sábado, 15 de agosto de 2009

Assunção de Nossa Senhora - Uma Mulher revestida de Sol



SOLENIDADE LITÚRGICA DA ASSUNÇÃO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA

HOMILIA DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II

15 de agosto de 2001

1. "O último inimigo a ser destruído será a morte" (1 Cor 15, 26).

As palavras de Paulo, que acabam de ser proclamadas na segunda leitura, ajudam-nos a compreender o significado da solenidade que hoje celebramos. Em Maria, que subiu ao Céu no termo da sua vida terrestre, resplandece a vitória definitiva de Cristo sobre a morte, que entrou no mundo em virtude do pecado de Adão. Foi Cristo, o "novo" Adão, que venceu a morte, oferecendo-se em sacrifício no Calvário, em atitude de amor obediente ao Pai. Assim, Ele resgatou-nos da escravidão do pecado e do mal. No triunfo da Virgem, a Igreja contempla Aquela que o Pai escolheu como verdadeira Mãe do seu Filho unigênito, associando-a intimamente ao desígnio salvífico da Redenção.

É por isso que Maria, como é bem evidenciado pela Liturgia, constitui um sinal consolador da nossa esperança. Olhando para Ela, arrebatada na exultação das plêiades angélicas, toda a existência humana, impregnada de luzes e de sombras, se abre para a perspectiva da bem-aventurança eterna. Se a experiência quotidiana nos faz sentir diretamente como a peregrinação terrestre se desenvolve sob o sinal da incerteza e da luta, a Virgem exaltada na glória do Paraíso assegura-nos que o socorro divino jamais nos faltará.

2. "Apareceu um grande sinal no Céu: uma mulher revestida de Sol" (Ap 12, 1).

Olhemos para Maria, caríssimos Irmãos e Irmãs que aqui vos encontrais reunidos num dia tão especial para a devoção do povo cristão. Saúdo-vos com grande afeto. Cumprimento de modo particular o Senhor Cardeal Angelo Sodano, meu primeiro colaborador, e o Bispo de Albano acompanhado do seu Auxiliar, e agradeço-lhes a sua presença. Além disso, saúdo o pároco com os sacerdotes que o assistem, os religiosos, as religiosas e todos os fiéis aqui presentes, de maneira especial os consagrantes salesianos, a Comunidade de Castelgandolfo e a das Vilas Pontifícias. Incluo no meu pensamento os peregrinos de várias línguas, que quiseram unir-se à nossa celebração. A cada um formulo votos para que viva com alegria a solenidade deste dia, rica de sugestões para a meditação.

Hoje aparece um sinal grandioso no Céu: a Virgem Maria! É dela que nos fala com linguagem profética o sagrado autor do livro do Apocalipse, na primeira leitura. Que prodígio extraordinário se apresenta diante dos nossos olhos estupefatos! Acostumados a olhar para as realidades da terra, somos convidados a elevar o nosso olhar para o Alto: rumo ao Céu, que é a nossa Pátria definitiva, onde a Santíssima Virgem espera por nós.

O homem moderno, talvez mais do que no passado, tem interesses e preocupações materiais. Busca segurança e não raro experimenta a solidão e a angústia. Além disso, que dizer do enigma da morte? A Assunção de Maria é um acontecimento que nos interessa de perto, precisamente porque cada homem é destinado a morrer. Todavia, a morte não é a última palavra. Ela garante-nos o mistério da Assunção da Virgem é a passagem para a vida, ao encontro do Amor. É a passagem para a bem-aventurança celestial, reservada a quantos se empenham em prol da verdade e da justiça, esforçando-se por seguir a Cristo.

3. "Desde agora, todas as gerações me hão de chamar ditosa" (Lc 1, 48).

Assim exclama a Mãe de Cristo no encontro com a idosa prima Isabel. O Evangelho acabou de nos propor de novo o Magnificat, que a Igreja canta todos os dias. Trata-se da resposta de Nossa Senhora às palavras proféticas de Santa Isabel: "Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor" (Lc 1, 45).

Em Maria, a promessa torna-se realidade: ditosa é a Mãe e felizes seremos nós, seus filhos se, como Ela, escutarmos e pusermos em prática a palavra do Senhor.

A solenidade deste dia abra o nosso coração para esta exaltante perspectiva da existência. Possa a Virgem, que hoje contemplamos resplandecente à direita do Filho, ajudar o homem contemporâneo a viver, acreditando "que terão cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor".

4. "Hoje, os filhos da Igreja na terra celebram com alegria a passagem da Virgem para a Cidade superna, a Jerusalém celeste" (Laudes et hymni, VI).

É assim que a Liturgia armênia canta no dia de hoje. Faço minhas estas palavras, pensando na peregrinação apostólica ao Cazaquistão e à Armênia que, se Deus quiser, realizarei daqui a pouco mais de um mês. Confio-te a Ti, Maria, o bom êxito desta nova etapa do meu serviço à Igreja e ao mundo. Confio-te a Ti o auxílio aos fiéis, a fim de que sejam sentinelas da esperança que não desilude e proclamem incessantemente que Cristo é o vencedor do mal e da morte. Ilumina, Mulher fiel, a humanidade do nosso tempo, para que compreenda que a vida de cada homem não se esgota num punhado de pó, mas é chamada a um destino de felicidade eterna.

Maria, "Tu que és o júbilo do céu e da terra", vela e intercede por nós e pelo mundo inteiro, agora e sempre!


Papa João Paulo II
Homilia da Solenidade da Assunção
15 de agosto de 2001

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