domingo, 29 de novembro de 2009

ADVENTO – 1º DOMINGO – Vinde a nós, Senhor!



DOMINGO I DO ADVENTO

«Vinde a nós, Senhor!»

“Aguardamos o aniversário de Vosso nascimento, ó Jesus e, segundo Vossa promessa, vê-lo-emos logo. Fazei que, elevando-se nosso espírito acima desse mesmo, se lance, louco de alegria, ao Vosso encontro, Senhor, Vós que vindes com ardor impaciente, desejoso de contemplar o futuro.

Vinde a nós, Senhor, mesmo antes do Vosso Advento! Antes de aparecerdes ao mundo inteiro, vinde visitar-nos, no íntimo da alma. Vinde agora visitar-nos neste tempo entre o primeiro e o último advento, afim de que não nos seja inútil Vossa primeira vinda e não nos condene a última.

Com Vossa vinda atual, procurais corrigir nossa soberba e conformar-nos com Vossa humildade manifestada na primeira vinda. Então podereis transformar nosso humilde corpo, tornando-o semelhante ao Vosso glorioso, quando aparecerdes no último dia.

Suplicamo-vos ardentemente: preparai-nos para obtermos esta visita pessoal, que nos confere à graça do primeiro advento e nos promete a glória do fim dos tempos. Porque Vós, Senhor, amais a misericórdia e a verdade, conferir-nos-eis a graça e a glória; a graça, por Vossa misericórdia, e a glória na verdade.”


Beato Guerric d'Igny, Abade Cisterciense
De Adventu Domini, 2,3

ADVENTO – 1º DOMINGO – É necessária a Vossa presença, ó Cristo!



DOMINGO I DO ADVENTO

«É necessária a Vossa presença, ó Cristo! »

“É necessária a Vossa vinda a todos os homens, ó nosso Salvador!

É necessária a Vossa presença, ó Cristo!

Vinde, pela Vossa imensa bondade! Habitai em nós pela fé e iluminai nossa cegueira. Ficai conosco e ajudai nossa enfermidade.

Colocai-Vos ao nosso lado, protegendo e defendendo nossa fragilidade. Se estiverdes em nós, quem poderá enganar-nos? Que não poderemos em Vós que nos confortais? Se estiverdes conosco, quem contra nós?

Justamente para isto viestes ao mundo: a fim de que, habitando em nós, conosco e por nós, colocando-Vos ao nosso lado, ilumineis nossas trevas, alivieis nossos cansaços, afastei de nós os perigos”.


São Bernardo de Clairvaux
De Adventu Domini, 7, 2

ADVENTO – 1º DOMINGO – Vós vos tornastes pequeno, para elevar o homem!




DOMINGO I DO ADVENTO

«Vós vos tornastes pequeno, para elevar o homem! »

“Ó Sumo e Eterno Bem, quem nos levou, Deus infinito, a iluminar com a luz da Vossa verdade a mim, vossa criatura finita? Vós! A causa sois Vós, Fogo de Amor, porque foi sempre o amor que nos moveu e move a nos criar à Vossa imagem e semelhança, a fazer-nos misericórdia, comunicando infinitas e incomensuráveis graças às vossas criaturas racionais.

Ó Bondade sobre toda bondade! Só Vós sois sumamente Bom! Mandastes o Verbo do Vosso Unigênito Filho a conviver conosco. Qual foi a causa? O amor, porque nos amastes antes de existirmos.

Ó Bem, ó Eterna Grandeza, Vós vos abaixastes e vos tornastes pequeno, para elevar o homem. De qualquer lado a que me volte não encontro mais que o abismo e fogo da Vossa Caridade”.


Santa Catarina de Sena
Diálogo, 134, pp. 364-365

ADVENTO – 1º DOMINGO – Permanecer no Reino de Cristo




DOMINGO I DO ADVENTO

Permanecer no Reino de Cristo

«O Reino de Deus está dentro de vós», diz o Senhor. Apressa-te portanto a preparar o coração para este Esposo, a fim de que Ele se digne vir a ti e habitar em ti. Porque Ele disse: «Quem me ama guardará a minha palavra; então viremos até ele e nele estabeleceremos a nossa morada» (Jo 14,23). Dá, pois, lugar a Cristo e nega a entrada a tudo o mais. Se possuíres a Cristo, és rico, e só Ele te bastará. Ele velará por ti, a tudo proverá, de modo a que não tenhas de recorrer aos homens. Porque os homens mudam muito e facilmente faltam, enquanto «Cristo permanece eternamente» (Jo 12, 34); Ele dá-nos firme assistência até ao fim.

Não ponhas portanto grande confiança no homem, que é frágil e mortal, ainda que nos seja útil e muito querido. Não te entristeças demasiado se te decepcionar ou te contradisser. Os que hoje estão contigo poderão amanhã estar contra ti e vice-versa, pois os homens mudam como o vento. Põe portanto toda a tua confiança em Deus. Que Ele seja o teu temor e o teu amor. Ele responderá por ti e fará o que for melhor.

«Não tens aqui em baixo morada permanente» (Heb 13, 14). Onde estiveres, és «estrangeiro e peregrino» (Heb 11,13). A paz vir-te-á da tua união íntima a Cristo.


Thomas de Kempis
Imitação de Cristo
Livro II, Cap.1, 2-3

ADVENTO – 1º DOMINGO – Dar a Deus o lugar principal




DOMINGO I DO ADVENTO

«Dar a Deus o lugar principal»

Aquele que a si próprio se preza não pode amar a Deus; mas aquele que a si não se preza, devido às riquezas superiores da caridade divina, esse ama a Deus. É por isso que tal homem nunca procura a própria glória, mas a de Deus; porque o que a si mesmo se preza procura a glória própria. Aquele que preza a Deus ama a glória do seu Criador. É, de facto, próprio das almas profundas e amigas de Deus procurar constantemente a glória de Deus em todos os mandamentos cumpridos, e ter regozijo na própria humilhação. Porque a Deus convém a glória em razão da Sua grandeza, e ao homem, a humilhação; deste modo se torna o homem próximo de Deus. Se assim agirmos, regozijando-nos com a glória do Senhor, a exemplo do santo João Baptista, pôr-nos-emos então a dizer continuamente: «É preciso que ele cresça e que eu diminua» (Jo 3,30).

Conheço alguém que ama tanto a Deus, ainda que muito se lamente por não O amar como quereria, que a alma lhe arde ininterruptamente no desejo de em si próprio e nos seus gestos ver Deus glorificado, e de se ver a si mesmo como não tendo existência própria. Esse homem não sabe o que é, ainda que o elogiemos, em palavras; porque no seu grande desejo de humilhação não pensa na dignidade própria. Executa os serviços divinos como fazem os padres, mas na sua extrema disposição de amor para com Deus aniquila a recordação da sua própria dignidade no mais profundo da sua caridade para com Deus, enterrando em pensamentos humildes a glória que daí tiraria. Assume-se sempre como um mero servo inútil; o seu desejo de humilhação de alguma maneira lhe exclui a dignidade própria. Eis o que devemos fazer, nós também, de forma a nos afastarmos de toda a honra, de toda a glória, fazendo jus à riqueza transbordante do amor d'Aquele que tanto nos amou.


Diádoco de Foticeia, Bispo
Sobre a perfeição espiritual, 12-15

ADVENTO – 1º DOMINGO – Erguei-vos, porque aproxima-se a vossa redenção




DOMINGO I DO ADVENTO

«Erguei-vos e levantai a cabeça, porque aproxima-se a vossa redenção»

"Então, todas as árvores da floresta saltarão de alegria diante do Senhor, porque Ele vem para julgar a terra" (Sl 95,12-13). O Senhor veio uma primeira vez e virá de novo. Veio uma primeira vez "sobre as núvens" (Mt 26,64) na sua Igreja. Que núvens o trouxeram? Os apóstolos, os pregadores... Veio uma primeira vez trazido pelos seus pregadores e encheu toda a terra. Não ponhamos resistência à sua primeira vinda se não queremos temer a segunda...

Que deve pois fazer o cristão? Aproveitar este mundo mas não o servir. Em que consiste isso? "Possuir como se não se possuisse". É o que diz S. Paulo: "Irmãos, o tempo é breve... Desde já, aqueles que choram seja como se não chorassem, os que são felizes, como se o não fossem, os que compram, como se nada possuissem, os que tiram proveito deste mundo, como se não se aproveitassem dele. Porque este mundo, tal como o vemos, vai passar. Quereria ver-vos livres de toda a preocupação" (1Co 7,29-32). Quem está livre de toda a preocupação espera com segurança a vinda do seu Senhor. Será que se ama o Senhor quando se receia a sua vinda? Meus irmãos, não nos envergonhamos disso? Amamo-lo e receamos a sua vinda? Amamo-lo verdadeiramente ou amamos mais os nossos pecados? Odiemos então os nossos pecados e amemos Aquele que há-de vir...

