domingo, 25 de outubro de 2009

São Bernardo de Claraval, doce poeta de Nossa Senhora



São Bernardo de Claraval, doce poeta de Nossa Senhora

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 21 de outubro de 2009 (ZENIT.org) - Oferecemos, a seguir, o texto completo da catequese pronunciada hoje pelo Papa Bento XVI, durante a Audiência geral com os peregrinos procedentes do mundo inteiro, na Praça de São Pedro.

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Queridos irmãos e irmãs,

Hoje, eu gostaria de falar sobre São Bernardo de Claraval, chamado de “o último dos Padres” da Igreja, porque no século XII, mais uma vez, ele renovou e fez presente a grande teologia dos padres.

Não conhecemos em detalhe os anos da sua juventude; sabemos, contudo, ele nasceu em 1090 em Fontaines, na França, em uma família numerosa e discretamente acomodada. Ainda muito jovem, dedicou-se ao estudo das chamadas artes liberais – especialmente da gramática, retórica e dialética – na Escola dos Canônicos da Igreja de Saint-Vorles, em Châtillon-sur-Seine, e amadureceu lentamente a decisão de entrar na vida religiosa.

Por volta dos 20 anos, entrou em Cîteaux (Cister), uma fundação monástica nova, mais ágil com relação dos antigos e veneráveis mosteiros de então e, ao mesmo tempo, mais rigorosa na prática dos conselhos evangélicos. Alguns anos mais tarde, em 1115, Bernardo foi enviado por Santo Estêvão Harding, terceiro Abade de Cister, a fundar o Mosteiro de Claraval (Clairvaux). O jovem Abade, com somente 25 anos, pôde aqui afinar sua própria concepção da vida monástica e empenhar-se em traduzi-la à prática. Observando a disciplina de outros mosteiros, Bernardo falou com decisão da necessidade de uma vida sóbria e comedida, tanto à mesa como na indumentária e nos edifícios monásticos, recomendando a sustentação e o cuidado dos pobres. Entretanto, a comunidade de Claraval era cada vez mais numerosa e multiplicava suas fundações.

Nessa mesma época, antes de 1130, Bernardo empreendeu uma vasta correspondência com muitas pessoas, tanto importantes como de modestas condições sociais. Às muitas cartas deste período, é preciso acrescentar os numerosos Sermões, como também Sentenças e Tratados. Destaca-se também, nesses anos, a grande amizade de Bernardo com Guilherme, Abade de Saint-Thierry, e com Guilherme de Champeaux, uma das figuras mais importantes do século XII.

De 1130 em diante, começou a ocupar-se de muitas e graves questões da Santa Sé e da Igreja. Por este motivo, teve de sair mais frequentemente do seu mosteiro, inclusive fora da França. Fundou também alguns mosteiros femininos e foi protagonista de um vivo epistolário com Pedro o Venerável, Abade de Cluny, sobre quem falei na última quarta-feira.

Ele dirigiu seus escritos polêmicos sobretudo contra Abelardo, um grande pensador que iniciou uma nova forma de fazer teologia, introduzindo o método dialético-filosófico na construção do pensamento teológico. Outra frente contra a qual Bernardo lutou foi a heresia dos Cátaros, que desprezavam a matéria e o corpo humano, desprezando, por conseguinte, o Criador. Ele, no entanto, sentiu-se no dever de defender os judeus, condenando os cada vez mais difundidos brotos de anti-semitismo. Por este último aspecto de sua ação apostólica, algumas décadas mais tarde, Epharim, Rabino de Bonn, dedicou a Bernardo uma vibrante homenagem. Nesse mesmo período, o santo Abade escreveu suas obras mais famosas, como os celebérrimos Sermões sobre o Cântico dos cânticos.

