São Francisco passou uma Quaresma



“Ao verdadeiro Servo de Deus, São Francisco, já que em certas coisas foi como um segundo Cristo dado ao mundo para salvação dos povos, quis Deus Pai fazê-lo, em muitos aspectos de sua vida, conforme e semelhante a seu Filho Jesus Cristo, como aparece no venerável colégio dos doze companheiros, no admirável mistério das sagradas chagas e no jejum contínuo da santa quaresma, que realizou da seguinte maneira:

Em certa ocasião, achando-se São Francisco, no último dia de carnaval, junto ao lago de Perusa, na casa de um devoto seu, onde havia passado a noite, sentiu a inspiração de Deus de ir passar a quaresma em uma ilha do dito lago. São Francisco pediu, então, a este devoto seu, por amor a Cristo, que lhe levasse em seu barco a uma ilha do lago totalmente desabitada e que o fizesse na noite de quarta-feira de cinzas, sem que ninguém se desse conta. Assim o fez pontualmente o homem, pela grande devoção que tinha a São Francisco, e lhe levou à ilha. São Francisco não levou consigo mais que dois pãezinhos. Depois de chegarem à ilha e o amigo já estar pronto para voltar para casa, São Francisco lhe pediu encarecidamente que não contasse a ninguém o seu paradeiro e que não voltasse para buscá-lo até a quinta-feira santa. E com isso, partiu o homem, deixando São Francisco a sós.


Como não havia na ilha habitação alguma onde pudesse se alojar, entrou em um canto de largura muito estreita, onde as sarças e os arbustos formavam uma espécie de cabana. E neste lugar se pôs a rezar e a contemplar as coisas celestiais. Ali esteve toda a quaresma sem comer outra coisa que a metade de um daqueles pãezinhos, como pode comprovar, na quinta-feira santa, aquele mesmo amigo ao ir buscá-lo. Dos dois pequenos pães, achou um inteiro e a metade do outro. Acredita-se que São Francisco o comeu apenas por respeito ao jejum de Cristo bendito, que jejuou quarenta dias e quarenta noites, sem tomar nenhum alimento material. Assim, comendo aquele meio pão, afastou de si o veneno da vanglória e jejuou a exemplo de Cristo, quarenta dias e quarenta noites.

Mais tarde, naquele lugar onde São Francisco havia feito tão admirável abstinência, Deus realizou, por seus méritos, muitos milagres, pelo que muitas pessoas começaram a construir casas e viver ali.

Em pouco tempo, se formou na ilha uma aldeia boa e grande. Há também ali, um Convento dos irmãos que se chama o ‘Convento da ilha’. Hoje em dia, os homens e mulheres dessa aldeia veneram com grande devoção aquele lugar em que São Francisco passou a dita quaresma.

Em louvor de Cristo bendito. Amém.”


Do Florilégio de São Francisco


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