sábado, 16 de janeiro de 2010

EPIFANIA DO SENHOR - Para Vós, Senhor, a manifestação do vosso Filho é a manifestação clara do quanto e como nos amastes



SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR
03 DE JANEIRO

«Para Vós, Senhor, falar por meio do vosso Filho não foi outra coisa senão trazer à luz do sol, isto é, manifestar claramente o quanto e como nos amastes»

“Somente Vós sois realmente o Senhor, Vós para quem dominar sobre nós é salvar-nos; enquanto, para nós, servir-vos nada mais é do que ser salvos por vós.

Senhor, de Vós procede a bênção e a salvação para vosso povo. Mas que salvação é esta senão a graça que nos concedeis de vos amar e de ser amados por vós?

Por isso, Senhor, quisestes que o Filho que está à vossa direita, o homem que fortalecestes para Vós, fosse chamado Jesus, isto é, Salvador; pois ele vai salvar o povo de seus pecados (Mt 1,21) e em nenhum outro há salvação (At 4,12). Ele nos ensinou a amá-Lo, ao nos amar primeiro e até à morte de cruz. Por seu amor e sua dileção, suscita nosso amor por Ele, que nos amou primeiro até o fim. Foi assim mesmo: Vós nos amastes primeiro para que vos amássemos. Não tínheis necessidade de ser amado por nós, mas não poderíamos atingir o fim para o qual fomos criados se não vos amássemos. Eis por que, tendo falado outrora a nossos pais muitas vezes e de muitos modos por intermédio dos profetas, nestes últimos tempos nos falastes pelo vosso filho, pelo vosso Verbo; por Ele é que os céus foram criados, e pelo sopro de seus lábios, todo o universo (Sl 32,6).

Para Vós, falar por meio do vosso Filho não foi outra coisa senão trazer à luz do sol, isto é, manifestar claramente o quanto e como nos amastes, Vós que não poupastes vosso próprio Filho, mas o entregastes por todos nós. E Ele também nos amou e se entregou por nós.

É essa, Senhor, a Palavra que nos dirigistes, o Verbo todo-poderoso. Quando todas as coisas estavam envolvidas no silêncio (Sb 18,14), ou seja, nas profundezas do erro, ele desceu do seu trono real (Sb 18,15) para combater energicamente todos os erros e fazer triunfar suavemente o amor.

E tudo o que Ele fez, tudo o que disse na terra, até aos opróbrios, até aos escarros e às bofetadas, até à cruz e à sepultura, não foi senão a Palavra que nos dirigistes em vosso Filho, suscitando pelo vosso amor o nosso amor por Vós.

Bem sabíeis, ó Deus, Criador dos homens, que este amor não pode ser imposto, mas que é necessário estimulá-lo no coração humano. Porque onde há coação não há liberdade, e onde não há liberdade também não há justiça. Quisestes assim que vos amássemos, pois não poderíamos ser salvos com justiça sem vos amar; e não poderíamos amar-vos sem
receber de Vós esse amor.

Por isso, Senhor, como diz o Apóstolo do vosso amor e nós também já dissemos, Vós nos amastes primeiro; e amais primeiro todos os que vos amam. Nós, porém, vos amamos com afeto do amor que pusestes em nós. Mas vosso amor, vossa bondade, ó sumamente Bom e Sumo Bem, é o Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho. Desde o princípio da criação Ele pairava sobre as águas, isto é, sobre os espíritos indecisos dos filhos dos homens; Ele se oferece a todos, atrai tudo a si, inspirando, encorajando, afastando as coisas nocivas, providenciando as úteis, unindo Deus a nós e unindo-nos a Deus”.


Guilherme de Saint-Thierry
Abade do Mosteiro de Saint-Thierry
De contemplando Deo, 9-11: SCh 61, 90-96

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