Nos últimos anos da sua vida – ele faleceu em 1153 –, Bernardo teve de limitar as viagens, ainda que sem interrompê-las totalmente. Aproveitou para revisar definitivamente o conjunto das Cartas, dos Sermões e dos Tratados. Vale a pena mencionar um livro bastante particular, que ele terminou precisamente nesse período, em 1145, quando um aluno seu, Bernardo Pignatelli, foi eleito Papa com o nome de Eugênio III. Nessa circunstância, Bernardo, em qualidade de pai espiritual, escreveu a esse filho espiritual o texto De Consideratione, que contém ensinamentos para poder ser um bom Papa. Nesse livro, que continua sendo uma leitura conveniente para os papas de todos os tempos, Bernardo não indica somente como ser um bom papa, mas expressa também uma profunda visão do mistério da Igreja e do mistério de Cristo, que se resolve, no final, com a contemplação do mistério de Deus uno e trino: “Deveria prosseguir ainda a busca desse Deus que ainda não foi bastante buscado – escreve o santo Abade –, mas talvez se possa buscar e encontrar mais facilmente coma oração que com a discussão. Terminemos, portanto, aqui o livro, mas não a busca” (XIV, 32: PL 182, 808).


Eu gostaria de deter-me somente em dois aspectos centrais da rica doutrina de Bernardo: estes se referem a Jesus Cristo e a Maria Santíssima, sua Mãe. Sua solicitude pela íntima e vital participação do cristão no amor de Deus em Jesus Cristo não traz orientações novas no status científico da teologia. Mas, de forma mais decidida que nunca, o Abade de Claraval configura o teólogo com o contemplativo e o místico.

Só Jesus – insiste Bernardo, frente às complexas reflexões dialéticas do seu tempo – é “mel na boca, cântico no ouvido, júbilo no coração” (mel in ore, in aure melos, in corde iubilum). Daqui provém o título, atribuído a ele pela tradição, de Doctor mellifluus: seu louvor a Jesus Cristo “se derrama como o mel”.

Nas extenuantes batalhas entre nominalistas e realistas – duas correntes filosóficas da época –, o Abade de Claraval não se cansa de repetir que só há um nome que conta, o de Jesus Nazareno. “Árido é todo alimento da alma – confessa – se não for tocado por este óleo; é insípido se não for temperado com este sal. O que escreves não tem sabor para mim, se não leio nele Jesus”. E conclui: “Quando discutes ou falas, nada tem sabor para mim, se não sinto ressoar o nome de Jesus” (Sermões em Cantica Canticorum XV, 6: PL 183,847). Para Bernardo, de fato, o verdadeiro conhecimento de Deus consiste na experiência pessoal, profunda, de Jesus Cristo e do seu amor. E isso, queridos irmãos e irmãs, vale para todo cristão: a fé é, antes de mais nada, um encontro pessoal e íntimo com Jesus; é fazer a experiência da sua proximidade, da sua amizade, do seu amor, e somente assim se aprende a conhecê-lo cada vez mais, a amá-lo e segui-lo cada vez mais. Que isso possa acontecer com cada um de nós!

Em outro célebre sermão do domingo dentro da oitava da Assunção, o santo Abade descreveu em termos apaixonados a íntima participação de Maria no sacrifício redentor do seu Filho: “Ó santa Mãe – exclama –, verdadeiramente uma espada transpassou tua alma! (...) Até tal ponto a violência da dor transpassou tua alma, que com razão podemos te chamar mais que mártir, porque em ti a participação na paixão do Filho superou muito em intensidade os sofrimentos físicos do martírio” (14: PL 183,437-438).

Bernardo não hesita: "per Mariam ad Iesum": através de Maria somos conduzidos a Jesus. Ele confirma com clareza a subordinação de Maria a Jesus, segundo os fundamentos da mariologia tradicional. Mas o corpo do Sermão documenta também o lugar privilegiado da Virgem na economia da salvação, dada sua particularíssima participação como Mãe (compassio) no sacrifício do Filho. Não por acaso, um século e meio depois da morte de Bernardo, Dante Alighieri, no último canto da “Divina Comédia”, colocará nos lábios do Doutor melífluo a sublime oração a Maria: “Virgem Mãe, filha do teu Filho/ humilde e mais alta criatura / término fixo do eterno conselho...” (Paraíso 33, vv. 1ss.).