"Todas as árvores da foresta rejubilarão à vista do Senhor", porque Ele veio uma primeira vez... Veio uma primeira vez e regressará para julgar a terra; então encontrará cheios de alegria os que tiverem acreditado na sua primeira vinda.


Santo Agostinho
Bispo de Hipona e Doutor da Igreja
Discurso sobre o Salmo 95

ADVENTO – 1º DOMINGO – Estai vigilantes : Quem cumpre a vontade de Deus permanece para sempre




DOMINGO I DO ADVENTO

«Velai, pois, porque não sabeis que dia virá o vosso Senhor... Estai preparados, porque no momento que não penseis, virá o Filho do homem»

Pergunta-se às vezes por que Deus nos esconde algo tão importante como a hora de sua vinda, que para cada um de nós, considerado singularmente, coincide com a hora da morte. A resposta tradicional é: «Para que estivéssemos alerta, sabendo cada um que isso pode acontecer em seus dias» (Santo Efrém o Sírio). Mas o principal motivo é que Deus nos conhece; sabe que terrível angústia teria sido para nós conhecer com antecipação a hora exata e assistir à sua lenta e inexorável aproximação. Isso é o que mais atemoriza em certas doenças. São mais numerosos hoje os que morrem de afecções imprevistas de coração do que os que morrem de «penosas doenças». No entanto, dão mais medo estas últimas, porque nos parece que privam dessa incerteza que nos permite esperar.

A incerteza da hora não deve levar-nos a viver despreocupados, mas como pessoas vigilantes. O ano litúrgico está em seu início, enquanto o ano civil chega a seu fim. Uma ocasião ótima para fazer espaço para uma reflexão sábia sobre o sentido de nossa existência. A própria natureza no outono nos convida a refletir sobre o tempo que passa. O que o poeta Giuseppe Ungaretti dizia dos soldados na trincheira do Carso, durante a primeira guerra mundial, vale para todos os homens: «Estão / como no outono / nas árvores / nas folhas». Isto é, a ponto de cair, de um momento a outro. «O tempo passa e o homem não percebe isso», dizia Dante.

Um antigo filósofo expressou esta experiência fundamental com uma frase que se tornou célebre: «panta rei», ou seja, tudo passa. Ocorre na vida como na televisão: os programas se sucedem rapidamente e cada um anula o precedente. A tela continua sendo a mesma, mas as imagens mudam. É igual conosco: o mundo permanece, mas nós passamos, um após o outro. De todos os nomes, os rostos, as notícias que enchem os jornais e os noticiários do dia – de mim, de você, de todos nós – o que permanecerá daqui a um ano ou década? Nada de nada. O homem não é mais que «um traço criado pela onda na areia do mar e que a onda seguinte apaga».

Vejamos o que a fé tem a dizer-nos a propósito deste fato de que tudo passa. «O mundo passa, mas quem cumpre a vontade de Deus permanece para sempre» (1 Jo 2, 17). Assim, existe alguém que não passa, Deus, e existe uma forma de que nós não passemos totalmente: fazer a vontade de Deus, ou seja, crer, aderir a Deus. Nesta vida somos como pessoas em uma balsa que um rio leva ao mar aberto, sem retorno. Em certo momento, a balsa passa perto da margem. O náufrago diz: «Agora ou nunca!», e salta até a terra firme. Que suspiro de alívio quando sente a rocha sob seus pés! É a sensação experimentada freqüentemente por quem chega à fé. Poderíamos recordar, como conclusão desta reflexão, as palavras que Santa Teresa de Ávila deixou como uma espécie de testamento espiritual: «Nada te perturbe, nada te espante. Tudo passa, só Deus basta».


Raniero Cantalamessa
Cantalamessa.org

ADVENTO – 1º DOMINGO – A verdadeira humildade do coração




DOMINGO I DO ADVENTO

«A verdadeira humildade do coração é mais sentida que vivida»

“A verdadeira humildade do coração é mais sentida e vivida do que exteriorizada. É certo que devemos mostrar-nos sempre humildes na presença de Deus, mas não com a falsa humildade que conduz ao desencorajamento, ao esmagamento e ao desespero. Temos de ter má impressão de nós mesmos, não colocar os nossos interesses à frente dos interesses dos outros, considerar-nos inferiores ao nosso próximo.

Se precisamos de paciência para suportar as misérias dos outros, de mais paciência precisamos ainda para aprendermos a suportar-nos a nós mesmos. Perante as infidelidades quotidianas, não cesses de fazer atos de humildade. Quando o Senhor te vir assim arrependido, estender-te-á a Sua mão e atrair-te-á a Si.

Neste mundo, ninguém merece coisa alguma; é o Senhor quem nos concede tudo, por pura benevolência e porque, na Sua bondade infinita, nos perdoa tudo”.


São Pio de Pietrelcina
AP; CE 47

ADVENTO – 1º DOMINGO – Meu filho, dá-me o teu coração




DOMINGO I DO ADVENTO

« Examinai pois com atenção a vossa morada interior, abri os olhos e apreciai o vosso capital de amor »

Irmãos, examinai pois com atenção a vossa morada interior, abri os olhos e apreciai o vosso capital de amor, e depois aumentai a soma que tiverdes descoberto em vós. E guardai esse tesouro, a fim de serdes ricos interiormente. Chamam-se caros os bens que têm um preço elevado, e com razão. Mas que coisa há mais cara do que o amor, meus irmãos? Em vossa opinião, que preço tem ele? E como pagá-lo? O preço de uma terra, o preço do trigo, é a prata; o preço de uma pérola é o ouro; mas o preço do amor és tu mesmo. Se queres comprar um campo, uma jóia, um animal, procuras em teu redor os fundos necessários para isso. Mas, se desejas possuir o amor, procura apenas em ti mesmo, pois é a ti mesmo que tens de encontrar.

Que receias ao dar-te? Receias perder-te? Pelo contrário, é recusando-te a dar-te que te perdes. O próprio Amor exprime-se pela boca da Sabedoria e apazigua com uma palavra a desordem que em ti lançava a expressão: "Dá-te a ti mesmo!" Se alguém quisesse vender-te um terreno, dir-te-ia: "Dá-me prata"; ou, se quisesse vender-te outra coisa qualquer: "Dá-me dinheiro". Pois escuta o que diz o Amor, pela boca da Sabedoria: "Meu filho, dá-me o teu coração" (Prov 23, 26). O teu coração sofria quando estava em ti; eras presa de futilidades, ou mesmo de más paixões. Afasta-te delas! Para onde hás-de levá-lo? A quem o hás-de oferecer? "Meu filho, dá-me o teu coração", diz a Sabedoria. Se ele for Meu, já não te perderás.

"Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento" (Mt 22, 37). Quem te criou quer-te todo para Si.


Santo Agostinho
Bispo de Hipona e Doutor da Igreja
Sermo 32 (sobre Salmo 149)

NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS - Ela é, na Terra, um paraíso celeste




«Ela é, na Terra, um paraíso celeste»


Esta alma santa e divina é para a Igreja o que a aurora é para o firmamento, e ela precede, imediatamente, o sol. Mas ela é mais do que a aurora...

Nasceu no silêncio, sem que o mundo o soubesse, e sem que Israel cogitasse o considerável fato, sendo Maria a flor de Israel e a mais eminente da Terra. Porém, se a Terra não a conhece, o Céu a admira e a venera como aquela que Deus criou para tão grande desígnio e para prestar grande serviço à sua própria pessoa, isto é, para um dia revesti-la de uma nova natureza.

E é este mesmo Deus que deseja dela nascer, que a ama e a olha nesta qualidade. Seu olhar não se dirige, então, aos grandes, aos monarcas que a Terra adora, mas o primeiro e mais doce olhar de Deus, na Terra, afaga a humilde Virgem que o mundo ainda não conhece: este foi, então, o mais alto pensamento que o Altíssimo teve, sobre toda a sua criação.

Deus a admira, a olha, a acarinha, a conduz, como aquela a quem Ele deseja se doar, e se doar, na qualidade de Filho seu, tornando-a sua mãe. Ele a enche de graças desde a sua concepção e a santifica desde a sua infância.

Deus a sequestra do mundo e a consagra ao seu Templo, para marcar e figurar que, logo, ela seria consagrada ao serviço de um templo mais augusto e mais sagrado do que o anterior. Lá está ela, na sua solidão... Ele a guarda, a envolve com o seu poder, animando o seu espírito, alimentando-a com a sua Palavra, elevando-a com a sua graça, iluminando-a com suas luzes, envolvendo-a e abraçando-a com seus ardores, visitando-a, por meio de seus anjos, enquanto aguarda o momento em que irá visitá-la pessoalmente.

