quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

SANTO TOMÁS DE AQUINO – Ó Deus de misericórdia, que eu deseje ardentemente tudo o que vos agrada



S. TOMÁS DE AQUINO
28 DE JANEIRO
MEMÓRIA

«Concedei-me, ó Deus de misericórdia, deseje eu ardentemente tudo o que vos agrada»


“Concedei-me, ó Deus de misericórdia, deseje eu ardentemente tudo o que vos agrada, prudentemente o investigue, verdadeiramente o conheça e perfeitamente o pratique para honra e glória de vosso Nome.

Indicai-me, ó meu Deus, meu lugar no mundo, e fazei com que eu saiba o que quereis que eu faça e o cumpra como convém e é útil à minha alma. Senhor, meu Deus, concedei-me a graça de jamais ser vencido pelos acontecimentos, quer prósperos, quer adversos, de modo que aqueles não me ensoberbeçam e estes não me deprimam. Jamais me alegre senão com o que de Vós me aproxima e jamais me entristeça senão com o que de Vós me afasta. E a nenhum outro, senão só a Vós, ambicione agradar ou tema desagradar. Despreze eu, ó Senhor, todas as coisas caducas, e ame todas as eternas.

Deteste todo prazer do qual estais ausente, e nada deseje do que está fora de Vós. Conforte-me, ó Senhor, o trabalho empreendido por vosso amor, e aborreça eu todo repouso que vos desagrade”.


Santo Tomás de Aquino
Preghiere, pp.35-37, Florença, 1963

STO TOMÁS DE AQUINO – Ó meu Deus, eu vos bendigo pelos inumeráveis benefícios que me concedestes



S. TOMÁS DE AQUINO
28 DE JANEIRO
MEMÓRIA

«Ó meu Deus, eu vos louvo, glorifico, bendigo pelos inumeráveis benefícios que me concedestes»


“Ó meu Deus, eu vos louvo, glorifico, bendigo pelos inumeráveis benefícios que me concedestes sem nenhum merecimento meu; na incerteza me ajudastes, no desespero me confortastes.

Louvo vossa clemência que tanto tempo me esperou, vossa doçura que foi vossa vingança; vossa benignidade que me acolheu, vossa misericórdia que perdoou meus pecados, vossa bondade que se manifestou muito além dos meus méritos, vossa paciência que esqueceu minhas injúrias, vossa humildade, ó Jesus, que me consolou, vossa longanimidade que me protegeu; bendigo vossa eternidade que me deverá conservar; vossa verdade que me dará a recompensa.

Que direi, pois, de vossa inefável generosidade? Chamais quem foge, acolheis quem volta, ajudais os inseguros, armais quem combate, coroais quem triunfa; não desprezais o pecador penitente e não vos recordais das injúrias recebidas.

Por todos estes benefícios, sou incapaz de dar-vos o devido louvor. Dou graças à vossa divina Majestade pela abundância de vossa imensa bondade, porque em mim multiplicais, conservais, recompensais sempre a graça”.


Santo Tomás de Aquino
Preghiere, pp.31-32, Florença, 1963

FESTA DE TOMÁS DE AQUINO – Fazei, ó Senhor, que a Vós se eleve meu espírito!



S. TOMÁS DE AQUINO
28 DE JANEIRO
MEMÓRIA

«Fazei, ó Senhor, que a Vós se eleve meu espírito e dai-me um coração nobre!»


“Fazei, ó Senhor, que a Vós se eleve meu espírito!

Dai-me, ó Senhor, um coração tão vigilante que nenhum vão pensamento possa distraí-lo de Vós, um coração nobre que nenhuma paixão indigna possa seduzir, um coração reto que nenhuma intenção má possa contaminar, um coração forte que nenhuma tribulação esmoreça, um coração livre que não se deixe dominar por nenhuma paixão má.

Concedei-me, ó Senhor meu Deus, inteligência que vos conheça, amor que vos busque, sabedoria que vos encontre, procedimento que vos agrade, perseverança que vos espere confiante, esperança, finalmente, que vos abrace”.


Santo Tomás de Aquino
Preghiere, pp.37-38, Florença, 1963

sábado, 23 de janeiro de 2010

S.AELRED DE RIEVAULX – 900º Aniversário de seu nascimento



SANTO AELRED DE RIEVAULX
12 DE JANEIRO
SOLENIDADE CALENDÁRIO LITÚRGICO CISTERCIENSE


Neste ano de 2010 nós honramos o 900º aniversário de nascimento de Santo Aelred de Rievaulx

Quando Aelred estava na corte do Rei David da Escócia, era admirado por seu talento. Ele era querido sempre mais por sua amigável e gentil personalidade. Uma vez, na presença do rei, um outro cortesão lhe insultou, acusando-o de muitos delitos. Aelred ouviu pacientemente. Então, quando seu acusador tinha terminado, ele calmamente agradeceu-lhe por sua caridade em lhe contar as suas faltas. O acusador ficou tão surpreendido pela humildade de Aelred que pediu a ele que o perdoasse por suas injustificadas acusações.

Por aquele tempo Aelred estava ponderando sobre uma vocação para a vida monástica. Ele hesitava em entrar para um mosteiro porque isso significaria desistir do companheirismo de seus muitos amigos. Gradualmente, entretanto, ele veio a enxergar, em sua grande hesitação, um covarde apego aos seres humanos em vez de a Deus.

Aelred tomou para si os rigores cistercienses como um peixe a água. A estrita regra estava ali para moldá-lo, e ele em retorno ajudaria a moldar o espírito cisterciense.

Os muitos dons de Aelred, naturais e sobrenaturais, atraíram a atenção de seus irmãos. Eles o escolheram para Abade, primeiro em Revesby e depois em Rievaulx. Ele aceitou a ambas eleições com relutância. Ele sabia que isso envolveria o desistir de muito do seu amado silêncio. Mas claro que ele se mostrou ideal para o papel, aceitando seus deveres como um conjunto de cruzes necessário.

Como superior, ninguém foi mais rigoroso que Aelred, e no entanto ele governou com uma vencedora gentileza.

Os monges de Aelred, quando de sua morte, ficaram profundamente tristes por perdê-lo. Em seu escrito ‘Spiritual Friendship’ (Amizade Espiritual), Aelred escreveu uma passagem que poderia ser usada para descrever a ele próprio: “Eu diria que o Irmão Simon era uma amizade de criança. Toda a sua ocupação era amar e ser amado.”

Depois do Vaticano II, muitas comunidades, especialmente as de lingua inglesa no mundo, comprometeram-se com programas de "construção de comunidades", resolução de conflitos e habilidades de comunicação, e assim por diante. Em muitas comunidades existe uma preocupação por cultivar a maturidade afetiva e pela qualidade das relações entre os membros. O tema da schola caritatis adotado para o Capítulo Geral de 1996 indica a preocupação generalizada na Ordem para fazer nossas casas afetivamente viáveis. De acordo com Michael Casey,o maior obstáculo para isso é o individualismo.

Muitas Ordens tem o mesmo problema. Um Franciscano Geral disse que a principal razão dada para secularização em sua Ordem era a ‘solidão’.

Contudo, a experiência do deserto ou da noite escura da alma é parte e parcela da vida cristã. Verdadeira comunhão, koinonía, como eles tinham na Igreja primitiva, fornecem a chave para a verdadeira vida em família. Nesse espírito, a ‘escola do amor’ de nossos Pais e Mães Cistercienses, fornece a melhor forma de vencer a solidão.

O salmista diz que o justo cai sete vezes ao dia. Ele também diz que um irmão ajudado pelo irmão é como uma cidade forte. E de qualquer maneira, é pouco provável que nós sempre estaremos todos mal de uma vez e ao mesmo tempo.

Possa Santo Aelred, Patrono deste Mosteiro, nos conceder a graça de uma verdadeira vida em família, para assim atrair mais 'cortesãos' à amizade com Jesus, aqui nos Montes Lammermuir. Amen.


Fr. Nivard McGlynn,OCSO
Chapter Sermon
Dom Donald's Blog

S.AELRED DE RIEVAULX – Receber ao Senhor no coração: preparar o castelo interior



SANTO AELRED DE RIEVAULX
12 DE JANEIRO
SOLENIDADE CALENDÁRIO LITÚRGICO CISTERCIENSE

RECEBER AO SENHOR NO CORAÇÃO

Nosso receber ao Senhor

Quem de vós, se Nosso Senhor estivesse na terra e quisesse chegar até Ele, não se alegraria de um modo admirável e inefável? Que diremos, portanto, irmãos, se agora, porque Ele não está corporalmente na terra, porque não podemos recebê-lo corporalmente, por isto deixaríamos de esperar a Sua vinda? Preparemos devidamente nossas casas e, sem dúvida, nesse trabalho, Ele virá muito melhor que se tivesse vindo corporalmente.