Estas reflexões, características de um enamorado de Jesus e de Maria, como São Bernardo, provocam ainda hoje, de forma saudável, não somente os teólogos, mas todos os crentes. Às vezes se pretende resolver as questões fundamentais sobre Deus, sobre o homem e sobre o mundo com as únicas forças da razão. São Bernardo, ao contrário, solidamente fundado na Bíblia e nos Padres da Igreja, recorda-nos que sem uma profunda fé em Deus, alimentada pela oração e pela contemplação, por uma relação íntima com o Senhor, nossas reflexões sobre os mistérios divinos correm o risco de serem um vão exercício intelectual e perdem sua credibilidade. A teologia reenvia à “ciência dos santos” a sua intuição dos mistérios do Deus vivo, a sua sabedoria, dom do Espírito Santo, que são ponto de referência do pensamento teológico.

Junto a Bernardo de Claraval, também nós devemos reconhecer que o homem busca melhor e encontra mais facilmente Deus “com a oração que com a discussão”. No final, a figura mais verdadeira do teólogo continua sendo a do apóstolo João, que apoiou sua cabeça no coração do Mestre.

Eu gostaria de concluir estas reflexões sobre São Bernardo com as invocações a Maria, que lemos em sua bela homilia: “Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria. Que seu nome nunca se afaste de teus lábios, jamais abandone teu coração; e para alcançar o socorro da intercessão dela, não negligencies os exemplos de sua vida. Seguindo-a, não te transviarás; rezando a Ela, não desesperarás; pensando nela, evitarás todo erro. Se Ela te sustenta, não cairás; se Ela te protege, nada terás a temer; se Ela te conduz, não te cansarás; se Ela te é favorável, alcançarás o fim” (Hom. II super “Missus est”, 17: PL 183, 70-71).


Papa Bento XVI
Audiência Geral de 21 de outubro de 2009


Não se pode fazer teologia sem experiência de Cristo, afirma Bento XVI



Não se pode fazer teologia sem experiência de Cristo

O Papa dedica a audiência geral ao santo Abade Bernardo de Claraval

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 21 de outubro de 2009 (ZENIT.org) - “Para Bernardo, o verdadeiro conhecimento de Deus consiste na experiência pessoal, profunda, de Jesus Cristo e do seu amor. E isso, queridos irmãos e irmãs, vale para todo cristão”, afirmou hoje o Papa Bento XVI.

O Pontífice dedicou a catequese de hoje, dentro do ciclo de escritores cristãos do primeiro milênio, a São Bernardo de Claraval (1090-1153), Abade cisterciense conhecido como “Doutor melífluo”, pela doçura com que falava de Jesus Cristo.

Este santo escritor foi uma importante figura da Europa medieval, que manteve contato com importantes personalidades do seu tempo e que é reconhecido como “último Padre da Igreja”.

O Papa sublinhou que, mais que ter aberto novos caminhos na teologia, São Bernardo “configura o teólogo com o contemplativo e o místico”, em uma época de duras disputas entre duas importantes correntes teológicas, o nominalismo e o realismo.

“Só Jesus – insiste Bernardo, frente às complexas reflexões dialéticas do seu tempo – é ‘mel na boca, cântico no ouvido, júbilo no coração’”, explicou o Papa.

“O Abade de Claraval não se cansa de repetir que só há um nome que conta, o de Jesus Nazareno”, acrescentou.

Seu exemplo recorda hoje que “a fé é um encontro pessoal e íntimo com Jesus; é fazer a experiência da sua proximidade, da sua amizade, do seu amor, e somente assim se aprende a conhecê-lo cada vez mais, a amá-lo e segui-lo cada vez mais”.

“Que isso possa acontecer com cada um de nós!”, desejou o Papa.

As reflexões deste santo abade “provocam ainda hoje, de forma saudável, não somente os teólogos, mas todos os crentes”, que, às vezes, pretendem “resolver as questões fundamentais sobre Deus, sobre o homem e sobre o mundo com as únicas forças da razão”.

“São Bernardo, ao contrário, solidamente fundado na Bíblia e nos Padres da Igreja, recorda-nos que sem uma profunda fé em Deus, alimentada pela oração e pela contemplação, por uma relação íntima com o Senhor, nossas reflexões sobre os mistérios divinos correm o risco de serem um vão exercício intelectual e perdem sua credibilidade”.

“No final, a figura mais verdadeira do teólogo continua sendo a do apóstolo João, que apoiou sua cabeça no coração do Mestre”, sublinhou o Papa.

