segunda-feira, 23 de março de 2009

Purificação espiritual por amor



A purificação espiritual por meio do amor no jejum e nas obras de misericórdia

“Em todo tempo, amados filhos, a terra está repleta da misericórdia do Senhor (SI 32,5). A própria natureza é para todo fiel uma lição que o ensina a antes de tudo amar e louvar a Deus, pois o céu, a terra, o mar e tudo o que neles existe proclamam a bondade, o amor e a onipotência de seu Criador; e a admirável beleza dos elementos postos a nosso serviço requer da criatura racional uma justa ação de graças.

O retorno, porém, nesses dias que os mistérios da salvação humana marcaram de modo mais especial e que precedem imediatamente a festa da Páscoa, exige que nos preparemos com maior cuidado por meio de uma dedicada e amorosa purificação espiritual.

Na verdade, é próprio da solenidade pascal que a Igreja inteira se alegre com o perdão dos pecados. Não é apenas nos que renascem pelo santo batismo que ele se realiza, mas também naqueles que desde há muito são contados entre os filhos adotivos.

É, sem dúvida, o banho da regeneração que nos torna criaturas novas; mas todos têm necessidade de se renovar a cada dia para evitarmos a ferrugem inerente à nossa condição mortal, e não há ninguém que não deva se esforçar para progredir no caminho da perfeição; por isso, todos sem exceção, devemos empenhar-nos para que, no dia da redenção, pessoa alguma seja ainda encontrada nos vícios do passado, mas sim transformada em amor.


Por conseguinte, amados filhos, aquilo que cada cristão deve praticar em todo tempo, deve praticá-lo agora com maior zelo e piedade, para cumprir a prescrição, que remonta aos apóstolos, de jejuar quarenta dias, não somente reduzindo os alimentos, mas sobretudo abstendo-se do pecado e sendo mais benevolentes, mais bondosos.

A estes santos e razoáveis jejuns, nada virá junta-se com maior proveito que as esmolas. Sob o nome de obras de misericórdia, incluem-se muitas e louváveis ações de bondade, caridade e amor; graças a elas, todos os fiéis podem manifestar igualmente os seus sentimentos, por mais diversos que sejam os recursos de cada um.

Se verdadeiramente amamos a Deus e ao próximo, nenhum obstáculo impedirá nossa boa vontade e nossos atos de amor. Quando os anjos cantaram: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de voa vontade (Lc 2, 14), proclamavam bem-aventurados, não só pela virtude da benevolência mas também pelo dom da paz, todo aquele que, por amor, se compadece do sofrimento alheio.

São inúmeras as obras de misericórdia, o que permite aos verdadeiros cristãos tomar parte na distribuição de esmolas, sejam eles ricos, possuidores de grandes bens, ou pobres, sem muitos recursos. Apesar de nem todos poderem ser iguais na possibilidade de dar, todos podem sê-lo na boa vontade e no amor que manifestam”.

Texto extraído da Tradição Sagrada: por Pseudo-Crisóstomo


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