Receber ao Senhor no coração


Preparar o castelo interior: a fundação e a humildade

Por conseguinte, irmãos, preparemos a casa espiritual para que venha a nós o Nosso Senhor. Digo sem rodeios: se a Virgem Maria não tivesse preparado em si este castelo, o Senhor Jesus não haveria entrado em seu seio nem em seu coração.

Preparemos, pois, este castelo. Nele se fazem três coisas para que seja forte, isto é: fundação, muro e torre. Primeiro, a fundação; depois, o muro sobre a fundação e, por último, a torre que é mais forte e excelente que tudo o mais. O muro e a fundação se protegem mutuamente porque, se não precede a fundação, podem os homens, por algum meio engenhoso, aproximarem-se do muro para escavá-lo. E se o muro não estivesse sobre a fundação, poderiam aproximarem-se igualmente a esta e enchê-la. A torre guarda todas as coisas porque é mais alta que todas.

Entremos, agora, em nossa alma e vejamos como deve realizar-se espiritualmente tudo isto em nós.

Encher a fundação

Que é a fundação senão a terra profunda? Então, cavemos em nosso coração onde haja terra vil. Tiremos a terra que está dentro e a joguemos fora. Assim, efetivamente, se faz a fundação.

A terra que devemos tirar e jogar fora é nossa terrena fragilidade. Que esta não permaneça oculta no interior, mas que esteja sempre presente ante nossos olhos para que exista a fundação em nosso coração, quer dizer, a terra profunda da humildade.

Logo, irmãos, esta fundação é a humildade. Recordemos do que disse aquele dono da vinha no Evangelho a respeito daquela árvore que o Senhor da vinha quis cortar porque não encontrou fruto nela: Senhor, deixa-a também este ano até que cave ao redor e a melhore. Quis fazer ali uma fundação, isto é, ensinar-lhe a humildade. Assim, pois, irmãos, comecemos a edificar esta casa porque, se tal fundação não estivesse primeiramente em nosso coração, quer dizer, a verdadeira humildade, poderíamos edificar só ruína sobre a própria cabeça.


S. Aelred de Rievaulx, Abade Cisterciense
Del Sermón 17, En la Asunción de María
Del libro “Caminar con Cristo”
Padres Cistercienses

S.AELRED DE RIEVAULX – Praticar a caridade fraterna segundo o exemplo de Cristo



SANTO AELRED DE RIEVAULX
12 DE JANEIRO
SOLENIDADE CALENDÁRIO LITÚRGICO CISTERCIENSE

Devemos praticar a caridade fraterna segundo o exemplo de Cristo

“Nada nos anima tanto ao amor dos inimigos, no que consiste a perfeição da caridade fraterna, como a grata consideração daquela admirável paciência com a qual Aquele que era «o mais belo dos homens» entregou seu atraente rosto às afrontas dos ímpios, e submeteu aqueles olhos, cujo pestanejar rege todas as coisas, a ser velados pelos iníquos; aquela paciência com a qual apresentou suas costas à flagelação e sua cabeça, temível aos principados e potestades, à aspereza dos espinhos; aquela paciência com a qual se submeteu aos opróbrios e maus tratos; com a qual, enfim, admitiu pacientemente a cruz, os cravos, a lança, o fel, o vinagre, sem deixar de manter-se em todo momento suave, manso e tranquilo. Em resumo, como cordeiro foi levado ao matadouro, como uma ovelha ante o tosquiador, emudecia e não abria a boca.

Haverá alguém que ao escutar aquela frase admirável, plena de doçura, de caridade, de imutável serenidade: «Pai, perdoa-lhes», não se apresse a abraçar com toda sua alma a seus inimigos? «Pai», disse, «perdoa-lhes». Haveria algo mais de mansidão ou de caridade que pudesse acrescentar a esta petição?

Entretanto, Ele o acrescentou. Era pouco interceder; quis também desculpá-los. «Pai», disse, «perdoa-os porque não sabem o que fazem». São desde sempre grandes pecadores, mas muito pouco perspicazes; portanto, Pai, perdoa-os. Crucificam; mas não sabem a quem crucificam, porque «se tivessem sabido, nunca teriam crucificado ao Senhor da glória»; por isso, «Pai, perdoa-os». Pensam que se trata de um prevaricador da lei, de alguém que se crê presunçosamente Deus, de um sedutor do povo. Mas Eu lhes havia escondido meu rosto e não puderam conhecer minha majestade; por isso, «Pai, perdoa-os, porque não sabem o que fazem».

Em consequência, para que o homem se ame retamente a si mesmo, procure não deixar-se corromper por nenhum atrativo mundano. Mas para não sucumbir ante semelhantes inclinações, trate de orientar todos os seus afetos até a suavidade da natureza humana do Senhor. Logo, para sentir-se sereno mais perfeita e suavemente com os atrativos da caridade fraterna, trate de abraçar também a seus inimigos com um verdadeiro amor.

Mas para que este Fogo divino não se debilite ante as injurias, considere sempre com os olhos da mente a serena paciência de seu amado Senhor e Salvador”.


S. Aelred de Rievaulx, Abade Cisterciense
De speculo caritatis, III, V: PL 195, 582

S.AELRED DE RIEVAULX – Deus permitiu ao homem ser feliz



SANTO AELRED DE RIEVAULX
12 DE JANEIRO
SOLENIDADE CALENDÁRIO LITÚRGICO CISTERCIENSE

«Deus permitiu ao homem ser feliz: o homem é capaz de ser feliz»

"Na criação do universo Deus permitiu ao homem não somente existir, como aos outros seres, nem de ser somente bom, nem somente belo e equilibrado, mas também ser feliz. Mas, como nenhuma criatura existe por si mesma, nem por si mesma é bela ou boa, mas recebe o que tem do próprio Deus, que é o sumo ser, o sumo bem, a suma beleza, a bondade de todas as coisas boas, a beleza de todas as coisas belas, a causa de todas as coisas existentes, assim nem a felicidade de todas as realidades felizes é feliz por si mesma, mas por obra daquele que é a suma felicidade. Somente a criatura racional é capaz de tal felicidade. Essa, de fato, foi criada à imagem do seu Criador e, portanto, é adequada a unir-se profundamente a Ele, do qual é à imagem: dado que Ele é o único bem da criatura racional, como afirma o santo Davi: o meu bem é estar junto de Deus. Certamente esta não é uma união do corpo, mas da alma, na qual o autor da natureza inseriu três faculdades com as quais o homem torna-se possuidor da eternidade divina, participante da sabedoria divina e saboreador da doçura divina. Chamo a estas três faculdades de memória, ciência, amor ou vontade. A memória é capaz de conduzir à eternidade, a ciência à sabedoria, a vontade à doçura. O homem foi criado com estas três faculdades à imagem da Trindade: graças à memória lembra-se de Deus sem poder esquecê-lo, com a ciência o conhece sem errar, através da vontade o abraça sem desejar nenhuma outro coisa. Alcançado este ponto é feliz".


S. Aelred de Rievaulx, Abade Cisterciense
De speculo caritatis, I, III, a cura di M. A. Chirico, pp.309-311
Scuola Cistercense, Pensieri D’amore, Casale Monferrato 2000

S.AELRED DE RIEVAULX – VÍDEO – Elogio da amizade


SANTO AELRED DE RIEVAULX
12 DE JANEIRO
SOLENIDADE CALENDÁRIO LITÚRGICO CISTERCIENSE





S. Aelred de Rievaulx, Abade Cisterciense
Del Tratado de San Elredo sobre la amistad espiritual
Col.Padres Cistercienses n.9, Azul-Argentina, 1982, pp.288-290
Monasterio Sta.María de Las Escalonias


BATISMO DO SENHOR - A vocação do cristão é a santidade que é escutar a Jesus



FESTA DO BATISMO DO SENHOR
10 DE JANEIRO

«A vocação do cristão é a santidade»

A santidade: «escutar» a Jesus; explica o Papa

"No Batismo de Cristo canta a liturgia hodierna o mundo é santificado e os pecados são perdoados; na água e no Espírito tornamo-nos novas criaturas" (Antífona ao Benedictus, Ofício das Laudes).

Na Festa do Batismo do Senhor, festa litúrgica, que fecha o período de Natal e inicia o “tempo ordinário”, na oração do Angelus, o Papa Bento XVI lembrou que é deste sacramento de onde brota o chamado e o compromisso de todo cristão com a santidade.

A vocação do cristão é a santidade, que consiste em «escutar» a Jesus. O compromisso que brota do Batismo consiste em "ouvir" Jesus: ou seja, em acreditar nele e em segui-lo docilmente, fazendo sua vontade, a vontade de Deus. Deste modo, cada um de nós pode tender à santidade, uma meta que, como lembra o Concílio Vaticano II, constitui a vocação de todos os batizados.

Em sua alocução, o Santo Padre constatou que para os quatro evangelistas a passagem do Batismo de Jesus no Jordão pelas mãos de João Batista é sumamente importante, pois constitui a primeira apresentação clara da Trindade —das Pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo—, assim como o início do ministério público de Cristo pelos caminhos da Palestina. “Trata-se da manifestação do mistério trinitário de forma clara e completa mas ao mesmo tempo se trata de um acontecimento que marca o início do ministério público de Jesus na Palestina”.