Enamorado de Nossa Senhora

Outro dos pontos sobressalentes do pensamento de São Bernardo é sua veneração a Nossa Senhora, sobre quem ele escreveu importantes sermões e orações. Sobretudo, ele se centrou na importância de Maria ao ter acompanhado seu Filho na Paixão.

“Bernardo não hesita: ‘per Mariam ad Iesum’: através de Maria somos conduzidos a Jesus”, afirmou o Papa.

Em seus escritos, o santo “confirma com clareza a subordinação de Maria a Jesus, segundo os fundamentos da mariologia tradicional”, mas “documenta também o lugar privilegiado da Virgem na economia da salvação”.

Bento XVI concluiu sua catequese citando uma belíssima homilia do santo: “Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria. Que seu nome nunca se afaste de teus lábios, jamais abandone teu coração; e para alcançar o socorro da intercessão dela, não negligencies os exemplos de sua vida”.

“Seguindo-a, não te transviarás; rezando a Ela, não desesperarás; pensando nela, evitarás todo erro. Se Ela te sustenta, não cairás; se Ela te protege, nada terás a temer; se Ela te conduz, não te cansarás; se Ela te é favorável, alcançarás o fim”.


Papa Bento XVI
Audiência Geral de 21 de outubro de 2009


Se eu não tiver a caridade, nada sou. Dilatai-vos no amor.



Se eu não tiver a caridade, nada sou. Dilatai-vos no amor.

Eu e o Pai, diz o Filho, viremos a ele, isto é, ao homem santo, e faremos nele a nossa morada (Jo 14, 23). A ele, isto é, ao homem santo. Penso que também o Profeta não falou de outro céu quando disse: Vós habitais na morada santa, ó louvor de Israel (cf. Sl 21, 4: Vulgata). E o Apóstolo afirma claramente: Cristo habita em vossos corações, pela fé (Ef 3, 17).

Não é de admirar que o Senhor Jesus tenha prazer em habitar nesse céu. Para criá-lo, Ele não disse simplesmente: “Faça-se”, como às demais criaturas. Mas lutou para conquistá-lo, morreu para redimi-lo. Por isso, depois de ter sofrido, afirmou com mais ardor: Eis o lugar do meu repouso para sempre, eu fico aqui: este é o lugar que preferi (Sl 131 [132], 14). Feliz da alma à qual se diz: Vem, minha amada; colocarei em ti o meu trono (cf. Ct 2, 10.13: Vulgata).

Por que, agora, te entristeces, ó minh’alma, e gemes no meu peito? (Sl 41 [42], 6). Pensas que também em ti não poderás encontrar um lugar para o Senhor? E que lugar em nós será digno de sua glória e suficiente para sua majestade? Quem me dera merecesse pelo menos adorá-lo no lugar em que colocou seus pés! Quem me dera pudesse ao menos agarrar-me no mínimo às pegadas de alguma alma santa que Ele escolheu por sua herança (Sl 32 [33], 12)! Oxalá Ele se digne infundir em minha alma o óleo de sua misericórdia, de modo que também eu possa dizer: De vossos mandamentos corro a estrada, porque vós me dilatais o coração (Sl 118 [119], 32). Então poderei, talvez, também eu, mostrar em mim mesmo, se não um grande cenáculo preparado, em que Ele possa sentar-se à mesa com seus discípulos, pelo menos um lugar onde possa reclinar a cabeça.

Depois é necessário que a alma cresça e se dilate, para ser capaz de Deus. Ora, sua medida é seu amor, como diz o Apóstolo: Dilatai-vos no amor (cf. 2Cor 6, 13). De fato, embora a alma, sendo espírito, não ocupe uma extensão corporal, contudo a graça lhe concede o que lhe foi negado pela natureza. Cresce e se estende, mas espiritualmente. Cresce e aumenta, até chegar ao estado de adulto, até chegar à estatura de Cristo em sua plenitude (Ef 4, 13). Cresce até se tornar um templo santo no Senhor (Ef 2, 21).

Calcule-se, pois, a grandeza de cada alma pela medida de sua caridade: a que tem muita é grande, a que tem pouca é pequena, a que não tem nenhuma é nada, como diz São Paulo: Se eu não tiver caridade, nada sou (1Cor 13, 2).