Deus está e age nela, mais do que ela própria. As idéias de Maria existem para a graça de Deus; nela, nenhum movimento se concretiza, a não ser por meio do Seu espírito, nenhuma ação se concretiza, a não ser através do Seu amor.

O curso de sua vida é um movimento perpétuo que, sem interrupção alguma, sem nenhum momento de repouso, é dedicado Àquele que, em breve, será a sua vida...

Este objetivo se aproxima, e o Senhor está com ela, Ele se derrama nela, cumulando-a, e estabelece uma graça preciosa e rara, que convém, exclusivamente a ela, pois, esta Virgem oculta, abrigada num canto da Judéia, desconhecida do universo, noiva de José, faz um coro à parte na ordem da graça, tão singular como é!

Os anos correm, as graças aumentam. Maria adentra, dia após dia, numa elevação admirável, por especial inspiração e perfeita cooperação.

Ela é, na Terra, um paraíso celeste que Deus plantou com a própria mão e que seu anjo guarda, protege, preserva para o segundo Adão. Mas este prodígio está escondido aos olhos dos homens e seu espírito, mergulhado no mais profundo de sua humildade, não alcança a magnificência que Deus programou para ela.


Cardeal Pierre de Bérulle
"La Mère de mon Seigneur"

NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS - Doce Armadilha




«Como Doce Armadilha»



O Senhor revelara a Santa Catarina de Sena, o motivo pelo qual criara Maria: "Eu reservei esta filha bem-amada para mim, como doce armadilha, para pescar os homens, sobretudo os pecadores e, em seguida, atraí-los ao meu amor".



Santo Afonso Maria de Ligório
Bispo e Doutor
Glórias de Maria



domingo, 22 de novembro de 2009

SOLENIDADE JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO



CRISTO REI DO UNIVERSO

SOLENIDADE


Homilia de sua Santidade João Paulo II na celebração Eucarística da Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo em 2000

"Tu o dizes: Eu sou rei" (Jo 18, 37)

Assim respondeu Jesus a Pilatos num diálogo dramático, que o Evangelho nos faz ouvir novamente na hodierna solenidade de Cristo, Rei do universo. Nessa ocorrência, colocada na conclusão do ano litúrgico, Jesus, Verbo eterno do Pai, é apresentado como princípio e fim de toda a criação, como Redentor do homem e Senhor da história. Na primeira leitura, o profeta Daniel afirma: "O seu poder é um poder eterno, que nunca lhe será tirado. E o seu Reino é tal que jamais será destruído" (7, 14).

Sim, ó Cristo, Vós sois Rei! Paradoxalmente, a vossa realeza manifesta-se na cruz, na obediência ao desígnio do Pai "que como escreve o Apóstolo Paulo nos arrancou do poder das trevas e nos transferiu para o Reino do seu Filho amado, no Qual temos a redenção, a remissão dos pecados" (Cl 1, 13-14). Primogênito daqueles que ressuscitaram dos mortos, Vós, Jesus, sois o Rei da nova humanidade, restituída à sua dignidade primitiva.

Vós sois Rei! Porém, o vosso reino não é deste mundo (cf. Jo 18, 36); não é o fruto de conquistas bélicas, de dominações políticas, de impérios econômicos, de hegemonias culturais. O vosso é um "reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz" (cf. Prefácio da solenidade de Cristo Rei), que se manifestará na sua plenitude no fim dos tempos, quando Deus será tudo em todos (cf. 1 Cor 15, 28). A Igreja, que já pode saborear na terra as primícias que se hão-de realizar no futuro, não cessa de repetir: "Venha o vosso reino", "Adveniat regnum tuum" (Mt 6, 10).

Venha o Vosso Reino!


Papa João Paulo II
Homilia Solenidade de Cristo Rei do Universo
26 de Novembro de 2000

CRISTO REI DO UNIVERSO



CRISTO REI DO UNIVERSO

SOLENIDADE


Ó Jesus meu, quem pudera dar a entender a Majestade com que Vos mostrais! E quão Senhor de todo o mundo e dos céus e de outros mil mundos, e mundos e céus sem conta que Vós poderíeis criar! E a alma entende, segundo a majestade com que Vos representais, que isso não é nada para Vós serdes Senhor de tudo.

Aqui se vê claramente, Jesus meu, o pouco poder de todos os demônios em comparação do Vosso, e como, quem Vos tiver contente, pode calcar aos pés o inferno todo. Vejo que quereis dar a entender à alma quão grande é o poder que tem esta sacratíssima Humanidade junto com a Divindade. Aqui se representa bem o que será, no dia do juízo, ver a Majestade deste Rei e vê-Lo com rigor para os maus. Aqui é a verdadeira humildade que deixa esta visão na alma ao ver sua miséria, pois não a pode ignorar. Aqui a confusão e verdadeiro arrependimento dos pecados, pois a alma, ainda que veja que Ele lhe mostra amor, não sabe aonde se meter, e assim se desfaz toda.

Digo que tem tão grandíssima força esta visão, quando o Senhor quer mostrar à alma grande parte da sua Grandeza e Majestade, que tenho por impossível podê-la sofrer qualquer pessoa, se o Senhor, de modo muito sobrenatural, não a quisesse ajudar, pondo-a em arroubamento e êxtase, onde perde de vista, com o gozo, a visão daquela Divina Presença.

Será verdade que se esquece depois? Fica porém tão impressa aquela Majestade e Formosura, que não há maneira de se poder esquecer, a não ser quando o Senhor quer que a alma padeça uma grande aridez e solidão, que direi adiante, que então até de Deus parece que se esquece. A alma fica outra, sempre embebida; parece-lhe que começa de novo um amor vivo de Deus em muito alto grau, a meu ver; porque, embora a visão passada, em que disse que Deus se representa sem imagem, seja mais perfeita, contudo, para durar na memória, conforme a nossa fraqueza, e para trazer bem ocupado o pensamento, é grande coisa o ficar representada e posta na imaginação tão Divina Presença. E quase sempre vêm juntas estas duas maneiras de visão. E até mesmo é assim que vêm. Porque, com os olhos da alma, vê-se a excelência e formosura e glória da Santíssima Humanidade e, por esta outra maneira que fica dita, se nos dá a entender como é Deus é Poderoso e que tudo pode e tudo manda e tudo governa e a tudo enche o Seu amor.


Santa Teresa de Jesus
Livro da Vida 28, 8-9

JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO



CRISTO REI DO UNIVERSO

SOLENIDADE


«Vinde, benditos de meu Pai, recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo»

«Depois de haver completado a purificação dos pecados, sentou-Se à direita da majestade divina nas alturas» (Hb 1,3). Foi, pois, para nos servir que Ele veio de junto de Seu Pai a este mundo. E o cúmulo é que não é apenas no momento em que aparece nesta terra, revestido da enfermidade humana, que Se apresenta sob a forma de escravo, escondendo a Sua qualidade de Senhor; será também mais tarde, no dia em que vier com todo o Seu poder e aparecer em toda a glória de Seu Pai, quando da Sua manifestação. Quando vier no Seu reino, «cingir-Se-á, mandará que se ponham à mesa e servi-los-á» (Lc 12, 7). Eis Aquele pelo Qual reinam os soberanos e governam os príncipes!

É assim que Ele há de exercer a Sua realeza, verdadeira e sem mancha; é assim que Ele domina aqueles que submeteu ao Seu poder: mais amável que um amigo, mais equitativo que um príncipe, mais terno que um pai, mais íntimo que os membros, mais indispensável que o coração. Ele não Se impõe pelo medo, nem submete através do salário. Somente em Si mesmo encontra a força do Seu poder, apenas prende os que Se lhe submetem. Porque reinar pelo medo ou com vista a um salário não é governar por si mesmo, mas pela esperança do lucro ou pela ameaça.

É preciso que Cristo reine em sentido próprio; qualquer outra autoridade é indigna Dele. Ele soube chegar a este ponto por uma via extraordinária: para Se tornar o verdadeiro Senhor, abraça a condição de escravo e torna-Se servo de escravos, até à cruz e à morte; e assim arrebata a alma dos escravos e apodera-Se diretamente da vontade deles.

Sabendo que é esse o segredo deste modo de reinar, Paulo escreve: «Humilhou-Se a Si mesmo, feito obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso é que Deus O exaltou» (Fl 2,8-9). Pela primeira criação, Cristo é Senhor da natureza; pela nova criação, tornou-Se Senhor da nossa vontade. É por isso que Ele diz: «Foi-Me dado todo o poder no céu e na terra» (Mt 28,18).


São Nicolau Cabasilas
A Vida em Jesus Cristo; Livro 4, 93-97; 102


NOSSO SENHOR JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO



CRISTO REI DO UNIVERSO

SOLENIDADE


Deus não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós.

