terça-feira, 10 de março de 2009

Recolhimento interior



“ Se alguém quiser seguir-Me, diz o Senhor, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me” Mt 16, 24

“Para isso tem que buscar que o pensamento se aquiete. Não é possível que os olhos se movam continuamente de um lado para o outro, para cima e para baixo, e vejam com nitidez os objetos. Somente quando se fixa o olhar, a visão é clara. Do mesmo modo, é impossível que a mente de um homem que se deixa levar pelas infinitas preocupações deste mundo, contemple clara e estavelmente a verdade.

Quem não está sujeito pelos laços do matrimônio se vê turbado por ambições, impulsos desenfreados e amores loucos; a quem já tem sobre si o vínculo conjugal, não lhe faltam um tumulto de inquietudes: se não tem filhos, o desejo de tê-los; se os tem, a preocupação de educá-los; o cuidado de sua mulher e da casa; o governo de seus empregados; a tensão que os negócios trazem consigo; as rixas com os vizinhos; os pleitos nos tribunais; os riscos do comércio; as fadigas da agricultura. Cada dia que amanhece traz consigo particulares cuidados para a alma. E cada noite, herdeira das preocupações do dia, inquieta o ânimo com os mesmos pensamentos.


Há um só caminho para libertar-se desses afãs: isolar-se. Mas esta separação não consiste em estar fisicamente fora do mundo, senão em aliviar o ânimo de seus laços com as coisas temporais, estando desprendido da pátria, da casa, das propriedades, dos amigos, das posses, da vida, dos negócios, das relações sociais, do conhecimento das ciências humanas, a fim de preparar-se para receber no coração as impressões profundas e duradouras do ensinamento divino.

Esta preparação se alcança despojando o coração do que o monopoliza por causa de um hábito mau e muito enraizado. Não é possível escrever sobre a cera se não se apagam os caracteres precedentes; tampouco se podem imprimir na alma os ensinamentos divinos, se antes não desaparecem os hábitos que ali estavam.

O recolhimento procura grandes vantagens. Adormece nossas paixões e outorga à razão a possibilidade de arrancá-las completamente. Como se pode vencer as feras senão domando-as? Assim, a ambição, a ira, o medo e a ansiedade, paixões nocivas da alma, quando se acalmam com a paz privando-lhes de contínuos estímulos, podem ser derrotadas mais facilmente”.


São Basílio Magno
Epístola 11, 2-4


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