São Bernardo de Clairvaux, Abade
Sermo 27, 8-10 in Cantica Canticorum
(Editiones Cistercienses 1, 187-189)
(Dos Sermões sobre o Cântico dos Cânticos)


SANTA TERESA DE JESUS - Quem Vos ama de verdade vai por um caminho seguro



FESTA 15 DE OUTUBRO

Memória


Quem Vos ama de verdade vai por um caminho seguro

“Oh, Senhor meu, como mostrais que sois poderoso! Não é preciso buscar razões para o que quereis, porque, acima de toda razão natural, fazeis todas as coisas tão possíveis que levais a entender sem nenhuma dúvida que basta amar-Vos de verdade e abandonar com sinceridade tudo por Vós para que, Senhor meu, torneis tudo fácil. Cabe dizer neste ponto que fingis trabalho em Vossa lei; porque não vejo, Senhor, nem sei como é estreito o caminho que leva a Vós. Vejo que é caminho real, e não vereda; caminho pelo qual vai com segurança quem de verdade entra nele. Muito longe estão os recifes e despenhadeiros onde cair, porque as ocasiões também o estão. Senda, e senda ruim, e caminho difícil, considero ser o que de um lado tem um vale muito profundo onde cair e do outro um despenhadeiro. A um mero descuido, os que vão por aí caem e se despedaçam.

Quem Vos ama de verdade, Bem meu, vai seguro por um caminho amplo e real, longe do despenhadeiro, entrada na qual, ao primeiro tropeço, Vós, Senhor, dais a mão; não se perde, por uma queda e nem mesmo por muitas, quem tiver amor a Vós, e não às coisas do mundo. Quem assim é percorre o vale da humildade. Não posso entender o que temem as pessoas diante do caminho da perfeição. O Senhor, por quem é, nos mostra quão falsa é a segurança dos que seguem os costumes do mundo sem se darem conta dos manifestos perigos aí existentes, e que a verdadeira segurança está em fazer esforços para avançar no caminho de Deus. Ponhamos os olhos Nele e não tenhamos medo que esse Sol de Justiça conheça ocaso, pois Ele não nos deixará andar nas trevas para a perdição se não O tivermos deixado antes.

Não se teme andar entre leões – parecendo que cada um quer levar um pouco – leões que são as honras, deleites e contentamentos semelhantes do mundo, enquanto, no caminho da perfeição, o mal infunde temor até de insetos. Mil vezes me espanto e dez mil vezes gostaria de chorar copiosamente e clamar a todos, tornando pública minha grande cegueira e maldade, para ajudar as pessoas de alguma maneira a abrirem os olhos. Que Aquele que pode, pela Sua Bondade, abra-lhes os olhos, e não permita que os meus voltem a ficar cegos. Amém.”.


Santa Teresa de Jesus
Livro da vida, Cap.XXXV

SANTA TERESA DE JESUS – Da Homilia do Papa Paulo VI na proclamação de Santa Teresa como Doutora da Igreja



SANTA TERESA DE JESUS, SANTA ESPANHOLA COM TÊMPERA DE REFORMADORA

FESTA 15 DE OUTUBRO

Memória

“Em sua personalidade (de Santa Teresa) se apreciam os traços de sua pátria: a fortaleza de espírito, a profundidade de sentimentos, a sinceridade de alma, o amor à Igreja. Sua figura se centra em uma época gloriosa de santos e de mestres que marcam seu século com o florescimento da espiritualidade. Escuta-os com a humildade da discípula, que por sua vez sabe julgá-los com a perspicácia de uma grande mestra de vida espiritual, e como tal a consideram eles.

Por outro lado, dentro e fora das fronteiras de sua pátria, se agitam violentos os ares da Reforma, enfrentando entre si aos filhos da Igreja. Ela, por seu amor à verdade e pelo trato íntimo com o Mestre, teve de enfrentar dissabores e incompreensões de toda parte, e não sabia como dar paz a seu espírito ante à ruptura da unidade: "Fatiguei-me muito – escreve - e, como se eu pudesse algo ou fosse algo, chorava com o Senhor e Lhe suplicava redimisse tanto mal".

