quarta-feira, 31 de março de 2010

SEMANA SANTA- 2ª-FEIRA – Espalhar o perfume da compaixão nos pés de Cristo



SEGUNDA -FEIRA DA SEMANA SANTA

Evangelho segundo S. João 12,1-11


«Espalhar o perfume da compaixão nos pés de Cristo»

Já vos falei dos dois perfumes espirituais: o da contrição, que se estende a todos os pecados — é simbolizado pelo perfume que a pecadora espalhou nos pés de Jesus: «toda a casa ficou cheia desse cheiro»; há também o da devoção que consolida todas as mercês de Deus... Mas há um perfume que ultrapassa de longe estes dois; chamar-lhe-ei o perfume da compaixão. Compõe-se, com efeito, dos tormentos da pobreza, das angústias em que vivem os oprimidos, das inquietudes da tristeza, das faltas dos pecadores, em resumo, de toda a dor dos homens, mesmo dos nossos inimigos. Estes ingredientes parecem indignos e, contudo, o perfume em que entram é superior a todos os outros. É um bálsamo que cura: «Felizes os misericordiosos, pois alcançarão misericórdia» (Mt 5,7).

Assim, um grande número de misérias reunidas sob um olhar compassivo são as essências preciosas... Feliz a alma que cuidou de aprovisionar estes aromas, de neles espalhar o óleo da compaixão e de os pôr a ferver no fogo da caridade! Quem é, no vosso entender, «o homem feliz que tem piedade e empresta os seus bens» (Sl 111,5), inclinado à compaixão, pronto a socorrer o seu próximo, mais contente com dar do que com receber? Quem é esse homem que perdoa facilmente, resiste à cólera, não permite a vingança, e em todas as coisas olha como suas as desgraças dos outros? Quem quer que seja essa alma impregnada do orvalho da compaixão, de coração transbordante de piedade, que se dá inteira a todos, que não é, ela mesma, senão um vaso rachado onde nada é invejosamente guardado, essa alma, tão morta para si mesma que vive unicamente para os outros, tem a felicidade de possuir esse terceiro perfume que é o melhor. As suas mãos destilam um bálsamo infinitamente precioso (cf. Ct 5,5), que não se esgotará na adversidade e que os lumes da perseguição não conseguirão secar. É que Deus lembrar-se-á sempre dos seus sacrifícios.


São Bernardo de Claivaux
Sermão 12 sobre o Cântico dos Cânticos

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