segunda-feira, 15 de junho de 2009

CORPUS CHRISTI – Eucaristia deve ser o absoluto do nosso amor



Solenidade
11 de junho

“A fé conduz a Jesus Cristo enquanto o amor encontra-o e adora-o. O amor manifesta-se de três maneiras, manifestações essas que lhe constituem a vida.

Manifesta-se, em primeiro lugar, pela simpatia que, formando entre duas almas o laço e a lei de duas vidas, torna-as semelhantes uma a outra. A ação da simpatia natural – e com quanto mais razão da sobrenatural para com Nosso Senhor – constitui a atração forte, a transformação uniforme de duas almas numa só alma, de dois corpos num só corpo. Assim como o fogo absorve e transforma em si toda matéria simpática, assim também o cristão se transforma em Deus pelo Amor de Jesus Cristo. “Símiles ei erimus”.

Como foram os magos atraídos imediatamente a este Menino que ainda não fala nem sequer lhes pode revelar o pensamento? Ah! O amor viu e, vendo, uniu-se ao objeto amado! Contemplai os reis de joelhos ante o presépio, rodeados pelos animais e adorando, num estado tão humilhado e humilhante para a realeza, a débil Criança que os fita com tão singelo olhar!

Se entre amigos fazem-se necessário palavras, aqui basta tão somente o amor. Não imitam eles tanto quanto podem o estado do divino Infante, pois o amor, por ser simpático, é naturalmente imitador? Eles desejariam rebaixar-se, aniquilar-se até às entranhas da terra, a fim de melhor adorar e assemelhar-se àquele que, do Trono de sua Glória, se humilhou até descer, sob a forma do escravo, ao presépio.

Eles abraçam a humildade que o Verbo Encarnado desposou; a pobreza que deificou; o sofrimento que divinizou. O amor, por ser transformador, produz identidade de vida. Torna os reis simples, os sábios humildes, os ricos pobres de coração. Não praticam os magos todas essas virtudes?


A simpatia, indispensável à vida de amor, por suavizar os sacrifícios e assegurar-lhes a perseverança, é, numa palavra, a verdadeira prova de amor e a garantia de sua durabilidade. O amor que não se torna mais simpático é uma virtude laboriosa, privada de alegria e dos encantos da amizade, embora por vezes sublime.

O cristão, chamado a viver do Amor de Deus, precisa desta simpatia de amor. Ora, é na Santa Eucaristia que Nosso Senhor nos dá o suave penhor do seu Amor pessoal como a amigos. É aí que nos permite repousar ligeiramente nosso coração sobre o seu como o discípulo amado. Aí nos faz provar, ao menos passageiramente, a doçura do maná celestial. Aí nos faz gozar no coração a alegria de possuir ao nosso Deus, como Zaqueu; nosso Salvador, como Madalena; nossa soberana felicidade e nosso tudo, como a Esposa dos Cânticos. Aí, soltam-se suspiros de amor: ‘Quão suave sois! Quão bom, quão terno, ó Jesus, para com aquele que vos recebe com amor’.

Mas a simpatia do amor não descansará no gozo. É a brasa que o Salvador acende no coração quando encontra correspondência: ‘Carbo est Eucharistia quae nos inflammat’. O fogo ativo é invasor. Assim é que a alma dominada por ele, é levada a exclamar: ‘Que farei, Senhor, em troca de tamanho Amor?’. E Jesus responde: ‘Procurarás assemelhar-te a mim, viver para mim, viver de mim’. A transformação será fácil. Na escola do Amor, diz a Imitação, não se anda, corre-se, voa-se: ‘Amans, currit, volat’.

Manifesta-se, em segundo lugar, o amor pelo absoluto do sentimento. Quer tudo dominar, como senhor único e radical do coração. O amor é um. Tendendo à unidade, que é sua essência, absorve ou é absorvido.


Tal verdade brilha em todo o seu esplendor na adoração dos magos. Ao encontrar o régio Infante, não tomam em consideração nem a indignidade do local, nem os animais que aí estão, tornando-o repugnante. Não pedem nem prodígios ao Céu, nem explicações à Mãe. Não examinam curiosamente o menino, mas caem logo de joelhos em profunda adoração. Só por Ele vieram. Em presença do sol eclipsam-se todos os astros. O Evangelho nem sequer menciona as honras que, necessariamente, prestaram a Santa Mãe. A adoração, qual o amor que a inspira, é uma delas.

Ora, a Eucaristia, por ser a quintessência de todos os Mistérios de sua Vida de Salvador, é o absoluto do Amor de Jesus Cristo pelo homem. Tudo quanto Jesus Cristo fez, da Encarnação à Cruz, visava ao Dom Eucarístico, visava a sua união pessoal e corporal com cada cristão pela Comunhão, em que via o meio de nos comunicar os tesouros da sua Paixão, as virtudes da sua Santa Humanidade, os méritos da sua Vida. Eis o prodígio do Amor. ‘Qui manducat meam carnem, in me manet et ego in eo’.

A Eucaristia deve também ser o absoluto do nosso amor para com Jesus Cristo, se quisermos alcançar, pelo nosso lado, o fim que se propôs na Comunhão, isto é, transformar-nos nele pela união. A Eucaristia deve, pois, ser a lei das nossas virtudes, a alma da nossa piedade, o supremo anelo da nossa vida, o pensamento real e dominante do nosso coração, a bandeira gloriosa dos nossos combates e sacrifícios. E, fora desta unidade de ação, jamais conseguiremos o absoluto no amor. Com ele, porém, nada é mais suave e mais fácil. Temos então todo o poder do homem e de Deus concentrados harmoniosamente no reinado do amor. ‘Dilectus meus mihi et ego illi’, ‘O meu amado é para mim e eu para o meu amado’.

São Pedro Julião Eymard
A Divina Eucaristia, v.1, pp. 234-237

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