Este seu sentir com a Igreja, provado na dor que consumia suas forças, a levou a reagir com toda a força de seu espírito castelhano num afã de edificar o reino de Deus; ela decidiu penetrar no mundo que a rodeava com uma visão reformadora para dar-lhe um sentido, uma harmonia, uma alma cristã.

Depois de cinco séculos, Santa Teresa de Ávila continua marcando as pegadas de sua missão espiritual, da nobreza de seu coração sedento de catolicidade, de seu amor despojado de todo apego terreno para entregar-se totalmente à Igreja. Bem pôde dizer, antes de seu último suspiro, como um resumo de sua vida: «Enfim, sou filha da Igreja»”.


Papa Paulo VI
Homilia na proclamação de Santa Teresa como Doutora da Igreja Universal, em 27 de setembro de 1970


SANTA TERESA DE JESUS – A oração em Santa Teresa de Ávila



FESTA 15 DE OUTUBRO

Memória

A ORAÇÃO EM SANTA TERESA DE ÁVILA

Penso que como membros da Igreja, a todos nos interessa a experiência de oração e vida dos grandes místicos(as) que a própria Igreja consagrou e apresentou ao mundo como modelos para a humanidade de todos os tempos. É nessa perspectiva que traço algumas linhas, a titulo de introdução, do que viveu e nos legou Santa Tereza de Ávila.

A oração é o tema central da mensagem de Santa Teresa; é a sua primeira lição. Foi também a oração o eixo principal de sua experiência: a aventura de seu drama pessoal e a base maior e mais profunda de sua interioridade. Serviu à santa para compreender-se a si mesma e ao mistério da vida cristã. Serviu-lhe igualmente de suporte para poder transmitir ao mundo a sua mensagem. Lembrando que esta mulher viveu no século XIV, quando as mulheres não tinham a menor possibilidade de expressão na família, na sociedade ou na Igreja, Teresa rompeu essas barreiras e fez-se ouvir.

O problema da oração hoje é fundamental em todas as grandes religiões e para nós cabe ainda mais a pergunta: o que é a oração cristã? Como vivenciar hoje a dimensão orante-cristã ? Como fazê-la atuar com a vida concreta das pessoas de hoje? A atualidade da lição que Teresa nos traz não significa apenas textos que ela nos deixou escritos, mas sobretudo, o espírito que ela nos legou, sua coragem, desenvoltura, alegria de viver e confiança em Deus: “Só Deus basta”. É difícil que leiamos qualquer de suas páginas e não encontremos ressonância em nossas vidas. Podemos encontrar eco para quase todos os nossos problemas, nas obras da santa castelhana, a andarilha que a Inquisição julgou “perigosa” por falar de coisas que não competiam às mulheres tratar.

Acima da problemática da oração (o que o nosso povo reza hoje? qual de suas orações?), Sta. Teresa leva-nos a questionarmos o pequeno mundo que criamos para nós mesmos e no qual nos enclausuramos. Como superarmos essas muralhas que edificamos e elevarmos palavras que cheguem a Deus? Afinal, na definição teresiana, oração exige relacionamento entre seres que têm afinidade – falar a um Deus que é amigo e que sei que me ouve! Como poderemos chegar ao coração de Cristo com nossa pobre oração e como essa oração pode levar-nos a um compromisso de transformação da realidade em que vivemos?

Em Santa Teresa, a oração compreende três momentos: a experiência (o que experimentamos da presença de Deus), a reflexão (a ruminação da Palavra) e o magistério (a transmissão do que usufruirmos da Palavra).

Não pensamos que esta mulher viveu nas nuvens; pelo contrário, muito em contato com a sua realidade (seu chão), daí extraia os elementos para a sua oração e para “confecção” da doutrina que legou á Igreja – místicos das mais diferentes religiões buscam nessa mulher cristã a luz que não encontram facilmente em seus escritos e
místicos.

Que este princípio de apresentação desta estupenda mulher e santa nos anime a conhecê-la, a ler seus textos, a mergulhar nos Evangelhos, a fonte principal de inspiração de Santa Teresa. Mas, principalmente, neste tempo pascal, que o nosso ser cristão seja expressão da experiência que fizemos do Ressuscitado!


Frei Osmar Vieira Branco
Comunidade Carmelitana
Comissariado do Paraná