Deus não chegou ao ponto de entregar seu Filho? E tu não podes sequer dar do teu pão, a quem se entregou e morreu por ti? O Pai, por tua causa, não quis poupar seu verdadeiro Filho! E tu o deixas, com indiferença, morrer de fome, quando não farias mais que dar-lhe dos seus próprios bens, e para teu próprio lucro.

Ele se entregou por ti, por ti deixou-se matar, e por ti sai agora mendigando: o que lhe dás, para ajudá-lo, de seus próprios bens o tiras, e mesmo assim, não lhe dás nada! Pois não se satisfez somente em suportar a cruz e a morte; quis ainda conhecer o exílio, ser peregrino e nu, ser lançado na prisão e nada poder, para assim lançar-te o apelo: “Se tu me queres retribuir o mesmo que sofri por ti, tem piedade de mim por causa da minha miséria, deixa-te comover por minha enfermidade e prisão. Se não me queres pagar na mesma moeda, atende ao meu modesto pedido: eu não te peço nada que te custe; somente um pão, um teto e algumas palavras de conforto.

Se continuas insensível, que ao menos o pensamento do reino celeste e das recompensas prometidas te tornem melhor! Não queres levar em conta tudo isso? Então, que o teu coração ao menos se comova, por simples instinto natural, ao ver-me nu. Lembra-te da nudez que eu sofri na cruz por causa de ti. Por tua causa fui então algemado, e ainda o sou até hoje por tua causa. Por tua causa jejuei, e por tua causa ainda hoje passo fome. Senti sede quando estive suspenso na cruz, e continuo a senti-la nos pobres, a fim de atrair-te a mim e de tornar-te mais humano para tua própria salvação.

Assim, tendo-te obrigado por inumeráveis benefícios, peço-te agora que retribuas; não te peço, porém, como a um devedor, mas quero coroar-te como a um benfeitor e dar-te em troca desses pobres dons, o Reino.

Se estou na prisão, não te forço a me retirares de lá, quebrando minhas algemas. Só te peço uma coisa: veres que estou preso por ti; isto para mim será o bastante, em troca eu te darei o céu. Ainda que eu te tenha libertado de teus pesados grilhões, será bastante para mim que tu queiras visitar-me na prisão.

Eu poderia coroar-te sem tudo isto, mas quero ser teu devedor. Eis por que, podendo dispor de alimento, ponho-me a vagar como um mendigo e coloco-me à tua porta de mão estendida para ser alimentado por ti: eu te amo tanto! É por isto que eu desejo estar à tua mesa como entre amigos, e disso me glorio, e o proclamo diante do mundo, e a todo o universo me apresento como alguém a quem dás de comer.


São João Crisóstomo
Homilia 15, 6 in Epistolam ad Romanos
Patrologia Grega 60, 547-548

CRISTO REI, A LUZ DO MUNDO



CRISTO REI DO UNIVERSO

SOLENIDADE

«Eu sou a luz, vim ao mundo para que aquele que crê em mim não permaneça nas trevas»

Cristo é «a Luz do mundo» (Jo 8, 12) e Ele ilumina a Igreja com a sua Luz. E, tal como a lua recebe a sua luz do sol a fim de iluminar a noite, assim também a Igreja, recebendo a Luz de Cristo, ilumina todos aqueles que se encontram na noite da ignorância. É, pois, Cristo que é «a verdadeira Luz que ilumina todo o homem vindo a este mundo» (Jo 1,9), e a Igreja, recebendo a sua Luz, torna-se, ela própria, luz do mundo, «iluminando aqueles que caminham nas trevas» (Rom 2,19), de acordo com esta Palavra de Cristo aos seus discípulos: «Vós sois a luz do mundo» (Mt 5,14). Do que se conclui que Cristo é a luz dos apóstolos, e os apóstolos, por sua vez, a luz do mundo.


Orígenes, Presbítero
Homilias sobre o Gênesis, 1, 5-7

CRISTO REI - A MAJESTADE DIVINA



CRISTO REI DO UNIVERSO

SOLENIDADE

Cristo Rei

Não nos é fácil entender a realeza de Cristo com os olhos deste mundo. Estamos, como Pilatos, diante de um homem que é trazido a julgamento porque se fez Rei. “Então és tu, rei?” Sequer entendemos o que pode significar ser rei, senão como o senhor absoluto, o dominador e não um julgado à morte.

E, no entanto, a resposta de Jesus é afirmativa. E conclusiva: “para isso nasci e para isto vim ao mundo, para dar testemunho da verdade. E quem é da verdade escuta minha voz.” (Cf. Jo.18, 33-37).

Em outra passagem do Evangelho, diz que os poderosos deste mundo querem mandar e serem servidos. “Mas entre vós não deverá ser assim. Ao contrário aquele que quiser tornar-se grande entre vós, seja aquele que serve… Deste modo o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Cf. Mt.20, 25-28)

Como, então entender esta realeza que se marca pelo serviço e que tem na fronte uma coroa de espinhos e, por trono, o patíbulo da cruz?

Marcada pelo pecado do orgulho, a humanidade quis prescindir da verdade e dominar pela soberba. Rejeitou a Deus e tenta sujeitar a si todas as coisas, escravizando-as. Transtornou a ordem do universo que, contra ela se revoltou –“A terra produzirá para ti espinhos e cardos e comerás a erva dos campos. Com o suor do teu rosto comerás o pão”(Cf. Gen 3, 18)

Só a Verdade nos libertará (Cf. Jo.8, 32), quando reconhecendo a Majestade Divina, voltarmos à ordem da criação. Para restaurar a beleza deste universo, Cristo, ao entrar no mundo, como nos ensina a Carta aos Hebreus, disse: “Eis-me aqui, eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade”(Cf. Heb.10, 7).

Reconhecendo a soberania de Deus, as criaturas se abrem entre si no amor e no serviço de reconstrução da dignidade perdida.

Por isso, Cristo se ofereceu na ara, no altar da Cruz, no vértice da História, ungido com o óleo da alegria e da exaltação, apagando com seu sangue o pecado e estabelecendo um novo reino, uma nova terra, um reino de santidade e de vida, de justiça, de amor e de paz, para o qual nós caminhamos cada dia, com o auxílio da graça, no esforço de cumprirmos a vontade de Deus no serviço e amor aos irmãos.

Todo este trabalho, unido ao sacrifício de Cristo, não tem comparação, como nos ensina S. Paulo, com a glória que vai se revelar em nós, pela qual anseia toda a natureza na esperança de também ela ser libertada da escravidão da corrupção para entrar na liberdade da glória dos filhos de Deus (Cf. Rom. 8,18).

O patíbulo dos condenados se transformou no trono de glória. Santo Agostinho, no seu ardor de convertido, exclama que hoje a cruz encima os mais altos edifícios e se sobrepõe na coroa dos reis que a ela se submetem. E a Igreja, num dos mais belos hinos sobre a bandeira da Cruz, canta, solene e vitoriosa, que o Senhor reinou pela cruz.

“Este sinal da cruz”, reza o capítulo 12, do Segundo Livro da Imitação de Cristo, “estará no céu, quando o Senhor vier julgar. Então todos os servos da cruz, que conformaram sua vida com o Crucificado, acorrerão ao encontro de Cristo, com grande confiança”.

Neste dia, quando Cristo se assentar para o julgamento final, Ele entregará ao Pai o Universo restaurado na graça e os redimidos irão com Ele para a glória: “A realeza do mundo passou agora para Nosso Senhor e seu Cristo e ele reinará pelos séculos dos séculos” (Cf. Apoc. 11, 15.)

O Reino de Cristo, não é um Reino passageiro e temporal. É um Reino eterno e universal que faz a humanidade caminhar ao encontro da sua perfeição e dignidade e com ela toda a criação. Vi, então um novo céu e uma nova terra, porque “Agora realizou-se a salvação e a realeza de nosso Deus e a autoridade de seu Cristo.(Cf. Apoc.12,10).


D. Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

sábado, 14 de novembro de 2009

A VIDA INTERIOR




A VIDA INTERIOR

“Nossa Senhora do Monte Carmelo é a Patrona da vida interior, a Virgem que nos afasta da multidão e nos leva docemente até esses cumes onde o ar é mais puro, o céu mais claro, Deus está mais próximo e nas que transcorre a vida de intimidade com Deus.

Segundo São Gregório Magno, a vida contemplativa e a vida eterna não são duas coisas diferentes, mas uma só realidade; uma é a aurora, a outra o meio-dia. A vida contemplativa é o principio da dita eterna, seu sabor antecipado. Que a Rainha do céu nos conceda, pois, a graça de compreender o estreito vínculo que une essas duas vidas para viver aqui embaixo como se estivéssemos já no céu.

Uma alma interior é uma alma que encontrou a Deus no fundo de seu coração e que vive sempre com Ele.

Deus está no fundo da alma, mas está ali escondido. A vida interior é como uma eclosão de Deus na alma.