Mais adiante, explicou que “existe uma estreita correlação entre o Batismo de Cristo e nosso Batismo”. No Jordão, abriram-se os céus para indicar que o Salvador nos abriu o caminho da salvação e que podemos percorrê-lo precisamente graças ao novo nascimento “na água e no Espírito” (Jo 3,5), que se realiza no Batismo.

Nele, nós somos introduzidos no Corpo místico de Cristo, que é a Igreja, morremos e ressuscitamos com Ele, nos revestimos Dele», concluiu.

“Que María, a Mãe do Filho de Deus, nos ajude a ser sempre fiéis ao nosso Batismo”, concluiu o Bispo de Roma seu discurso prévio à oração Mariana.


Papa Bento XVI
Angelus, 07/01/2007
Acidigital/Zenit

FESTA DO BATISMO DO SENHOR - Jesus santificou o batismo quando Ele foi batizado para que por seu batismo conseguíssemos a graça



FESTA DO BATISMO DO SENHOR
10 DE JANEIRO

«Jesus santificou o batismo quando Ele foi batizado para que por seu batismo conseguíssemos a graça»

“Jesus santificou o batismo quando Ele foi batizado. Se o Filho de Deus se fez batizar, quem poderá depreciar o batismo sem faltar à piedade? Pois Jesus não foi batizado para receber o perdão dos pecados (pois estava livre do pecado), mas, apesar disso, foi batizado para outorgar a graça e a dignidade Divina a quem se batiza. Pois «assim como os filhos participam do sangue e da carne, participou Ele também dos mesmos» (Hb 2, 14), a fim de que, feitos partícipes de sua presença corporal, também tivéssemos parte em sua graça: para isso Jesus se fez batizar, para que por seu batismo conseguíssemos a graça, pela comunhão na mesma realidade, junto com a honra da salvação.

Também tu descerás à água do batismo. Desces à água levando os pecados mas a alma fica selada pela invocação da graça. Também tu, descendo à água, és ressuscitado caminhando em vida nova.

Jesus Cristo era Filho de Deus. E no entanto, não evangelizava antes de receber o batismo. Se Ele próprio, o Senhor, administrava os momentos com uma certa ordem, acaso devemos nós, que somos servos, atrever-nos a algo fora dessa ordem? Jesus começou sua pregação quando «desceu sobre Ele o Espírito Santo em forma corporal, como uma pomba» (Lc 3, 22). Não quer dizer que Jesus fosse o primeiro a vê-lo (pois o conhecia antes que aparecesse na forma corporal). O importante, então, era que o visse João. Pois este diz: «Eu não o conhecia, mas aquele que me enviou a batizar com água disse-me: Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer sobre ele, esse é quem batiza com o Espírito Santo.» (Jo 1, 33). E também sobre ti, se tens uma piedade sincera, descerá o Espírito Santo e a voz do Pai descerá desde o alto sobre ti; não, «Este é meu Filho» (Mt 3, 17), mas «Este foi feito agora meu filho ». Só Dele, Jesus, se disse: «No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus» (Jo 1, 1). É adequado ‘o verbo é’ posto que o Filho de Deus existe sempre. Mas o adequado para ti é «foi feito agora», posto que, o ser filho não o és por natureza, senão que conseguiste por adoção o ser chamado filho. Ele sim, o é desde toda a eternidade, mas tu adquires essa graça como um dom.

Prepara, pois, o receptáculo de tua alma para que sejas feito filho de Deus e certamente herdeiro de Deus, co-herdeiro de Cristo (Rm 8, 17). Tu o conseguirás se te preparares, aproximando-te pela fé para conseguir uma firme convicção, deixando de lado o homem velho. Pois te será perdoado todo o mal que tenhas feito. Que maior pecado que o de ter crucificado a Cristo? Também isto o expia o batismo. Pois ao aproximarem-se aqueles três mil que haviam crucificado ao Senhor e lhes falava Pedro, quando perguntaram: «Que temos de fazer, irmãos?» (At 2, 37), nos advertiu, Pedro, de nossa ruína, dizendo: «Matastes ao Chefe que leva à vida» (At 3, 15). Que emplasto se colocará nesta ferida? Como se limpará tanta sujeira? Qual será a salvação para tanta perdição? Respondeu ele: «Convertei-vos e que cada um de vós se faça batizar em nome de Jesus Cristo para remissão de vossos pecados; y recebereis o dom do Espírito Santo» (At 2, 38).

Oh inenarrável clemência de Deus que agracia com o dom do Espírito Santo! Já veis que poder tem o batismo! Se algum de vós crucificou a Cristo com palavras blasfemas, ou se alguém por ignorância o negou ante os homens ou se, finalmente, alguém por suas más ações fez que se maltratasse a verdade, que este se converta e tenha esperança, pois a graça permanece ativa.

«Solta gritos de alegria, ó Israel! Alegra-te e rejubila-te de todo o teu coração, filha de Jerusalém! Confia: o Senhor suprimirá teus pecados» (Sf 3, 14-15). Derramará sobre vós água pura e sereis purificados de todo o vosso pecado (cf. Ez 36, 25). Chegarão até vós os coros angélicos e dirão: «Quem é esta que sobe do deserto apoiada em seu amado?» (Ct 8, 5). A alma que antes era escrava tem agora ao Senhor como seu amado. E Ele, ao recebê-la, exclamará: Que bela és, amada minha, que bela és!» (Ct 4, 1, 2). E também se diz: «Todos os partos serão de gêmeos» (Ct 4, 2), porque se trata de uma dupla graça: me refiro a que se consegue pela água e o Espírito, e se anuncia na antiga e na nova Aliança. Permita Deus que todos vós, «frutificando em toda obra boa» (Cl 1, 10) e mantendo-vos de pé ante o Esposo com coração irrepreensível, consigais o perdão dos pecados da parte de Deus, a Quem seja toda a glória com o Filho e o Espírito Santo por todos os séculos. Amém”.


São Cirilo de Jerusalém
CATEQUESIS III, 11-12-14-15-16
(Catequeses Batismais)

BATISMO DO SENHOR – Ó Jesus, vós, Santo, inocente, imaculado, vos aproximais pedindo o batismo



FESTA DO BATISMO DO SENHOR
10 DE JANEIRO

«Ó Jesus, vós, Santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, vos aproximais pedindo o batismo»


“Ó Jesus, vós, Santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, vos aproximais como culpado, pedindo o batismo da remissão dos pecados!

Que mistério é este?

João recusa energicamente administrar-vos o batismo de penitência e Vós lhe respondeis: ‘Não te oponhas, pois assim nos convém cumprir a justiça completa’.

Que justiça é esta?

São as humilhações de vossa adorável humanidade que, prestando homenagem à Santidade Infinita, constitui a satisfação plena de todas as nossas dívidas para com a Justiça Divina.

Vós, Justo e Inocente, vos substituís a toda a humanidade pecadora. Ó Jesus, humilhe-me eu convosco, reconhecendo minha qualidade de pecador, e renove a renúncia ao pecado, já feita no batismo”.


Beato D.Columba Marmion
Cristo Nei Suoi Misteri 9, pp.152-154

BATISMO DO SENHOR – Contemplemos no Batismo do Senhor a sua Condescendência Divina



FESTA DO BATISMO DO SENHOR
10 DE JANEIRO

«Podemos contemplar, pois, no episódio do batismo do Senhor, aquela condescendência divina que faz com que Deus assuma tudo o que é próprio da nossa frágil condição humana.»

A vida batismal

Com a Festa do Batismo de Jesus, concluímos o tempo do Natal. A reflexão sobre o Mistério da Encarnação continua. É uma ótima oportunidade para examinarmos a nossa própria vida batismal hoje, e a ação eclesial para o trabalho de iniciação cristã pedida pela Igreja para educar e evangelizar os novos cristãos.

O batismo de Jesus por João, no rio Jordão, é um evento que nos mostra com intensidade como o Salvador quis solidarizar-se com o gênero humano imerso no pecado. João chamava à penitência e administrava um batismo de conversão. No entanto, Jesus, o Cordeiro sem mancha, que veio tirar o pecado do mundo, submete-se ao batismo de João. É um momento de Epifania, quando a Trindade se manifesta e aparece claramente a missão do Filho, que deve ser escutado.

Podemos contemplar, pois, no episódio do batismo do Senhor, aquela condescendência divina que faz com que Deus assuma tudo o que é próprio da nossa frágil condição humana. Jesus não teve pecado, mas, num gesto de solidariedade para com toda a humanidade, assumiu o que decorre do nosso pecado, desde o batismo dos pecadores até a morte ignominiosa da cruz.

