domingo, 25 de outubro de 2009

Se eu não tiver a caridade, nada sou. Dilatai-vos no amor.



Se eu não tiver a caridade, nada sou. Dilatai-vos no amor.

Eu e o Pai, diz o Filho, viremos a ele, isto é, ao homem santo, e faremos nele a nossa morada (Jo 14, 23). A ele, isto é, ao homem santo. Penso que também o Profeta não falou de outro céu quando disse: Vós habitais na morada santa, ó louvor de Israel (cf. Sl 21, 4: Vulgata). E o Apóstolo afirma claramente: Cristo habita em vossos corações, pela fé (Ef 3, 17).

Não é de admirar que o Senhor Jesus tenha prazer em habitar nesse céu. Para criá-lo, Ele não disse simplesmente: “Faça-se”, como às demais criaturas. Mas lutou para conquistá-lo, morreu para redimi-lo. Por isso, depois de ter sofrido, afirmou com mais ardor: Eis o lugar do meu repouso para sempre, eu fico aqui: este é o lugar que preferi (Sl 131 [132], 14). Feliz da alma à qual se diz: Vem, minha amada; colocarei em ti o meu trono (cf. Ct 2, 10.13: Vulgata).

Por que, agora, te entristeces, ó minh’alma, e gemes no meu peito? (Sl 41 [42], 6). Pensas que também em ti não poderás encontrar um lugar para o Senhor? E que lugar em nós será digno de sua glória e suficiente para sua majestade? Quem me dera merecesse pelo menos adorá-lo no lugar em que colocou seus pés! Quem me dera pudesse ao menos agarrar-me no mínimo às pegadas de alguma alma santa que Ele escolheu por sua herança (Sl 32 [33], 12)! Oxalá Ele se digne infundir em minha alma o óleo de sua misericórdia, de modo que também eu possa dizer: De vossos mandamentos corro a estrada, porque vós me dilatais o coração (Sl 118 [119], 32). Então poderei, talvez, também eu, mostrar em mim mesmo, se não um grande cenáculo preparado, em que Ele possa sentar-se à mesa com seus discípulos, pelo menos um lugar onde possa reclinar a cabeça.

Depois é necessário que a alma cresça e se dilate, para ser capaz de Deus. Ora, sua medida é seu amor, como diz o Apóstolo: Dilatai-vos no amor (cf. 2Cor 6, 13). De fato, embora a alma, sendo espírito, não ocupe uma extensão corporal, contudo a graça lhe concede o que lhe foi negado pela natureza. Cresce e se estende, mas espiritualmente. Cresce e aumenta, até chegar ao estado de adulto, até chegar à estatura de Cristo em sua plenitude (Ef 4, 13). Cresce até se tornar um templo santo no Senhor (Ef 2, 21).

Calcule-se, pois, a grandeza de cada alma pela medida de sua caridade: a que tem muita é grande, a que tem pouca é pequena, a que não tem nenhuma é nada, como diz São Paulo: Se eu não tiver caridade, nada sou (1Cor 13, 2).


São Bernardo de Clairvaux, Abade
Sermo 27, 8-10 in Cantica Canticorum
(Editiones Cistercienses 1, 187-189)
(Dos Sermões sobre o Cântico dos Cânticos)


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