Mantenhamo-nos no centro de nossa alma, nesse ponto preciso de onde podemos vigiar todos os seus movimentos, para detê-los ou dirigi-los, segundo o caso. Vivamos ou de Deus ou para Deus, mas repitamos a nós mesmos que não se age de todo para Deus senão quando já não se faz absolutamente nada para nós mesmos. Se age então porque Deus o quer, quando Ele quer e como Ele quer, por estar sempre unidos no fundo com Aquele de quem não somos mais que um ditoso instrumento.

Duas coisas fazem falta para chegar à perfeição e à íntima união com Deus: tempo e paz.

O que dá valor aos atos reflexivos do homem é a união com Deus pela caridade. Quanto mais profunda é essa intimidade, mais valor de eternidade tem seus frutos.

Uma alma cujo olhar interior, afetuoso e humilde, está sempre fixo em Deus, obtém Dele quanto quer.

Entre uma alma recolhida, desligada de tudo, e Deus, não há nada. A união se realiza por si mesma. É imediata.

O tempo passa; sempre se ama a Deus muito pouco e muito tarde.

Que delicado és em teus afetos, Deus meu! Tens em conta o que de legitimamente pessoal há em nós, e tratas a alma que amas como se no mundo não houvesse outra coisa a não ser ela e Tu.

Crer é comungar com a ciência de Deus: Ele vê; nós cremos em sua Palavra de testemunho.

Na fé, Deus fala; pela esperança, Deus ajuda; na caridade, Deus se dá, Deus preenche.

Elevemo-nos então, até Deus constantemente. Deixemos na terra a terra. Vivamos menos nos demais e mais em nós mesmos, mas o mais possível, senão em Deus, pelo menos perto Dele.

Quando no fundo de vossas almas ouvirdes duas vozes contraditórias, convém que escuteis geralmente a que fala mais baixo. Em todo caso, essa é a que pede mais sacrifícios. E tem tanto valor o sofrimento bem entendido! Desliguemo-nos e aproximemo-nos de Deus”.


Robert de Langeac, PSS
(Abade Augustin Delage, PSS)
“La vida oculta en Dios”


CAMINHO ESPIRITUAL - AO ENCONTRO DO SENHOR




AO ENCONTRO DO SENHOR

Temos que nos dispor para sair ao encontro do Senhor. Saiamos agora para fora e avancemos por cima de nós mesmos até Deus. É preciso renunciar a todo querer, desejar o atuar próprio. Nada mais que a intenção pura e desnuda de buscar só a Deus, sem o mínimo desejo de buscar-se a si próprio nem coisa alguma que possa redundar em seu proveito. Com vontade plena de ser exclusivamente para Deus, de conceder-lhe a morada mais digna, a mais íntima para que Ele nasça ali e leve a cabo sua obra em nós, sem sofrer impedimento algum.

Com efeito, para que duas coisas se fundam é necessário que uma seja paciente e a outra se comporte como agente. Unicamente quando o olho está limpo é que poderá ver um quadro pendurado na parede ou qualquer outro objeto. Impossível seria se houvesse outra pintura gravada na retina. O mesmo ocorre com o ouvido: enquanto um ruído lhe ocupa, está impedido de captar outro. Como conclusão, o recipiente é tanto mais útil quanto mais puro e vazio.

A esse sossego do espírito se refere o cântico da Missa que começa: “Quando um sossegado silêncio tudo envolvia” (Sb 18, 14). Em pleno silêncio, toda a criação calava na mais alta paz da meia noite. Então, oh Senhor, a Palavra onipotente deixou seu Trono para acampar em nossa tenda (Liturgia de Natal). Será então, no ponto culminante, no apogeu do silêncio, quando todas as coisas ficaram submersas na calma, somente então, se fará sentir a realidade desta Palavra. Porque, se queres que Deus fale, faz falta que tu cales. Para que Ele entre, todas as coisas deverão ter saído”.

A isto se referia Santo Agostinho quando dizia: "Esvazia-te para seres preenchida, sai para entrar". E em outro lugar: "Oh tu, alma nobre, nobre criatura, por que buscas fora a Quem está plena y manifestamente dentro de ti? És partícipe da natureza divina".


Johannes Tauler OP (Juan Tauler/1300-1361)
Instituciones, Temas de oración, CI 9


domingo, 8 de novembro de 2009

Beata Teresa de Calcutá – Uma grande santidade começa aprendendo-se a arte da delicadeza




«A santidade começa com a atenção aos outros»


Os cristãos são como luz para os outros, para todos os homens do mundo inteiro. Se somos cristãos, temos de ser semelhantes a Cristo.

Se quereis aprendê-la, a arte da delicadeza far-vos-á cada vez mais semelhantes a Cristo, pois o Seu coração era humilde e Ele estava sempre atento às carências dos homens. Uma grande santidade começa por essa atenção aos outros; para ser bela, a nossa vocação deve estar cheia dessa atenção. Por onde Jesus passou, fez o bem. E a Virgem Maria em Caná só pensou nas necessidades dos outros e em comunicá-las a Jesus.

Um Cristão é um tabernáculo de Deus vivo. Ele criou-me, Ele escolheu-me, Ele veio habitar-me, porque precisava de mim. Agora que sabeis quanto Deus vos ama, o que há de mais natural para vós do que passar o resto da vossa vida a resplandecer desse amor? Ser Cristo é amar como somos amados, como Cristo nos amou.


Bem-aventurada Teresa de Calcutá
Fundadora das Missionárias da Caridade
“A Gift for God”


Madre Teresa de Calcutá – Escutar no silêncio



ESCUTAR NO SILÊNCIO

Escuta em silêncio. Porque o teu coração transborda com um milhão de coisas, tu não podes escutar nele a voz de Deus. Mas assim que te pões à escuta da voz de Deus no teu coração pacificado, ele enche-se de Deus. Isso requer muitos sacrifícios. Se pensamos que queremos rezar, temos de nos preparar para isso. Sem desfalecimento. Não são senão as primeiras etapas em direção à oração, mas se não as concluímos com determinação, nunca alcançaremos a última etapa, a presença de Deus.

É por isso que a aprendizagem deve ser feita desde o início: colocar-se à escuta da voz de Deus no seu coração; e, no silêncio do coração, Deus põe-se a falar. Depois, da plenitude do coração sobe o que a boca deve dizer. Aí opera-se a fusão. No silêncio do coração, Deus fala e tu só tens que escutar. Depois, uma vez que o teu coração entra em plenitude, porque ele se encontra repleto de Deus, repleto de amor, repleto de compaixão, repleto de fé, compete à tua boca pronunciar-se.

Lembra-te, antes de falares, que é necessário escutar e só então, das profundezas de um coração aberto, podes falar e Deus entende-te.


Beata Teresa de Calcutá
Fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
“No Greater Love”


Teresa de Calcutá – Rezar no silêncio



REZAR NO SILÊNCIO

«Passou a noite a orar a Deus. Quando nasceu o dia, convocou os discípulos e escolheu doze dentre eles» (Lc 6,12)

Precisamos de encontrar Deus, e não é na agitação nem no barulho que poderemos encontrá-Lo. Deus é o amigo do silêncio.

Em que tamanho silêncio não crescem as árvores, as flores e a erva! Em que tamanho silêncio não se movem as estrelas, a lua e o sol! Não é nossa missão dar Deus aos pobres dos casebres? Não um Deus morto, mas um Deus vivo e que ama. Quanto mais recebermos na oração silenciosa, mais podemos dar na nossa vida ativa.

Precisamos de silêncio para sermos capazes de tocar as almas. O essencial não é o que dizemos, mas o que Deus nos diz e o que diz através de nós. Todas as palavras que dissermos serão vãs se não vierem do mais íntimo; as palavras que não transmitem a luz de Cristo aumentam as trevas.

Os nossos progressos na santidade dependem de Deus e de nós próprios, da graça de Deus e da própria vontade que temos de ser santos. Temos de assumir o compromisso vital de atingir a santidade. «Quero ser santo» significa: quero desligar-me de tudo o que não é Deus, quero despojar o coração de todas as coisas criadas, quero viver na pobreza e no despojamento, quero renunciar à minha vontade, às minhas inclinações, caprichos e gostos, e tornar-me o dócil servo da vontade de Deus.


Beata Teresa de Calcutá
Fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade
“Something Beautiful for God”


quinta-feira, 5 de novembro de 2009

CANONIZAÇÃO/CANONIZACIÓN São Rafael Arnáiz Barón – O silêncio




CANONIZAÇÃO 11 DE OUTUBRO DE 2009

SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN

O silêncio

“Das coisas que nos consolam na vida monástica, uma delas é o silêncio.

Sobretudo, há certas horas em que o silêncio se impõe pela necessidade; precisa-se dele; é o consolo do trapista; é o refúgio do aflito e desconsolado; é o recreio do que está alegre, e faz a felicidade do enamorado de Deus.