A condescendência divina, manifestada de forma tão pungente na vida, atitudes e palavras de Jesus, nos estimula a amar com todas as nossas forças a Deus que tanto nos ama, e nos tornar mais compassivos e condescendentes para com todos aqueles que, de uma ou de outra maneira, sofrem e precisam de nossa solidariedade. A contemplação da caridade divina deve encher nosso coração de caridade. São Paulo ensinou-nos, entre outras coisas, que a caridade é prestativa, não é orgulhosa, alegra-se com o bem, tudo crê, tudo espera, tudo desculpa.

Estes dias de tantas catástrofes em nossa região sudeste demonstram como é importante o compartilhar as dores e sofrimentos das pessoas.

O batismo que recebemos foi o batismo instituído por Jesus, o batismo da Nova Aliança. O batismo de João era apenas um sinal de conversão. O batismo que Jesus confiou à sua Igreja é um sinal eficaz, pois não só significa, mas realiza a libertação e a renovação de nosso ser, tornando-nos filhos de Deus à semelhança do único Filho. Os Padres da Igreja chegaram a dizer que Jesus desceu às águas justamente para santificá-las e transmitir-lhes aquele poder de purificação e renovação, que é exercido toda vez que a Igreja batiza em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Ao celebrarmos a Festa do batismo do Senhor Jesus, temos diante de nós uma ocasião propícia para renovar nossas promessas batismais. Viver intensamente os compromissos de nosso batismo é o grande convite que Deus faz a cada um de nós. A graça divina jamais falta àquele que, com sinceridade de coração, procura viver segundo o “homem novo”, nascido da água e do Espírito. Os inúmeros santos e santas canonizados pela Igreja são um eloquente testemunho de que a força do batismo pode fazer maravilhas na pessoa e na sociedade, que ajudaram a transformar segundo o desígnio de Deus.

Que a graça do batismo nos torne, na Igreja e através da Igreja, o Corpo místico do Senhor, verdadeiros discípulos-missionários de Jesus! O batismo liga-nos também à Igreja, à qual Cristo uniu-se de maneira irrevogável. Não podemos querer Cristo sem sua Igreja. O “Cristo total” é a Cabeça e o Corpo. Contemplando, assim, o mistério de Cristo que resplandece na face da Igreja e vivendo a graça do nosso batismo, anunciemos com humildade e caridade a fé que nos salva e enche de alegria a nossa vida!

E isso nós poderemos fazer e viver intensamente, começando a celebrar agora, logo após o tempo natalino, as festividades de São Sebastião, que com a réplica da imagem histórica trazida por Estácio de Sá percorrerá a nossa Arquidiocese preparando-nos a viver com fidelidade a nossa missão, à semelhança de nosso padroeiro que nos ensina a fortaleza na fé mesmo em meio a ambiente contrário e vicissitudes da vida, perseguições e torturas. Para o aprofundamento do tema “Fé e desafios do nosso tempo” e do lema “São Sebastião, invencível atleta da fé” teremos um tríduo em todas as Paróquias como sinal de nossa comunhão e unidade. Que a vida cristã desse seguidor de Cristo nos inspire a viver com entusiasmo em nossos mudados tempos a alegria do seguimento de Jesus, mesmo com as dificuldades hodiernas.


+ Dom Orani João Tempesta, O.Cist.
Arcebispo do Rio de Janeiro

13 de janeiro de 2010



BATISMO DO SENHOR – Que batismo é este, em que o Batizado é mais puro do que a fonte?



FESTA DO BATISMO DO SENHOR
10 DE JANEIRO

«Que batismo é este, o do Salvador, no qual as águas, em vez de purificar, são purificadas?»

As celebrações que se acumulam e as alegrias que se multiplicam nos fazem compreender o quanto devemos a Cristo Senhor. Ainda exultamos com o nascimento do Salvador e já nos alegramos com o seu renascimento. Ainda não terminou a festa do seu Natal e já devemos celebrar a solenidade do seu Batismo. Mal nasceu para os homens e já renasce pelos sacramentos.

Hoje, com efeito, – embora muitos anos tenham passado – Cristo foi consagrado no Jordão. O Senhor dispôs as coisas de tal modo que uma celebração se seguisse à outra, isto é, que num mesmo tempo fosse dado à luz pela Virgem e gerado pelo sacramento, de maneira que houvesse uma festa contínua para os seus dois nascimentos: na carne e no batismo. Como há pouco nos admirávamos ao vê-lo concebido por uma mãe imaculada, veneremo-lo também agora imerso na água pura, e alegremo-nos nesses dois acontecimentos. Pois uma mãe gerou um filho e permanece casta, porque a água lavou o Cristo e está santificada.

Tal como após o parto foi glorificada a virgindade de Maria, também depois do batismo foi comprovada a purificação da água, com a diferença de que à água foi concedido um maior dom que a Maria. Esta, com efeito, mereceu a castidade somente para si, enquanto a água confere a todos a santidade. Maria mereceu não pecar, e a água purificar dos pecados. Maria deu à luz um Filho e é pura, a água gera muitos e é virgem. Maria não teve outro Filho além de Cristo, a água se torna, com Cristo, mãe dos povos.

Portanto, hoje é como que um novo Natal do Salvador. Vemo-lo, de fato, gerado com os mesmos sinais e milagres, porém com maior mistério. Pois o Espírito Santo, que o assistiu no seio materno, agora o ilumina em meio ao rio; aquele que preservou Maria para ele, agora lhe santifica as águas. O Pai, que antes estendeu sua sombra poderosa, agora faz ouvir a sua voz. E Deus, que outrora envolveu em sombra o nascimento, dá agora, como por deliberação mais perfeita, testemunho da verdade dizendo: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; ouvi-o! (Mt 17, 5).

Hoje Cristo é batizado no Jordão. Que batismo é este, em que o batizado é mais puro do que a fonte? Onde a água que lava o corpo não se torna impura, mas enriquecida de bênçãos? Que batismo é este, o do Salvador, no qual as águas, em vez de purificar, são purificadas? Num novo gênero de santificação, a água não lava, mas é lavada. Desde o momento em que imergiu na água, o Salvador consagrou todas as fontes no mistério do batismo, para que todo aquele que desejar ser batizado em nome do Senhor seja lavado não pela água do mundo, mas purificado pela água de Cristo. Assim, o Salvador quis ser batizado não visando adquirir pureza para si, mas a fim de purificar as águas para nós.


São Máximo de Turim, Bispo
Sermo 13 A, 1-3
Corpus Christianorum Latinorum 23, 44-46

BATISMO DO SENHOR – Desçamos com Cristo à água para com Ele emergir à glória



FESTA DO BATISMO DO SENHOR
10 DE JANEIRO

«Cristo mergulha a si próprio na água; desçamos com Ele à água para emergir com Ele à glória»

“Hoje, Cristo é iluminado: entremos também nós no esplendor da Sua luz. Cristo mergulha a si próprio na água, desçamos com Ele à água para emergir com Ele, rebaixemo-nos ao mesmo tempo em que Ele, para subir com Ele à glória. João está a batizar e Jesus aproxima-se; talvez para santificar aquele que O vai batizar, mas certamente para sepultar nas águas todo o velho Adão. Mas, antes disso e com vista a isso, Ele que é Espírito e carne santifica o Jordão antes de nós e por nossa causa, para assim nos iniciar nos sagrados mistérios mediante o Espírito e a água (Jo 3, 4); e assim, o Senhor, que era Espírito e Carne, consagra-nos mediante o Espírito e a água.

João Baptista resiste, Jesus insiste. «Eu é que devo ser batizado por Ti», diz a lâmpada ao Sol (Jo 5, 35), a voz à Palavra, o amigo ao Esposo (Jo 3, 29), o maior entre os nascidos de mulher ao Primogênito de toda a criatura (Mt 11, 11; Cl 1, 15), que tinha saltado de júbilo no seio materno ao que tinha sido já adorado quando estava nele, que era e teria que ser precursor ao que se manifestou e se manifestará. Sou eu o que necessito que você me batize; e poderia ter acrescentado: «Por sua causa.» Pois sabia muito bem que teria que ser batizado com o martírio; ou que, como Pedro, não só lhe lavariam os pés.

Mas eis que Jesus emerge das águas, elevando consigo ao alto o mundo inteiro. João vê os céus rasgarem-se e abrirem-se (Mc 1,10), aqueles céus que Adão tinha fechado para si e para a sua posteridade, do mesmo modo que tinha feito encerrar e guardar com a espada de fogo a entrada no paraíso terreal (Gn 3, 24).

Então o Espírito dá testemunho revelando a divindade de Cristo, pois dirige-Se para Aquele que é seu semelhante, posto que tem a mesma natureza. Uma Voz desce do céu para dar testemunho Daquele que do céu vinha; do mesmo modo que o Espírito que, sob a aparência corporal de uma pomba, honra o Corpo de Cristo, que é também divino pela sua excepcional união com Deus; pois Deus, ao mostrar-Se sob uma aparência corpórea, diviniza igualmente o corpo; por deificação era também Deus. Assim também, muitos séculos antes, uma pomba veio anunciar a boa nova do fim do Dilúvio (Gn 8,11).