No silêncio é onde o monge encontra o bálsamo de suas dores e de suas, algumas vezes, desolações; no silêncio monacal é onde a alma que goza de Deus esconde suas delícias; no silêncio se ama melhor a Deus; com o silêncio o sofrimento é mais eficaz; no silêncio é onde muitas vezes se encontra o consolo que não podem dar as criaturas.

Que formoso e agradável é o silêncio!
Como ajuda a alma a buscar a Deus!
E como, uma vez que a Deus se encontrou, nos ajuda a conservá-lo e a não profanar sua presença!

Alguns dias, a alma de certo trapista encontra sua felicidade em conservar seu silêncio. Este trapista não trocaria de lugar com ninguém pois o que para o mundo é uma penitência, para ele é o seu céu na terra.

Quando lentamente transcorrem as horas da noite, dessa noite que o monge utiliza para rezar diante de Deus, quando toda a natureza dorme e a escuridão convida a alma ao recolhimento e à oração, quando nessas horas serenas esse fradezinho se aproxima do altar de Deus e recebe em seu coração o Autor da noite, ao Deus que fez os céus cobertos de estrelas, então, quando a alma se encontra rodeada de paz por fora e de luz por dentro, quando a escuridão envolve o Mosteiro e divinos resplendores iluminam o coração, então é quando se precisa do silêncio.

O sol, como que envergonhado de perturbar a paz da noite, vai aparecendo pouco a pouco no horizonte; uma tênue neblina rodeia o que há na paisagem; a Criação vai despertando, tudo vai se inundando de luz pouco a pouco; a Igreja do convento tem uma janela por cima do Altar Maior, e por esta janela entra a luz; esta luz suave do amanhecer fere e acaricia a imagem da Virgem Maria, chega até o Sacrário e entra no Coro.

Já se pode ler claramente nos grandes livros. À medida que a luz que Deus envia ao mundo cada manhã vai tomando tudo, a alma do monge vai se inundando também de alegria, de paz, de agradecimento ao Senhor que é tão bom com o homem. Então, quando tudo começa a viver, quando os pássaros aturdem com seus cantos, quando o sossego da oração é trocado pelos instrumentos de trabalho manual, quando o monge começa sua jornada, quem sabe se a padecer, então a alma deste homem, dando-se conta de que a vida sobre a terra é luta, de que ainda está no desterro, eleva seu coração sobre todas as coisas, pede auxílio a Deus, a quem oferece as obras do dia, se abraça à cruz de cada dia e, com o pensamento na Virgem, se refugia no silêncio, nesse silêncio que lhe ajuda a conservar a oração da noite. E nesse silêncio, oferece a Deus, umas vezes o suor de sua fronte, outras o frio, e sempre seu trabalho, seja qual for.

Que formoso é esse silêncio do trapista durante o seu trabalho!...A alma se dilata ao abismar-se na grandeza de Deus, manifestada nos céus embaixo do qual esse monge trabalha.

A Criação inteira está sujeita à mão do homem; tudo canta as glórias de Deus, os trigos, as flores, os montes e o céu, tudo é um concerto sublime de harmonia; nada falta e nada sobra; tudo o que Deus faz está feito.

A alma deste trapista algumas vezes está na terra, e outras está no céu bendizendo a Deus, mas sempre em silêncio. Embora algumas vezes, silêncio esse interrompido para cantar à Virgem, e eu conheço um desses casos”.


São Rafael Arnáiz Barón
Vida y Escritos del Beato Fray María Rafael Arnáiz Barón
Meditações de um Trapista, pp.306-308


CANONIZAÇÃO/CANONIZACIÓN Rafael Arnáiz Barón – O olhar fixo no Senhor




CANONIZAÇÃO 11 DE OUTUBRO DE 2009

SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN


O olhar fixo n’Ele

“Agora compreendo muito bem esse caminho tão estreito que assinala São João da Cruz, e que está entre outros dois, nos quais diz: oração, contemplação, consolos espirituais, dons da terra, dons do céu, etc. Pois bem, entre esses dois caminhos, está o que eu digo e que somente diz, nada... nada... nada...

Que difícil é chegar a isso. E para nós que andamos nos princípios, que fácil é equivocar-se, e quantas vezes queremos encontrar a Deus onde não está. E quando cremos haver lhe encontrado, nos encontramos com nós mesmos..., mas não há que desanimar, tudo permite Deus para o bem da alma, e sem conhecer o fracasso, não se saboreia o êxito, e antes de aproximar-se de Deus não há mais remédio a não ser despojar-se de tudo e permanecer no nada, como diz São João da Cruz.

Pois bem, nada de novo te digo, e que Deus me perdoe o querer tratar coisas tão altas quando ainda sem saber engatinhar, já quero voar... Esse tem sido meu pecado e continua sendo...

Que importa se estamos acima ou abaixo, perto ou longe de Deus? Dirijamos a Ele nossos olhares e unamo-nos para louvar-lhe, uns na vida monástica, outros nas missões, outros no mundo, uns de uma maneira e outros de outra. Que importa? É Ele que plenifica tudo e se nos olhamos uns aos outros, perdemos tempo... Muito formosa é às vezes a criatura, mas sua visão nos distrai do Criador.

Devemos seguir com o olhar fixo n’Ele, quer estejamos entre santos quer entre pecadores... Nós não somos nada; nada valemos, nem para nada servimos quando estamos distraídos e não fazemos caso do Senhor. Não percamos, então, tempo, e se com um pequeno sacrifício, com uma oração ou com um ato de amor, agradamos ao Senhor, então que possamos dizer, que pelo menos temos servido para algo, que é para dar a Ele maior glória. Essa deve ser nossa única ocupação e nosso único desejo”.


São Rafael Arnáiz Barón
Carta de 23 de julho de 1934 a sua tia, Duquesa de Maqueda.
Obras Completas, Monte Carmelo; pp.223-238

SÃO RAFAEL ARNÁIZ/ SAN RAFAEL ARNÁIZ – OCULTO EM DEUS/ OCULTO EN DIOS




CANONIZAÇÃO 11 DE OUTUBRO DE 2009

SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN


14 de dezembro de 1936 - 25 anos
Mi cuaderno - San Isidro

”Um dos encantos, melhor dizendo, consolos da vida monacal, é o estar oculto aos olhares do mundo. Isto o compreenderá quem gostar de meditar na vida de Cristo. Para dedicar-se a uma arte, para aprofundar-se em uma ciência, o espírito necessita solidão e isolamento, necessita recolhimento e silêncio. Agora, para a alma enamorada de Deus, para a alma que já não vê mais arte nem mais ciência que a vida de Jesus, para a alma que encontrou na terra o tesouro escondido, o silêncio não lhe basta, nem seu recolhimento em solidão. É necessário ocultar-se de todos, é necessário ocultar-se com Cristo, buscar um lugar na terra onde não cheguem os olhares profanos do mundo, e alí estar a sós com seu Deus.

O segredo do Rei como que se mancha e perde o brilho ao ser revelado. Esse segredo do Rei há que se ocultar para que ninguém o veja. Esse segredo que muitos crêem ser comunicações divinas e consolos sobrenaturais, esse segredo do Rei que invejamos nos Santos, se reduz muitas vezes a uma Cruz.

Não coloquemos a luz debaixo de uma vasilha, nos diz Jesus no Evangelho. Divulguemos as grandezas de Deus. Façamos chegar ao coração de nossos irmãos os tesouros de graças que Deus derrama abundantemente sobre nós. Divulguemos aos quatro ventos nossa fé, enchamos o mundo de gritos de entusiasmo por termos um Deus tão bom. Não nos cansemos de pregar seu Evangelho e dizer a todos que nos queiram ouvir, que Cristo morreu amando aos homens, cravado em um madeiro. Que morreu por mim, por ti, por eles... E se nós deveras lhe amamos, não lhe ocultemos, não ponhamos a luz que pode iluminar a outros, debaixo de uma vasilha.

Mas em troca, bendito Jesus, levemos, bem dentro e sem que ninguém se inteire, esse divino segredo... Esse segredo que Tu dás às almas que mais te querem... Essa pequenina parte de tua Cruz, de tua sede, de teus espinhos.

Ocultemos no último lugar da terra nossas lágrimas, nossas penas e nossos desconsolos. Não enchamos o mundo de tristes gemidos, nem levemos a ninguém nem a mais pequenina parte de nossas aflições.

Sejamos egoístas para sofrer e generosos na alegria. Façamos a felicidade dos que nos rodeiam e não turvemos o ambiente com caras tristes quando Deus nos mande alguma prova.