Quanto a nós, honremos hoje, por nossa parte, o Batismo de Cristo e celebremos esta Festa de um modo irrepreensível. Sede inteiramente purificados e purificai-vos sempre. Pois nada dá tanta alegria a Deus como o arrependimento, a recuperação e a salvação do homem: é para isso, para o seu benefício, que tendem todas estas palavras e todo este mistério. Para que sejam «como fontes de luz no mundo» (Fl 2,15), uma força vital para os outros homens. Como luzes perfeitas secundando a verdadeira Luz, iniciai-vos na vida de luz que está no céu; sede iluminados com mais claridade e brilho pela Santíssima Trindade, cujo único raio, brotado da mesma e única Divindade, recebestes inicialmente em Cristo Jesus, Nosso Senhor, a Quem lhe sejam dadas toda a glória e poder pelos séculos dos séculos. Amém”.


São Gregório Nazianzeno
Homilia 39; Sagradas Luminárias, 14-16. 20: Pp.36 , 350-351 . 358-359

sábado, 16 de janeiro de 2010

Oração - Somos mais verdadeiramente livres no livre encontro de nossos corações com Deus



«Oração é liberdade no livre encontro de nossos corações com Deus»

“A oração é a mais verdadeira garantia da liberdade pessoal. Somos mais verdadeiramente livres no livre encontro de nossos corações com Deus em Sua palavra e ao recebermos o Seu Espírito, que é o Espírito de verdade e liberdade. A Verdade que nos liberta não é uma mera questão de informação sobre Deus, mas a presença em nós, por amor e graça, de uma pessoa divina que nos leva a participar da vida pessoal íntima de Deus como Seus Filhos (e Filhas) adotivos.

Esta é a base de toda oração, e toda oração deve estar voltada para este mistério da adoção na qual o Espírito em nós reconhece o Pai. O clamor do Espírito em nós, o clamor do reconhecimento de que somos Filhos (e Filhas) no Filho, é o cerne da nossa oração e o maior motivo de oração. Portanto, recolhimento não é exclusão de coisas materiais, e sim atenção ao Espírito no mais íntimo do nosso coração.

A vida contemplativa não deve ser encarada como uma prerrogativa exclusiva dos que residem entre paredes monásticas. Todos podem procurar e encontrar essa consciência e despertar íntimos que são dons de amor e um toque vivificante de poder criador e redentor, do poder que ergueu Cristo de entre os mortos e que nos limpa das obras de morte para servirmos ao Deus vivo.

Hoje com certeza é preciso enfatizar que a oração é uma real fonte de liberdade pessoal em meio a um mundo no qual somos dominados por organizações imponentes e instituições rígidas que só procuram nos explorar para obter dinheiro e poder. Longe de ser a causa da alienação, a verdadeira religião em espírito é uma força libertadora que nos ajuda a encontrar-nos em Deus”.


Thomas Merton, OCSO
The Hidden Ground of Love, Letters, p.159
Ferrar, Straus; Giroux Publishers; New York; 1985

Oração - Os caminhos da oração, purificar cada vez mais o seu amor a Deus



«Os caminhos da oração, purificar cada vez mais o seu amor a Deus»

“Não fique ansioso em relação ao seu progresso nos caminhos da oração, pois você saiu das trilhas batidas e está percorrendo sendas que não podem ser mapeadas nem medidas. Portanto, deixe Deus cuidar do seu grau de santidade e contemplação. Se você mesmo tentar medir o seu próprio progresso, perderá tempo em uma introspecção fútil. Procure apenas uma coisa: purificar cada vez mais o seu amor a Deus, entregar-se cada vez mais perfeitamente à Sua vontade e amá-Lo de maneira cada vez mais exclusiva e completa, mas também de forma mais simples e pacífica e com uma confiança mais total e sem meios termos”.


Thomas Merton, OCSO
What is Contemplation?, pp.64-65
Springfield, Illinois; Templegate Publishers; 1950

Oração - Minha oração é a oração da Igreja



«Quando rezo, a Igreja reza em mim. Minha oração é a oração da Igreja»

“A verdadeira dificuldade em definir a consciência cristã é que esta não é nem coletiva nem individual. É pessoal, e é uma comunhão de santos.

Do ponto de vista da oração, quando digo consciência estou falando da que é mais profunda do que a consciência moral. Quando rezo, não estou mais falando com Deus nem comigo amado por Deus. Quando rezo, a Igreja reza em mim. Minha oração é a oração da Igreja.

Isto não se aplica apenas à liturgia: aplica-se também à oração particular, porque sou membro de Cristo. Para rezar de forma válida e profunda, tem de ser com a consciência de mim como sendo mais do que apenas eu mesmo quando rezo. Em outras palavras, não sou só um indivíduo quando rezo, e não sou apenas um indivíduo com graça quando rezo. Quando rezo, sou, em certo sentido, todo mundo. A mente que reza em mim é mais do que minha própria mente; e os pensamentos que me vêm são mais do que os meus próprios pensamentos porque, quando rezo, esta consciência profunda é um lugar de encontro entre eu e Deus, e do amor comum de todos. É a vontade e o amor comuns da Igreja encontrando-se com a minha vontade e a vontade de Deus na minha consciência quando rezo.”


Thomas Merton, OCSO
Thomas Merton in Alaska, pp. 134-135
New Directions Press; New York; 1988

EPIFANIA DO SENHOR - Recebe Aquele que é a Luz: Deus de Deus, Luz da Luz!



SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR
03 DE JANEIRO

«Recebe Aquele que é a Luz: Deus de Deus, Luz da Luz»

«Surge, illuminare Ierusalem, quia venit lumen tuum» (Is 60, 1)

Jerusalém, recebe a Luz! Recebe Aquele que é a Luz: «Deus de Deus, Luz da Luz... gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas. E por nós, homens, e para a nossa salvação, desceu dos céus: e Se encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e Se fez homem» (Profissão de fé). Jerusalém, recebe esta Luz! Esta «luz resplandece nas trevas» (Jo 1, 5) e os homens já a vêem de longe. Eis que partiram para uma viagem. Seguindo a estrela, dirigem-se para esta Luz, que se manifestou em Cristo. Caminham, procuram a estrada, perguntam. Chegam à corte de Herodes e perguntam onde nasceu o rei dos Judeus: «Vimos a Sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo» (Mt 2, 2).

Jerusalém, protege a tua Luz! Aquele que nasceu em Belém encontra-se em perigo. Herodes, ao ouvir que nasceu um rei, pensa imediatamente em eliminar Aquele a quem considera um concorrente ao trono. Mas Jesus é salvo desta ameaça e foge com a sua família para o Egito, distante da mão homicida do rei. Mais tarde, regressará a Nazaré e aos trinta anos começará a ensinar. Então, todos saberão que a Luz veio ao mundo, mas também hão de ver que «os Seus não O receberam» (Jo 1, 11).

Jerusalém, partilha a tua Luz! Partilha com todos os homens esta Luz que resplandece nas trevas. Faz o convite a todos; sê para a humanidade inteira a estrela que indica o caminho rumo ao novo milênio cristão, como outrora guiou os três Reis Magos do Oriente até à gruta de Belém. Convida todos, para que «as nações» caminhem «à tua luz, os reis ao resplendor da tua aurora» (Is 60, 3). Partilha a Luz! Compartilha esta Luz que resplandeceu em ti com todos os homens e com todas as nações da terra.

Jerusalém, eis o dia da tua epifania! Os Magos do Oriente, que foram os primeiros a reconhecer a tua Luz, oferecem-Te, ó Redentor do mundo, os seus dons. Apresentam-nos a Ti, que és Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai. A Ti, por meio de quem todas as coisas foram feitas; a Ti, que Te encarnaste pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e te fizeste homem.

Os olhos dos Reis Magos viram precisamente a Ti. Ainda hoje os nossos olhos Te vêem, ao contemplarem o misterium da sagrada Epifania.

«Surge, illuminare Ierusalem, quia venit lumen tuum» (Is 60, 1). Amém!


Papa João Paulo II
Homilia na Epifania do Senhor
06 de Janeiro de 1998

EPIFANIA DO SENHOR - Para Vós, Senhor, a manifestação do vosso Filho é a manifestação clara do quanto e como nos amastes



SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR
03 DE JANEIRO

«Para Vós, Senhor, falar por meio do vosso Filho não foi outra coisa senão trazer à luz do sol, isto é, manifestar claramente o quanto e como nos amastes»

“Somente Vós sois realmente o Senhor, Vós para quem dominar sobre nós é salvar-nos; enquanto, para nós, servir-vos nada mais é do que ser salvos por vós.

Senhor, de Vós procede a bênção e a salvação para vosso povo. Mas que salvação é esta senão a graça que nos concedeis de vos amar e de ser amados por vós?

Por isso, Senhor, quisestes que o Filho que está à vossa direita, o homem que fortalecestes para Vós, fosse chamado Jesus, isto é, Salvador; pois ele vai salvar o povo de seus pecados (Mt 1,21) e em nenhum outro há salvação (At 4,12). Ele nos ensinou a amá-Lo, ao nos amar primeiro e até à morte de cruz. Por seu amor e sua dileção, suscita nosso amor por Ele, que nos amou primeiro até o fim. Foi assim mesmo: Vós nos amastes primeiro para que vos amássemos. Não tínheis necessidade de ser amado por nós, mas não poderíamos atingir o fim para o qual fomos criados se não vos amássemos. Eis por que, tendo falado outrora a nossos pais muitas vezes e de muitos modos por intermédio dos profetas, nestes últimos tempos nos falastes pelo vosso filho, pelo vosso Verbo; por Ele é que os céus foram criados, e pelo sopro de seus lábios, todo o universo (Sl 32,6).

Para Vós, falar por meio do vosso Filho não foi outra coisa senão trazer à luz do sol, isto é, manifestar claramente o quanto e como nos amastes, Vós que não poupastes vosso próprio Filho, mas o entregastes por todos nós. E Ele também nos amou e se entregou por nós.

É essa, Senhor, a Palavra que nos dirigistes, o Verbo todo-poderoso. Quando todas as coisas estavam envolvidas no silêncio (Sb 18,14), ou seja, nas profundezas do erro, ele desceu do seu trono real (Sb 18,15) para combater energicamente todos os erros e fazer triunfar suavemente o amor.

E tudo o que Ele fez, tudo o que disse na terra, até aos opróbrios, até aos escarros e às bofetadas, até à cruz e à sepultura, não foi senão a Palavra que nos dirigistes em vosso Filho, suscitando pelo vosso amor o nosso amor por Vós.

Bem sabíeis, ó Deus, Criador dos homens, que este amor não pode ser imposto, mas que é necessário estimulá-lo no coração humano. Porque onde há coação não há liberdade, e onde não há liberdade também não há justiça. Quisestes assim que vos amássemos, pois não poderíamos ser salvos com justiça sem vos amar; e não poderíamos amar-vos sem
receber de Vós esse amor.

Por isso, Senhor, como diz o Apóstolo do vosso amor e nós também já dissemos, Vós nos amastes primeiro; e amais primeiro todos os que vos amam. Nós, porém, vos amamos com afeto do amor que pusestes em nós. Mas vosso amor, vossa bondade, ó sumamente Bom e Sumo Bem, é o Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho. Desde o princípio da criação Ele pairava sobre as águas, isto é, sobre os espíritos indecisos dos filhos dos homens; Ele se oferece a todos, atrai tudo a si, inspirando, encorajando, afastando as coisas nocivas, providenciando as úteis, unindo Deus a nós e unindo-nos a Deus”.


Guilherme de Saint-Thierry
Abade do Mosteiro de Saint-Thierry
De contemplando Deo, 9-11: SCh 61, 90-96

EPIFANIA DO SENHOR - O irradiar-se da luz de Cristo, refletida no rosto do seu Corpo místico



SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR
03 DE JANEIRO

«O irradiar-se da luz de Cristo, refletida no rosto do seu Corpo místico»

Hoje a Igreja celebra a solenidade da Epifania, «manifestação» de Cristo a todos os povos, representados pelos Magos vindos do Oriente.

Esta festividade ajuda-nos a penetrar o profundo sentido da missão universal da Igreja, que se pode compreender como um movimento de irradiação: o irradiar-se da luz de Cristo, refletida no rosto do seu Corpo místico. E dado que esta luz é luz de amor, verdade e beleza, não se impõe com a força, mas ilumina as mentes e atrai os corações.

Ao irradiar esta luz, a Igreja obedece ao mandato de Cristo ressuscitado: «Ide (...) ensinai todas as nações» (Mt. 28, 19). Trata-se de um movimento que, a partir do centro, da Eucaristia, se propaga em todas as direções, através do testemunho e do anúncio do Evangelho. Este «ir» é animado por um impulso interior de caridade, sem o qual não produziria qualquer fruto.

A experiência dos Magos é muito eloquente a este propósito: eles movem-se guiados pela luz de uma estrela, que os atrai a Cristo. A Igreja deve ser como aquela estrela, isto é, capaz de refletir a luz de Cristo, a fim de que os homens e os povos em busca de verdade e justiça se ponham em caminho rumo a Jesus, único Salvador do mundo.

Esta tarefa missionária é confiada a todo o Povo de Deus, mas incumbe de modo especial a quantos são chamados ao ministério apostólico, isto é, aos Bispos e Sacerdotes. Rezemos juntos por todos os Bispos do mundo, para que o seu serviço ao Evangelho seja cada vez mais generoso e fiel. Confiamos estes votos à Virgem Maria.


Papa João Paulo II
Angelus, 06 de Janeiro de 1997

EPIFANIA DO SENHOR - Bendita Luz que vem em nome do Senhor e nos ilumina



SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR
03 DE JANEIRO

«Bendita Luz que vem em nome do Senhor e nos ilumina»

«Levanta-te, resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua Luz. Bendita Luz que vem em nome do Senhor, é o Senhor Deus e nos ilumina. E por sua bondade, também iluminou para nós este dia santificado pela iluminação da Igreja.

Graças a ti, Luz verdadeira, que iluminas a todo homem que vem a este mundo, e veio para isso como homem a este mundo. Foi iluminada Jerusalém, nossa mãe, mãe de todos os que mereceram ser iluminados, de modo que já resplandeça para todos os que estão no mundo. Graças a ti, Luz verdadeira, que te converteste em uma lâmpada para iluminar a Jerusalém e para que a Palavra de Deus fosse uma lâmpada para meus passos. Graças a ti, digo, porque a mesma Jerusalém plena de luz, se converteu em uma lâmpada que ilumina a todos. Pois não só foi iluminada, mas posta sobre o candelabro, todo de ouro. Ei-la aqui posta como cidade sobre o cume dos montes, ela que em outro tempo estava abandonada e odiada! Ei-la aqui, feito o orgulho de todos os séculos, para que seu evangelho brilhe ao largo e na largura até onde cheguem os confins do mundo!»


Beato Guerric d’Igny
Camino de Luz - Sermones Litúrgicos I,Sermón III, En la Epifanía
Monte Carmelo, Burgos 2004, p. 119-120

EPIFANIA DO SENHOR – A Luz estava no mundo e o mundo foi feito por ela, mas o mundo não a conheceu



SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR
03 DE JANEIRO

«A Luz estava no mundo e o mundo foi feito por ela, mas o mundo não a conheceu»

“Bendita Luz! Chegou realmente a tua luz! Ela estava no mundo e o mundo foi feito por ela, mas o mundo não a conheceu.

O Menino nascera, mas não foi conhecido enquanto o dia da luz não começou a revelá-lo. Erguei-vos, vós que estais sentados nas trevas! Dirigi-vos para esta luz; ela ergueu-se nas trevas, mas trevas não conseguiram abarcá-la. Aproximai-vos e sereis iluminados; na luz vereis a luz, e dir-se-á sobre vós: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor” (Ef 5, 8). Vede que a luz eterna se acomodou aos vossos olhos, para que Aquele que habita uma luz inacessível possa ser visto pelos vossos olhos fracos e doentes. Descobri a luz numa lâmpada de argila, o sol na nuvem, Deus num homem, no pequeno vaso de argila do vosso corpo o esplendor da glória e o brilho da luz eterna!

Nós de damos graças, Pai da luz, por nos teres chamado das trevas à tua luz admirável. Sim, a verdadeira luz, mais do que isso, a vida eterna, consiste em Te conhecer, a Ti, único Deus, e ao Teu enviado Jesus Cristo. É certo que Te conhecemos pela fé, e temos como seguro que um dia Te conheceremos na visão. Até lá, aumenta-nos a fé. Conduz-nos de fé em fé, de claridade em claridade, sob a moção do teu Espírito, para que penetremos cada dia mais nas profundezas da luz! Que a fé nos conduza à visão face a face e que, à semelhança da estrela, ela nos guie até ao nosso chefe nascido em Belém.

Que alegria, que exultação para a fé dos magos, quando virem reinar, na Jerusalém das alturas, Aquele que adoraram quando vagia em Belém! Viram-no aqui numa habitação de pobres; lá, vê-Lo-emos no palácio dos anjos. Aqui, nos paninhos; lá, no esplendor dos santos. Aqui, no seio de sua Mãe; lá, no trono de seu Pai”.


Beato Guerric d'Igny, Abade Cisterciense
Camino de Luz - Sermones Litúrgicos I, Sermón II, En la Epifanía
Monte Carmelo, Burgos 2004

EPIFANIA DO SENHOR - Quando Deus é adorado no menino, anuncia-se a verdadeira humanidade de Cristo e a integridade da Mãe de Deus



SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR
03 DE JANEIRO

«Quando Deus é adorado no menino, anuncia-se a verdadeira humanidade de Cristo e a integridade da Mãe de Deus»

Quando Deus é adorado no menino, presta-se honra ao parto virginal. Quando se apresentam dádivas ao homem-Deus, adora-se a dignidade do divino Filho. Ao encontrar Maria com o menino, anuncia-se a verdadeira humanidade de Cristo e a integridade da Mãe de Deus. Com efeito, assim fala o evangelista: Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra (Mt 2, 11).