Ocultemo-nos para estar com Jesus na Cruz. Não busquemos mitigação à dor no consolo das criaturas, pois estaremos fazendo duas coisas que não são ruins, mas que não são perfeitas. Primeiro, ao deixar a Deus pelo que não é Deus, pois não é consolo seu o que Dele não vem, e se Ele não quer dá-lo, ao buscar fora Dele, perdemos a Ele, e também perdemos muitas vezes o mérito do sofrimento. Segundo, em nosso egoísmo, fazemos ou pelo menos queremos fazer participantes aos demais, do nosso sofrimento, para assim aliviar-nos, e conseguirmos com isso alívio fictício e falso, pois se te dói um dente, te seguirá doendo quer o digas ou não.

Em resumo, quase sempre é um ato de egoísmo e também falta de humildade, dar importância ao nosso sofrimento, como se por ser nosso fosse importante. Em troca, não buscando nada nas criaturas e sim tudo em Deus, se chega a amar a Cruz, mas a Cruz a sós e escondido... Na Cruz, ocultos com Deus e longe dos homens.

Ocultemos nossa vida, se nossa vida é penar. Ocultemos o sofrer, se o sofrer nos causa pena. Ocultemo-nos com Cristo para só a Ele fazer-lhe partícipe do que, pensando bem, só é Dele: o segredo da Cruz.

Aprendamos de uma vez, meditando em sua vida, em sua Paixão e em sua morte, que só há um caminho para se chegar a Ele..., o caminho da Santa Cruz”.


São Rafael Arnáiz Barón
Vida y Escritos del Beato Fray María Rafael Arnáiz Barón
Mi cuaderno, pp.374-376

CANONIZAÇÃO/CANONIZACIÓN RAFAEL ARNÁIZ – FOTOS OFICIAIS

SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN

CANONIZAÇÃO 11 DE OUTUBRO DE 2009


FOTOS OFICIAIS DA CANONIZAÇÃO



CLIQUE NA IMAGEM


São Rafael Arnáiz rogai por nós!

San Rafael Arnáiz ruega por nosotros!


CANONIZAÇÃO/CANONIZACIÓN São Rafael Arnáiz Barón – Palavras do Papa Bento XVI ao canonizar o Irmão Rafael




CANONIZAÇÃO 11 DE OUTUBRO DE 2009

SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN


Palavras de SS. o Papa Bento XVI ao canonizar o Irmão Rafael

“À figura do jovem que apresenta a Jesus o seu desejo de ser algo mais do que um bom cumpridor dos deveres que impõe a lei, retornando ao Evangelho de hoje, faz de reflexo da Luz o Irmão Rafael, hoje canonizado, falecido aos vinte e sete anos como Oblato na Trapa de San Isidro de Dueñas.

Ele também era de uma família abastada e, como ele mesmo disse, de “alma um pouco sonhadora”, cujos sonhos porém não se desvaneceram diante do apego aos bens materiais e a outras metas que a vida do mundo propõe às vezes com grande insistência. Ele disse sim à proposta de seguir Jesus, de maneira imediata e decidida, sem limites nem condições. Deste modo, iniciou um caminho que, a partir do momento em que se deu conta no Mosteiro de que “não sabia rezar”, o levou em poucos anos ao ápice da vida espiritual, que ele retrata com grande simplicidade e maturidade em numerosos escritos.

O Irmão Rafael, ainda muito próximo de nós, continua a oferecer-nos com o seu exemplo e as suas obras um percurso atrativo, especialmente para os jovens que não se conformam com pouco, mas que aspiram à plena verdade, à mais indizível alegria, que se alcançam através do amor de Deus.

“Vida de amor... Está aqui a única razão de viver”, diz o novo Santo. E insiste: “Do amor de Deus nasce tudo”. Que o Senhor ouça benigno uma das últimas orações de São Rafael Arnáiz, quando lhe entregava toda a sua vida, suplicando: “Toma-me a mim e doa-Te a Ti ao mundo”. Que se doe para reanimar a vida interior dos cristãos de hoje. Que se doe para que os seus Irmãos da Trapa e os centros monásticos continuem a ser esse farol que faz descobrir o íntimo anseio de Deus que Ele pôs em cada coração humano”.


Papa Bento XVI
Homilia da Canonização
Roma, 11 de outubro de 2009

VÍDEO DA CANONIZAÇÃO/VÍDEO DE LA CANONIZACIÓN de São Rafael Arnáiz Barón



CANONIZAÇÃO 11 DE OUTUBRO DE 2009

SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN






“Os santos aceitam o convite exigente, e põem-se com humilde docilidade no seguimento das pegadas de Cristo crucificado e ressuscitado. Sua perfeição, na lógica da fé, às vezes humanamente incompreensível, consiste em não ser o centro de si mesmos, mas em escolher o ir contra a corrente, vivendo segundo o Evangelho”.


Papa Bento XVI
Homilia da Canonização
Roma, 11 de outubro de 2009



CANONIZAÇÃO/CANONIZACIÓN San Rafael Arnáiz Barón – A mensagem de um jovem Trapista




CANONIZAÇÃO 11 DE OUTUBRO DE 2009

SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN

A mensagem de um jovem Trapista

Domingo, 11 de outubro tem lugar, em Roma, uma cerimônia de canonização presidida pelo Papa, na qual serão propostos como modelos aos católicos de todo o mundo 5 novos santos: Zygmunt Szczesny Felinski, Marie de la Croix; Damián de Veuster; Francisco Coll y Guitart e Rafael Arnáiz Barón, mais conhecido como “o Irmão Rafael”.

Neste escrito, vou referir-me somente a este último. Se me permitem uma recordação pessoal, direi que quando tinha só 18 anos li os escritos do “Irmão Rafael” e fiquei profundamente impressionado por seu testemunho de fé. Digamos, para começar, que o Irmão Rafael é um dos autores de escritos espirituais e místicos mais profundos do século passado. Não me parece exagerado dizer que cabe situar sua figura e sua obra na mesma linha de nossos grandes místicos do século XVI, como Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz.

Sua condição de místico está refletida em uma de suas frases: “Quisera ser santo e que não o saiba ninguém”. Santa Teresa de Jesus viveu aquele famoso “só Deus basta”. O Irmão Rafael centrará seu ideal nas palavras: “Só Deus”, expressão de sua vocação mística, testemunho de quem jogou em sua vida uma só carta: só Deus. E esta radicalidade fica expressa em sua escolha: seria monge trapista. É sabido que a Trapa é um ramo da Ordem do Cister que se caracteriza pelo rigor e a grande austeridade da vida monástica.

Rafael Arnáiz não teve precisamente uma vida fácil. Nasceu em 9 de abril de 1911, em Burgos e morreu aos 27 anos, em 26 de abril de 1938, em seu querido Mosteiro de San Isidro de Dueñas, vítima de uma dolorosa enfermidade. Educado em uma família profundamente cristã, Rafael estudou Arquitetura em Madri. Possuía um temperamento artístico notável e era muito aficcionado à fotografia. Mas em sua vida se impôs sobretudo o chamado de Cristo e não duvidou em deixar tudo.

Em 1934 ingressou no Mosteiro Trapista de San Isidro de Dueñas, na Diocese de Palencia, com vontade de consagrar-se a Deus. Mas ali lhe esperava a grande cruz de sua vida. Pouco tempo depois de haver ingressado, contraiu uma diabetes sacarina, que o fez interromper seus estudos e lhe obrigou a sair do Mosteiro por três vezes. Não pôde chegar a ser ordenado sacerdote e quis permanecer na condição de oblato, e por isso é chamado, com toda razão, “o Irmão Rafael”, porque assim assumiu permanecer. Ele queria desaparecer ante o mundo e ser só de Deus.

É conhecida a afirmação do grande teólogo Karl Rahner, segundo a qual os cristãos do futuro ou serão místicos ou não serão nada. A condição de místico está radicada sobretudo em uma experiência íntima, profunda e sumamente autêntica do Mistério de Deus e de seu amor, que é sua natureza mais íntima e que, de tão pleno, flui até todas as
criaturas. Os místicos são as grandes testemunhas da fé.

João Paulo II propôs a este jovem monge trapista como modelo de vida cristã aos jovens na Jornada Mundial da Juventude, de Santiago de Compostela (1989). Já se pensa em propor também sua vida e seu testemunho com motivo da próxima Jornada Mundial da Juventude de Madri (2011). E me parece que lhe podemos recomendar já os frutos do X Aplec de l’Esperit, organizado pela juventude cristã das Dioceses catalãs e que celebraremos pela primeira vez em nossa cidade de Terrassa, em 22 de maio de 2010.


+D.Josep Àngel Saiz Meneses - Bispo de Terrassa
Revistaecclesia
Do Blog Irmão Rafael Arnáiz, OCSO


CANONIZAÇÃO/CANONIZACIÓN Rafael Arnáiz Barón – Familiarizar-se com a mística




CANONIZAÇÃO 11 DE OUTUBRO DE 2009

SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN


Navegar mar adentro

A figura do Irmão Rafael é um convite para que nos familiarizemos com a “mística”; quer dizer, com o caminho que Deus traça para que as almas cheguem à união íntima com Ele.