Os presentes oferecidos pelos Magos revelam os mistérios secretos de Cristo. Dando-lhe ouro, proclamam-no Rei; oferecendo-lhe incenso, adoram-no como Deus; apresentando-lhe mirra, reconhecem-no mortal. Cremos, portanto, que Cristo assumiu a nossa mortalidade para sabermos que, com sua morte única, foi abolida a nossa morte dupla. O modo como Cristo se manifestou mortal, e pagou a dívida da morte, encontras escrito em Isaías: Como um cordeiro foi levado ao matadouro (Is 53, 7).

Quanto a nossa fé na realeza de Cristo, é pela autoridade divina que a recebemos. Pois ele disse de si mesmo em um salmo: Eu fui constituído Rei por ele (Sl 2, 6 – Vulg.), isto é, por Deus Pai. E que seja o Rei dos reis, afirma-o pela Sabedoria: É por mim que reinam os reis e os príncipes decretam leis justas (Pr 8, 15). E que Cristo seja realmente Deus e Senhor, atesta-o o mundo inteiro por ele criado. É ele quem diz no Evangelho: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra (Mt 28, 18). E o santo evangelista acrescenta: Tudo foi feito por intermédio dele, e sem ele nada foi feito de tudo o que existe (Jo 1, 3). Se sabemos que tudo foi feito por intermédio dele e nele subsiste, devemos crer, por conseguinte, que todas as coisas tenham reconhecido sua vinda.


Santo Odilon de Cluny, Abade
Sermo II de Epiphania Domini
Patrologia Latina 142, 997-998

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

SOLENIDADE DA SANTA MÃE DE DEUS – A humildade encanta a Deus



MARIA, SANTA MÃE DE DEUS
SOLENIDADE
01 DE JANEIRO


«A humildade encanta a Deus»


"Existe uma humildade tão grande e maravilhosa como a sua, em meio a tanta pureza e inocência, com uma consciência tão limpa de pecado e tão cheia de graça? De onde te vem, oh ditosa mulher, essa humildade tão incomparável? Bem merece que o Senhor se fixe nela, que o Rei fique prisioneiro de sua beleza, e que com seu delicado perfume atraia a seu tálamo ao que vive no Seio eterno do Pai! Observa quanta harmonia existe entre o canto de nossa Virgem e o canto nupcial; não podia ser de outra maneira: seu seio foi o tálamo do Esposo. Escuta a Maria no Evangelho: Se fixou em sua humilde escrava. E escuta-a no canto dos esposos: Enquanto o rei estava em seu leito, meu nardo desprendia seu perfume. O nardo é uma planta muito pequena e muito reconfortante, por isso simboliza admiravelmente a humildade, cujo aroma e formosura encantaram a Deus".


São Bernardo de Claraval
Obras completas de San Bernardo, p. 371
En la Asunción de Santa María, 4
Ed. Monjes Cistercienses de España


SOLENIDADE DA SANTA MÃE DE DEUS – Como um arco-íris, acima das nuvens



MARIA, SANTA MÃE DE DEUS
SOLENIDADE
01 DE JANEIRO


«Como um arco-íris, acima das nuvens»


Santa Brígida afirma ter ouvido dos lábios da Mãe de Deus:


"Eu sou aquela que, em constante oração, vela pelo mundo, como o arco-íris que surge no céu, acima das nuvens e que parece se inclinar sobre a terra e tocá-la, com suas duas extremidades.

Eu me inclino, efetivamente, para as boas pessoas, para que nelas sejam reforçados os preceitos da Santa Madre Igreja; inclino-me sobre aqueles que não são bons, para que eles não perseverem na malícia, tornando-se piores."


Santa Brígida da Suécia
Revelações 1, 3, c 10. Ed. Durante, p. 183


SOLENIDADE DA SANTA MÃE DE DEUS – Com Maria se cumprem os tempos e se inaugura a nova economia da salvação



MARIA, SANTA MÃE DE DEUS
SOLENIDADE
01 DE JANEIRO


«Com Maria se cumprem os tempos e se inaugura a nova economia da salvação»


“A Sagrada Escritura do Antigo e Novo Testamento e a venerável Tradição mostram de modo progressivamente mais claro e como que nos põem diante dos olhos o papel da Mãe do Salvador na economia da salvação. Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação na qual se vai preparando lentamente a vinda de Cristo ao mundo. Esses antigos documentos, tais como são lidos na Igreja e interpretados à luz da plena revelação ulterior, vão pondo cada vez mais em evidência a figura duma mulher, a Mãe do Redentor.

A esta luz, Maria encontra-se já profeticamente delineada na promessa da vitória sobre a serpente (cfr. Gén. 3,15), feita aos primeiros pais caídos no pecado. Ela é, igualmente, a Virgem que conceberá e dará à luz um Filho, cujo nome será Emmanuel (cfr. Is. 7,14; cfr. Miq. 5, 2-3; Mt. 1, 22-23). É a primeira entre os humildes e pobres do Senhor, que confiadamente esperam e recebem a salvação de Deus. Com ela, enfim, excelsa Filha de Sião, passada a longa espera da promessa, se cumprem os tempos e se inaugura a nova economia da salvação, quando o Filho de Deus dela recebeu a natureza humana, para libertar o homem do pecado com os mistérios da Sua vida terrena”.


Concílio Vaticano II
Constituição Dogmática sobre a Igreja, «Lumen Gentium», 55


SOLENIDADE DA SANTA MÃE DE DEUS – Para achar a graça de Deus é necessário encontrar Maria



MARIA, SANTA MÃE DE DEUS
SOLENIDADE
01 DE JANEIRO


«Para a prática da virtude necessitamos da graça de Deus;
Para achar a graça de Deus é necessário encontrar Maria»


“Para que bem utilizemos todos esses meios de salvação e de santificação, mister se nos faz o socorro e a graça de Deus, graça que, em maior ou menos grau, é a todos concedida; ninguém o duvide. Em maior ou menor grau, digo eu, porque Deus, ainda que infinitamente bom, não concede sua graça de modo igual a todos, muito embora de a todos a graça suficiente. A alma fiel a uma grande graça, pratica uma grande ação; com uma graça menor, pratica uma ação menor. O preço e a excelência da graça, dada por Deus e correspondida pela alma, fazem o preço e a excelência de nossas ações. São incontestáveis esses princípios.

Tudo enfim se reduz a encontrar-se um meio fácil de obter de Deus a graça necessária para a santificação; é o que te quero ensinar. Asseguro-te, porém que para achar a graça de Deus é necessário encontrar Maria. Porque Maria nos é necessária? Porque somente Maria encontrou graça diante de Deus”.


São Luis Mª Grignon de Monfort
"O Segredo de Maria"


SOLENIDADE DA SANTA MÃE DE DEUS – A Mãe de Deus nos encoraje a começar este novo ano com um gesto de amor



MARIA, SANTA MÃE DE DEUS
SOLENIDADE
01 DE JANEIRO

«A Mãe de Deus nos encoraje a começar este novo ano com um gesto de amor»

Caríssimos Irmãos e Irmãs,

Neste primeiro dia do ano desejo fazer chegar a todas as famílias, a todos os povos, a todas as pessoas de boa vontade, os meus votos de serenidade e de paz. São os votos que se elevam do coração, mas sobretudo estão apoiados sobre a certeza de que, no desenrolar do tempo, Deus permanece fiel ao seu amor. Sim, Deus ama-nos! Ama-nos com um amor ilimitado! Recordamo-lo também na solenidade litúrgica deste dia, que nos faz invocar a Virgem Santa com o título de «Mãe de Deus». O que significa proclamar Maria «Mãe de Deus»? Significa reconhecer que Jesus, o fruto do seu seio, é o Filho de Deus, consubstancial ao Pai, por Ele gerado na eternidade. Mistério grande, mistério de amor! Ele, o Unigénito do Pai (Jo 1, 14), fez-Se um de nós. Deste modo, «a eternidade entrou no tempo» (Tertio millennio adveniente, 9), e o desenrolar dos anos, dos séculos, dos milênios, já não é uma cega viagem rumo ao desconhecido, mas um caminhar em direção a Ele, plenitude do tempo (cf. Gl 4, 4) e a meta da história.