Temos a sorte de viver na Espanha, que é provavelmente a nação com maior tradição mística da Igreja Católica. Rafael Arnáiz traz a nossos dias o melhor da herança da mística espanhola; mas o faz com uma forma de expressão própria do século XX. Sua figura se torna atraente por sua jovialidade, seu sentido de humor, sua pluma privilegiada, seus exemplos pertos… Por isso… Percamos o “medo” da mística!

Não a vejamos como algo distante e inalcançável para nós. Pelo menos, em certa medida, todos estamos envoltos nela! Marchemos sem medo, “navegando mar adentro”, no oceano do Mistério de Deus misericordioso, Pai, Filho e Espírito Santo. Assim, entenderemos o texto de São Paulo aos Efésios: “Que Cristo habite pela fé em vossos corações, para que, arraigados e cimentados no amor, possais compreender com todos os santos qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede a todo conhecimento, para que sejais plenificados com toda a Plenitude de Deus” (Ef 3, 17-19).


De la Carta Pastoral a los Jóvenes III, 6
BUSCAD EL ROSTRO DE DIOS
Do Blog Irmão Rafael Arnáiz, OCSO

CANONIZAÇÃO/CANONIZACIÓN São Rafael Arnáiz Barón – Diante do Sacrário




CANONIZAÇÃO 11 DE OUTUBRO DE 2009

SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN


Diante do Sacrário

“Uma multidão de Sacrários existem na terra, mas somente um Deus, que é Jesus Sacramentado. Consoladora verdade que faz estar tão unidos o monge em seu Coro, o missionário em terra de infiéis e o secular em sua paróquia. Não há distâncias, nem há idades. Ao pé do Sacrário estamos todos perto. Deus nos une. Peçamos a Ele, por mediação de Maria, que algum dia no céu, possamos contemplar a esse Deus que por amor ao homem se oculta sob as espécies do pão e do vinho. Assim seja.

Diante do Sacrário, quantas vezes me ponho diante de Ti, oh, Senhor! Meus primeiros sentimentos são de vergonha, Senhor. Mas depois, oh, Deus, que bom sois!, depois de ver-me a mim, vejo a Vós, e então ao contemplar vossa misericórdia que não me rechaça, minha alma se consola e é feliz. Pensar que vos ofendi e apesar disso me amais e me permitis estar em vossa presença sem que vossa justa ira me aniquile. Senhor, dá-me as lágrimas de David para chorar minhas culpas, mas ao mesmo tempo, dá-me um coração grande, muito grande, para com ele poder corresponder um pouquinho, embora seja muito pouquinho, ao imenso amor que me tendes.

Diante do Sacrário, Senhor, não sei que faço aqui. Nada, pois nada sei fazer. Senhor, não sei que faço aqui, mas estou contigo. Isso me basta e eu sei que estais aqui, diante de mim”.


Irmão Rafael Arnáiz
Escritos sueltos(85)-297;(36)-85
Do Blog Irmão Rafael Arnáiz, OCSO


São Rafael Arnáiz Barón – A mística do Beato Rafael Arnáiz




CANONIZAÇÃO 11 DE OUTUBRO DE 2009

SÃO RAFAEL ARNÁIZ BARÓN


A mística do Irmão Rafael Arnáiz


“A mística do Irmão Rafael flui e reflui por todos os poros de sua pessoa, não somente quando escreve, pensa e compõe, mas também quando esboça, desenha e pinta. Traduzindo plasticamente seus sentimentos mais profundos com seu espírito e sensibilidade de artista, nos pintará, já não só o «monte da perfeição», rematado pela Cruz, mas «o cervo correndo com insaciáveis ânsias de Deus»: sua «busca de amores, passando por fortes e fronteiras» e, sobretudo, «a alma na cruz» que, em frase paulina, significa a plena identificação com Cristo e que, começando por uma coroa de espinhos a seus pés, termina com o dardo da transverberação da mais alta mística.

Nesse sentido, nos deixou preciosas interpretações feitas a pincel ou a simples pena, traduzindo as palavras dos salmos ou explicando plasticamente as poesias mais elevadas de São João da Cruz em estampas de alto valor extraordinário e místico. Assim, teremos: «Estrangeiro sou na terra» (Sl 118, 19), «Que se prostre ante Ti a terra inteira» (Sl 65. 4), «Escolhi o caminho da verdade» (Sl 118, 30). É o que nos expressa o Irmão Rafael quando, por força da sua experiência mística, plasma em estampas as canções de São João da Cruz”.


Fray Mª Alberico Feliz Carvajal, OCSO
Vida y Escritos del Beato Fray María Rafael Arnáiz Barón
Introducción, p.52
Do Blog Irmão Rafael Arnáiz, OCSO


São Rafael Arnáiz Barón e São João da Cruz – San Rafael Arnáiz y San Juan de La Cruz




São Rafael Arnáiz Barón

CANONIZAÇÃO 11 DE OUTUBRO DE 2009


São Rafael Arnáiz e São João da Cruz

“Sabemos que o Cântico de São João da Cruz é sua obra predileta e, além disso, reflexa fielmente a sua própria alma, pois o cantou e o viveu nos momentos decisivos de sua existência. O Cântico é a oração de um místico poeta que vive do amor de Deus e, por isso, é o poema mais completo e mais próximo de sua experiência. Na realidade, tomado em seu conjunto, tem muito de autobiografia espiritual. O amor que anima a vida inteira de São João da Cruz e inspira seus escritos assume no Cântico toda a força de uma vocação e de uma paixão.

Nesse sentido, alguém de muita autoridade, ao estudar «a experiência do Irmão Rafael à luz dos ensinamentos de São João da Cruz», disse:

«Ao querer comparar estas duas almas (São João da Cruz e o Irmão Rafael), ao tratar de explicar este encontro que se deu entre elas, tem que ter em conta a fortíssima paixão de Deus, que ambos padeceram e que é o segredo de suas vidas entregues. Sem dúvida, essa paixão foi vivida e manifestada com seus próprios matizes existenciais em cada um deles. Cada alma é uma alma. Mas com uma paixão cravada como um dardo no coração de um e de outro, e que é o que provoca o dinamismo vital em suas respectivas vidas.

São João da Cruz foi um de seus grandes amigos. Um de seus guias espirituais. O mais citado em seus escritos. Com ele sintonizou maravilhosamente sua alma endeusada. Ambos foram peregrinos do Absoluto. Sofreram a paixão de Deus. Paixão de amor e de dor. Paixão mística. Só Deus! Só Deus!, foi seu grito na noite. É o pessoal e o social que todos padecemos e que talvez nos acovarde, como um sinal de luz que Deus, por meio de Rafael, nos regala para despertar nossa pobreza de fé, de esperança e de amor. Nada e Tudo. Só Deus!» (Jiménez Duque, B., Espiritualidad del Hermano Rafael, pp.75,85, na Semana de Espiritualidade do Irmão Rafael, Monasterio Cisterciense de San Isidro de Dueñas, Palencia, 1984)”.


Fray Mª Alberico Feliz Carvajal, OCSO
Vida y Escritos del Beato Fray María Rafael Arnáiz Barón
Introducción, pp.52-53
Do Blog Irmão Rafael Arnáiz, OCSO


Irmão/Hermano Rafael Arnáiz Barón – Papel encontrado em um dos bolsos da sua túnica quando morreu




CANONIZAÇÃO 11 DE OUTUBRO DE 2009

São Rafael Arnáiz Barón


Papel encontrado em um dos bolsos da sua túnica, quando morreu o Irmão Rafael Arnáiz Barón

Ao morrer o jovem Monge Trapista, Frei Maria Rafael Arnáiz Barón, em um dos bolsos de seu hábito, escrito com lápis e muito desgastado, os monges encontraram, um pequeno papel, um capítulo de faltas:


• Subir escada batendo pé [Marcado].
• Não fazer saudação no Capítulo [Marcado].
• Correr sem respeito na Igreja [Marcado].
• Gestos durante o grande silêncio [Marcado]
• Voltar a cabeça na Missa [Marcado].
• Gestos falados com um professo [Marcado].
• Não obedecer imediatamente à campainha [Marcado].
• Equivocar-me no Coro, não fazer prostração [Marcado].
• Dar mostras externas de impaciência [Marcado].
• Perder tempo trabalho [Marcado].
• Perder tempo olhar janelas [Marcado].
• Perder tempo intervalos [Marcado].
• Acenar exageradamente como leigo [Marcado].
• Descuidado com quarto da enfermaria.
• Descuidado com fazer ruído na escada
e com as portas.
• Distrair-me no Coro e não fazer a tempo
as inclinações.


Vida y Escritos del Beato Fray María Rafael Arnáiz Barón
Pp.603-604
Do Blog Irmão Rafael Arnáiz, OCSO