Honrando a Virgem Santa como Mãe de Deus, nós queremos também ressaltar que Jesus, o Verbo eterno feito carne, é verdadeiro «Filho de Maria». Ela transmitiu-Lhe uma humanidade plena. Foi-Lhe mãe e educadora, infundindo-Lhe a doçura, a delicada fortaleza do seu temperamento e as riquezas da sua sensibilidade. Maravilhoso intercâmbio de dons: Maria que, como criatura, é antes de tudo discípula de Cristo e por Ele remida, ao mesmo tempo, foi escolhida como sua Mãe para plasmar a sua humanidade. Na relação entre Maria e Jesus realiza-se assim, de modo exemplar, o sentido profundo do Natal: Deus fez-Se como nós, para que nos tornássemos, de algum modo, como Ele!

Foi precisamente em virtude deste mistério de amor que não hesitei centralizar a minha mensagem para este primeiro dia do ano, no qual se celebra o Dia Mundial da Paz, num tema exigente e de igual modo vital: «Oferece o perdão, recebe a paz». Bem sei: é difícil perdoar, às vezes parece mesmo impossível, mas é a única via, pois toda a vingança e toda a violência atraem outras vinganças e outras violências. Torna-se com certeza menos difícil perdoar, quando se é consciente de que Deus jamais se cansa de nos amar e de nos perdoar. Quem de nós não tem necessidade do perdão de Deus? A Virgem Santa, a Mãe de Deus, nos encoraje a começar este novo ano com um gesto de amor, se necessário, de reconciliação, com o propósito de contribuir para a edificação dum mundo melhor, marcado pela justiça e pela paz. Jamais nos esqueçamos de que tudo passa e só o eterno pode preencher o coração.

Feliz Ano Novo, cheio de bênçãos do Céu que Jesus Cristo nos trouxe e oferece a todos!


Papa João Paulo II
Angelus, 01 de Janeiro de 1997


SOLENIDADE DA SANTA MÃE DE DEUS – Ó Divina e Viva Obra-prima em quem Deus Criador Se compraz



MARIA, SANTA MÃE DE DEUS
SOLENIDADE
01 DE JANEIRO

«Ó Divina e Viva Obra-prima em quem Deus Criador Se compraz»

"Ó Filha sempre Virgem, que pudestes conceber sem intervenção humana, porque Aquele que concebestes tem um Pai Eterno! Ó Filha da estirpe terrena, que trouxestes o Criador em vossos braços divinamente maternos!

Verdadeiramente sois mais preciosa do que toda a criação, porque somente de Vós o Criador recebeu em herança as primícias de nossa matéria humana. A Sua Carne foi feita de vossa carne, Seu Sangue de vosso sangue; Deus se alimentou de vosso leite, vossos lábios tocaram os lábios de Deus.

Ó Senhora amabilíssima, três vezes Bem-aventurada! «Bendita sois entre as mulheres, e bendito é o fruto de vosso ventre». Ó Senhora, Filha do Rei David e Mãe de Deus, Rei do Universo! Ó divina e viva obra-prima em quem Deus Criador Se compraz, cujo espírito é guiado por Deus e atento a Ele só e de quem todo o desejo se eleva apenas Àquele que é o único amável e desejável. Por Ele que viestes à vida, por sua graça servireis à salvação universal, a fim de que, por vosso intermédio, cumpra-se o antigo desígnio de Deus, que é a Encarnação do Verbo e a nossa divinização".


São João Damasceno
Homilia in Nativ, B.V.M., 6,7.9


SOLENIDADE DA SANTA MÃE DE DEUS – Tende piedade de mim, que sou um nada e não possuo valor algum



MARIA, SANTA MÃE DE DEUS
SOLENIDADE
01 DE JANEIRO

«Tende piedade de mim, que sou um nada e não possuo valor algum»

Paul Verlaine, um alcoólatra, libertino e homicida, quando estava na prisão, se voltou para Maria, Refúgio dos pecadores, afirmando: "Não quero pensar em nada mais, a não ser em Maria, minha Mãe, porque todos os outros amores são de obrigatoriedade e porque Ela é a fonte do perdão..."

Ele fez magníficos poemas para a Mãe de Deus:

"Necessito, a qualquer preço,
de um socorro urgente e forte.
E este socorro forte, seguro, sois Vós,
Senhora vitoriosa sobre a morte,
e, sendo a Rainha da vida, ó Virgem Imaculada,
que voltais para Jesus a Face constelada,
cravejada de estrelas, para mostrar-Lhe
o Seio de todas as dores e estendeis,
sobre nossos passos, risos e lágrimas
e sobre nossas vaidades dolorosas,
vossas Mãos Luminosas, a verterem bálsamos.
Maria, tende piedade de mim,
que sou um nada e não possuo valor algum.
Fazei florescer em todo o meu ser,
a flor das divinas primaveras,
vosso amor, Doce Mãe, e vosso terno culto.
Ah! Amar-vos, amar a Deus através de Vós,
desejá-Lo, aspirá-Lo em Vós,
sem qualquer outro desvio sutil,
e morrer, tendo-vos ao meu lado.
Amém.


Paul Verlaine (+8-1-1896)
O Angelus do meio-dia, novembro de 1873


ANO NOVO - Uma página em branco que o Pai nos apresenta



ANO NOVO
01 DE JANEIRO
MARIA, MÃE DE DEUS
SOLENIDADE



«Ano Novo, uma página em branco que o Pai nos apresenta »


“Ó Jesus, considero este novo ano como uma página em branco que vosso Pai me apresenta e em que escreverá, dia por dia, o que dispôs em seu divino beneplácito. Desde já, no alto da página, escrevo com absoluta confiança: Senhor, fazei de mim o que vos aprouver. E no fim da página, ponho já meu Amém, assim seja, a todas as disposições de vossa divina vontade. Sim, ó Senhor, sim a todas as alegrias, a todas as dores, a todas as graças, a todos os cansaços que me preparastes e que me ireis revelando, dia após dia. Fazei que o meu amém seja o amém pascal, sempre seguido do aleluia, pronunciado com todo o coração, na alegria de uma completa doação. Dai-me o vosso amor e a vossa graça e serei bastante rica”.


Ir. Carmela do Espírito Santo
Escritos inéditos


FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA – Ó Família de Nazaré, imagem viva da Igreja de Deus!



SAGRADA FAMÍLIA
FESTA
27 DE DEZEMBRO

«Ó Família de Nazaré, imagem viva da Igreja de Deus!»

No clima jubiloso do Natal, ao viver com renovada admiração o mistério do Emanuel, Deus conosco, a Igreja leva-nos hoje a contemplar a Sagrada Família de Nazaré, modelo admirável de virtudes humanas e sobrenaturais para todas as famílias cristãs. Da contemplação deste maravilhoso modelo, a Igreja haure valores a serem repropostos às mulheres e aos homens de todos os tempos e de todas as culturas.

«Ó Família de Nazaré, imagem viva da Igreja de Deus!». Com estas palavras, a comunidade cristã reconhece na comunhão familiar de Jesus, Maria e José uma autêntica «regra de vida»: quanto mais a Igreja souber realizar o «pacto de amor» que se manifesta na Sagrada Família, tanto mais cumprirá a missão de ser fermento para que «n'Ele os homens constituam uma família» (cf. Ad gentes, 1).

Da Sagrada Família irradia uma luz de esperança também sobre a realidade da família de hoje. A humilde casa de Nazaré é para todo o crente, e especialmente para as famílias cristãs, uma autêntica escola do Evangelho. Aqui admiramos a realização do projeto divino de fazer da família uma íntima comunidade de vida e de amor; aqui aprendemos que cada núcleo familiar cristão é chamado a ser pequena "igreja doméstica", onde devem resplandecer as virtudes evangélicas. Recolhimento e oração, compreensão mútua e respeito, disciplina pessoal e ascese comunitária, espírito de sacrifício, trabalho e solidariedade são traços típicos que fazem da família de Nazaré um modelo para todos os nossos lares. Da Sagrada Família irradia uma luz de esperança também sobre a realidade da família de hoje.

Sim, precisamente em Nazaré desabrochou a primavera da vida humana do Filho de Deus, no momento em que Ele foi concebido por obra do Espírito Santo no seio da Virgem Maria. E entre as paredes hospitaleiras da Casa de Nazaré Jesus, que «crescia em sabedoria, em estatura e graça, diante de Deus e dos homens» (Lc 2, 52), viveu com alegria a Sua infância.

Desta forma, o mistério de Nazaré ensina todas as famílias a gerar e educar os próprios filhos, cooperando de forma admirável na obra do Criador e oferecendo ao mundo, em cada criança, um novo sorriso. É na família unida que os filhos maturam a sua existência, vivendo a experiência mais significativa e rica do amor gratuito, da fidelidade, do respeito recíproco e da defesa da vida. Famílias de hoje, olhai para a Família de Nazaré, inspirando-vos no exemplo de Maria e de José, que se dedicaram amorosamente ao Verbo Encarnado, a fim de obter deles as indicações adequadas para as quotidianas opções de vida! À luz dos ensinamentos recebidos naquela insuperável escola, cada família poderá orientar-se no caminho rumo à plena atuação do desígnio de Deus.


Santo Padre João Paulo II
Angelus, 27/12/1998;30/12/2001